Pesquisas: Institutos erraram feio, sim, e não dá para dourar a pílula...

Publicado em 06/10/2014 10:28 e atualizado em 07/10/2014 05:50
por Reinaldo Azevedo, de veja.com

Pesquisas: Institutos erraram feio, sim, e não dá para dourar a pílula. Como o povo não erra, ainda que vote errado, o que se tem, no mínimo, é um problema de método

Números TSE

Vamos lá. É claro que os institutos de pesquisa terão de se perguntar o que deu tão errado desta vez. E não há como disfarçar, ainda que queiram. Para a sua própria credibilidade, melhor fazer um mea-culpa e rever o método. Adicionalmente, os responsáveis devem voltar a atuar com mais discrição, opinando menos, dando menos entrevistas, abstendo-se de fazer previsões, ocupando-se mais de sua ciência. Há, sim, um maior número de acertos do que de erros quando se consideram as eleições presidenciais e as disputas estaduais. Ocorre que os erros não são nem corriqueiros nem irrelevantes. Um dia antes da eleição, o Datafolha, por exemplo, antevia que Dilma Rousseff obteria 44% dos votos válidos; o tucano Aécio Neves, 24%, e Marina Silva, do PSB, 22%. Contabilizadas as urnas, Dilma ficou com 41,59%, e Marina, com 21,32%. Sem dúvida, estão na margem de erro, de dois pontos para mais ou para menos. Mas Aécio marcou 33,55% nas urnas — 7,55 pontos acima da margem superior de erro prevista pelo Datafolha. Como votaram 115.122.611 pessoas, estamos falando de um universo de 8.691.757 eleitores.

Olhemos agora o Ibope de sábado: Dilma, dizia o instituto, teria 46% dos votos válidos; Marina, 24%, e Aécio, 27%. Só a peessebista está de acordo com a previsão. Com 41,49%, Dilma obteve 2,1 pontos a menos do que a margem inferior de erro, que era de 44%, e Aécio, com os seus 33,55%, 4,55 pontos a mais do que a margem superior, que era de 29%. Nesse caso, o erro remete a 5.238.078 eleitores.

Atenção! O ibope divulgou uma pesquisa no dia 2, feita, informou-se, entre os dias 29 e 1º. Contados os votos válidos, a diferença entre Dilma e Aécio era de escandalosos 23 pontos: 45% a 22% para ela. Computadas as urnas, três dias depois, os 23 pontos do Ibope eram, de fato, 8,04 pontos. Os institutos dizem trabalhar com um intervalo de confiança de 95% — isto é, se repetida 100 vezes, em 95, os números colhidos estariam dentro da margem de erro. No caso, os dois não deram sorte e caíram justamente nas cinco possibilidade em 100 de errar.

Tudo bem: a gente pode acreditar que existiu uma onda, uma bolha, seja lá como se queira chamar. É uma forma de tentar jogar a responsabilidade pelo erro de cálculo nas costas do eleitor. O fato é que esse não é o único erro, né? Vejam o caso do Rio Grande do Sul. Entre 1º e 3 de outubro, o Ibope colheu os seguintes votos válidos no Estado: 40% para Tarso Genro, do PT; 31% para Ana Amélia, do PP, e 23% para José Sartori, do PMDB. E o que se viu? 40,4% para Sartori; 32,57% para Tarso e apenas 21,79% para Ana Amélia. O Datafolha, também um dia antes da eleição, não se deu muito melhor: 36% para o petista e 29% para os dois outros. O ibope voltou a errar feio a boca de urna também. Atribuiu 29% ao candidato que obteve 40,4%.

Na Bahia, um dia antes da eleição, o Ibope informou que o petista Rui Costa e o democrata Paulo Souto estavam empatados, com 46% das intenções de votos válidos. Lídice da Mata, do PSB, teria 5%. E o que saiu das urnas? 54,53% para o petista e apenas 37,39% para o candidato do DEM.

Há erros para todos os gostos, não é? Em São Paulo, o Ibope previu, um dia antes da eleição, que o governador tucano Geraldo Alckmin seria reeleito com 57% dos votos válidos, contra 24% de Paulo Skaf, do PMDB, e 14% de Alexandre Padilha, do PT. O Datafolha, apontou, respectivamente, 59%, 24% e 13%. O que se viu nas urnas? O tucano obteve 57,31% dos votos, e Skaf, 21,53% — dentro do margem de erro dos dois institutos. Mas Padilha ficou acima do que apontavam ambos, com 18,22%. Segundo o Datafolha, José Serra teria 50% dos votos válidos para o Senado, e Eduardo Suplicy, 37%. No Ibope, o tucano aparecia com ainda menos: 48%, e o petista, com 36%. Suplicy ficou com 32,53%, e Serra, com 58,49%. A diferença não foi nem de 13 nem 12 pontos, mas de 25,96. O Datafolha captou, sim, a virada de Fernando Coelho (PSB) na disputa pelo Senado em Pernambuco, contra o petista João Paulo: cravou 52% a 45%. Mas o peessebista venceu por 64,34% a 34,8%.

Esses são apenas alguns erros, os mais salientes. Há, sim, outros. Não estou entre aqueles que querem criar dificuldades para a divulgação de pesquisas, até porque é inegável que elas, no geral, captam os grandes movimentos de opinião pública. Ocorre que elas falam em nome de uma ciência, com margem de erro, com intervalo de confiança, e os institutos, pois, devem explicações mais sérias do que simplesmente atribuir seus erros de percepção a uma mudança de humor do eleitorado.

Mais: é preciso que a gente considere que números, quando divulgados, interferem nas estratégias dos partidos, alteram a formação de palanques, criam dificuldades ou facilidades para arrecadar recursos, animam ou desanimam a militância. O que fazer? De saída, sugerir a todos mais prudência. Uma semana antes da eleição, tentou-se até criar onda afirmando que Dilma, por exemplo, poderia vencer a disputa no primeiro turno…

A minha primeira sugestão é que as empresas controladoras dos institutos proíbam seus técnicos em pesquisa de se comportar como analistas políticos. Como diria Fernando Pessoa, não existe técnica fora da técnica.

Por Reinaldo Azevedo

Aécio na reta final. E com algo em torno de 34%. Institutos de pesquisa estão surpresos. Acho que o povo não

Pois é… Há uma grande diferença entre a população ter um chilique só para contrariar institutos de pesquisa e estes institutos errarem feio. Foi o que aconteceu. Ora, o povo, que se saiba, não é dotado de nenhuma anomalia só para contrariar pesquisadores, não é? Assim, em vez de os jornalistas saírem por aí a dizer que a população surpreendeu, seria mais correto afirmar que os institutos erraram. E não erram pouco. Foi um erro cavalar.

Com 95% dos votos apurados, o tucano Aécio Neves tem 34,08% dos votos válidos, contra 41,14% da petista Dilma Rousseff. Marina Silva tem 21,19%. Ora, o que disseram ontem Datafolha e Ibope sobre votos válidos? O primeiro instituto previa 44% para Dilma, 24% para Aécio e 22% para Marina. O Ibope dava 27% para o senador mineiro, 24% para a candidata do PSB e 46% para a petista.

Querem recuar um pouquinho? No dia 2 de outubro, três dias antes do pleito, o Ibope previa 22% para o tucano, que terá, quase 10 pontos a mais. E antevia 47% dos válidos para Dilma, que vai ter uns cinco ou seis a menos. Atenção! Três dias antes da eleição, o Ibope previa uma diferença entre Dilma e Aécio de 25 pontos. Será em torno de 5 ou seis.

Desculpem! Não venham me falar em mudança de opinião da população de última hora. Isso é erro mesmo! No mínimo! Mais: coisas assim não são irrelevantes, não é? Desanimam a militância, destroem palanques, criam dificuldades para arrecadar recursos. Convenham: Aécio era dos poucos tucanos que acreditavam que poderia chegar ao fim.

O Ibope foi desmoralizado pelas urnas em 17 unidades da Federação

As usinas de porcentagens são duras na queda, preveniu o post deste domingo. E os videntes de acampamento cigano não admitem o afogamento mesmo com a água já inundando os pulmões, confirma a entrevista concedida ao Estadão de hoje por Márcia Cavallari. “Até agora, temos 92% de precisão nos resultados”, fantasiou a diretora executiva do Ibope. “Algumas diferenças entre as pesquisas e os resultados das apurações não foram captadas porque o eleitor mudou até o último minuto. Mas nosso último levantamento havia mostrado um crescimento do Aécio Neves”.

Conversa fiada, reafirmou nesta segunda-feira o jornal O Tempo. As urnas golearam impiedosamente a derradeira pesquisa sobre a sucessão presidencial produzida pelo Ibope, que também fracassou em nada menos que 17 unidades da federação. Tudo somado, a fábrica de enganos estatísticos estabeleceu um recorde memorável: 66,66% dos levantamentos feitos na véspera da eleição foram desmoralizados pelas urnas no dia seguinte. Confiram o impressionante acervo de provas do crime exposto na edição de O Tempo. (AN)  

Os últimos levantamento do Ibope, maior instituto de pesquisas do país, divulgadas antes do primeiro turno nos 26 Estados e no Distrito Federal divergiram da apuração, fora da margem de erro, em 17 unidades da Federação, ou 66,66%. De acordo com levantamento do OLHO NELES, o instituto só conseguiu prever corretamente o resultado das eleições para governador em dez casos. Além disso, o Ibope também errou o resultado para presidente da República, fora da margem de erro.

Em relação à disputa entre Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), o Ibope apontava, no dia 4/10, que a presidente teria 46% dos votos válidos, enquanto Aécio Neves teria 27% e Marina Silva teria 24%. Com a margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, Dilma estaria entre 44% e 48%; Aécio estaria entre 25% e 29%; Marina, entre 26% e 22%.

No dia seguinte, no entanto, os eleitores deram à presidente 41,59% os votos válidos, enquanto Aécio Neves somou 33,55% e Marina Silva ficou com 21,32%.

Em Minas Gerais, o instituto apontava que Fernando Pimentel teria 61% dos votos válidos, contra 31% de Pimenta da Veiga. O resultado foi mesmo a vitória do petista, mas ele registrou 52,98%, contra 41,89% do tucano.

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Mercados reagem com euforia ao resultado das urnas. Espero que isso conduza a candidata Dilma à virtude, não ao vício

As pessoas podem divergir sem se demonizar mutuamente; podem dissentir sem que a defesa de um ponto de vista represente a eliminação do outro; sem que a política se transforme no exercício de um suposto “bem” contra um suposto “mal”. Na contramão de quase todas as previsões e de quase todas as expectativas; contrariando o que os institutos de pesquisa conseguiam ler da vontade do eleitor — e me parece que lhes faltam instrumentos, no momento, para interpretar os enigmas que a sociedade propõe —, o tucano Aécio Neves disputará o segundo turno das eleições presidenciais com Dilma Rousseff, do PT.

Os três candidatos fizeram neste domingo um pronunciamento sobre o resultado das eleições. Dois deles, basta ler o que disse cada um, foram serenos: Marina Silva, do PSB, e o próprio Aécio afirmaram que a sociedade sinalizou que quer mudanças. Dilma, que fala em nome da continuidade — e, dadas as leis que temos, é, pois, legal e legítimo —, infelizmente, enveredou justamente pelo caminho reprovável da satanização dos adversários. Para ela, o voto em seus oponentes significaria que o Brasil estaria marchando para trás. Assim, a gente entende que, para a candidata, o Brasil só avança rumo ao progresso se o PT for governo.

Não é uma boa leitura da realidade. E não que eu esperasse ou espere que Dilma reconheça as qualidades daqueles que a ele se opõem. Isso não é necessário. A presidente-candidata dispõe de instrumentos, no entanto, para tentar provar que suas propostas são melhores, sem que precise afirmar que os outros encarnam o desastre. De resto, em seu discurso de ontem, a petista foi a primeira a prometer que, se eleita, fará um governo novo, com ideias novas e pessoas novas. Logo, a gente tem de entender que ela também acredita que não é possível continuar com um governo velho, com ideias velhas e com pessoas velhas — não na idade, mas na mentalidade.

Nesta segunda, os mercados reagiram em quase êxtase ao resultado das urnas. Às 14h05, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, subia 5,26%, a 57.407 pontos. Das ações do Ibovespa, 63 subiam, e apenas sete caíam. No mesmo horário, o dólar registrava desvalorização de cerca de 2% em relação ao real. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, perdia 2,31%, a R$ 2,416, enquanto o dólar comercial, usado no comércio exterior, tinha baixa de 1,82%, a R$ 2,419. Esses índices têm tradução: chama-se otimismo. Os tais “mercados” — que nada mais representam do que os humores de uma parcela considerável da sociedade que faz funcionar a máquina da economia — renovam suas esperanças de que Dilma perca as eleições. E a petista sabe disso, tanto é assim que já se manifestou a respeito e chamou essa reação de “ridícula”.

Seja como for, estamos lidando com um dado da realidade. Já disse aqui que o país não irá à bancarrota se Dilma vencer — aliás, ninguém está a dizer isso. E também é mentira que haverá um colapso na área social se a oposição ganhar. Ocorre que, infelizmente, o PT insiste nessa tecla, nessa pregação que é feita para assustar o eleitor, não para convencê-lo. O que a reação dos mercados evidencia é que a retomada do crescimento será retardada se Dilma vencer a disputa. Ela sabe disso. Em vez de demonizar o adversário, talvez a presidente precisasse fazer uma nova “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual se compromete a não agredir os fundamentos da boa governança por questões de política menor.

Se Aécio vencer a disputa, e isso também está dado pelos números do mercado, o país não precisará de “medidas amargas”, de “choque de tarifas”, de “ajuste fiscal draconiano”, nada isso. Essa conversa ou é terrorismo governista ou é tara de desocupados. E sabem por que tais medidas não serão necessárias, entre outras razões? Porque a retomada do crescimento será antecipada; porque os investidores internacionais e o empresariado nacional farão com mais celeridade a sua parte. Só quer estabilidade de regras, um governo que não maquie as contas e que não seja hostil à matemática.

Aliás, a presidente Dilma deveria recomendar à candidata Dilma que recusasse tanto o discurso terrorista como a campanha suja. Em qualquer das hipóteses, pouco importa quem vença a eleição, o Brasil tem amanhã, senhora Dilma Rousseff! Países não são como empresas; não fecham. Existirão sempre. O que muda para melhor ou para pior é qualidade de vida do povo.

Espero que a presidente Dilma diga ainda à candidata Dilma que a reação dos mercados nesta segunda-feira deve contribuir para leva-la ao caminho virtuoso do diálogo, não ao caminho vicioso do confronto.

Por Reinaldo Azevedo

 

Aécio responde a Dilma e diz que o que assusta são os fantasmas do presente

Por Daniela Lima e Gustavo Uribe, na Folha:
Na primeira agenda após passar para o segundo turno, o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, rebateu críticas feitas pela presidente Dilma Rousseff (PT) e disse esperar “uma campanha limpa”. Aécio falou sobre o assunto após reunião, em São Paulo, com o governador Geraldo Alckmin e o senador eleito José Serra. Ele disse que já se trata de um primeiro encontro para discutir o segundo turno. O tucano fez referência a uma fala da petista na noite desde domingo (5). Após o fim da apuração, ela disse que o país se lembraria dos ” fantasmas do passado na hora de decidir o voto.

Na fala, evocou polêmicas do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), como o discurso em que ele criticou aposentadorias precoces dizendo que quem deixa de trabalhar antes dos 50 anos é “vagabundo”. Nesta segunda-feira (6), Aécio disse que ficou surpreso ao ver nos jornais a fala de Dilma. ” Me surpreende a candidata oficial falar de fantasmas do passado. Na verdade, os brasileiros estão preocupados com os monstros do presente: inflação alta, recessão e corrupção.” O tucano disse que, de sua parte, fara uma campanha limpa e que espera o mesmo de Dilma. “Respeitar o adversário é respeitar a democracia”, concluiu.

Marina
Aécio confirmou ter recebido um telefonema de Marina esta manhã, mas disse que aguarda o “tempo de cada um” para definições de apoio. O tucano disse ter falado com o governador eleito de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), aliado de Eduardo Campos, para parabenizá-lo pela eleição. Câmara tende a defender voto em Aécio. O presidenciável disse ainda não ter conversado com a família de Campos. Para Aécio, é preciso ter cautela antes de anunciar qualquer apoio. Ele afirmou que vê mais “convergências” do que “divergências” entre seu plano e o de Marina. Aliados da pessebista dizem que um apoio dela ao tucano se daria em bases “programáticas”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Marina dá sinais de que pode apoiar Aécio, que acena para uma união; Dilma insiste no discurso do medo e já ensaia uma fala terrorista. Ou: Disputa do dia 26 será, sim, entre progressistas e reacionários

Os respectivos pronunciamentos feitos pelos três principais candidatos à Presidência da República refletem o que foi a campanha até aqui e os lances, vá lá, até certo ponto dramáticos destes últimos dois meses, mormente depois da queda do avião que conduzia Eduardo Campos, no dia 13 de agosto. Começo por aquele ao qual se deve dar mais atenção no momento. Marina Silva, candidata derrotada do PSB, leve como há muito tempo não se via, sorridente, com ar pacificado, acenou com o apoio ao tucano Aécio Neves. Reproduzo trecho de sua fala:

“Sabemos que o Brasil sinalizou que não concorda com o que está aí, e sabemos que uma boa parte do Brasil, desde 2010, vem dando sustentação a uma mudança que seja qualificada. A postura que eu tive quando não foi aceito registro da Rede pode ser uma tendência. Eu assumi um compromisso com a mudança indo apoiar o Eduardo Campos (…) O Brasil sinalizou que não concorda com esse projeto, que quer uma mudança qualificada, temos uma clareza do que representamos. Nós vamos fazer essa discussão, os partidos individualmente, e depois vamos dialogar, mas, estatisticamente, a sociedade mostra isso, não há de tergiversar com o sentimento de 60% dos eleitores”.

Ora, as palavras fazem sentido, não é mesmo? Marina, assim, deixa claro, com todas as letras, que tanto Aécio Neves, do PSDB, como ela própria representam a mudança. É cedo para dizer se ela vai dar um apoio formal ao candidato tucano, mas a sua fala parece apontar para isso. E que fique claro: na nova ou na antiga políticas, um apoio no segundo turno não implica, necessariamente, se comprometer com o futuro governo. Aliás, o primeiro turno de uma eleição pede o voto da convicção; o segundo, o da possibilidade. De resto, Marina não deve ignorar que a sua meteórica ascensão, logo depois de se fazer candidata, se deu com os votos daqueles que estavam interessados em apear o PT no poder. Parte deles voltou ou migrou para Aécio. Mas um mesmo sentimento une os dois eleitorados.

Aécio também fez um aceno à união, embora não tenha se referido diretamente a Marina Silva — e nem seria o caso. Disse: “A minha primeira constatação é que este sentimento de mudança amplamente presente no Brasil foi vitorioso no primeiro turno. Os candidatos de oposição somados foram vitoriosos, tiveram a maioria dos votos. E é isso que nós temos que buscar agora no segundo turno. Eu me sinto extremamente honrado em ser o representante desse sentimento nessas três semanas que nos separam da eleição”, afirmou.

O tucano mandou a mensagem também a Pernambuco, que votou esmagadoramente com Marina e elegeu um senador do PSB: “A ele [Eduardo Campos], aos seus ideais e aos seus sonhos também, a minha reverência. E nós saberemos transformá-los em realidade. Portanto, é hora de unirmos as forças. A minha candidatura não é mais a candidatura de um partido político ou de um conjunto de alianças. É um sentimento mais puro de todos os brasileiros que ainda têm capacidade de se indignar, mas principalmente a capacidade de sonhar”.

Aécio sabia bem, enquanto falava, que, mesmo no PSDB, ele chegou a ser, num dado momento, um dos poucos que ainda acreditavam. Não tergiversou em nenhum momento, não fraquejou, não desanimou. Enfrentou, sim, Marina Silva — afinal, havia uma única vaga em disputa no segundo turno, mas foi um confronto leal.

Dilma Rousseff, a presidente-candidata do PT, certamente surpresa — com o seu desempenho bem abaixo do que indicavam as pesquisas, e com o de Aécio bem acima —, foi a que transmitiu mais tensão no discurso, no tom e na aparência. Mesmo no que deveria ser uma fala de agradecimento, percebeu-se, mais uma vez, a pregação do medo. Disse: “O povo brasileiro não quer de volta o que nós podemos chamar de fantasmas do passado, que quebraram esse país três vezes, com juros que chegaram a 45%, desemprego massivo, arrocho salarial e jamais promoveram, quando tiveram a oportunidade, políticas de inclusão social e redução da desigualdade”.

Bem, o Brasil não quebrou três vezes; o aumento real de salário mínimo foi maior nos governos FHC do que no da própria Dilma, e o controle da inflação significou, com o Plano Real, uma das medidas mais efetivas em favor da inclusão social de que se têm notícia. Mas não me estenderei sobre isso agora. O que foi verdadeiramente notável no discurso da presidente foi a promessa de que ela fará um governo diferente. Insistiu muito que será uma gestão nova, com ideias novas e pessoas novas. Chegou a afirmar que entendeu o recado das urnas. Ou por outra: Dilma prometeu que, se reeleita, não dará continuidade ao governo… Dilma!

Já deu para sentir o que vem por aí. Aécio, com o possível apoio de Marina, tentará fazer uma disputa sobre o futuro do país, e Dilma insistirá em travar uma batalha de versões sobre o passado. O eleitor terá de optar entre os discursos progressista e reacionário.

Por Reinaldo Azevedo

 

De legenda criada para atender às demandas das massas urbanas, PT se transforma em partido de grotões e obtém seus melhores resultados onde prospera o medo

Vejam este mapa, em que o vermelho indica os Estados em que Dilma Rosseff (PT) venceu; o azul, aqueles em que o vitorioso foi Aécio, e os amarelinhos, os que Marina conquistou:

vitórias de candidatos estados

Votos de pessoas beneficiadas e não beneficiadas por políticas assistencialistas valem igualmente. Ainda bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de pessoas mais sujeitas e menos sujeitas às chantagens oficiais valem igualmente. Ainda bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de pessoas suscetíveis a pregações terroristas e não suscetíveis valem igualmente. Ainda bem! A democracia não tem de criar restrições para o livre exercício da escolha. Mas isso não nos impede de fazer um diagnóstico.

O PT já é o maior partido de grotões do Brasil democrático em qualquer tempo. Querem ver? Dilma venceu em 15 Estados: oito estão no Nordeste, quatro no Norte, dois no Sudeste e um no Sul. Essas três exceções parecem negar a tese, mas só a confirmam. Explico por quê. Em Minas, a petista teve 43,48%, não tão distante de Aécio Neves, com 39,75%; Marina obteve 14%. No Rio, a candidata do PT alcançou 35,62%, quase o mesmo tanto da peessebista, com 31,07%; o tucano chegou a 26,84%. Os gaúchos deram à presidente-candidata 43,21%, quase o mesmo tanto que ao senador mineiro: 41,42%. Vale dizer: a vantagem do petismo não é acachapante.

Onde é que Dilma, de fato, fez a diferença e arrancou a primeira colocação: em oito estados nordestinos — a exceção é Pernambuco — e nos quatro nortistas. Nesse grupo, pasmem, a sua menor marca foi Alagoas, com 49,95%, e a maior foi no Piauí, o segundo estado com os piores indicadores sociais do país: 70,6%. A segunda maior foi no Maranhão, com 69,56% — sim, é a unidade da federação socialmente mais perversa. Assim, os dois Estados que oferecem a pior qualidade de vida à sua população são os mais “dilmistas”. Atentem para o desempenho da petista nos demais, em ordem decrescente: Ceará: 68,3%; Bahia, 61,4%; Rio Grande do Norte, 60,06%; Paraíba, 55,61%; Sergipe, 54,93%; Amazonas, 54,53%; Pará, 53,18%, Amapá, 51,1% e Tocantins: 50,24%.

Aécio obteve a sua melhor marca em Santa Catarina, com 52,89% dos votos, seguido por Paraná, com 49,79%. O Mato Grosso vem em seguida, com 44,47%, e eis que surge São Paulo, com 44,22%. O Estado deu a Aécio 10.152.688 dos seus 34.897.196 votos — isso corresponde a 29% do total; quase um terço. Minas, até agora, está em falta com Aécio. São Paulo não! Azulou de vez. Vejam o mapa.

São Paulo azulou

O Distrito Federal, que conhece bem o PT porque governado pelo partido e porque muito próximo de Dilma, deu à presidente o seu menor percentual: só 23,02%; o segundo menor foi justamente o colhido em terras paulistas: 25,82%.

Dois mapas ajudam a comprovar o que aqui se diz. Vejam o que aconteceu na Bahia — nas áreas em vermelho, o PT venceu:

Bahia vermelha

Agora vejam Minas. Como se nota, é a “Minas Nordestina” — ou baiana — que vota majoritariamente com Dilma.

Minas Vermelha

Muito bem! Aonde quero chegar? É evidente que os petistas colhem hoje os seus melhores resultados nas regiões do país que são mais dependentes do Bolsa Família. Isso não quer dizer, é evidente, que o programa tenha de acabar. Quer dizer apenas que ele precisa existir não como instrumento de um partido, mas como uma política de estado. Não é segredo para ninguém que, pela terceira eleição consecutiva, o terrorismo correu solto nas áreas mais pobres do país: “Se a oposição ganhar, o Bolsa Família vai acabar”. Ora, não era exatamente esse o sentido da campanha eleitoral do PT quando se referia à independência do Banco Central por exemplo? Se vier, assegura-se por lá, haverá fome. É um disparate.

Eis aí mais uma impressionante ironia da história, não é? O PT, que nasceu para ser o partido das massas urbanas trabalhadoras, é hoje uma legenda que se enraíza nos grotões e que arranca a sua força do subdesenvolvimento minorado pela caridade de Estado transformada em moeda política. Há uma grande diferença entre ter o voto dos pobres e chantagear os pobres com o discurso do medo.

Por Reinaldo Azevedo

15 estados definem eleição no 1º turno; em 12, haverá 2º

PT – 3 estados
- Fernando Pimentel (MG)
- Rui Costa (BA)
- Wellington Dias (PI)

PMDB – 4 estados
- Paulo Hartung (ES)
- Renan Filho (AL)
- Marcelo Miranda (TO)

- Jackson Barreto (SE)

PSB – 2 estados
- Paulo Câmara (PE)
- Chico Rodrigues (RR)

PSDB – 2 estados
- Geraldo Alckmin (SP)
- Beto Richa (PR)

PDT – 2 estados
- Pedro Taques (MT)
- Waldez Goes (AP)

PSD – 1 Estado
- Raimundo Colombo (SC)

PCdoB – 1 Estado
- Flávio Dino (MA)

Estados onde haverá segundo turno e quem vai disputá-lo:
- Rio Grande do Sul: José Sartori (PMDB) X Tarso Genro (PT)
- Rio de Janeiro – Luiz Fernando Pezão (PMDB) X Marcelo Crivella (PRB)
- Paraíba – Cassio Cunha Lima (PSDB) X Ricardo Coutinho (PSB)
- Rio Grande do Norte – Henrique Alves (PMDB) X Robinson Faria (PSD)
- Ceará – Camilo Santana (PT) X Eunício Oliveira (PMDB)
- Distrito Federal – Rodrigo Rollemberg (PSB) X Jofram Frejat (PR)
- Mato Grosso do Sul – Delcídio Amaral (PT) X Reinaldo Azambuja (PSDB)
- Rondônia – Confúcio Moura (PMDB) X Expedito Jr. (PSDB)
- Amazonas – Eduardo Braga (PMDB) X José Melo (PROS)
- Goiás – Marconi Perillo (PSDB) X Iris Rezende (PMDB)
- Acre – Tião Viana (PT) X Marco Bittar (PSDB)
- Pará – Helder Barbalho (PMDB) X Simão Jatene (PSDB)

Vejam agora em quantos e em quais estados cada partido disputa o segundo turno:
PMDB – 8 Estados: RS, RJ, RN, RO, CE, GO, AM e PA

PSDB – 6 Estados: PB, MS, RO, GO, PA e AC

PT – 4 Estados : CE, RS, MS e AC

PSB – 2 Estados: PB e DF

PRB – 1 Estado: RJ

PR – 1 Estado: DF

PROS – 1 Estado: AM

PSD – 1 Estado – RN

Por Reinaldo Azevedo

 

O grande desafio de Aécio

Aécio novo desafio

Aécio novo desafio

Aécio Neves chega ao segundo turno em excelentes condições. Para ganhar, talvez nem precise da bala de prata que seria o vazamento do depoimento do doleiro Alberto Youssef – muito achavam que só com a delação vindo a público o tucano teria alguma chance contra a azeitada máquina petista.

Isso tudo ficou no passado. Mas para conseguir a vitória o grande desafio de Aécio Neves a partir de agora é conquistar os pobres, os menos escolarizados e o Nordeste, que em sua maior parte estão com Dilma Rousseff. Sem falar para esse público, nada feito.

Aécio Neves precisa encontrar um discurso que mantenha com o PSDB a classe média tradicional, e agregue os pobres, os menos escolarizados e o Nordeste.

Historicamente, o PSDB tem dificuldades em focar o discurso nesta direção. Fala bem contra a corrupção dos governos petistas, é crítico em relação aos desvarios da economia, mas não consegue sintonia com as classes D e E. Deixou essa turma para o PT monopolizar – um erro antigo que, se não for corrigido, fará o PSDB morrer na praia.

Por Lauro Jardim

 

O Brasil numa encruzilhada: ou vai ou racha!

Surpreendendo muitos – especialmente os institutos de pesquisa – o senador Aécio Neves despontou como o grande vencedor no primeiro turno, chegando a quase 34% dos votos, bem à frente de Marina Silva. Uma nova eleição tem começo hoje, e ficará mais claro para o povo brasileiro o que está em jogo. De um lado, um projeto que respeita a economia de mercado e conta com uma equipe preparada e testada; do outro, mais do mesmo, que vem afundando nossa economia no caos.

Os investidores, que vivem disso e dedicam muito tempo às análises, já demonstram nova euforia com a possibilidade concreta de derrotar o atual modelo, responsável pela queda da atividade, do valor dos ativos, e a alta da inflação. O índice futuro do Ibovespa já sinaliza uma alta de 8% na abertura:

Fonte: Bloomberg

Fonte: Bloomberg

Nem mesmo o ministro Guido Mantega teria a cara de pau de falar que isso se deve a alguma coisa externa, como vem alegando. Está claro que os investidores celebram a chance de Dilma perder, especialmente para alguém como Aécio, cuja política econômica seria a mais adequada para colocar o país nos trilhos novamente e permitir a retomada de um crescimento sustentável.

O que está em disputa, portanto, é ter Arminio Fraga no comando da economia, alguém que foi cotado para assumir até mesmo o Federal Reserve, o banco central americano, ou Guido Mantega, o ministro mais medíocre que já ocupou a pasta. É a experiência internacional de um lado, contra a Unicamp do outro, com seu desenvolvimentismo fracassado.

O Boletim Focus, divulgado hoje pelo Banco Central, mostra a décima-nona queda consecutiva das estimativas de crescimento da economia este ano. Agora, os analistas esperam somente 0,24% de crescimento, ou seja, praticamente nada, enquanto a inflação segue perigosamente no topo da elevada meta, acima de 6% ao ano.

Expectativa do PIB para 2014. Fonte: Bloomberg

Expectativa do PIB para 2014. Fonte: Bloomberg

O Brasil está numa clara encruzilhada: se tomar a decisão de virar mais à direita, tem chance de superar os enormes desafios e voltar a crescer, debelando a inflação; se insistir na rota mais à esquerda, poderemos afundar cada vez mais, rumo à tragédia argentina. Eis o que se apresenta para o eleitor agora: ou vai, ou racha!

Rodrigo Constantino

 

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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3 comentários

  • Julio Cesar PintoUchoa Goiânia - GO

    IBOPE e DATAFOLHA explicaram porque erraram nos numeros para PRESIDENTE. É que só encontravam eleitores da Dilma em casa pois os do Aecio estavam trabalhando.

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    É bem melhor que os Institutos de Pesquisa percam a credibilidade duma vez. Já não é de hoje que a propagação de charlatanices deve ser atribuida unica e exclusivamente aos Charlatões. É culpa sim dos ignóbeis aritméticos que temos entre nosso povo, politicos, imprensa e judiciario - estes por vezes, fomentando a existência de inocentes úteis ou seria "idiotas úteis"? Um ERRO primario que eles cometem é não iniciar a pesquisa já do primeiro dia, baseado apenas nos votos úteis. Exemplo de resultado: Entrevistamos 1.000 pessoas e 300 não comparecerão,votarão em branco ou anularão seu voto. Pronto. Dos 700 restantes(votos úteis) 40% votarão na Dilma, 34% no Aécio, 22% na Marina e 4% nos demais cão didatos...

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  • Lourivaldo Verga Barra do Bugres - MT

    Os grandes perdedores dessa eleição foram os institutos de pesquisa na confiança do eleitor! Pode ter sido um fato excepcional, como pode ter sido um trabalho duvidoso. Isso tem acontecido já em eleições anteriores com menores expressões, mas ja tem acontecido. Não se pode conceber que na véspera da eleição se dê um resultado que no dia seguinte retrata outro com diferenças discrepantes. Esse trabalho deve ser serio e até comprometedor; pode influenciar na eleição e isso é atentado contra democracia, sabendo-se que interfere na opinião da maioria dos eleitores. Na verdade o correto é sem pesquisa e deixar o eleitor votar consciente e não por interferência de pesquisa. Pesquisa é antidemocrático, é influenciador!

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