Dilma ganha e é a presidente de direito — mas tem seu novo mandato manchado por uma campanha indigna

Publicado em 27/10/2014 04:45 e atualizado em 28/10/2014 05:54
por Ricardo Setti (+ Reinaldo Azevedo), de veja.com

Dilma ganha e é a presidente de direito — mas tem seu novo mandato manchado por uma campanha indigna

(Fotos: Ueslei Marcelino/Reuters :: Marcos de Paula/Estadão Conteúdo)

Dilma comemora a vitória num hotel em Brasília, e Aécio dá entrevista à imprensa em Belo Horizonte, na casa de sua irmã Andrea: eleita, ela tem mandato manchado por campanha suja; derrotado, ele sai como o mais forte líder da oposição desde o fim da ditadura militar (Fotos: Ueslei Marcelino/Reuters :: Marcos de Paula/Estadão Conteúdo)

Democratas, como eu, aceitam sem hesitar o resultado das urnas.

Dilma Vana Rousseff, 66 anos, está reeleita presidente da República Federativa do Brasil, depois de obter 51,64% dos votos do eleitorado contra 48,36% atribuídos ao candidato da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB).

Dilma permanece ao leme do Palácio do Planalto, porém, com um mandato manchado por uma campanha indigna de uma chefe de Estado, baseada no terrorismo eleitoral, de um lado, e, de outro, numa espantosa sequência de ataques sórdidos ao adversário num grau que jamais ocorreu desde a volta das eleições diretas para a Presidência, em 1989.

O terrorismo eleitoral

A presidente colocou em dúvida que Aécio mantivesse programas sociais que beneficiam dezenas de milhões de brasileiros, como o Bolsa Família ou o Minha Casa Minha Vida, contra as sucessivas e formais garantias do adversário de que continuariam e seriam aprimorados. Se Dilma apenas colocava em dúvida, militantes do PT e partidários espalhavam a mentira como sendo por todo o país, especialmente no Nordeste, lançando mão de todos os meios possíveis — desde cartazes e carros de som até as redes sociais.

Algo semelhante ocorreu com a suposta intenção de Aécio de sufocar os bancos públicos, como também se distorceram as intenções do candidato quando a presidente alegava que prováveis “medidas impopulares” pretendidas por Aécio na economia seriam — como se fossem sinônimos — “medidas contra o povo”. Demagogia baixa e barata, já que apenas governantes que entram para a história ostentam a coragem de adotar medidas impopulares do ponto de vista eleitoral, mas necessárias para corrigir rumos da sociedade ou da economia, pensando não na eleição seguinte, mas nas gerações futuras.

Além do terrorismo eleitoral, também foi coisa feia a “desconstrução” dos dois governos de Aécio em seu Estado, Minas Gerais (2003-2010), com acusações inteiramente falsas sobre supostos “desvios de recursos” da saúde, entre outras baixarias.

A senha para a campanha suja, com Lula à frente

O pior, no entanto, acabaram sendo as insinuações feitas por Dilma, inclusive em debates presidenciais, sobre a vida pessoal do adversário — a senha para campanha suja, capitaneada do alto de palanques por um ex-presidento Lula que parecia possesso, segundo a qual o candidato tucano tem o hábito de ser violento com mulheres, de beber demais (este ponto Lula, pisando em terreno perigoso para ele, se absteve de tocar) e tomar drogas.

Embora derrotado, Aécio sai da campanha imensamente maior do que entrou.

Aquele que a certa altura da caminhada se viu escanteado para um terceiro posto nas intenções de votos pelos institutos de pesquisa quando a morte trágica de Eduardo Campos (PSB) fez entrar na campanha a candidata Marina Silva, começou a ser abandonado por companheiros e viu temporariamente minguar contribuições financeiras, deu uma inédita, extraordinária volta por cima.

O mais forte líder de oposição do país desde a redemocratização, em 1985

Obteve a espetacular votação de pouco mais de 51 milhões de votos dos brasileiros — em números absolutos, quase a votação recebida por Lula quando se elegeu em 2002 — e, entre outras proezas, foi o candidato mais votado em qualquer eleição em todos os tempos no maior Estado brasileiro, São Paulo — recebeu 15,2 milhões de votos, 3 milhões mais do que o governador tucano Geraldo Alckmin alcançou para vencer a reeleição já no primeiro turno e quase dois terços dos paulistas que compareceram às urnas.

Sai da eleição como o mais forte líder de oposição do país desde a redemocratização, em 1985 — como nada ocorre por acaso, um retorno à democracia no qual seu avô, o Presidente Tancredo Neves, cumpriu papel fundamental.

Um líder com um cartel fabuloso de votos, uma postura de firmeza diante do lulopetismo e um programa de governo moderno e coerente. Com apenas 54 anos de idade, é, desde já,  O nome da oposição para 2018.

(por Ricardo Setti)

 

Minas falta ao encontro marcado e dá ao PT a quarta vitória consecutiva no país

Minas não compareceu ao encontro marcado. A Minas que muitos imaginavam existir — e que só estaria à espera de um filho da terra para ungi-lo à Presidência da República, quem diria?, era São Paulo. Nas terras paulistas, sim, a vitória do PSDB foi acachapante: 64,31% contra 35,69%, com uma diferença de 6.807.906 votos. Nunca antes na história de São Paulo, nem mesmo quando os candidatos que enfrentavam o PT eram paulistas, algo semelhante se viu. Por que é assim? Ainda voltarei a este assunto, mas adianto: nem tanto é por Dilma, é pelo PT. O que cresce na capital paulista e no Estado é o repúdio ao partido e a seus métodos.

Faço um breve comentário a respeito e retomo o fio: os petistas voltaram a explorar a crise hídrica no Estado, buscando jogar a reponsabilidade nas costas dos tucanos. Deu errado de novo. Mas voltemos a Minas.

Vejam que coisa: no Brasil, a petista obteve 51,64% dos votos válidos — em Minas, 52,41%; no país, Aécio ficou com 48,36%; no seu Estado, com 47,59%. Vale dizer: ela ficou acima de sua média, e ele abaixo. A diferença entre os dois, ali, foi de 550 mil votos; no Brasil como um todo, de 3.459.963. Se a diferença mineira de lado, ainda assim, ele perderia. Ocorre que a conta a se fazer é outra.

Em Minas, os votos válidos foram de quase 11,5 milhões. Se o Estado tivesse dado a Aécio a proporção que lhe deu São Paulo, a fatura estaria liquidada. É claro que, matematicamente, não faz sentido atribuir a derrota a um único estado. Ocorre que estamos diante de uma questão política. A expectativa era que Minas votasse esmagadoramente com Aécio.

É inescapável concluir que erros vários foram cometidos pelo PSDB no Estado — e a escolha do candidato do partido ao governo, Pimenta da Veiga, não foi o menor deles. Estava afastado havia tempos da linha de frente da política. Do outro lado, havia o petista Fernando Pimentel, uma brasa encoberta, político que pode ser notavelmente agressivo nos métodos.

A campanha petista de desconstrução da imagem de Aécio parece que acabou tendo mais eficácia em sua terra natal, coisa com qual, convenham, ninguém contava. E esse pode ter sido o grande acerto estratégico do PT. Se a gente observar no detalhe, por mais que os petistas tenham tentando fazer barulho em São Paulo, o objetivo, por aqui, era não sofrer uma derrota humilhante — mesmo assim, humilhante ela foi.

Os “companheiros” perceberam a tempo que a fronteira da vitória ou da derrota seria mesmo Minas. Não se trata, obviamente, de ficar caçando responsáveis. O fato é que, se o PSDB quiser se estruturar para as batalhas vindouras, parece que algo há de se fazer por ali. O Estado votou majoritariamente com o PT em 2002, 2006, 2010 e 2014. E contará agora com um governador do PT.

São Paulo foi o Estado que, individualmente, deu mais votos a Aécio e, percentualmente, ficou em segundo lugar, com 64,3%. Só perdeu para Santa Catarina, com 64,59%. Com seus magros 47,59%, Minas faltou ao encontro marcado é deu ao PT a quarta vitória consecutiva não apenas no Estado, mas também no país.

Por Reinaldo Azevedo

 

PSDB governará quase 45% do PIB; em segundo lugar, vem o PMDB, com 22,4%

Abaixo, fiz um levantamento da distribuição dos Estados segundo os partidos, mas usando, para hierarquizar o poder das respectivas legendas, o PIB que elas governarão, segundo os números de 2011, do IBGE. O PSDB continuará a governar quase 45% do Produto Interno Bruto: dos atuais 43,8%, passará para 44,4%. É claro que São Paulo faz toda a diferença: sozinho, representa 32,6% do Produto Interno Bruto brasileiro. O que falta para chegar a 44,4% vem de Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul e Pará. O partido governava cinco Estados e com cinco ficará.

Em segundo lugar no PIB vem o PMDB, com 22,4%, quase a metade do que terão os tucanos. O partido ficou com o maior número de unidades da Federação: ao todo, serão sete, o mesmo de agora: Rondônia, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Dos 22,4%, o Rio responde por 11,2%, e o Rio Grande do Sul, por 6,4%.

O partido que governará o terceiro maior PIB na soma dos Estados é o PT, com 16,1% — hoje em dia, 14,6%. É quase um terço do que terão os tucanos. Perdeu 6,4% do Rio Grande do Sul, mas ganhou os 9,3% de Minas e conseguiu manter os 3,9% da Bahia. Governava quatro Estados e vai governar cinco: além de Minas e Bahia, também Acre, Piauí e Ceará.

O PSB governava quatro unidades da Federação e terá apenas três: Distrito Federal, Paraíba e Pernambuco, mas o seu PIB passou de 6% para 7,4%. Desse total, 4% pertencem ao Distrito Federal. Com Santa Catariana e Rio Grande do Norte, o PSD governará 5% do PIB — 4,1% são dos catarinenses. PDT e PCdoB não governavam estado nenhum. O primeiro conquistou o Mato Grosso e o Amapá (juntos, 1,9%), e o segundo, o Maranhão: 1,3%. O PROS tinha apenas o Amazonas, com 1,6%, e, a partir de 2015, terá também o Ceará, somando 3,7%.

O PP passou a governar Minas — 9,3% do PIB — com a renúncia do tucano Antonio Anastasia, que resolveu disputar o Senado. A partir do ano que vem, o Partido Progressista terá apenas 0,2% do PIB nacional, que corresponde a Roraima, único estado em que venceu. DEM e Solidariedade não governarão Estado nenhum. O primeiro ficará sem os dois que tem hoje — Rio Grande do Norte e Roraima —, e o outro, sem Tocantins.

O PT obteve nas urnas o quarto mandato consecutivo para a Presidência, mas não conseguiu, como deseja, quebrar a espinha tucana. Na verdade, o PSDB, por muito pouco, não lhe tira também a Presidência da República.

Vejam a lista:
PSDB – Governa hoje cinco estados e continuará com cinco.
A partir de 2015 – 5: São Paulo, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul e Pará. 44,4% do PIB.
Em 2014 – 5: São Paulo, Paraná, Goiás, Alagoas e Pará. 43,8% do PIB

PMDB – Governa hoje sete estados e com sete continuará.
A partir de 2015 – 7: Rondônia, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. – 22,4 do PIB
Em 2014 – 7: Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia e Sergipe. – 17,3% do PIB

PT – Governa hoje quatro Estados e ficará com cinco.
A partir de 2015 – 5: Acre, Piauí, Ceará, Bahia e Minas. 16,1% do PIB
m 2014 – 4: Acre, Bahia, Distrito Federal e Rio Grande do Sul. 14,6 do PIB

PSB – Governa hoje quatro estados e terá três.
A partir de 2015 – 3: Distrito Federal, Paraíba e Pernambuco. 7,4% do PIB
Em 2014 – 4: Amapá, Espírito Santo, Paraíba e Pernambuco. 6% do PIB

PSD – Governa um estado e passará a ter dois
A partir de 2015 – 2: Santa Catarina e Rio Grande do Norte. 5% do PIB
Em 2014 – 1: Santa Catarina. 4,1% do PIB

PDT – Não governa nenhum estado e passará a ter dois.
A partir de 2015 – 2: Mato Grosso e Amapá. 1,9% do PIB
Em 2014 – Nenhum – 0% do PIB

PROS – Governa hoje dois Estados e ficará com um.
A partir de 2015 – 1: Amazonas. 1,6% do PIB
Em 2014 – 2: Amazonas e Ceará. 3,7% do PIB

PCdoB – Não governa nenhum e terá um.
A partir de 2015 – 1: Maranhão. 1,3% do PIB
Em 2014 – Nenhum.0% do PIB

PP – Governa um estado e terá um.
Em 2014 – 1: Minas Gerais. 9,3% do PIB
A partir de 2015 – 1: Roraima – 0,2% do PIB

Democratas – Governa hoje dois estados e não terá nenhum.
A partir de 2015 – Nenhum – 0% do PIB
Em 2014 – 2: Rio Grande do Norte e Roraima. 1,1% do PIB

Solidariedade – Governa 1 estado e não terá nenhum.
A partir de 2015 – Nenhum. – 0% do PIB
Em 2014 – Tocantins – 0,4% do PIB

Por Reinaldo Azevedo

 

No RS, Sartori dá uma surra eleitoral em Tarso Genro, que agora vai fazer o Pronatec

Tarso Genro levou uma surra e tanto no Rio Grande do Sul. José Sartori, do PMDB, elegeu-se governador com 61,29% dos votos válidos, contra 38,79% do atual governador, que é do PT. O Estado repete, assim, a tradição de não reeleger o titular do Executivo. Perguntam-me o que Tarso Genro vai fazer agora… Ah, dou a resposta que Dilma deu àquela indecisa do debate da Globo, que é economista e está desempregada porque tem 55 anos: que tal o Pronatec?

Por Reinaldo Azevedo

 

AÉCIO, EM VÍDEO, agradecendo os 51 milhões de votos: “Combati o bom combate, cumpri minha missão e guardei a fé”

O candidato do PSDB falou tendo ao lado a mulher, Letícia Weber, e o seu companheiro de chapa como vice, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Aparece também no vídeo em alguns momentos, à esquerda, atrás de Aloysio, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM-BA) e, à direita, o senador eleito José Serra (PSDB-MG).

 

(Foto: Marcos de Paula/Estadão Conteúdo)

“Deixo esta campanha com o sentimento de que cumprimos nosso papel”, disse Aécio após a notícia da reeleição de Dilma Rousseff (Foto: Marcos de Paula/Estadão Conteúdo)

Tucano agradeceu os mais de 50 milhões de votos de brasileiros ‘que apontaram para o caminho da mudança’

Por Laryssa Borges e Bruna Fasano, de Belo Horizonte, para VEJA.com

Com mais de 51 milhões de votos neste domingo, algo que não havia sido obtido por nenhum candidato que enfrentou o PT desde 2002, Aécio Neves (PSDB) retornará ao Senado como principal líder da oposição no país.

Em um breve discurso, por volta das 21h20 deste domingo, o tucano deu sinais de que entendeu o recado que as urnas lhe transmitiram: “Saio desta eleição mais vivo do que nunca, mais sonhador do que nunca, e deixo esta campanha com o sentimento de que cumprimos nosso papel”.

Nos últimos meses, Aécio conseguiu atrair apoios cruciais, como o da ex-senadora Marina Silva e do seu PSB, uniu seu partido e conseguiu uma votação acachapante justamente no Estado em que os tucanos imaginavam que ele teria dificuldade, dada a rivalidade das alas internas da sigla – o eleitorado de São Paulo deu 15,2 milhões de votos a Aécio.

Apesar de ter mantido o atual patamar de 54 deputados federais, o partido ganhou força na Câmara dos Deputados com a eleição de catorze parlamentares por São Paulo, sete de Minas Gerais e seis de Goiás. Terá alinhado a ele no Congresso Nacional os partidos DEM, PSB, PPS, PV, PSC e SD, que em 2015, junto com o PSDB, que Aécio já preside, formarão bancada de 155 deputados federais.

No Senado, a oposição terá 24 das 81 cadeiras e contará com nomes de peso, além do próprio Aécio, como os ex-governadores José Serra (PSDB-SP), Antonio Anastasia (PSDB-MG) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), e os hoje deputados Romário (PSB-RJ) e Ronaldo Caiado (DEM-GO).

“Vamos atuar com firmeza e combatendo tudo o que combatemos nessa campanha para que se afaste o fantasma da corrupção, dos desmandos, da desorganização que são típicos do governo petista”, disse José Serra.

Leia a integra do discurso de Dilma Rousseff. Comentarei em outro post.

Boa noite. Eu queria cumprimentar a todos aqui, agradecer a cada um de vocês e a cada uma de vocês. Começo saudado o presidente Lula. Dirijo meu agradecimento, a minha saudação ao vice-presidente Michel Temer. Queria cumprimentar também a vice-primeira dama, a nossa querida Marcela, cumprimentar os presidentes dos partidos da minha coligação, Rui Falcão, presidente do PT; Carlos Lupi, presidente do PDT; José Renato Rabelo, presidente do PCdoB; Ciro Nogueira, presidente do PP; Vitor Paulo, presidente, aliás, do PRB; Antonio Carlos Rodrigues, presidente do PR; Gilberto Kassab, presidente do PSD; Eurípedes Jr, presidente do PROS; cumprimento aqui os ministros de estado, governadores, deputados, senadores, deputados que me honram com sua presença.

Senhoras e senhores, jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas. Senhoras e senhores, meus amigos e minhas amigas. Chegamos, chegamos, um pouquinho de silêncio, porque minha voz se foi. Então, estou aqui usando um restinho de voz, peço que vocês me deem uma força pra vocês. Meus queridos, minhas amigas e meus amigos. Meus amigos e minhas amigas.

Chegamos ao final de uma disputa eleitoral que mobilizou intensamente todas as forças do nosso país, da Nação. Como vencedora dessas eleições históricas tenho simultaneamente palavras de agradecimento e de conclamação Agradeço ao meu companheiro de chapa, ao meu parceiro de todas as horas, meu vice Michel Temer. Agradeço aos partidos políticos e sua militância que sustentaram a nossa aliança e foram decisivos para nossa vitória.

Agradeço a cada um e a cada uma dos integrantes dessa militância combativa, que foi a alma, a que foi a força dessa vitória e agradeço sem exceção a todos os brasileiros e brasileiras. Eu faço um agradecimento do fundo do meu coração a um militante, ao militante número um das causas do povo e do Brasil, o presidente Lula.

Conclamo, sem exceção, a todas as brasileiras e todos os brasileiros para nos unirmos em favor do futuro da nossa pátria, do nosso país e de nosso povo.

Não acredito, sinceramente, que essas eleições tenham dividido o país ao meio. Entendo, sim, que elas mobilizaram ideias e emoções às vezes contraditórias, mas unidas por sentimentos comuns: a busca por um futuro melhor para o país.

Em lugar de ampliar divergências, de criar um fosso, tenho forte esperança que a energia mobilizadora tenha preparado um bom terreno para a construção e pontes. O calor liberar no fragor da disputa pode e deve agora ser transformado em energia construtiva de um novo momento no Brasil

Com a força desse sentimento mobilizador, é possível encontrar pontos em comum e construir com eles uma primeira base de entendimento para fazermos o país avançar. Algumas vezes na história, os resultados apertados produziram mudanças mais fortes e rápidas do que as vitórias amplas. É essa a minha esperança. Ou melhor, a minha certeza do que vai ocorrer a partir de agora no Brasil.

Minhas primeiras palavras são de chamamento da base e da união. Nas democracias maduras, união não significa ação monolítica. Pressupõe abertura e disposição para o diálogo.

Essa presidente está disposta ao diálogo, e esse é meu primeiro compromisso no segundo mandato: o diálogo.

Toda eleição tem que ser vista como forma pacífica e segura. Toda eleição é uma forma de mudança. Principalmente para nós que vivemos em uma das maiores democracias do mundo.

Quando uma reeleição se consuma, ela tem que ser entendida como um voto de esperança dada pelo povo na melhoria do governo.

Voto de esperança é o que é uma reeleição. Muito especialmente na melhoria dos atos do que até então vinham governando. Sei que é isso o que o povo diz quando reelege um governante. Quero ser uma presidenta muito melhor do que fui até agora.

Quero ser uma pessoa muito melhor. Esse sentimento de superação não deve apenas impulsionar o governo e a minha pessoa, mas toda a nação.

Algumas palavras e temas dominaram essa campanha. A palavra mais repetida, mais dita, mais falada, mais dominante foi mudança. O tema mais amplamente evocado foi reforma.

Sei que estou sendo reconduzida à Presidência para fazer as grandes mudanças que a sociedade exige.

Aquilo que meu esforço e meu papel alcança pode ter certeza que estou pronta a responder essa convocação. Direi sim a esse sentimento que vem do mais profundo da alma brasileira. Sei das forças e das limitações que tem qualquer presidente. Sei também do poder que cada presidente tem de liderar as grandes causas populares, e eu o farei.

A minha disposição mais profunda é liderar da forma mais pacífica e democrática este momento transformador. Estou disposta a abrir grande espaço de diálogo com todos os setores da sociedade para encontrar as soluções mais rápidas para os nossos problemas.

Meus amigos e minhas amigas, entre as reformas, a primeira e mais importante deve ser a reforma política.

Meu compromisso, como ficou claro durante toda a campanha, é deflagrar essa reforma. Que deve ser realizada por meio de uma consulta popular. Como instrumento dessa consulta, o plebiscito, nós vamos encontrar a força e a legitimidade exigida neste momento de transformação para levarmos à frente a reforma política.

Quero discutir profundamente esse tema com todo o Congresso e toda a sociedade brasileira. Tenho a convicção de que haverá interesses dos setores do Congresso, da sociedade para abrir uma discussão e encaminhar medidas concretas. Quero discutir com todos os movimentos sociais e da sociedade civil.

Conduzir a reforma política não significa que eu não saiba da importância das demais reformas, que também temos a obrigação de promover.

Terei um compromisso rigoroso com o combate à corrupção e com a proposição de mudanças na legislação atual para acabar com a impunidade, que é protetora da corrupção. Ao longo da campanha, anunciei medidas que serão importantes para a sociedade e para o país enfrentarem a corrupção e acabar com a impunidade.

Promoverei ações locais, em especial na economia, para retomar o nosso ritmo de crescimento e para continuar com a garantia de níveis altos de emprego e assegurar os salários. Vamos dar mais impulsos à atividade econômica, em especial o setor industrial.

Quero a parceria de todos os segmentos, os setores, as áreas produtivos e financeiros nessa tarefa, que é responsabilidade de cada um de nós. Seguirei combatendo com rigor a inflação e avançando no terreno da responsabilidade fiscal. Vou estimular o mais rápido possível o diálogo e a parceria com todas as forças produtivas do país. Antes mesmo do início do meu próximo governo, prosseguirei nessa tarefa.

É hora de cada um de nós acreditar no Brasil. Ampliar nosso sentimento de fé em quem nós temos o privilégio de fazer uma sociedade mais próspera e mais justa.

O Brasil, esse nosso querido país, saiu maior nesta disputa. Eu sei da responsabilidade que pesa sobre meus ombros. Vamos continuar a construir um país mais moderno, mais produtivo, um país da solidariedade e das oportunidades.

O Brasil que valoriza o trabalho e a energia empreendedora. O Brasil que cuida das pessoas com olhar especial para as mulheres, os negros e os jovens.

O Brasil que cada vez é mais voltado para a educação, para a cultura, para a ciência e para a inovação. Vamos nos dar as mãos e avançar nesta caminhada que vai nos ajudar a construir o presente e o futuro.

O carinho, o afeto, o amor e o apoio que recebi nesta campanha me dão energia para seguir em frente com muito mais dedicação.

Hoje estou muito mais forte, mais serena e mais madura para a tarefa que vocês me delegaram.

Brasil, mais uma vez, esta filha tua não fugirá da luta. Viva o Brasil. Viva o povo brasileiro.

CAMPANHA DO ÓDIO, DA VIOLÊNCIA E DA MENTIRA OBTÉM A MAIORIA NAS URNAS: DILMA SE REELEGE COM QUASE 52% DOS VOTOS. À SUA FRENTE, UMA ECONOMIA ESTAGNADA E O FANTASMA DO IMPEACHMENT. PODE CONTAR COM A GENTE (RE)GOVERNANTA: PARA VIGIÁ-LA

Dilma Rousseff, do PT, que vai fazer 67 anos no dia 14 de dezembro próximo, reelegeu-se presidente da República. Com a apuração concluída, ela conquistou 51,64% dos votos, contra 48,36% de seu oponente, Aécio Neves, do PSDB. Em números absolutos: 54.501.118 contra 51.041.155, uma diferença de 3.459.963. Dilma conquista o segundo mandato de forma legítima, segundo as regras do jogo, mas é importante destacar um aspecto importante. O eleitorado brasileiro é composto, neste 2014, de 142.821.348 pessoas. Logo, ela foi eleita por apenas 38% dos eleitores. Votaram em branco 1.921.819 pessoas (1,71%), e preferiram anular outros 5.219.787 (4,63%). Ocorre que um contingente gigantesco de 30.137.479 (21,1% do total) preferiram não comparecer às urnas. Vale dizer: 37.279.085 pessoas — quase a população da Argentina — preferiu não votar em ninguém. Estamos falando de mais de um quarto do eleitorado: 27,44%. E assim é com o absurdo instituto do voto obrigatório. Um presidente é ungido, note-se, com o voto da minoria do eleitorado. Parece-me que um dos deveres de Dilma é tentar atrair a adesão daqueles que preferiram outro caminho. E é nesse ponto que as coisas podem se complicar para ela.

Vamos ser claros? O PT não se caracteriza exatamente por fazer campanhas limpas. Gosta de dossiês e de montar bunkers para destruir reputações; adere com impressionante presteza às práticas mais odientas da política; transforma adversários em inimigos; não distingue a divergência legítima da sabotagem e o oponente de um alvo a ser destruído; julga-se dotado de um exclusivismo moral que lhe confere o suposto direito de enlamear a vida das pessoas. Não foi diferente desta vez. Ou foi: a violência retórica e as agressões assumiram proporções inéditas. Nunca se viram tanta baixaria, tanta sordidez e tanta mentira numa campanha.

Vejam de novo o placar: Dilma venceu Aécio por uma pequena diferença. Quantos desses votos são a expressão do terror, do medo, do clientelismo mais nefasto? Não! Não se trata, é evidente, de tachar os eleitores de Dilma de “desinformados” — até porque, felizmente, a democracia ainda não inventou um mecanismo que distinga os “bons” dos “maus” votos. Mas é preciso ser um pilantra para ignorar que pessoas economicamente vulneráveis, que estão à mercê do Bolsa Família, acabam decidindo não exatamente com menos informação, mas com menos liberdade.

Multiplicaram-se aos milhares as denúncias de chantagens aplicadas contra as pessoas que recebem benefícios sociais do Estado brasileiro. Cadastrados do Bolsa Família e do Minha Casa Minha Vida passaram a receber torpedos e a ser bombardeados com panfletos afirmando que Aécio extinguiria os programas, como se estes pertencessem ao PT, não ao Brasil. De própria voz, Dilma chamou os tucanos de inimigos do salário mínimo — que teve ganho real acima de 85% no governo FHC, superior, proporcionalmente, aos reajustes concedidos pela própria presidente reeleita. E daí? As mentiras sobre o passado foram constrangedoras: FHC teria entregado o país com uma inflação maior do que a que recebeu; tucanos teriam proibido a construção de escolas técnicas; o governo peessedebista teria sido socialmente perverso… E vai por aí. Sobre o futuro do Brasil, não disse uma miserável palavra a não ser um daqueles miraculosos programas — agora é a vez do “Mais Especialidades”…

Quantos dos 3.459.963 votos que Dilma obteve a mais do que Aécio se consolidaram justamente no terror? Ora, esbarrei em São Paulo com peças verdadeiramente sórdidas de agressão à honra pessoal do tucano. Estatais foram usadas de maneira vergonhosa na eleição, como se viu no caso dos Correios. Em unidades de bancos público, como CEF e BB, houve farta distribuição de panfletos contra o candidato do PSDB.

É claro que o medo, ainda que por margem estreita, venceu a esperança. Dilma assumirá o novo mandato, no dia 1º de janeiro, com boa parte dos brasileiros sentindo um certo fastio de seu governo. Pior: o país parou de crescer, os juros estão nas nuvens, e a inflação, raspando o teto da meta. Dilma também não tem folga fiscal para prebendas, e o cenário internacional não é dos mais hospitaleiros. Não será fácil atrair aqueles que a rejeitaram porque vão lhe faltar os instrumentos de convencimento.

Petrolão
Mais: Dilma já assumirá o novo mandato nas cordas. Além de todas as dificuldades com as quais terá de lidar, há o estupefaciente escândalo do Petrolão. A ser verdade o que disse sobre ela o doleiro Alberto Youssef, não vai terminar o mandato; será impichada — e por boas razões.

O escândalo não vai se desgrudar dela com tanta facilidade. Youssef pode estar mentindo? Até pode. Mas ele deve conhecer as consequências de fazê-lo num processo de delação premiada. Ele pode não servir para professor de Educação Moral e Cívica, mas burro não é. E que se note: em meio a crises distintas e combinadas, a governanta promete engatar uma reforma política, com apelo a plebiscito. Vêm tempos turbulentos por aí, podem esperar.

Dilma venceu por um triz porque o terrorismo funcionou. Sua campanha foi bem além do limite do razoável. Seu governo já nasce velho, com parcela considerável do eleitorado a lhe devotar franca hostilidade. E, por óbvio, seus “camaradas” à esquerda não vão lhe dar folga. A petista assumirá o novo mandato no dia 1º de janeiro tendo à frente o fantasma do impeachment e a realidade de uma economia estagnada.

O Brasil vai acabar? Não! Países não acabam. Eles podem entrar em declínio permanente. Mas Dilma pode ficar tranquila: nós nos encarregaremos de lembrar que ela foi eleita para governar um país segundo regras que estão firmadas pelo Estado de Direito. Ela pode contar com a nossa vigilância. Agora, mais do que nunca.

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Fonte:
Blog de Ricardo Setti (veja.com)

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1 comentário

  • Angelo Artur Mestriner Caxias do Sul - RS

    Muito pior do que o nível de baixaria da campanha, e do apoio da região acostumada a só ser assistida e socorrida, é saber que em total de votos nulos e brancos, mais as abstensões, Dª Dilma foi eleita com 26% dos votos dos Brasileiros.

    Em seu lugar eu poria "minhas barbas de molho".

    Isto é ter maioria?

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