Dilma ganha e é a presidente de direito — mas tem seu novo mandato manchado por uma campanha indigna
Democratas, como eu, aceitam sem hesitar o resultado das urnas.
Dilma Vana Rousseff, 66 anos, está reeleita presidente da República Federativa do Brasil, depois de obter 51,64% dos votos do eleitorado contra 48,36% atribuídos ao candidato da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB).
Dilma permanece ao leme do Palácio do Planalto, porém, com um mandato manchado por uma campanha indigna de uma chefe de Estado, baseada no terrorismo eleitoral, de um lado, e, de outro, numa espantosa sequência de ataques sórdidos ao adversário num grau que jamais ocorreu desde a volta das eleições diretas para a Presidência, em 1989.
O terrorismo eleitoral
A presidente colocou em dúvida que Aécio mantivesse programas sociais que beneficiam dezenas de milhões de brasileiros, como o Bolsa Família ou o Minha Casa Minha Vida, contra as sucessivas e formais garantias do adversário de que continuariam e seriam aprimorados. Se Dilma apenas colocava em dúvida, militantes do PT e partidários espalhavam a mentira como sendo por todo o país, especialmente no Nordeste, lançando mão de todos os meios possíveis — desde cartazes e carros de som até as redes sociais.
Algo semelhante ocorreu com a suposta intenção de Aécio de sufocar os bancos públicos, como também se distorceram as intenções do candidato quando a presidente alegava que prováveis “medidas impopulares” pretendidas por Aécio na economia seriam — como se fossem sinônimos — “medidas contra o povo”. Demagogia baixa e barata, já que apenas governantes que entram para a história ostentam a coragem de adotar medidas impopulares do ponto de vista eleitoral, mas necessárias para corrigir rumos da sociedade ou da economia, pensando não na eleição seguinte, mas nas gerações futuras.
Além do terrorismo eleitoral, também foi coisa feia a “desconstrução” dos dois governos de Aécio em seu Estado, Minas Gerais (2003-2010), com acusações inteiramente falsas sobre supostos “desvios de recursos” da saúde, entre outras baixarias.
A senha para a campanha suja, com Lula à frente
O pior, no entanto, acabaram sendo as insinuações feitas por Dilma, inclusive em debates presidenciais, sobre a vida pessoal do adversário — a senha para campanha suja, capitaneada do alto de palanques por um ex-presidento Lula que parecia possesso, segundo a qual o candidato tucano tem o hábito de ser violento com mulheres, de beber demais (este ponto Lula, pisando em terreno perigoso para ele, se absteve de tocar) e tomar drogas.
Embora derrotado, Aécio sai da campanha imensamente maior do que entrou.
Aquele que a certa altura da caminhada se viu escanteado para um terceiro posto nas intenções de votos pelos institutos de pesquisa quando a morte trágica de Eduardo Campos (PSB) fez entrar na campanha a candidata Marina Silva, começou a ser abandonado por companheiros e viu temporariamente minguar contribuições financeiras, deu uma inédita, extraordinária volta por cima.
O mais forte líder de oposição do país desde a redemocratização, em 1985
Obteve a espetacular votação de pouco mais de 51 milhões de votos dos brasileiros — em números absolutos, quase a votação recebida por Lula quando se elegeu em 2002 — e, entre outras proezas, foi o candidato mais votado em qualquer eleição em todos os tempos no maior Estado brasileiro, São Paulo — recebeu 15,2 milhões de votos, 3 milhões mais do que o governador tucano Geraldo Alckmin alcançou para vencer a reeleição já no primeiro turno e quase dois terços dos paulistas que compareceram às urnas.
Sai da eleição como o mais forte líder de oposição do país desde a redemocratização, em 1985 — como nada ocorre por acaso, um retorno à democracia no qual seu avô, o Presidente Tancredo Neves, cumpriu papel fundamental.
Um líder com um cartel fabuloso de votos, uma postura de firmeza diante do lulopetismo e um programa de governo moderno e coerente. Com apenas 54 anos de idade, é, desde já, O nome da oposição para 2018.
(por Ricardo Setti)
Minas falta ao encontro marcado e dá ao PT a quarta vitória consecutiva no país
Minas não compareceu ao encontro marcado. A Minas que muitos imaginavam existir — e que só estaria à espera de um filho da terra para ungi-lo à Presidência da República, quem diria?, era São Paulo. Nas terras paulistas, sim, a vitória do PSDB foi acachapante: 64,31% contra 35,69%, com uma diferença de 6.807.906 votos. Nunca antes na história de São Paulo, nem mesmo quando os candidatos que enfrentavam o PT eram paulistas, algo semelhante se viu. Por que é assim? Ainda voltarei a este assunto, mas adianto: nem tanto é por Dilma, é pelo PT. O que cresce na capital paulista e no Estado é o repúdio ao partido e a seus métodos.
Faço um breve comentário a respeito e retomo o fio: os petistas voltaram a explorar a crise hídrica no Estado, buscando jogar a reponsabilidade nas costas dos tucanos. Deu errado de novo. Mas voltemos a Minas.
Vejam que coisa: no Brasil, a petista obteve 51,64% dos votos válidos — em Minas, 52,41%; no país, Aécio ficou com 48,36%; no seu Estado, com 47,59%. Vale dizer: ela ficou acima de sua média, e ele abaixo. A diferença entre os dois, ali, foi de 550 mil votos; no Brasil como um todo, de 3.459.963. Se a diferença mineira de lado, ainda assim, ele perderia. Ocorre que a conta a se fazer é outra.
Em Minas, os votos válidos foram de quase 11,5 milhões. Se o Estado tivesse dado a Aécio a proporção que lhe deu São Paulo, a fatura estaria liquidada. É claro que, matematicamente, não faz sentido atribuir a derrota a um único estado. Ocorre que estamos diante de uma questão política. A expectativa era que Minas votasse esmagadoramente com Aécio.
É inescapável concluir que erros vários foram cometidos pelo PSDB no Estado — e a escolha do candidato do partido ao governo, Pimenta da Veiga, não foi o menor deles. Estava afastado havia tempos da linha de frente da política. Do outro lado, havia o petista Fernando Pimentel, uma brasa encoberta, político que pode ser notavelmente agressivo nos métodos.
A campanha petista de desconstrução da imagem de Aécio parece que acabou tendo mais eficácia em sua terra natal, coisa com qual, convenham, ninguém contava. E esse pode ter sido o grande acerto estratégico do PT. Se a gente observar no detalhe, por mais que os petistas tenham tentando fazer barulho em São Paulo, o objetivo, por aqui, era não sofrer uma derrota humilhante — mesmo assim, humilhante ela foi.
Os “companheiros” perceberam a tempo que a fronteira da vitória ou da derrota seria mesmo Minas. Não se trata, obviamente, de ficar caçando responsáveis. O fato é que, se o PSDB quiser se estruturar para as batalhas vindouras, parece que algo há de se fazer por ali. O Estado votou majoritariamente com o PT em 2002, 2006, 2010 e 2014. E contará agora com um governador do PT.
São Paulo foi o Estado que, individualmente, deu mais votos a Aécio e, percentualmente, ficou em segundo lugar, com 64,3%. Só perdeu para Santa Catarina, com 64,59%. Com seus magros 47,59%, Minas faltou ao encontro marcado é deu ao PT a quarta vitória consecutiva não apenas no Estado, mas também no país.
Por Reinaldo Azevedo
PSDB governará quase 45% do PIB; em segundo lugar, vem o PMDB, com 22,4%
Abaixo, fiz um levantamento da distribuição dos Estados segundo os partidos, mas usando, para hierarquizar o poder das respectivas legendas, o PIB que elas governarão, segundo os números de 2011, do IBGE. O PSDB continuará a governar quase 45% do Produto Interno Bruto: dos atuais 43,8%, passará para 44,4%. É claro que São Paulo faz toda a diferença: sozinho, representa 32,6% do Produto Interno Bruto brasileiro. O que falta para chegar a 44,4% vem de Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul e Pará. O partido governava cinco Estados e com cinco ficará.
Em segundo lugar no PIB vem o PMDB, com 22,4%, quase a metade do que terão os tucanos. O partido ficou com o maior número de unidades da Federação: ao todo, serão sete, o mesmo de agora: Rondônia, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Dos 22,4%, o Rio responde por 11,2%, e o Rio Grande do Sul, por 6,4%.
O partido que governará o terceiro maior PIB na soma dos Estados é o PT, com 16,1% — hoje em dia, 14,6%. É quase um terço do que terão os tucanos. Perdeu 6,4% do Rio Grande do Sul, mas ganhou os 9,3% de Minas e conseguiu manter os 3,9% da Bahia. Governava quatro Estados e vai governar cinco: além de Minas e Bahia, também Acre, Piauí e Ceará.
O PSB governava quatro unidades da Federação e terá apenas três: Distrito Federal, Paraíba e Pernambuco, mas o seu PIB passou de 6% para 7,4%. Desse total, 4% pertencem ao Distrito Federal. Com Santa Catariana e Rio Grande do Norte, o PSD governará 5% do PIB — 4,1% são dos catarinenses. PDT e PCdoB não governavam estado nenhum. O primeiro conquistou o Mato Grosso e o Amapá (juntos, 1,9%), e o segundo, o Maranhão: 1,3%. O PROS tinha apenas o Amazonas, com 1,6%, e, a partir de 2015, terá também o Ceará, somando 3,7%.
O PP passou a governar Minas — 9,3% do PIB — com a renúncia do tucano Antonio Anastasia, que resolveu disputar o Senado. A partir do ano que vem, o Partido Progressista terá apenas 0,2% do PIB nacional, que corresponde a Roraima, único estado em que venceu. DEM e Solidariedade não governarão Estado nenhum. O primeiro ficará sem os dois que tem hoje — Rio Grande do Norte e Roraima —, e o outro, sem Tocantins.
O PT obteve nas urnas o quarto mandato consecutivo para a Presidência, mas não conseguiu, como deseja, quebrar a espinha tucana. Na verdade, o PSDB, por muito pouco, não lhe tira também a Presidência da República.
Vejam a lista:
PSDB – Governa hoje cinco estados e continuará com cinco.
A partir de 2015 – 5: São Paulo, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul e Pará. 44,4% do PIB.
Em 2014 – 5: São Paulo, Paraná, Goiás, Alagoas e Pará. 43,8% do PIB
PMDB – Governa hoje sete estados e com sete continuará.
A partir de 2015 – 7: Rondônia, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. – 22,4 do PIB
Em 2014 – 7: Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia e Sergipe. – 17,3% do PIB
PT – Governa hoje quatro Estados e ficará com cinco.
A partir de 2015 – 5: Acre, Piauí, Ceará, Bahia e Minas. 16,1% do PIB
m 2014 – 4: Acre, Bahia, Distrito Federal e Rio Grande do Sul. 14,6 do PIB
PSB – Governa hoje quatro estados e terá três.
A partir de 2015 – 3: Distrito Federal, Paraíba e Pernambuco. 7,4% do PIB
Em 2014 – 4: Amapá, Espírito Santo, Paraíba e Pernambuco. 6% do PIB
PSD – Governa um estado e passará a ter dois
A partir de 2015 – 2: Santa Catarina e Rio Grande do Norte. 5% do PIB
Em 2014 – 1: Santa Catarina. 4,1% do PIB
PDT – Não governa nenhum estado e passará a ter dois.
A partir de 2015 – 2: Mato Grosso e Amapá. 1,9% do PIB
Em 2014 – Nenhum – 0% do PIB
PROS – Governa hoje dois Estados e ficará com um.
A partir de 2015 – 1: Amazonas. 1,6% do PIB
Em 2014 – 2: Amazonas e Ceará. 3,7% do PIB
PCdoB – Não governa nenhum e terá um.
A partir de 2015 – 1: Maranhão. 1,3% do PIB
Em 2014 – Nenhum.0% do PIB
PP – Governa um estado e terá um.
Em 2014 – 1: Minas Gerais. 9,3% do PIB
A partir de 2015 – 1: Roraima – 0,2% do PIB
Democratas – Governa hoje dois estados e não terá nenhum.
A partir de 2015 – Nenhum – 0% do PIB
Em 2014 – 2: Rio Grande do Norte e Roraima. 1,1% do PIB
Solidariedade – Governa 1 estado e não terá nenhum.
A partir de 2015 – Nenhum. – 0% do PIB
Em 2014 – Tocantins – 0,4% do PIB
Por Reinaldo Azevedo
No RS, Sartori dá uma surra eleitoral em Tarso Genro, que agora vai fazer o Pronatec
Tarso Genro levou uma surra e tanto no Rio Grande do Sul. José Sartori, do PMDB, elegeu-se governador com 61,29% dos votos válidos, contra 38,79% do atual governador, que é do PT. O Estado repete, assim, a tradição de não reeleger o titular do Executivo. Perguntam-me o que Tarso Genro vai fazer agora… Ah, dou a resposta que Dilma deu àquela indecisa do debate da Globo, que é economista e está desempregada porque tem 55 anos: que tal o Pronatec?
Por Reinaldo Azevedo
Angelo Artur Mestriner Caxias do Sul - RS
Muito pior do que o nível de baixaria da campanha, e do apoio da região acostumada a só ser assistida e socorrida, é saber que em total de votos nulos e brancos, mais as abstensões, Dª Dilma foi eleita com 26% dos votos dos Brasileiros.
Em seu lugar eu poria "minhas barbas de molho". Isto é ter maioria?