Inflação acima de 7% e economia a caminho da recessão! Chamem o Cumpádi Uóshito! Não sabe de nada, inocente!

Publicado em 02/02/2015 14:12
por Reinaldo Azevedo, de veja.com

Inflação acima de 7% e economia a caminho da recessão! Chamem o Cumpádi Uóshito! Não sabe de nada, inocente!

O mercado já está chegando lá.  E onde é lá? Fica no território do óbvio: o país caminha para uma recessão. E olhem que os efeitos das medidas da presidente Dilma Rousseff  contra o crescimento ainda não começaram a surtir efeito. “Medidas contra o crescimento?” É claro que o propósito não é esse. Mas essa é uma das consequências. No Boletim Focus divulgado nesta segunda, o mercado prevê uma expansão da economia neste ano  de, atenção!, 0,03%.

Sim, leitor amigo, entre zero e qualquer coisa diferente de zero, há infinitos números. Mas isso, vocês sabem, é outro território: é o da matemática. Em matéria de crescimento econômico, 0,03% é igual a zero. E pode ser inferior a zero quando se constata que, na semana passada, o mesmo boletim apontava 0,13%. Sabem o que isso significa? De uma semana para a outra, a previsão baixou 77%. Há um mês, a antevisão era de expansão de 0,5%. Logo, em 30 dias, a previsão sofreu uma baixa de 94%. É que, em matéria de crescimento, quando os números ficam à direita da vírgula, o mercado já desiste de fazer conta.

Mas essa não é a única má notícia. Mesmo com a pancada já havida nos juros, prevê-se agora que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fique em 7,01% — há um mês, a mediana estava em 6,56%. Vale dizer: vem por aí uma recessão, com os juros nos cornos da lua —12,25% ao ano hoje — e inflação alta. Eis as consequências das escolhas feitas pelo petismo na economia.

Se alguém quiser ficar um tantinho mais irritado, tendo uma dura aula prática de política, basta entrar na Internet e comparar o que está em curso com o que a Soberana disse na campanha. Não! Ela não é uma presidente que prometeu mundos e fundos sem saber direito como um antecessor deixou o governo. Dilma é a sucessora de Dilma. Logo, a então presidente Dilma sabia que a candidata Dilma estava contando um monte de mentiras para ganhar a eleição. Isso, acho eu (ainda vou ler o livro), João Santana não deve ter contado em sua entrevista.

“Ah, Reinaldo, então, depois do desastre, vem um crescimento vigoroso em 2016, certo?” Chamem o Cumpádi Uóshito! Não sabe de nada, inocente! Para o ano seguinte, projeta-se a merreca de 1,5% — e a expectativa está em queda: era de 1,54% na semana anterior. Há um mês, antevia-se 1,8%. Ou por outra: em 30 dias, a queda é de 17%. Não é por acaso. Os analistas preveem a Selic a 12,5% no fim do ano — os analistas que mais acertam falam em 13%. Para o fim de 2016 — sim, o ano seguinte —, aposta-se em 11,5%. Não há país que cresça de modo decente com o juro nesse patamar.

Tudo isso porque eles são maus? Não! Tudo isso porque os petistas são incompetentes para gerir a economia. Com o vento a favor, eles promovem a farra. Com o vento contrário, recessão. O PT é sempre, digamos, “pró-ciclíco” — o ciclo da estupidez.  Então vamos lá. O país cresceu 2,7% em 2011, 0,9% em 2012 e 2,3% em 2013. Em 2014, fala-se em 0,3%. Com boa vontade, neste ano será ZERO e 1,5% em 2016. Assim, em seis anos, que é até onde a vista alcança, a gestão Dilma terá produzido um crescimento médio de 1,28%, o que é, sem favor, um desastre histórico.

Por Reinaldo Azevedo

Entre o ruim e o pior, governo optou pelo pior e terá… o pior. Ou: Um governo completamente desarticulado

Já tratei aqui da derrota clamorosa do governo na Câmara, fruto de uma manobra francamente incompreensível. Ou só compreensível quando nos damos conta da fraqueza da coordenação política da presidente Dilma Rousseff. Tudo é muito impressionante. A secretaria-geral da Presidência, vá lá, melhora com Miguel Rossetto porque qualquer coisa que venha depois de Gilberto Carvalho “agrega”, como diria aquele “Rei do Camarote”, mas é certo que o novo ministro tem menos trânsito do que o antecessor. Dilma ganha alguma coisa com ele porque não vai ficar conspirando contra a chefe, como fazia Carvalho. Mas que Rossetto não tem trânsito político, ah, isso não tem.

Não é diferente com Pepe Vargas, com menos desenvoltura ainda. É quase um desconhecido das lideranças tradicionais do Congresso e duvido que seja até reconhecido pelos parlamentares de primeira viagem. Se ele chegar querendo bater um papinho, alguém logo perguntará: “Quem é você?”. E ele: “Sou o ministro encarregado das Relações Institucionais”… E outro fará cara de espanto ou de tédio.

O ministério tradicionalmente reservado à articulação política é a Casa Civil. Aí é que o desastre é mesmo completo. Que espírito ruim soprou aos ouvidos de Dilma que ela deveria fazer de Aloizio Mercadante o “seu” homem forte? É um desastre ambulante. Na sexta-feira, por exemplo, ele foi escalado pelo Planalto para participar da entrevista coletiva em que se trataria de uma pequena parceria dos governos federal e de São Paulo em obra de infraestrutura contra a crise hídrica. Passou boa parte do tempo “pautando” os jornalistas — afirmando que não se deveria tratar ali da questão elétrica — e se retirou antes do fim da coletiva. Afirmou: “Queria pedir licença… Tenho outra reunião com a presidenta, e já estou dez minutos atrasado!”. Os jornalistas insistiram para que ficasse. Inútil: “Tenho uma reunião bem importante. Eu tinha um prazo para ficar aqui…”.

Eis o homem que, em companhia de Pepe Vargas e Miguel Rossetto, vai fazer a “costura” política para Dilma, tendo na presidência da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Sob o bigode de Mercadante, PP e PRB, por exemplo, com assento na Esplanada dos Ministérios, migraram para o adversário de Arlindo Chinaglia.

Pior: três ministros acharam que era uma boa ideia ameaçar deputados, demitindo seus respectivos indicados no segundo e terceiro escalões caso não aderissem ao petista: além de Rossetto e Vargas, Ricardo Barzoini, das Comunicações. Pois é… E agora? Cunha ganhou. O Planalto vai cumprir a ameaça? Se o fizer, aumenta a sua base rebelde. O mais provável é que aconteça outra coisa: Dilma terá de ampliar o espaço de Cunha no governo e ainda de dar mais nacos de poder a muitos rebelados para que se acalmem.

Entre o ruim e o pior, o governo optou pelo pior e terá… o pior. Quem está surpreso?

Por Reinaldo Azevedo

 

Governo Dilma é humilhado, PSDB perde a chance de participar de uma vitória, e Cunha leva de goleada

Já escrevi aqui o óbvio, e o dito-cujo, sendo o que é, aconteceu. Ao endossar a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT) para a presidência da Câmara, o governo Dilma entrava num jogo de perde-perde. Perderia ganhando, o que era improvável, e perderia perdendo, como aconteceu. Ocorre que a derrota foi maior do que se esperava: Eduardo Cunha (PMDB-RJ) venceu no primeiro turno, com 267 votos. Arlindo Chinaglia teve magros 136 votos, não muito mais, convenham, do que os 100 de Júlio Delgado (PSB-MG), que virou o candidato da oposição. Chico Alencar, o anticandidato (PSOL), ficou com 8, e 2 deputados preferiram o voto nulo.

Cunha precisava de 257 votos – metade mais um dos 513 deputados – para vencer no primeiro turno, o que, suponho, nem ele esperava. Obteve 267, 10 a mais, o que humilha a máquina governista, que não viu nada demais em apelar à chantagem explícita para tentar emplacar seu candidato. Três ministros saíram com uma lista de deputados na mão, e os respectivos cargos para os quais indicaram aliados, cobrando fidelidade. A mensagem era esta: se Chinaglia perder, esses postos podem estar ameaçados. Entraram nessa patuscada Pepe Vargas (Relações Institucionais), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) e Ricardo Berzoini (Comunicações).

O PSDB também jogou errado na Câmara. Se, no Senado, lançar um segundo nome, de oposição a Renan – que tendia a ser o candidato único – foi acertado, endossar a postulação de Júlio Delgado, acho eu, foi um erro, ainda que sob o pretexto de manter o PSB no terreno oposicionista.

Parecia ser uma boa saída quando se imaginava que a disputa iria para o segundo turno, e, aí sim, os votos do PSDB poderiam fazer diferença. Da forma como se deu, ainda que tucanos tenham votado em Cunha no escurinho da urna, o fato é que ele chegou lá sem o apoio formal do maior partido de oposição. Não precisou. Vale dizer: o PSDB poderia ter faturado com a derrota de Dilma, mas não o fez. Reitero: as realidades de Câmara e Senado eram bem distintas.

O resultado para o PT é humilhante. Sobretudo porque aderiu ao jogo pesado, inclusive aquele que movimenta o submundo. E perdeu. Nem acho que Cunha vá fazer um mandato de oposição ou algo assim. Mas sabe que tem motivos para cuidar da sua própria agenda sem, digamos, remorsos.

Ainda voltaremos muitas vezes ao assunto. Tanto Chinaglia como Cunha tinham uma pauta de apelo corporativo que me parece dinheiro jogado fora. Falo disso outra hora. De imediato, destaco que a vitória do peemedebista, falando em princípio, é positiva quando se cotejam as coisas que ele pensa sobre reforma política com o que pensa Chinaglia – que tem a pauta do PT.

Não que eu acredite que essa conversa de reforma prospere. Mas lembro que os petistas querem impor o financiamento público de campanha, por exemplo, que seria nefasto para o país. Cunha se opõe. Já se manifestou também de forma clara contra qualquer censura à imprensa, ainda que velada. Dado que o governo anda tendo ideias esdrúxulas a respeito, melhor ele lá do que Chinaglia.

De resto, se e quando fizer alguma coisa, na presidência da Câmara, incompatível com o cargo, aí a gente cobra que ele saia. É simples. Uma coisa é certa: petistas perderam a condição, porque petistas, de presidir qualquer coisa e lhe impor um mínimo de seriedade. Não dá mais. O partido se afundou no opróbrio.

O governo foi humilhado. O PSDB perdeu uma chance. E Cunha levou de goleada. Vamos ver o que será.

Por Reinaldo Azevedo

 

Renan, o Sarney ressuscitado, obtém o pior resultado em 4 disputas, mas vence. Resultado anuncia dificuldades futuras para o governo

Renan Calheiros (PMDB-AL), o José Sarney ressuscitado, acaba de se eleger presidente do Senado pela… quarta vez! É, pode parecer impressionante, mas é isso mesmo, o que dá conta da qualidade do Parlamento. Isso significa que nem no gigantesco campo governista, nesse tempo, apareceu alguém para contrastar com a sua força. A boa notícia é que, desta feita, a votação foi mais apertada. O placar anuncia que o governo terá dificuldades futuras no Senado. O político de Alagoas renovou o seu mandato na presidência com 49 votos. Luiz Henrique (PMDB-SC), da chamada ala ética do partido, ficou com 31, e houve uma anulação.

A base governista conta com 10 partidos com representação no Senado (PMDB, PT, PDT, PP, PR, PTB, PSD, PCdoB, PRB e PROS), o que soma 56 senadores. Os seis partidos que não estão no governo (PSDB, PSB, DEM, PSOL, PV e SDD) contam com 25. Assim, vê-se que há um número razoável de membros da base que não votaram em Renan e preferiram Luiz Henrique, cuja candidatura, por óbvio, foi abraçada pela oposição. Essa foi a menor votação das quatro vencidas pelo alagoano (73 a 4 em 2005; 51 a 28 em 2007; 56 a 18 em 2013 e 49 a 31 em 2015).

Vamos lá. Para que se aprove uma emenda constitucional, por exemplo, são necessários três quintos dos votos em cada uma das Casas do Congresso, em duas votações. Dados os 81 senadores, isso soma rigorosamente os 49 votos que Renan obteve. Não há margem. Mas isso não é tudo.

Renan é um homem de muitos amigos e, não tenham dúvida, obteve votos também entre senadores de oposição. Como a votação é secreta, ninguém ficará sabendo. Nos escrutínios em aberto, tudo indica que a fidelidade irrestrita de senadores ao governo é bem menor do que os 49 votos.

É claro que acho positivo que os que se opõem a Renan e ao governo tenham se articulado para fazer um candidato. A disputa sempre é salutar, mas também tem um custo. Renan precisava de 41 votos para se eleger. Antes do claro engajamento do Planalto na sua candidatura, a situação chegou a ser considerada arriscada. Aí a máquina entrou pra valer, e o presidente reeleito do Senado, vamos dizer, fica devendo esta ao governo. Ou por outra: o Renan que venceu é mais fiel à Presidência da República do que aquele que se candidatou a mais um biênio.

Não creio que venha por aí um período de grande “reformismo”. É bem provável que a crise não deixe. Ainda que o governo queira impor uma agenda, o resultado da votação indica que não será nada fácil. E o mesmo se diga da Câmara. Querem saber? É melhor que seja difícil mesmo. Esse governo é ruim demais para se impor sem enfrentar resistência.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dormindo com o inimigo. Ou: Aumentam as chances de impeachment

A noite da presidente Dilma não deve ter sido nada fácil. A humilhação que Eduardo Cunha lhe impôs ao vencer no primeiro turno a presidência da Câmara deve ter lhe causado uma forte dor de cabeça. Afinal, Cunha, apesar de ser do PMDB, partido da base aliada, é grande desafeto da presidente, que se empenhou bastante na tentativa de derrotá-lo.

O PT e o governo se mobilizaram pela campanha de Arlindo Chinaglia, mas ficaram surpresos com o resultado. Cunha recebeu 267 votos, enquanto o petista ficou com apenas 136. Se o governo tivesse mantido certa distância da disputa, o gosto da derrota não seria tão amargo como agora. Mas a própria mobilização do governo fez com que Cunha fosse visto como candidato de oposição, apesar de seu discurso de independência.

O segundo mandato de Dilma começa, portanto, muito mal de seu ponto de vista. Não só o governo precisou soltar um saco de maldades para não ver o grau de investimento do Brasil rebaixado, aumentando impostos, tarifas e juros, como o escândalo do “petrolão” continua como uma gigantesca pedra no sapato da presidente e do seu partido, envolvido até o pescoço na sujeira.

Como a reportagem da Veja desta semana mostrou, os empreiteiros estariam desesperados com a possibilidade de pagarem o pato e ficarem presos, enquanto os políticos saem ilesos da trama toda. O resultado do mensalão está aí para corroborar a tese. Estariam, então, dispostos a atrair para a lama os nomes mais graúdos do PT, incluindo o de Dilma e o de Lula, quem no fundo indicou o diretor “Paulinho” para cuidar da área de abastecimento na Petrobras.

Se isso acontecer, o risco de impeachment aumenta muito. Segundo o renomado jurista Ives Gandra Martins, já haveria base legal suficiente para a abertura de um processo de impeachment. Claro que este depende sempre do cenário político. E é aqui que entra Eduardo Cunha. Apesar de ter declarado ser “descabido” falar em impeachment, Cunha não deve lealdade alguma ao PT ou à Dilma, e ela sabe disso. Eis a verdadeira razão da forte dor de cabeça que deve ter acometido a presidente esta noite.

Cabe ao presidente da Câmara dar início ou não ao procedimento para um eventual impeachment, e se a Operação Lava-Jato trouxer à tona mais lama escondida hoje no fundo do pântano que o PT habita, o risco será grande para Dilma. Graça Foster tem sido mantida no comando da estatal para servir de para-raio da presidente, mas cada vez fica mais difícil protegê-la do lamaçal que fizeram dentro da empresa sob sua gestão.

Para jogar mais lenha na fogueira, a economia vai de mal a pior. Cada novo dado divulgado representa mais um ponto para os “pessimistas”, que são apenas realistas e enxergam o quadro como ele é, não como foi pintado pelo marqueteiro João Santana. Vivemos já em uma estagflação, e o PIB deve sofrer queda este ano, mesmo com uma inflação de 7%. A tendência é o desemprego aumentar daqui para frente.

Eis o cenário que a presidente Dilma terá de enfrentar em 2015 e 2016: economia no vermelho, medidas impopulares, inflação elevada, Petrobras sangrando e base aliada totalmente fragmentada, com um inimigo na presidência da Câmara. Não foi por outro motivo que o senador José Serra descreveu a situação como grave, comparando-a com o clima de 1964 e prevendo que há uma chance não desprezível de Dilma sequer terminar seu mandato.

Alguns dizem que Cunha é uma espécie de Frank Underwood tupiniquim. Para quem não sabe, trata-se do personagem maquiavélico de Kevin Spacey na série “House of Cards”. Pelos bastidores, comendo pelas beiradas, articulando com aliados e opositores, de olho no longo prazo e dando cada passo como se fosse um jogo de xadrez, o “aliado” consegue derrubar o presidente e tomar seu lugar.

Dilma tem razão de sobra para ficar nervosa, e os brasileiros para alimentarem alguma esperança. Sim, chegamos ao ponto bizarro de depositarmos as fichas em Eduardo Cunha para obstruir o projeto totalitário petista. Durma-se com um barulho desses!

Rodrigo Constantino

 

 

O crepúsculo do bolivarianismo

O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros, alertava Thatcher. Isso valia para o socialismo do século 20. A adaptação para o socialismo do século 21 seria: “O bolivarianismo dura até acabar os petrodólares”. E eles “acabaram”.

Um estudo feito pelo Itaú Unibanco estima que os países latino-americanos perderão mais de US$ 70 bilhões em receitas este ano com a queda do preço das commodities. O Brasil teria uma perda de US$ 14 bilhões. A Venezuela, sozinha, arcaria com quase a metade da perda total: US$ 33,8 bilhões a menos de exportações em 2015.

O país se tornou cada vez mais dependente do petróleo desde Hugo Chávez. Com a bonança na era de preços elevados, o governante populista distribuiu benesses e esmolas, comprando apoio para permanecer no poder. Era anunciado o tal “socialismo do século 21″, em todos os aspectos igual ou muito parecido com o do século anterior.

Mas a farra acabou. Se mesmo com o petróleo a US$ 100 por barril a situação econômica e social da Venezuela já era um caos, fruto do excessivo intervencionismo estatal, agora é um quadro desesperador. A escassez é generalizada, os venezuelanos perdem muito tempo tentando conseguir o que comer, e a violência saiu de controle. O herdeiro de Chávez, Maduro, chegou ao ponto de celebrar a nova lei que permite que o governo atire nos manifestantes. O clima é de guerra civil.

Rodrigo Montoya, ex-ministro da Fazenda da Colômbia, escreveu um texto hoje resumindo o ocaso da revolução bolivariana. O projeto está naufragando, e seu fracasso ficou evidente para todos. Diz ele:

O regime venezuelano conduziu o país ao caos inflacionário e à beira da insolvência. Uma política governamental inepta destruiu a capacidade produtiva nacional e desorganizou os canais de comercialização. O nível de desabastecimento adquiriu características dramáticas. Os venezuelanos estão tendo que dedicar muitas horas à tarefa de buscar alimentos, medicamentos e produtos básicos para o lar.

A queda dos preços do petróleo contribuiu a agudizar a fragilidade de uma economia que já estava bastante deteriorada. O tratamento que as autoridades deram à crise traz à mente uma expressão austríaca: “A situação é desesperadora, mas não é séria.” Nicolás Maduro fez uma peregrinação de 13 dias pela Ásia, Europa e o Oriente Médio. O propósito era pedir à China um empréstimo de US$ 20 bilhões e propor aos países da Opep um corte da produção de petróleo.

Maduro está apelando, desesperado. Chegou a declarar que “Deus proverá” os novos recursos de que necessita. Os empresários, como sempre, são os bodes expiatórios prediletos do governo. Retórica à parte, o fato é que o colapso econômico já coloca forte pressão pela mudança de regime. Montoya especula sobre três possíveis cenários:

O cenário preferido seria o da revogação do mandato de Maduro, após o triunfo da oposição nas eleições legislativas. Um segundo cenário seria o de um regime de transição à democracia integrado por civis e militares constitucionais. Um terceiro cenário seria o de uma desintegração violenta do regime com enfrentamentos armados entre facções distintas. Seja como for, o experimento político que agoniza na Venezuela sugere um final melancólico.

Em entrevista à Folha, o principal líder opositor do atual governo também declara que o modelo de Chávez se esgotou. A Venezuela vive hoje seu pior momento nos últimos 16 anos. Henrique Capriles acredita que deve haver uma guerra dentro do próprio governo, pois ninguém é cego para a crise que assola o país e que deve piorar. Diz ele:

Parece, sim, haver uma guerra no governo. É normal que chavistas tenham a mesma dúvida que 80% dos venezuelanos: será que os líderes não enxergam a crise?

E o pior está por vir, porque ainda não vimos os efeitos da queda do preço de petróleo. Hoje caminhamos com os preços do ano passado, pois as vendas são a futuro. Sentiremos o impacto em março.

O Orçamento nacional foi calculado com base num barril a US$ 60. Hoje entram US$ 40 por barril. A conta não fecha. Isso não se resolve aumentando impostos e gasolina nem desvalorizando a moeda, coisas que até poderiam equilibrar contas do governo em bolívares, mas não resolvem o problema de fundo: não ter dólares para contas externas. Alguém acha que a Odebrecht vai aceitar pagamento em bolívares?

Para Capriles, o ideal seria o governo ser derrubado de maneira constitucional. Mesmo com todas as mudanças na Constituição feitas por Chávez com um Congresso vendido, Capriles diz não aceitar nada fora da Constituição, e que ela permite caminhos alternativos.

Capriles resume bem o que foi o populismo chavista: “Entraram US$ 800 bilhões [de renda petroleira] nos últimos 12 anos neste país, que tem apenas 30 milhões de habitantes. E hoje não há sabão para lavar a roupa”. É o efeito inevitável do socialismo, seja do século 20 ou do século 21.

Não obstante, ainda há quem defenda esse regime, inclusive no Brasil. Capriles está seguro de que a presidente Dilma sabe do desastre que é o bolivarianismo, mas que não pode dizê-lo abertamente. Criticou Lula também, por ter feito campanha a favor do chavismo na televisão.

O fato lamentável é justamente esse: mesmo com todo o sofrimento que o bolivarianismo vem causando ao povo venezuelano, ele ainda encontra adeptos e defensores por aí, e é vergonhoso para nós, brasileiros, que nosso governo o defenda abertamente.

O bolivarianismo caminha para seu crepúsculo, após 16 anos de populismo e autoritarismo, distribuindo miséria e concentrando recursos, sempre em nome do povo. Que o Brasil consiga se livrar dessa ameaça, representada pelos camaradas de Maduro no PT, partido que flerta com esse modelo fracassado e que só não foi capaz de avançar mais porque encontrou obstáculos resistentes no caminho, não por falta de vontade.

Rodrigo Constantino

 

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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