Tesoureiro da campanha de Dilma diz estar “preocupadíssimo”, e escreve carta aberta cobrando que o PT reaja à… direita golpista!

Publicado em 11/03/2015 10:39
por Reinaldo Azevedo, de veja.com

Tesoureiro da campanha de Dilma diz estar “preocupadíssimo”, e escreve carta aberta cobrando que o PT reaja à… direita golpista!!!

Ah, Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff em 2014 está inconformado com o que considera passividade de seu partido. Ele até redigiu uma carta aberta expressando esse seu inconformismo. Sim, claro, quer que os responsáveis pela roubalheira sejam punidos. Afinal, vocês sabem, ele é um homem honrado. Só não se conforma com o que considera a paralisia da legenda.

Erros? Ele até admite alguns. Mas não os que vocês possam eventualmente estar pensado. O principal, segundo diz, é este: “Nunca na nossa história assimilamos com tanta facilidade o discurso oportunista de uma direita golpista e nunca estivemos tão paralisados”. Onde estaria a direita golpista brasileira? Certamente não são os empreiteiros, por exemplo. Boa parte está na cadeia, incapaz de dar um golpe, não é mesmo?

Edinho cobra uma reação do binômio PT/governo. Faz sentido. Ao longo de sua história, essa gente nunca distinguiu o aparelho partidário da máquina do Estado. Para eles, tudo é uma coisa só. Devem-se somar à equação também as entidades sindicais e os ditos movimentos sociais — aqueles que aformam, em suma, a nova elite patrimonialista brasileira. Como um aprendiz de Zé Dirceu, ele conclama: “É hora de pegarmos nossa história nas mãos e irmos para a luta política”. É o mesmo vocabulário.

Que coisa! A carta de Edinho vem a público dois dias depois de Pedro Barusco ter dito na CPI que a roubalheira institucionalizada na Petrobras começou mesmo em 2003, com a chegada do PT ao poder, e que, em 2010, a campanha de Dilma recebeu R$ 300 mil do esquema.

Edinho é um homem que enxerga conspirações continentais. Ele indaga: “Achávamos que a elite brasileira, insuflada por uma retomada das mobilizações da direita no continente, iria ficar assistindo nós nos sucedermos na presidência da República? (…) Achávamos que aqueles que hoje nos acusam, que também são os mesmos que armam trincheiras contra reformas estruturais, seriam benevolentes conosco?”

Como? Direita no continente? Edinho deve achar que, sem o concurso de reacionários, o povo venezuelano não estaria cobrando nem comida nem papel higiênico. A propósito: gostaria que este senhor enviasse uma carta ao blog — também quero divulgar no meu programa de rádio — revelando qual reforma estrutural o PT tentou fazer, malogrando em seu intento por obra de reacionários…

Edinho Silva, Edinho Silva… Ah, lembrei. Em seus manuscritos, o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, ex-amigão de Lula e que está preso na PF de Curitiba desde novembro, registra: “Edinho Silva está preocupadíssimo. Todas as empreiteiras acusadas de esquema criminoso da Operação Lava-Jato doaram para a campanha de Dilma. Será que falarão sobre vinculação campanha x obras da Petrobras?”.

Pois é… Pessoa tentou fazer um acordo de delação premiada, que não foi adiante. Estava disposto a contar que doou R$ 30 milhões, pelo caixa dois, a campanhas eleitorais do PT, R$ 10 milhões dos quais teriam ido para a reeleição de Dilma. O tesoureiro era Edinho Silva, o homem que quer fazer a guerra do “nós” contra “eles”.

Definitivamente, Edinho é um deles, não um de nós.

Por Reinaldo Azevedo

 

Governo consegue manter sua nova proposta de correção da tabela do Imposto de Renda, mas foi por pouco; no placar, Dilma perdeu de novo

Vou explicar. Depois de sucessivas derrotas, o governo cravou o que poderia ser um pequeno tento no Congresso. Um conjunto de vetos da presidente Dilma Rousseff foi mantido. O mais importante era o que negava a correção da tabela do Imposto de Renda em 6,5% para todas as faixas salariais. Para derrubá-lo, eram necessários 257 votos — metade mais um do total de deputados. Faltaram, no entanto, 18. Votaram para derrubar o veto, contra a presidente, 239 deputados, bem mais do que os 208 que optaram por mantê-lo, alinhando-se com Dilma. Ou seja: nos números, o Planalto perdeu de novo. É que não se atingiu a marca necessária de metade mais um. Não dá para comemorar ainda o começo do fim da crise com o Congresso.

E que se note: isso aconteceu depois de o governo ter mudado a sua proposta, que previa correção única de 4,5%. Medida Provisória enviada nesta quarta criou quatro grupos: com a mudança, a isenção do IR vale para quem ganha até R$ 1.903,98 mensais. Na faixa entre R$ 1.903,99 e R$ 2.826,65, a alíquota será de 7,5%. Quem ganha entre R$ 2.826,66 e R$ 3.751,05 pagará 22%. Para quem recebe entre R$ 3.751,06 e R$ 4.664,68, a alíquota será de 22%. A maior é a de 27,5% e será cobrada de quem ganha a partir de R$ 4.664,69.

Joaquim Levy, ministro da Fazenda, teve de ir ao Congresso para, digamos, implorar que o veto não fosse derrubado. Mas vejam como são as coisas. Parece que Renan Calheiros e Eduardo Cunha, presidentes, respectivamente, do Senado e da Câmara, têm menos influência sobre o antigovernismo da base do que eles mesmos supunham. É certo que, sem a ajuda da dupla, Dilma teria sofrido outra derrota vexaminosa. Mas, mesmo com o apoio da dupla, o resultado foi magro. Reitere-se: mais deputados votaram contra Dilma do que com ela.

A síntese, então, é a seguinte: sim, se o governo não quiser tomar uma pancada atrás da outra, terá de conversar com o comando do Congresso, que está com o PMDB. Mesmo esse comando, no entanto, hoje em dia, não garante maioria folgada para Dilma. A presidente respirou um pouquinho, mas com a ajuda de aparelho.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma terá agora 8 ministros na desarticulação política. É o samba-da-presidenta-doida. Não há o menor perigo de dar certo!

Não! Dilma Rousseff decidiu não ouvir Reinaldo Azevedo. Mais uma vez! E vai se dar mal de novo, eu acho. E não porque não tenha me ouvido. Mas porque eu vocalizava o óbvio. A mulher resolveu meter mais três ministros na coordenação política do governo: Gilberto Kassab (Cidades), Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia). E os outros continuam lá. Não há o menor perigo de isso dar certo. Vamos ver.

Quando a presidente nomeou Aloizio Mercadante para a Casa Civil, podem procurar em arquivo, alertei para o erro. Sua tarefa era a articulação política, Jesus! “Articular” é uma palavra de emprego curioso. O verbo “articulo”, em Latim, quer dizer “dividir”, “separar”. O braço articulado de um robô, por exemplo, é composto de partes — dividido, pois — que, no entanto, unidas, permitem o movimento. O que são as articulações do nosso corpo senão isto: partes distintas, que ganham mobilidade com as junções? Um “articulador” reconhece as especificadas de cada parte, mas as torna, uma vez unidas, funcionais. É tudo o que Mercadante não sabe fazer. Ele é excelente para desarticular…

Formam ainda o Quarteto da Desarticulação Política os ministros Pepe Vargas (Relações Institucionais), Miguel Rossetto (Secretaria Geral) e Jaques Wagner (Defesa). Ah, sim: também Ricardo Berzoini (Comunicações) faz o meio de campo com os políticos. A turma tem feitos notáveis em sua biografia: uma derrota humilhante na disputa pela Presidência da Câmara; a devolução, pelo Senado, da MP da (re)oneração da Folha de salários; a certeza da derrubada do veto da presidente à correção da tabela do IR caso não houvesse negociação; a instalação da CPI da Petrobras; a humilhação na tramitação da PEC da reforma política. E vai por aí…

Nunca se viu nada igual. É claro que era preciso mudar. E Dilma fez o quê? Meteu mais três ministros na tal coordenação: Kassab, Padilha e Rebelo. Pronto! Agora haverá nada menos do que oito para cuidar de tanta… desarticulação. Na única vez em que a tartaruga e o peixe aqui de casa passaram fome, eu e a empregada julgamos que o outro estava alimentando esses animais de sangue frio, com expressões muito econômicas de afeto e que não sabem pedir. Pois é… Tartaruga e peixe de muitos donos morrem de fome. A tarefa ficou pra mim. Eu sou o Coordenador da Ração da Fauna Pecilotérmica. E pronto! Ela cuida dos homeotérmicos. Como Scarlett O’Hara, fome nunca mais!

Dilma, está na cara, nunca cuidou de uma tartaruga. Não é possível que essa multidão de oito ministros — quase 20% de seu já gigantesco ministério — possa fazer a coordenação política. Fico cá a pensar nas diferenças de estilo e de argumentos de cada um. Como aqueles fundamentos profundos da governabilidade, que costumam embalar as preocupações de um comunista como Aldo Rebello, se coadunam com o pragmatismo sempre muito raso de Gilberto Kassab? Que bons argumentos terá um ministro da Aviação Civil, como Padilha? Como tudo isso vai se combinar com o exasperante nada de Pepe Vargas?

Dilma disse nesta quarta, depois da entrega de unidades do Minha Casa Minha Vida, no Acre, com um claque organizada para aplaudi-la, que esse sistema de coordenação é “muito flexível, é um sistema de governo”.

Lamento presidente, isso não é nada! É só uma grande confusão!

Por Reinaldo Azevedo

 

DILMA VAIADA EM SP – Presidente, não é só por Vossa Excelência. É pelo PT! E o meu desafio a Lula

A presidente Dilma Rousseff deve estar cercada de lulistas radicais, que querem destruí-la, ridicularizá-la. Só isso explica que, dois dias depois do panelaço, ela tenha decidido visitar o 21º Salão Internacional da Construção, no parque de exposições do Anhembi, em São Paulo. Chegou no fim da manhã, antes ainda da abertura ao público. Certamente foi uma recomendação da segurança. Naquela hora, só estavam lá expositores e trabalhadores. O resultado foi este.

Como se pode ouvir, uma vaia vexaminosa. E, à diferença do que disse o PT sobre o panelaço, ali não estavam apenas os, como é mesmo?, “coxinhas”. Não! Ali estava o… povo!

É, presidente… O povo decidiu cobrar a fatura, não é? Vossa excelência teve a chance de alertar a população, há menos de cinco meses, de que a situação do país era difícil e de que viria uma fase de sacrifícios pela frente. A governanta conhece, né?, aquele papo de “sangue, suor e lágrimas”. Vá lá: o sangue, a gente poderia dispensar. As lágrimas, também, né? Pra que chorar? O diabo, presidente, é que há, a cada dia, menos motivos para suar. O seu modelo de eterna felicidade está começando a cassar também os empregos. No discurso que Dilma fez aos expositores, que ocuparam metade do salão neste ano em razão da crise no setor, ela admitiu dificuldades e coisa e tal. Não me diga!

Sim, as vaias eram para a presidente, inequivocamente. Mas aqui vai o meu desafio: que Lula visite a mesma feira e faça um teste de popularidade. E o Babalorixá de Banânia poderá constatar que não é só por Dilma que o povo põe a boca no trombone. Ele não aguenta mais é o PT mesmo, né?

Os companheiros chamam isso de “discurso do ódio”. Têm razão:
– ódio à ladroagem;
– ódio à rapinagem na Petrobras;
– ódio à impunidade;
– ódio ao estelionato eleitoral;
– ódio ao cinismo.

No mais, vocês sabem, esse povo é só amor.

Por Reinaldo Azevedo

UM DOCUMENTO HISTÓRICO! ACHEI PARA VOCÊS A DENÚNCIA OFERECIDA CONTRA COLLOR EM 1992: SUGIRO QUE A COPIEM EM 2015. Ou: Para tentar proteger Dilma, esquerdas abandonam critério empregado contra o que diziam ser “a direita”

Há, sim, algumas diferenças fundamentais entre 1992 e 2015; entre as circunstâncias que acompanharam  a denúncia apresentada à Câmara contra Fernando Collor, que resultou no seu afastamento, e as que estão presentes no debate sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Em 1992, Barbosa Lima Sobrinho, então presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), era um dos signatários da petição. Em 2015, a ABI empresta a sua sede para Lula promover um ato de suposta defesa da Petrobras. À porta da entidade, milicianos desceram o braço em pessoas que protestavam contra Dilma. Em 1992, Marcelo Lavenère, então presidente da OAB, assinava a petição junto com Barbosa. Em 2015, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, presidente da entidade, é candidato ao Supremo e espera contar com a boa vontade de Dilma. Entenderam o ponto? Em 1992, a esquerda queria chegar ao poder. Em 2015, os esquerdistas já estão no poder. E que fique claro: havia uma penca de motivos para denunciar Collor. Como acho que há uma penca de motivos para denunciar Dilma.

Trago uma peça nem tão fácil de encontrar. Se vocês clicarem aqui, encontrarão em PDF o Dário do Congresso Nacional de 3 de setembro de 1992 que traz a íntegra da denúncia formulada contra Collor com base na Lei 1.079, a Lei do Impeachment. Se e quando tiverem tempo, vale a pena dar uma lida.

Se a história aceitasse recall com base em algumas avaliações influentes no presente, seria o caso de devolver o mandato a Collor, que lhe teria sido tomado, então, injustamente. Se faltam motivos para pedir o impeachment de Dilma Rousseff — porque, segundo dizem, não há provas contra ela —, então cabe perguntar quais eram as provas que existiam contra o então ex-presidente. A pergunta seria absurda, dado tudo o que se sabia, e se sabe, da promiscuidade entre o agora senador e PC Farias? Seria, sim! Mas não menos do que essa história de que, até agora, nada pesa contra Dilma.

Collor foi denunciando com base no Inciso 7 do Artigo 8º e no Inciso 7 do Artigo 9º da Lei 1.079. Ele foi acusado de permitir infração de lei federal e de atentar contra o decoro do cargo. A lei exige que se se apresentem provas. A dupla alinhavou algumas evidências colhidas pela CPI — e não custa lembrar que o homem foi absolvido pelo Supremo —, mas deixava claro, desde o início, que a questão realmente relevante era a política. Lá estava escrito:

“O impeachment não é uma pena ordinária contra criminosos comuns. É a sanção extrema contra o abuso e a perversão do poder político. Por isso mesmo, pela condição eminente do cargo do denunciado e pela gravidade excepcional dos delitos ora imputados, o processo de impeachment deita raízes nas grandes exigências da ética política e da moral pública, à luz das quais hão ser interpretadas as normas do direito positivo”.

Petição anti-collor 1

A mim, então, me parece bem. Quando sei que existe uma cadeia de comando na Petrobras, que chega à presidente da República, e se sei que uma quadrilha lá está instalada com o intuito, entre outros, de arrecadar dinheiro para o partido do poder — dinheiro que, segundo consta, inundou a sua própria campanha —, parece-me que as raízes da ética na política e da moral pública foram desafiadas.

A petição contra Collor ensinava mais:
“Nos regimes democráticos, o grande juiz dos governantes é o próprio povo, é a consciência ética popular. O governante eleito que se assenhoreia do poder em seu próprio interesse, ou no de seus amigos e familiares, não pratica apenas atos de corrupção pessoal, de apropriação indébita ou desvio da coisa pública: mais do que isso, ele escarnece e vilipendia a soberania popular.”

Petição anti-collor 2-1

petição anti-collor 2-2

E o texto prossegue:
“É por essa razão que a melhor tradição política ocidental atribui competência, para o juízo de pronúncia dos acusados de crime de responsabilidade, precisamente ao órgão de representação popular. Representar o povo significa, nos processos de impeachment, interpretar e exprimir o sentido ético dominante, diante dos atos de abuso ou traição da confiança nacional.
A suprema prevaricação que podem cometer os representantes do povo, em processos de crime de responsabilidade, consiste em atuar sob pressão de influências espúrias ou para a satisfação de interesses pessoais ou partidários.”

Petiçao anti-Collor 3

Acho que está tudo aí. Se e quando alguém resolver apresentar uma denúncia contra Dilma na Câmara, sugiro que copiem os termos da petição apresentada por Barbosa Lima Sobrinho, no tempo em que a ABI não abrigava milicianos, e por Lavenère, no tempo em que a OAB não se comportava como esbirro de um projeto de poder e de um partido político.

Falei?

Por Reinaldo Azevedo

 

DILMA E O IMPEACHMENT – Anotem: No dia 9 de março de 2015, ela teve de falar “da coisa”. Ou: golpismo é rasgar a lei. Ou: Terceiro turno uma ova!

Anotem aí: nesta segunda-feira, dia 9 de março de 2015, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a falar sobre a possibilidade de impeachment de seu próprio mandato. As palavras lhe saíram, como de hábito, um tanto confusas. Havia até uma coisa ou outra que faziam sentido. Já chego lá. Antes, quero aqui lembrar uma coisa importante. SABEM QUANDO DILMA ADMITIU PELA PRIMEIRA VEZ A POSSIBILIDADE DE HAVER ROUBO NA PETROBRAS? SÓ NO DIA 18 DE OUTUBRO DO ANO PASSADO, A UMA SEMANA DO SEGUNDO TURNO. A Operação Lava-Jato havia sido deflagrada em… março. E ela o fez deste modo: “Eu farei todo o meu possível para ressarcir o país. Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não: houve, viu?”. Em cinco meses, Dilma teve de ir da quase negação da roubalheira à possibilidade do impeachment, ainda que para negá-la.

Nesta segunda, logo depois de sancionar a tal lei do “feminicídio”, ela concedeu ali uma rápida entrevista. Indagada sobre o panelaço que se fez ouvir país afora enquanto ela discursava, afirmou:
“O Brasil tem uma característica que eu julgo muito importante e que todos nós temos de valorizar, que é o fato de que aqui as pessoas podem se manifestar, e têm espaço para isso, e têm direito a isso. Eu sou de uma época que, se a gente se manifestasse, fizesse alguma coisa, acabava na cadeia, podia ser torturado ou morto. O fato de o Brasil evoluir, passar pela Constituinte de 1988, passar por processos democráticos e garantir o direito de manifestação é algo absolutamente valorizado por todos nós, que chegamos à democracia e temos de conviver com a diferença. O que nós não podemos aceitar é a violência, qualquer forma de violência não podemos aceitar, mas manifestação pacífica, elas são da regra democrática”.

Ok. À parte as questões de estilo, nada a opor. Os petistas é que saíram demonizando os que se manifestaram, acusando-os de reacionários, conservadores, coxinhas, ricos, direitistas, elite… Bem, vocês conhecem os impropérios.

Indagada sobre a manifestação em favor do impeachment, aí Dilma começou a se enrolar:
“Convocar, quem convocar, convoque do jeito que quiser, ninguém controla quem convoca. A manifestação vai ter as características que tiver seus convocadores. Ela, em si, não representa nem a legalidade nem a legitimidade de pedidos que rompem a democracia.”

Dilma está errada. A manifestação é legal — porque assentada em códigos reconhecidos pela ordem jurídica — e é legítima porque reflete uma aflição real de parcelas crescentes da população. O impedimento de um presidente da República está previsto na Constituição e é regulamentado por lei: a 1.079 — que define crimes de responsabilidade. Portanto, não há “rompimento nenhum da democracia”.

Ao fazer uma digressão sobre o mérito do impeachment, afirmou:
“Eu acho que há de caracterizar razões para o impeachment, e não o terceiro turno das eleições. O que não é possível no Brasil é a gente também não aceitar a regra do jogo democrático. A eleição acabou, houve o primeiro e o segundo turnos.”

Isso é tolice das grossas, obra de maus conselheiros — o que não falta por lá. Já expliquei o caminho aqui algumas vezes — um dos posts está aqui — e resumo: qualquer cidadão, é da lei, pode apresentar à Câmara uma denúncia por crime de responsabilidade contra a presidente. Essa denúncia deverá estar acompanhada de provas. Se recebida, será analisada por uma comissão. A tramitação é longa. Se chegar à última etapa, o plenário da Câmara decide: se a denúncia for aceita por, no mínimo, 342 deputados (dois terços), o chefe do Executivo tem de se afastar; se a acusação for de crime comum, vai para o Supremo; se for de crime de responsabilidade, vai para o Senado.

Parte, não a totalidade, é verdade, das pessoas que vão às ruas no domingo acha que Dilma infringiu a Lei 1.079. Eu, por exemplo, acho! Essas pessoas não estão pedindo que ela seja deposta por um golpe militar, mas pela lei. É mentirosa a acusação de que se trata de tentativa de terceiro turno. Não custa lembrar que Collor foi afastado pela Câmara, foi condenado pelo Senado por crime de responsabilidade, mas foi absolvido no Supremo da acusação de crime comum.

É impressionante que a presidente reúna a cúpula política do seu governo e se saia com essa conversa bisonha de “terceiro turno”. Um processo de impeachment, por definição, não é golpe. Um golpe se faz fora da lei. Um processo de impeachment, como o nome diz, é um instrumento do aparato legal.

Essa gente perdeu definitivamente o eixo. Está assustada com o som das caçarolas e sai falando qualquer coisa. Vocês não precisam acreditar em mim. Submetam este texto ao jurista de sua preferência, não importa o viés ideológico, desde que seja intelectualmente honesto.

Por Reinaldo Azevedo

 

LULA FAZ UM PEDIDO A DEUS: QUE O POVO BRASILEIRO NÃO ESQUEÇA A LIÇÃO DE QUE PODE TANTO ELEGER COMO DESTITUIR UM PRESIDENTE

Abaixo, há três vídeos protagonizados por Luiz Inácio Lula da Silva. Dois deles foram gravados quando estava em debate na Câmara o impedimento do então presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. Bem, caros, é desnecessário lembrar que, seja no volume, seja no alcance, seja na rede criminosa, o que se viu no governo Collor era coisa de jardim da infância perto do que está em curso agora.

Ora, Collor tinha sido eleito, a exemplo do Lula do mensalão ou da Dilma do petrolão. Atenção! A denúncia contra o então presidente foi aceita na Câmara com base num conjunto de evidências que indicavam que não havia como ele não saber das lambanças de PC Farias. Ato de ofício propriamente? Não havia nenhum! No STF, não custa lembrar, ele se livrou da acusação criminal. O que havia era um conjunto de circunstâncias que apontavam que, quando menos, ele havia atentado contra a “probidade na administração” e “a guarda e o devido emprego dos dinheiros públicos”.

Começo com este vídeo de uma entrevista que ele concedeu ao programa de Serginho Groisman. Lula se regozija com o fato de que os brasileiros deram uma demonstração “de que o mesmo povo que elege um político pode destituir esse político”. E, como se nota, ele não achava que aquilo fosse “golpe”. Lula pede a Deus que o povo nunca mais “esqueça essa lição”.

Neste outro vídeo, num ato em favor do impeachment em Curitiba, o petista diz que ou o Congresso vota o impeachment ou fica desacreditado. Segundo ele, a crise profunda só se resolveria com “a saída do governo”.

Aqui, ele faz digressões sobre a viabilidade do impeachment e deixa claro que o processo decorre de uma pressão que é mesmo de natureza política. 

O PT só descobriu que um processo de impeachment, que está na Constituição e na lei, é golpe quando o presidente é um… petista! Essa gente é uma piada que já perdeu há muito tempo a graça.

Por Reinaldo Azevedo

 

DILMA E O INQUÉRITO – Youssef disse que Dilma sabia de tudo, e Janot não pediu que se abrisse investigação

Você tem todo o direito, leitor amigo, de achar que Rodrigo Janot, procurador-geral da República, fez bem em não pedir que se abrisse um inquérito para apurar a atuação de Dilma Rousseff. Aliás, tem o direito também de se conformar com um argumento ruim ou falso. Mas eu não lhe cassarei o direito de saber disso.

Vamos ver. A imprensa foi praticamente varrida, tomada, impregnada, pela informação, diligentemente saída da Procuradoria-Geral da República, segundo a qual Janot não poderia ter pedido abertura de inquérito sobre a atuação de Dilma por uma limitação constitucional. Afinal, tonitruou Janot, o parágrafo 4º do artigo 86 da Carta é explícito: “O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções”.

Pois é… O relato do depoimento do doleiro Alberto Youssef, do dia 3 de outubro do ano passado, informa: “Eram comuns as disputas de poder entre partidos relacionadas à distribuição de cargos no âmbito da Petrobras e que essas discussões eram finalmente levadas ao Palácio do Planalto para solução; [Youssef] reafirma que o alto escalão do governo tinha conhecimento”.

O doleiro, meus caros leitores,  deu os nomes: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a atual presidente, Dilma Rousseff, e os ex-ministros José Dirceu, Edison Lobão, Ideli Salvatti, Gleisi Hoffmann, Gilberto Carvalho e Antonio Palocci. EU ESTOU ENGANADO, OU GLEISI HOFFMANN SÓ PASSOU A SER PRIMEIRO ESCALÃO NO GOVERNO DILMA, QUANDO FOI PARA A CASA CIVIL?

Vamos a uma questão nível “Massinha I” de Lógica Elementar: digamos — e isto não está evidenciado — que Youssef se referisse apenas à Dilma ministra, não à Dilma presidente: quer dizer que ela sabia de tudo quando estava no ministério e passou a esquecer tudo quando virou presidente?

Ainda se poderia objetar: “Ah, mas Youssef não apresentou provas contra Dilma…”. Certo! E “provas” irrefutáveis contra todos os outros? Existem? Querem um exemplo? Paulo Roberto Costa diz que Antonio Palocci pediu, por intermédio de Youssef, R$ 2 milhões para a campanha de Dilma em 2010. O doleiro nega. E aí?

Na entrevista que concedeu em defesa de Janot, Alexandre Camanho de Assis, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República — entidade sindical que elege o procurador-geral!!! —, afirmou o seguinte:
“Queremos apenas saber se houve crime, que provas são essas, levar as investigações adiante e, só então, haver o pedido de condenação, respeitado o devido direito de defesa e contraditório. O MP tem o dever de levar tudo ao Judiciário e, caso os indícios não sejam confirmados, até mesmo pedir a absolvição dos envolvidos. Mas está havendo muito açodamento, como se o pedido de investigação fosse a própria sentença”.

Ok. Concordo com doutor Camanho. Só quero saber por que essa regra vale para Palocci, os demais petistas, para o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), para o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ou para o também senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), mas não vale para Dilma Rousseff.

A menos, claro!, que alguém me prove que Youssef se referiu a Dilma só até 31 de dezembro de 2010. Eu lido com fatos, com lógica e com leis. Se alguém tiver instrumentos mais precisos, que os empregue. Esses são os meus.
*
PS – Estou pouco me lixando se Cunha, Renan e até o petista Humberto Costa também reclamam de Janot. Eu não aplaudirei, por isso, uma decisão do procurador-geral que considero errada. Sabem por quê? Renan, Cunha e Costa não tomam decisões no meu lugar; não fazem escolhas por mim. Eu não me obrigo a aprovar quem eles reprovam. Segue sem explicação o fato de Janot não ter pedido abertura de inquérito para Dilma Rousseff. A justificativa apresentada, lamento, não para de pé. 

Por Reinaldo Azevedo

 

As declarações infelizes e erradas de tucanos sobre o impeachment

Ai, ai, vamos lá.

Em 2005, logo depois de Duda Mendonça ter confessado na CPI que o PT depositou o que lhe devia numa conta no exterior — e na vigência do mandato de Lula —, houve quem dissesse no próprio PT que um processo de impeachment seria inevitável. Um ministraço do então presidente chegou a sugerir que ele fosse a público para declarar que não se candidataria à reeleição no ano seguinte para tentar salvar o mandato.

Atribui-se a FHC, e ele nega que isso tenha acontecido, a tese do “deixar Lula sangrar no cargo” em vez de apoiar um processo de impedimento. Seria menos traumático para o país. Como o ex-presidente era, sim, contra o impeachment e segue defendendo aquela opinião até hoje, suponho que a tese do “sangramento” não seja mesmo sua. Mas foi, sim, adotada pelo PSDB. Deu no que deu. Lula foi reeleito. Elegeu sua sucessora, que se reelegeu.

Pois bem… Essa expressão infeliz voltou a ser ouvida nesta segunda num evento no Instituto FHC. Aloysio Nunes Ferreira, senador por São Paulo e vice na chapa de Aécio Neves, afirmou apoiar as manifestações de protesto marcadas para o dia 15, disse que são legítimas, mas ponderou: “Não quero que ela saia. Quero sangrar a Dilma. Não quero que o Brasil seja presidido pelo Michel Temer”.

Aloysio exerce com muita dignidade e correção o seu mandato, mas a fala é, de vários modos, infeliz. A um senador cabe defender o cumprimento da lei. Se ele acha que não há motivo legal para Dilma ser impedida, que diga. Juristas respeitáveis acham a mesma coisa, embora eu discorde. Defender o “sangramento” como estratégia quer dizer o quê? Ele acha que o custo da saída é maior do que o da permanência? Ele acha que, desse modo, os tucanos podem chegar com mais facilidade ao poder? Qual é a tese? Esse último cálculo já brinda o país com o quarto mandato consecutivo do PT.

Segundo o jornal Valor Econômico, “o senador também previu um quadro de crise política sem perspectivas de saída dada a falta de capacidade da presidente em liderar esse processo. Segundo ele, Dilma está desvinculada da realidade nacional”. Quanto tempo o senador Aloysio calcula que pode durar, então, essa sangria?

FHC também se disse contrário ao impeachment: “Não adianta nada tirar a presidente”. De fato, “não adianta nada” se os métodos continuarem os mesmos. Mas o que me pergunto é se a tarefa dos tucanos, num momento como o que vivemos, é essa. E a resposta é “não”.

Em primeiro lugar, de FHC, Aloysio e de quaisquer outros defensores de um regime democrático, o que eu espero é que defendam o cumprimento da lei. Se ficar caracterizado que a presidente cometeu crime de responsabilidade, “sangrar no cargo” deixa de ser matéria de gosto, de escolha ou de estratégia política. Se a voragem não colher Michel Temer, ele será o presidente da República — e também não há “querer” quanto a isso.

Em segundo lugar, é escancaradamente evidente que os tucanos, de fato, nada têm a ver com os protestos do dia 15. Declarações como essas parecem adotar a tese mentirosa do PT de que o debate sobre o impeachment tem um viés golpista. E, obviamente, não tem. Golpe é fazer de conta que a lei não existe.

Em terceiro lugar, declarações assim parecem fazer pouco caso, embora não creio que tenha sido a intenção, da insatisfação de milhões de brasileiros. Se os tucanos defenderem o cumprimento da Constituição e das leis, estarão fazendo a coisa certa.

Por Reinaldo Azevedo

 

Propina financiou campanha de Dilma em 2010, diz delator

Por Marcela Mattos e Gabriel Castro, na VEJA.com:

Em depoimento de cinco horas na CPI da Petrobras, o delator Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da estatal, voltou a colocar as contas do PT no centro do escândalo de corrupção: ele afirmou à comissão que foram solicitados 300.000 dólares do megaesquema de lavagem de dinheiro para serem injetados na campanha de Dilma Rousseff à Presidência em 2010.

Aos parlamentares, Barusco repetiu o que havia afirmado em delação premiada à Justiça: Renato Duque, que exercia a função de diretor de Serviços da Petrobras, fez o pedido de dinheiro diretamente à empresa holandesa SBM Offshore. “Foi solicitado à SBM um patrocínio de campanha, só que não foi dado por eles diretamente. Eu recebi o dinheiro e repassei num acerto de contas em outro recebimento. Foi para a campanha presidencial em 2010, na que teve José Serra e Dilma Rousseff. [A doação] foi ao PT, pelo João Vaccari Neto”, afirmou.

Embora tenha afirmado não ter tratado diretamente de indicações políticas com os diretores da Petrobras, o executivo afirmou que, internamente, “havia rumores que o PT, através de José Dirceu, teria indicado Renato Duque, e que o PP, através do deputado José Janene, havia indicado o Paulo Roberto”.

Após a sessão, o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), disse que o depoimento de Barusco comprova que não há razão para incluir o governo FHC na investigação. “O depoimento reforça a ideia de que a CPI deve se focar no seu objeto. Ele deixou claro que recebeu propina entre 1997 e 2002 por uma iniciativa individual’, afirmou.

Vaccari – O depoimento de Barusco comprova o envolvimento direto do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no esquema de corrupção da Petrobras. Em acordo de delação premiada, o executivo já havia apresentado uma estimativa de Vaccari ter recebido de 150 a 200 milhões de dólares em propina entre 2003 e 2013. “Como na divisão da propina cabia ao PT receber o dobro ou um pouco mais, eu estimo que o partido deve ter recebido o dobro do que eu”, afirmou. “Eu sei que existia uma reserva de propina para o PT receber”, continuou. No acordo de delação premiada, Barusco aceitou devolver à Justiça 97 milhões de dólares de dinheiro ilegal.

Nos corredores da Petrobras, Vaccari era conhecido como um dos operadores da propina, ao lado dos empresários Mário Goes e Shinko Nakandakari. O tesoureiro, conforme detalhou Barusco nesta terça-feira, chegou a se encontrar com os diretores para negociar os pagamentos na própria estatal. “Vemos aí o tesoureiro do PT se reunindo com diretores para colher doações ao partido. É um verdadeiro assalto à Petrobras”, afirmou o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), durante a sessão.

Vaccari também pegou dinheiro do Gasene, uma rede de gasodutos construída entre o Rio de Janeiro e a Bahia. As obras foram questionadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). “Eu sei que a propina foi destinada a mim, ao Duque e à parte relativa ao PT. A gente sempre combinava esse tipo de assunto com o Vaccari. Ele era o responsável”, disse o ex-gerente da Petrobras. O delator deixou claro que a participação de Vaccari não era por conta própria, mas sim em nome do partido. “O rótulo era PT”, resumiu.

“Eu não sei quem deu procuração para o Vaccari atuar nas empreiteiras, mas o fato é que ele atuava. Os empresários todos o conheciam. Ele tinha interlocução com todos”, afirmou Barusco. O executivo também disse que encontrava Vaccari e Duque normalmente no hotel Windsor Copacabana, no Rio de Janeiro, e no hotel Sofitel Sena Madureira e no Meliá em São Paulo. Barusco detalhou ainda o clima de naturalidade na negociação de pagamento de propina: “Com os empresários, Vaccari e Duque, eram conversas negociais. Não houve extorsão nem constrangimento”, afirmou.

Por Reinaldo Azevedo

 

Barusco em Brasília – Um relato sobre a banalidade da roubalheira

É claro que pego carona em “Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal”, de Hannah Arendt, que registra a sua percepção sobre o carrasco nazista durante o seu julgamento em Israel, depois de ter sido sequestrado na Argentina, em 1960, para onde havia fugido, e conduzido a julgamento. Não estou, é evidente, estabelecendo uma comparação na escala do horror. Seria um absurdo. Meu ponto é outro.

O livro de Hannah Arendt gerou algumas incompreensões — despropositadas, como todas. Alguns entenderam que ela deitou um olhar condescendente sobre o monstro que estava no banco dos réus. Bobagem! O que a espantava era o fato de que, à sua frente, não estava o que parecia ser um gênio do mal, um ser bilioso ou atrabiliário. Também não era um ideólogo, um prosélito, um convicto, um belicoso. Tratava-se, em suma, de um homem comum, medíocre, de um burocrata do mal. E só.

Aquele que seria o defeito do livro — os relevos pobremente humanos de Eichmann — resumia, na verdade, o seu real valor. As sociedades livres são permeáveis a essa degeneração. Os que servem aos piores regimes não estão necessariamente comprometidos com as suas teses. Por isso, meus caros — e aqui sou eu, não Hannah Arendt —, é preciso cuidar da educação das elites políticas. E, nesse caso, não emprego “elite” no sentido miseravelmente deturpado por Lula e a escória de pensadores que o justificam.

Volto agora a Barusco. Acompanho o seu depoimento na CPI. Um senhor com aparência respeitável. Ali está um homem comum. É possível que tenha senso de decoro para as pequenas coisas do cotidiano. Quem sabe goste de animais… Se flagrar uma injustiça no seu caminho, talvez intervenha. Suponho que um conhecido seu em dificuldades pode merecer a sua ajuda.

Mas com que fluidez, com que precisão burocrática, com que sem-cerimônia que parece rotineira, quase cartorial, ele vai desfiando as irregularidades, listando-as, mostrando como funcionava o esquema criminoso. A sem-vergonhice já havia sido metabolizada pelo sistema, como se nada de mau ocorresse por lá; como se fosse natural que a Petrobras servisse a um esquema de poder e fizesse a felicidade material daqueles que estavam associados à quadrilha.

Talvez os vizinhos de Barusco alimentassem alguma dúvida sobre o seu progresso material — embora ele guardasse no exterior a imensa fortuna amealhada com o roubo. Alguns devem tê-lo convidado para o churrasco no fim de semana, ignorando que ele era peça de um esquema que sangra os cofres públicos, de maneira determinada, desde 2003. Ele próprio, confessou, entrou no ramo um pouco antes: em 1997. Mas servindo, nesse caso, apenas a si mesmo.

Entenderam, leitores, por que precisamos de instituições sólidas? É claro que os homens fazem as suas escolhas. É claro que os indivíduos podem fazer a diferença. No mais das vezes, delinquir ou não delinquir é matéria de escolha pessoal, sim. Ocorre que é impossível um tribunal público investigar o fundo de cada consciência. Por essa razão, precisamos ter modelos de gestão pública que diminuam a margem de arbítrio de pessoas e grupos organizados.

É por isso que as instituições têm de ser imparciais. É por isso que elas não podem ser assaltadas por grupos organizados. É por isso que elas não podem ser aparelhadas. Para que os justificadores do mal não contem com a colaboração interessada de funcionários como Pedro Barusco. Ele é a banalidade da corrupção.

Dilma voltou a ser vaiada, desta feita em São Paulo. Os que protestavam gritavam “Fora PT”. Parece que os brasileiros estão aprendendo alguma coisa. Parecem compreender que, tão importante como responsabilizar o criminoso em si, é denunciar o esquema que o suporta. Temos de buscar uma sociedade em que banal seja cumprir as leis democraticamente pactuadas.

Por Reinaldo Azevedo

 

À CPI, delator diz que corrupção foi institucionalizada no governo Lula

Por Gabriel Castro e Marcela Mattos, na VEJA.com:
O delator Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras, fala nesta terça-feira à CPI que investiga o esquema de corrupção na estatal. Segundo ele, a corrupção da Petrobras foi “institucionalizada” a partir de 2003 ou 2004, já no governo Lula. Como já havia feito em seu acordo de delação premiada, Barusco reconheceu que recebeu propina em 1997 da holandesa SBM Offshore, mas afirmou que agiu por “iniciativa pessoal” junto com o representante da empresa.

O relator da CPI, o petista Luiz Sérgio (PT-RJ), foi o primeiro a fazer perguntas e quis saber quando o esquema mais amplo de corrupção se instalou: “A forma mais ampla, em contato com outras pessoas da Petrobras, de uma forma mais institucionalizada, foi a partir de 2003, 2004. Não sei precisar exatamente a data, mas foi a partir dali”, afirmou o ex-gerente.

Barusco disse aos parlamentares que sua ascensão na Petrobras nunca dependeu de indicações políticas. Ele ingressou na estatal por concurso, em 1979.

Pedro Barusco disse que “praticamente” toda a propina que recebeu foi paga no exterior, em contas na Suíça. Ele afirmou que não tem detalhes de com o dinheiro era repassado a Vaccari. “Eu recebia só para mim e para o Renato Duque”. O ex-gerente reafirmou, entretanto, que havia até mesmo uma “prestação de contas” na divisão da propina. Ele contou aos parlamentares que fazia o controle dos pagamentos por meio de planilhas e que, periodicamente, em um período de dois a quatro meses, havia um acerto de contas com os operadores do esquema. “O mecanismo envolvia o representante da empresa, eu , o diretor Duque e João Vaccari. São os protagonistas”, resumiu.

O delator deixou claro que a participação de Vaccari não era por conta própria, mas sim em nome do partido. “O rótulo era PT”, explicou, acrescentando que o tesoureiro petista também esteve à frente do recebimento de comissões em obras do Gasene, uma rede gasoduto construída entre Rio de Janeiro de Bahia. As obras foram questionadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). “Eu sei que a propina foi destinada a mim, ao Duque e à parte relativa ao PT. A gente sempre combinava esse tipo de assunto com o Vaccari. Ele era o responsável”, disse o ex-gerente da Petrobras.

Barusco também disse que o PMDB se beneficiou dos desvios na Diretoria de Abastecimento, sob comando de Paulo Roberto Costa, e que a Diretoria de Serviços era da cota do PT. “A divisão da propina, até onde eu sabia, iria para o PP e, mais recentemente o PMDB no caso do diretor Paulo Roberto Costa. E no caso do diretor Renato Duque atendia ao PT. É isso que eu sabia e que eu vivenciava”, afirmou.

Sete Brasil
Quando se aposentou, aos 55 anos de idade, Barusco assumiu o cargo de diretor operacional da Sete Brasil, empresa dedicada ao aluguel de sondas para a exploração do pré-sal e que é fruto de uma sociedade da Petrobras com empresas privadas, como BTG, Santander e Bradesco, e fundos de pensão. Barusco admitiu que a Sete cobrava 1% de propina sobre os contratos, que somam 22 bilhões de reais. O ex-diretor disse que seu cargo era da cota de indicação da Petrobras, sob responsabildade do então presidente José Sérgio Gabrielli. “Quem me indiciou foi a Petrobras. Quem foi a pessoa que defendeu a minha colocação eu acho que foi o Renato Duque e o presidente Gabrielli”, afirmou.

“Sobre a divisão [de propina] da Sete, como tinha o Vaccari e outras pessoas envolvidas, houve uma divisão prática: um estaleiro pagava a mim e ao Duque, outro pagava ao Vaccari, e assim seguia, porque senão ficava uma movimentação financeira cruzada muito complexa”, explicou.

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) questionou a forma como a Sete Brasil foi criada. “É carta marcada. O senhor chega lá colocado do nada, a empresa nasce do nada e ela de repente tem 22 bilhões para roubar?”, disse.

SBM
Pedro Barusco também confirmou que Renato Duque pediu à holandesa SBM um pagamento de 300 000 dólares para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência de 2010. Embora diga não ter tratado diretamente de indicações políticas com os diretores, ele disse ainda que, internamente, “havia rumores de que o PT através do José Dirceu teria indicado Renato Duque e que o PP, através do deputado José Janene, havia indicado o Paulo Roberto”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Toffoli será o quinto elemento da turma que vai julgar o petrolão

Vamos lá. O ministro Dias Toffoli, do Supremo, pediu para ser transferido para a segunda turma, que vai julgar os políticos envolvidos com o petrolão. Enviou de próprio punho um ofício ao presidente do STF, Ricardo Lewandowski. Antes que prosperem versões conspiratórias, vamos aos fatos e à lógica.

Aos fatos: Toffoli não tomou a iniciativa de integrar a turma. Atendeu a uma solicitação feita pelos outros quatro membros do grupo: Gilmar Mendes, Teori Zavascki, Cármen Lúcia e Celso de Mello, o que este blog confirmou de forma inequívoca com dois ministros. Ou por outra: integra a turma com o apoio unânime de seus pares.

A presidente Dilma, até agora, não indicou ninguém para a vaga aberta com a saída de Joaquim Barbosa. O risco de empate nas votações é grande. É evidente que se faz necessário preencher essa quinta vaga.

Sim, Toffoli foi advogado eleitoral do PT e assessor da Casa Civil no governo Lula. Já discordei de votos seus e já concordei com outros. Concorde eu ou não com as suas teses, no entanto, acho que tem uma atuação independente. De resto, reitero, ele não tomou a iniciativa de pedir a transferência. Atendeu a uma solicitação.

Há mais. Se alguém quer alimentar teorias conspiratórias de que ele estaria entrando lá para isso e aquilo, convém considerar: o quinto elemento da turma — e o 11º do Supremo — será necessariamente indicado por Dilma, não? Mais: seria preciso inferir que os outros quatro ministros resolveram participar da suposta armação. Isso tudo é bobagem. Goste eu ou não dos votos que ele venha a dar, não estamos no meio de uma conspirata.

Como informa Vera Magalhães, na Folha, o relator do processo, Zavascki, é também o presidente da turma. Esse mandato termina em maio. Como Celso de Mello já disse que não pretende presidir mais nada, o mais antigo do grupo e que ainda não exerceu a função é justamente Toffoli. A presidência, portanto, ficará com ele. A coisa vai demorar… Vai dar tempo de passar por todos eles…

Por Reinaldo Azevedo

 

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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3 comentários

  • Lourivaldo Verga Barra do Bugres - MT

    O Pai Nosso da era PT: Pai Nosso que estais no Céu, sacrificado está o seu povo.... o pão nosso de cada dia mais caro, perdoai nossa burrice, assim como nós perdoamos os maus eleitores, que nos deixaram essa tentação e livrai desse MAU. Amém!

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      E' MAL ----COM L DE LORIVALDO----VIU !---- VE SE NAO ESQUECE.

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  • Ney Ataíde de Lima gaucha do norte - MT

    O PMDB é um partido covarde, nunca irá lançar candidato, sabe por que? Prefere ficar mamando e sugando todos os partidos que entram na presidência,acredito que um dos principais motivos do Brasil ter tanta corrupção se chama PMDB, por que nunca terá coragem,e sempre só saberá sugar e ter um bom numero de senadores e deputados para que isso ocorra. Abre o olho povo meu.

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  • Elmo Sanches Flumignan Londrina - PR

    Gostaria que alguem comentasse a hipotese de que o impeachment somente terá lugar depois de transcorrido o período em que, vacante o cargo de presidente, assume o vice para completar o mandato (nao se convoca nova eleiçao).

    Antes disso, o PMDB vai ficar "fritando" a Dilma até que seja destituída. Com o seu vice assumindo a presidencia, será muito mais facil o PMDB ganhar as seguintes eleiçoes. Até lá, nao adianta vaiar, bater panelas e ir para as ruas...

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