IMPEACHMENT? RENÚNCIA? olhos se voltam para o vice-presidente Michel Temer.

Publicado em 14/03/2015 11:31
por Ricardo Setti, de veja.com.br

IMPEACHMENT? RENÚNCIA? Diante da brutal crise vivida por Dilma, é natural, em vista da História, que os olhos se voltem para o vice-presidente Michel Temer. Afinal, dos 39 presidentes brasileiros, nada menos do que sete foram vices que governaram

(Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Dilma com Temer: o vice tem sido leal com a presidente, mas, se ela se afastar ou for afastada, não seria, de forma alguma, o primeiro vice a assumir em definitivo (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

O negrume da crise que envolve a presidente Dilma Rousseff, com a explosão do escândalo do petrolão, o descontrole da economia e a falta de liderança para lidar com o Congresso e com os grandes problemas do país, levou, como se sabe, o índice de aprovação do governo a seu ponto mais baixo na história desses levantamentos, com miseráveis 7%.

Vários setores sociais falam em impeachment e personalidades de peso pedem sua renúncia.

Independentemente de considerar se são ou não válidas essas duas saídas, o fato é que muitas atenções se voltam, cada vez mais, para o vice-presidente Michel Temer, 74 anos, paulista de Tietê, ex-deputado federal, ex-presidente da Câmara dos Deputados e no posto desde 2011.

Temer, que foi mantido à margem de negociações políticas nas primeiras semanas do governo Dilma, está sendo reincorporado às conversas por Dilma e vem se mantendo leal à presidente.

O fato, porém, é que seu cargo vem carregado de história — no Brasil e na pátria-mãe do presidencialismo, os Estados Unidos.

Em regimes presidencialistas, enquanto tudo corre bem com o titular o vice-presidente da República não é ninguém — muitas vezes reduzido a uma situação de joão-ninguém tal que levou um ocupante do cargo nos Estados Unidos no começo do século XX a classificá-lo, com a franqueza rude daqueles tempos, como “tão importante quando um balde de cuspe”.

Ao mesmo tempo, porém, na poética (e terrível) expressão usada nos EUA, o vice está a apenas “uma batida de coração” da Presidência. Embora haja presidentes que atribua missões relevantes a seus vices, em geral o vice não é nada, politicamente — até que vira “o cara”. Pois nos EUA, por exemplo, desde que George Washington foi eleito, em 1788, nada menos que 12 dos 44 presidentes foram vices que acabaram assumindo de vez, só um deles pela renúncia do titular. Vejam bem, DOZE! Vários teriam um papel crucial na História.

Para só ficar com dois casos dramáticos: o obscuro ex-governador do Tennessee Andrew Johnson sucedeu a um gigante, Abraham Lincoln, com a imensa tarefa de juntar os pedaços de um país dilacerado pela Guerra Civil (1861-1865) e pelo assassinato do presidente num teatro de Washington.

Um ex-senador jeca e quase anônimo de uma remota cidade do Missouri chamado Harry S. Truman teve que substituir em 1944 outro colosso, Franklin D. Roosevelt, falecido em plena fase final da II Guerra Mundial no começo de seu quarto mandato consecutivo – e a Truman caberiam algumas decisões não apenas cruciais para os EUA, mas que acabaram moldando o século XX, como o lançamento de duas bombas atômicas contra o Japão, em 1945, e o estabelecimento do Plano Marshall, que reergueu a Europa das cinza após a catástrofe da II Guerra Mundial (1939-1945).

(Foto: Presidência da República)

Floriano Peixoto: primeiro vice a assumir, governou por muito mais tempo do que o titular (Foto: Presidência da República)

No Brasil, desde o nascer da República por meio de um golpe militar, em 1889, temos vivido o que eu costumo chamar de “o paradoxo do vice”: aquela mesma circunstância dos EUA segundo a qual ele não tem importância nenhuma, até o momento em que passa a ter total importância.

Na República Velha, pelo menos três vices governaram, começando, já de cara, pelo primeiro, Floriano Peixoto, que por meio de várias manobras, ao suceder Deodoro da Fonseca, em 1891, reinou virtualmente como ditador e teve presença muito mais marcante do que o velho marechal: Deodoro governou por um ano, Floriano exerceu o poder por três anos.

Até Getúlio Vargas assumir como presidente provisório após a Revolução de 1930 (e desconsiderando três militares que nominalmente governaram por alguns dias, em junta), outros dois vices governaram por morte do titular, ocorrida no posto ou antes de assumir: Nilo Peçanha (1909-1910) e Delfim Moreira (1918-1919).

(Fotos: Presidência da República)

Nilo Peçanha governou por ano e meio, entre 1909 e 1910, após a morte, no cargo, do presidente Afonso Pena. Já Delfim Moreira assumiu provisoriamente em decorrência da morte, antes de assumir, do presidente eleito Rodrigues Alves (que exerceria seu segundo mandato). Governou por oito meses, até julho de 1919, pois a Constituição previa novas eleições quando o presidente falecesse na primeira metade do mandato. Epitácio Pessoa foi eleito para completar o período presidencial até novembro de 1922  (Fotos: Presidência da República)

Na República surgida da Constituição de 1946, dois dos seis presidentes até o golpe de 1964 — UM TERÇO dos chefes de governo — foram vices que assumiram: Café Filho (1954-1955), que governou o país nas difíceis circunstâncias do pós-suicídio de Getúlio Vargas, e João Goulart (1961-1964), entronizado — depois de grave crise política após a renúncia de Jânio Quadros.

Depois da redemocratização, em 1985, já tivemos cinco presidentes eleitos (Tancredo, pelo Colégio Eleitoral, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma), mas – nem é preciso lembrar – DOIS vices governaram, José Sarney (1985-1990), e Itamar Franco (1992-1995).

Então, dos 39 presidentes efetivos — excluídas também a junta militar que substituiu o presidente Costa e Silva em 1969 e presidentes efêmeros, que estiveram no cargo quase decorativamente por alguns dias, como o deputado Carlos Luz, em 1955, e o deputado Ranieri Mazzilli, em 1964 –, nada menos do que sete foram vices efetivados no cargo.

Com a frequência com que vices, aqui e alhures, assumem e governo, não é estranhável que Temer chame a atenção. Nem que seja pelo que relata a História.

(por Ricardo Setti)

 

Devemos temer Temer? Ou: Alguém acha mesmo que dá para ser pior do que Dilma?

O uso do trocadilho é irresistível, mas pergunto com seriedade: devemos temer Temer? Com a popularidade de Dilma caindo a um dígito apenas, e as manifestações de domingo ganhando cada vez mais peso nas redes sociais e também fora delas, o impeachment passa a ser cada vez mais uma possibilidade concreta. Já tem até partido o defendendo abertamente.

Com isso, surge automaticamente uma questão: e se Michel Temer for o presidente do Brasil? Petistas e simpatizantes, abertos ou disfarçados, espalham a ideia de que seria terrível para o país entregar o poder diretamente para o PMDB. O discurso vai mais ou menos na seguinte linha: você acha que as coisas estão ruins hoje? Então espere para ver como serão se Temer for o presidente!

Em sua coluna de hoje no GLOBO, Luiz Garcia foi por essa linha de raciocínio, defendendo que a estratégia dos tucanos, expressa pelo senador Aloysio Nunes, de deixar a presidente “sangrando” até 2018, faz todo o sentido. Disse ainda que o país viveria o risco de Temer no comando do governo:

Impeachment não traria qualquer vantagem para o PMDB e faria de Dilma uma vítima. É bem mais interessante para a oposição uma presidente enfraquecida, que teria grande dificuldade para fazer o seu sucessor.

Faz sentido. E mesmo que essa seja uma atitude que seja útil apenas para o PSDB, quem mais quer Temer tomando conta do país?

Esse tipo de demonização do PMDB tem um único problema: ignora que o PT é muito, muito pior! Ninguém precisa virar advogado do PMDB aqui, até porque seria tarefa inglória. O partido é fisiológico, tem muitos corruptos ali dentro, representa em parte o coronelismo nordestino. Todos sabem disso. Mas só interessa aos petistas essa tentativa de pintar o PMDB, parte da base aliada do governo, como o diabo.

O filósofo Marcos Nobre, que tem atacado o conceito de “peemedebismo” como a verdadeira força hegemônica na política brasileira, capturou bem esse clima contra o PMDB que esteve presente nas manifestações de junho de 2013. Mas a quem interessa destruir o PMDB hoje, senão ao próprio PT, que teria o poder todo para si?

Era essa a ideia por trás do mensalão: comprar o Congresso para não precisar negociar com ele. O PT tem um projeto autoritário de poder, e engolir o PMDB é algo que faz a contragosto. O partido tem muito poder, sem dúvida, e prova isso agora em sua rebeldia, dificultando a vida da presidente Dilma. Mas isso serve para o bem e para o mal. Se o PMDB pode dificultar reformas positivas para o país, pode também impedir mudanças terríveis.

É o que tem feito em relação a vários projetos petistas. O controle da imprensa, por exemplo. É inegável que o PMDB, com todos os seus defeitos, tem um histórico de firme defesa da liberdade de imprensa, um dos alvos preferidos do PT. Nada que atente contra a imprensa será aprovado enquanto o PMDB tiver poder. Ficasse o PT livre desse obstáculo, o Brasil já seria como a Argentina ou a Venezuela.

O tema de um editorial do GLOBO de hoje é justamente o avanço bolivariano sobre a liberdade de imprensa, usando como gancho o relatório da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) sobre a Venezuela. “Ao revelar detalhes do cerceamento à liberdade de imprensa nestes países, o relatório da SIP confirma, mais uma vez, que a guerra contra os meios de comunicação profissionais é uma das facetas do regime bolivariano, idealizado por Hugo Chávez, e aliados”, conclui.

Quando pensamos nisso, e lembramos que o PT é o representante do chavismo no Brasil, não o PMDB, como podemos achar ruim a troca de Dilma por Temer? Em outro editorial, o GLOBO reforça a necessidade de preservarmos nossas instituições democráticas, e conclui: “E quanto aos lulopetistas, precisam se convencer da inviabilidade do projeto de se eternizar no poder por vias que não sejam as da democracia representativa. Não há espaço mais no Brasil para surtos de autoritarismo, não importa de que lado venham”.

Alguém acha que o PMDB representa um risco maior a isso do que o PT? Alguém acha que Temer seria pior mesmo do que Dilma? Aliás: alguém consegue imaginar um líder pior do que Dilma? Parece difícil. Mentiras escancaradas, arrogância, pedantismo, ideologia equivocada, falta de articulação política, autoritarismo, incompetência: essas são as marcas da gestão de Dilma. Cientes disso, devemos temer Temer?

Pode-se ser contra o impeachment por vários motivos: receio do impacto disso nas instituições, clima de incerteza, volta do Lula, falta de provas concretas de responsabilidade da presidente, estratégia política para derrotar de vez o PT nas urnas, evitar a vitimização de Dilma ou desejar que o caos econômico e social por ela produzido recaia sobre seu próprio ombro. Mas ser contra o impeachment por achar que Temer – ou qualquer um! – seria um presidente pior do que Dilma, isso não faz o menor sentido.

Rodrigo Constantino

 

 

Ibovespa atinge menor valor em dólar dos últimos 6 anos

O clima é quase de pânico. O desencanto com o Brasil de Dilma é total, e os investidores jogam a toalha. O Ibovespa já chegou a 48 mil pontos, e o dólar encostou em R$ 3,30 de forma muito acelerada. A tempestade perfeita vai ganhando força. O Ibovespa, em dólar, atingiu o menor patamar dos últimos 6 anos. Ou seja, o investidor global já amargura grande prejuízo por ter apostado nos ativos brasileiros durante o governo Dilma.

EWZ semana (Ibovespa em dólar). Fonte: Bloomberg

EWZ semana (Ibovespa em dólar). Fonte: Bloomberg

A queda livre do Ibovespa em dólar é visível, com clara trajetória de baixa. Após a reeleição de Dilma, a queda se acentuou e nos últimos dias está pior ainda. Quando observamos o gráfico mensal, de mais longo prazo, a coisa fica mais transparente:

EWZ mensal. Fonte: Bloomberg

EWZ mensal. Fonte: Bloomberg

A euforia de 2003 a 2008 foi infundada, uma bolha causada pelo crescimento chinês e o baixo custo de capital no mundo. Após o estouro da bolha em 2008, houve nova rodada de estímulos, e os mercados emergentes voltaram a subir. Mas o Brasil já tinha ficado para trás, com desempenho pior do que a média de seus pares, devido aos problemas intrínsecos da gestão do PT. Agora isso cobra um preço mais alto, e a conjunção dos vetores – queda da bolsa com alta do câmbio – mostra sua cara horrenda. O dólar disparou, o que já caracteriza uma maxidesvalorização:

Dólar em reais. Fonte: Bloomberg

Dólar em reais. Fonte: Bloomberg

A crise é séria, e negá-la, como vem fazendo o governo Dilma, não é o caminho. Colocar a culpa nos Estados Unidos tampouco resolve algo. Estamos vendo um agravamento preocupante da crise, que poderá levar a uma fuga descontrolada de recursos do país. Ou o governo para de criar desculpas esfarrapadas e realmente enfrenta o problema, mudando radicalmente sua postura, ou ninguém sabe onde isso vai parar…

Rodrigo Constantino

 

 

Quem planta vento colhe tempestade. Ou: O PT radicalizou ignorando a Lei de Newton

Invasores do MST: radicais que formam o braço-armado do PT

Tive um bate-papo civilizado ontem com um marxista. Sim, descobri que isso é possível. Trata-se de Luiz Carlos Prestes. Calma, não fui a uma sessão espírita com direito à psicografia. Falo do filho do antigo líder comunista. Temos uma amiga em comum. Prestes trabalha com economia da cultura e seu objetivo, agora, tem sido unir esforços em defesa da democracia. Não gosta do PT. Conseguimos, portanto, encontrar algum denominador comum, ainda que, confesso, seja difícil eu aceitar na mesma frase marxismo e democracia: ambos são incompatíveis na prática.

Com fala tranquila (na forma), Prestes se mostrou preocupado com o radicalismo que vem tomando conta do país, onde paixões extremadas impedem qualquer raciocínio mais frio. É preciso pensar o futuro do país, unir lideranças de diferentes vertentes ideológicas para deixar as diferenças de lado e resguardar nossa democracia, hoje ameaçada. Quem são esses líderes moderados? Ambos reconhecemos que FHC tem tentado fazer sua parte, ainda que eu tenha críticas à sua postura um tanto negligente com o PT.

Confesso que considero um tanto irônico o desejo de maior moderação partindo de quem elogia o MST. Mas deixando isso de lado, o conteúdo da mensagem é válido: o Brasil poderia aproveitar um pouco mais de moderação nos debates políticos. O clima está tenso, há extremistas para todo lado, e tem gente querendo dar um golpe de lá (bolivariano) ou de cá (intervenção militar). O país necessita, neste delicado momento, de lideranças que consigam evitar o radicalismo e a tentação de jogar lenha na fogueira.

Foi o tema da coluna de Demétrio Magnoli hoje no GLOBO. Após falar dos malucos do Estado Islâmico, que querem destruir obras de arte para, com isso, destruir o passado e controlar o futuro (sombrio), Demétrio chegou na realidade política nacional, e concluiu:

A fabricação de uma história caricatural, apoiada na dicotomia fácil, contraria a regra implícita da democracia, que é o reconhecimento da legitimidade da divergência. No PT e nos seus tentáculos acirra-se o extremismo retórico. Envenenado, o debate público afunda no pântano da intolerância, degradando-se em briga de rua. É nessa atmosfera impregnada que, como reação, configura-se uma narrativa simétrica, alicerçada em visceral aversão ao lulopetismo. De acordo com ela, o PT não passaria de uma “quadrilha” de celerados consagrada à espoliação do país, enquanto os governos lulopetistas representariam um longo, insuportável, parêntesis na gloriosa jornada nacional.

A crise do governo de Dilma Rousseff inflama a nossa “guerra de memória”, que se esparrama perigosamente dos casulos da internet para o cenário da praça pública. Numa ponta, um Lula acuado, quase ensandecido, convoca o “exército de Stédile”. Na outra, patéticos radicais de salão pregam o extermínio do lulopetismo a golpes judiciais. Quando se celebram os 30 anos do fim do regime militar, renunciamos ao debate democrático. Preferimos esburacar touros alados virtuais com furadeiras de brinquedo.

Demétrio tem um ponto, como Prestes também tem. Mas acho que erram ao jogar os dois extremos no mesmo saco, ignorando que um, representado por parcela ínfima da população e longe do poder, é reflexo do outro, organizado e no poder. O PT vem adotando uma retórica de “nós contra eles” há muito tempo, segregando a população, jogando uns contra os outros como uma estratégia de poder. É natural que isso tenha reação, como sabem aqueles que conhecem a Terceira Lei de Newton.

A internet faz sua parte, acirrando os ânimos e ajudando a criar um clima de “Fla x Flu”. Mas até aqui há uma explicação alternativa que não deve ser ignorada: após décadas de hegemonia da esquerda na cultura, nas escolas e universidades, e até na imprensa, a direita encontrou finalmente sua voz nas redes sociais. Não nego que em muitos casos isso significou um radicalismo tosco, mas as pessoas estavam cansadas de ver radicais de esquerda tratados como “moderados”.

Como autor de um blog bastante visitado pela direita, posso atestar que esse clima de radicalismo existe mesmo. Quando ousei tecer críticas aqui a Jair Bolsonaro, por exemplo, fui alvo de ataques raivosos de muita gente. Passei automaticamente a ser visto como um traidor, um covarde, ou quase um petista! É uma postura que em nada contribui para a formação de um Brasil melhor, plural e democrático.

Bolsonaro, uma voz mais radical da direita, mas uma reação natural ao extremismo da esquerda.

Já reparei, também, que boa parcela dos leitores quer mesmo ver o circo pegar fogo. Adora quando um deles, do lado de lá, é massacrado, desmascarado, destruído. Os artigos mais profundos, com mais filosofia política e argumentos impessoais, atraem bem menos audiência. Já uma carta contra um idiota feito Juca Kfouri, que merecia ser simplesmente ignorado, fica viral, é lida por mais de 150 mil pessoas em dois dias, e recebe quase 30 mil curtidas. A turma quer duelos, chega ao blog com sangue nos olhos.

Não consigo culpá-los tanto quando lembro que é o PT no poder. Eis meu ponto aqui: tudo isso, que não é positivo para o futuro do Brasil, é uma consequência dos atos petistas. Demétrio rejeita a ideia de que o PT seria uma “quadrilha”, mas pergunto: e não parece justamente isso? Uma quadrilha disfarçada de partido político? Então quer dizer que reconhecer um fato agora passou a ser coisa de radical? Não posso aceitar isso.

A esquerda multiculturalista europeia plantou as sementes do caos, ao ignorar por décadas os alertas de liberais e conservadores de boa estirpe. Deixaram o monstro do islamismo radical crescer em seu próprio quintal, e o “welfare state” quebrar os governos. Tudo isso produziu um ambiente favorável aos representantes da direita radical, como Le Pen. Mas vejam: é um resultado do esquerdismo incompentente!

No Brasil é a mesma coisa. Quando um partido radical e golpista como o PT chega ao poder, começa a adotar uma agenda claramente chavista, aparelha o estado todo, e a “oposição” adota uma postura pusilânime como a do PSDB, é natural que vozes mais radicais da direita conquistem espaço. É o efeito esperado da conivência ou negligência com os radicais de esquerda, tratados por muitos como moderados, o que definitivamente não são.

Por isso estou convencido de que qualquer saída para o impasse do radicalismo passa pela retirada do PT do poder. Enquanto essa turma estiver no poder, adotando esses métodos nefastos e abjetos, será difícil condenar o extremismo de quem não suporta mais o lulopetismo. Qualquer pessoa razoável, afinal, não aguenta mais o PT, suas mentiras, seu discurso segregacionista. Moderação é algo possível somente quando o PT for apeado do governo, estiver longe do poder.

Não desejamos exterminar o PT com “golpes judiciais”, e sim com a aplicação das leis vigentes no país e com a persuasão de maior parcela da população. O PT faz muito mal ao Brasil. Precisa ser politicamente destruído, ou então destruirá de vez nosso país. Enquanto isso não acontece, teremos de conviver com os radicais da direita, como aliados táticos contra um risco muito maior, que é a transformação do Brasil numa Argentina ou Venezuela.

Meu sonho é viver num país que possa debater democrática e civilizadamente quais os melhores rumos para a nação. Isso envolveria a parcela da esquerda mais civilizada, que é a social-democracia representada pelos tucanos, os liberais, e os conservadores de boa estirpe. Marxistas e reacionários não teriam vez nessa pluralidade democrática, pois não respeitam a democracia para começo de conversa. Infelizmente, estamos longe desse ideal. São os radicais que estão dando as cartas. E são os radicais de esquerda que estão no poder, destruindo nossa democracia de dentro dela. Chega!

Rodrigo Constantino

 

 

MAÍLSON DA NÓBREGA: O capitalismo e os disparates de Evo Morales

(Foto: Roberto Stuckert Filho)

Companheiros: Dilma com Evo Morales em sua terceira posse como presidente da Bolívia. Antes da posse, Evo disse uma bobagem monumental — culpando o capitalismo por fatos que precederam a existência do capitalismo (Foto: Roberto Stuckert Filho)

Artigo publicado em edição impressa de VEJA

mailson da nobregaEm janeiro, antes de assumir pela terceira vez o cargo de presidente da Bolívia, Evo Morales compareceu a uma cerimônia de purificação espiritual, na tradição indígena da etnia aimará, a que pertence. Ele disse, então, que o imperialismo e o capitalismo “fizeram desaparecer os povos indígenas do mundo”.

O alvo deve ter sido os Estados Unidos, o qual, como fazia Hugo Chávez, Evo tacha de imperialista e capitalista, mas ele deveria ter citado os conquistadores espanhóis invasores das terras hoje bolivianas.

O capitalismo não tem culpa da matança dos indígenas nem do seu desaparecimento (que não houve). Antes dos espanhóis, os algozes dos aimarás foram os incas. Os capitalistas nada têm a ver com isso.

É longa a evolução do capitalismo. No primeiro milênio antes de Cristo, já existiam direitos de propriedade e mercados entre fenícios e babilônios, mas foi nos séculos XVI a XVIII que o capitalismo se expandiu na Europa, movido por inovações tecnológicas e institucionais.

Daí vieram a descoberta das Américas, o caminho marítimo para as Índias e a circum-navegação. O comércio migrou do Mediterrâneo para o Atlântico e sua ampliação, inclusive na exploração das especiarias da Ásia, enriqueceu a Europa. A China e a Índia, que antes respondiam por metade da economia mundial, ficaram para trás.

Os espanhóis foram cruéis em sua busca de ouro e prata, bem como na conversão forçada dos indígenas ao catolicismo e na sua escravização para uso nas minas e nas haciendas. Milhões pereceram por causa do sarampo, da fome e dos maus-tratos. O colonialismo espanhol trouxe destruição sem paralelo contra uma comunidade autóctone, suas riquezas e sua arte.

Naqueles tempos, a Espanha adotava o mercantilismo, que atribuía a riqueza ao estoque de metais preciosos. O moderno capitalismo ainda não existia.

A palavra “capitalismo” nem sequer havia aparecido. Foi criada nos anos 1860 por socialistas e anarquistas, para significar qualquer coisa oposta ao coletivismo. Marx a adotou em O Capital. Adam Smith, o pensador cujas ideias fariam surgir a economia de mercado e o desenvolvimento ocidental, não falou uma vez sequer em capitalismo.» Clique para continuar lendo e deixe seu comentário

 

 

Do primeiro assalto a banco (em que você está dentro) a gente nunca esquece. Hoje foi minha vez

(Ilustração: Tamas Gaspar)

Um assalto a banco nos Estados Unidos dos anos 50: aqui é bem diferente (Ilustração: Tamas Gaspar)

Há poucos minutos passei por uma experiência já vivida por incontáveis cidadãos “neztepaiz”: estava tratando de assuntos particulares numa agência de banco quando ela foi assaltada por uma quadrilha fortemente armada.

Minha mulher, minha filha, meu filho e eu, em diferentes épocas e situações, já tínhamos sido assaltados.

Foi, contudo, a primeira vez em que alguém de minha família se viu no meio de um roubo a banco.

Os bandidos, seis ou sete, não se preocuparam minimamente com as câmeras de vigilância, renderam com facilidade os dois seguranças da agência — fortíssimos, armados e com coletes à prova de balas –, não fizeram algazarra e pareciam conhecer detalhes operacionais do banco, pois seu interesse todo estava voltada para a caixa-forte, no segundo andar da agência.

Os bandidos, alguns até de forma educada, saíram pela agência dizendo frases como:

– Fiquem tranquilos. Não é nada com vocês. Não vai acontecer nada com vocês.

Quando, mesmo antes disso, percebi que se tratava de um assalto, estava sentado diante de um dos funcionários e procurei fazer o que se recomenda em tais casos, não chamar a atenção de jeito nenhum dos criminosos: joguei com cuidado ao chão meu celular, tentei encobri-lo com uma pasta de couro que levava, permaneci sentado, imóvel, com as mãos sobre as pernas e olhando para o chão.

A essa altura, algumas mulheres começaram a chorar e pouco depois a coisa ficou muito tensa porque os bandidos, ao checarem a porta automática, verificaram que estava travada (a causa deve ter sido algum mecanismo automático ou algum ato involuntário de alguém) e passaram a xingar e ameaçar com berros os seguranças, enfiando uma pistola na cara de um deles.

O clima melhorou com o destravamento da porta, mas aí um alarme disparou. Muito corajosa, a gerente da agência começou a dizer a um dos cabeças, um negro forte, de estatura média, vestido com terno preto e gravata:

– Moço, é melhor vocês irem embora, a Polícia já está vindo, o alarme acionou automaticamente.

Ela repetiu várias vezes o apelo, enquanto os bandidos subiam e desciam a escada para o segundo andar, mantendo o pessoal que estava no térreo, eu inclusive, sob vigilância, e falavam sobre códigos e mochila.

Finalmente, deixaram a agência — talvez um minuto antes de, com rapidez para mim espantosa, chegar ao local um reforçado contingente da ROTA, a tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, comandado por um sargento.

Ressabiados, usando coletes à prova de balas e grossos escudos protetores, os policiais foram se aproximando,mandaram os dois seguranças cruzar a porta de segurança na direção deles e deitarem no chão, enquanto eram interrogados, e já mandaram todos os demais levantar as mãos — não sabiam se ainda havia bandidos no prédio. Depois, tivemos que ficar de costas para os policiais, com as mãos na parede, enquanto éramos revistados e indagados sobre dados pessoais e o que fazíamos na agência.

Com cuidado, e sob gritos de ordens, alguns revistaram instalações no térreo e os mais protegidos subiram para onde estava o cofre. O sargento comentou com o grupo no térreo:

– Pelo jeito dos seguranças, pode haver reféns lá em cima.

Não havia. Nesses poucos minutos, já haviam entrado na agência investigadores da Polícia Civil e continuaram a chegar viaturas da duas polícias.

Os investigadores assumiram as perguntas para os funcionários, foram checar as fitas de vigilância e, aos poucos, o sargento da PM liberou os clientes apanhados de surpresa por esse ato rotineiro da vida do brasileiro. Fiquei positivamente surpreendido com o comportamento de vários PMs, que haviam sido rudes, embora não violentos, com os circunstantes — e voltado mais sua atenção, como sempre ocorre, para um rapaz não branco: três dos policiais da ROTA explicaram que a Polícia não pode facilitar em tais ocasiões, pois os bandidos trocam de roupa durante os assaltos, para confundir, usando inclusive uniforme de carteiro dos Correios (havia um entre nós, juro) ou mesmo fardas falsificadas da PM.

Quando deixei a agência, contei 21 viaturas da Polícia ao redor do edifício. O sargento garantiu à gerente que os bandidos serão capturados.

Vamos ver.

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