Outro Mito: “os jovens matam porque foram esquecidos pelo estado”

Publicado em 18/06/2015 00:08
por Leandro Narloch, de veja.com

Mito: “os jovens matam porque foram esquecidos pelo estado”

Enterro de uma das vítimas do estupro coletivo em Castelo do Piauí

Enterro de uma das vítimas do estupro coletivo em Castelo do Piauí

 

O naturalista suíço Louis Agassiz tinha uma obsessão pelo racismo científico. Acreditava que as etnias eram espécies humanas separadas e que misturá-las transformava os homens em delinquentes e degenerados. Ao visitar o Brasil, em 1865, Agassiz deu uma olhadela pelas ruas do Rio de Janeiro e achou ter entendido a causa da pobreza e da criminalidade do país. “Quem duvida dos males da mistura de raças que venha ao Brasil, pois não poderá negar uma deterioração decorrente da amálgama de raças”, escreveu ele.

Agassiz foi vítima de dois erros. O primeiro é a falácia de relação e causa. Ele observou dois fenômenos acompanhados (mestiçagem e pobreza) e acreditou que um era a causa do outro. Também usou suas próprias bandeiras políticas para explicar o mundo –  uma armadilha mais ou menos assim: “eu defendo X; se algo acontece de errado no mundo, eu vou logo acreditar que é por falta de X e que não há outra solução senão X”.

Tem muita gente cometendo os mesmos erros hoje. De forma tão descuidada quanto o naturalista suíço, estão usando suas bandeiras políticas – a educação pública, a luta contra a miséria e a desigualdade – para explicar por que os jovens cometem crimes.

Por exemplo, quando o ciclista foi esfaqueado na Lagoa Rodrigo de Freitas por menores de idade, o jornal Extra sugeriu que os garotos se tornaram assassinos porque não tinham ido para a escola:

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Já a jornalista Claudia Colucci, ao falar sobre o silêncio ao redor do terrível estupro de quatro jovens no Piauí, parece ter esclarecido o que motivou os quatro menores envolvidos no crime:

Quem são esses menores? Semianalfabetos, usuários de drogas, miseráveis, com famílias desestruturadas e com histórias de loucuras, abusos e abandono.

É o caso de perguntar: o analfabetismo e a pobreza, que atingem dezenas de milhões de brasileiros, levam mesmo os homens jovens a raptar, torturar, estuprar, furar os olhos, apedrejar e jogar do penhasco meninas indefesas?

É verdade que, em muitos casos, a baixa educação e alguns fatores econômicos acompanham a violência. Mas daí há um bom caminho para provar que um é a causa do outro. É bem provável, por exemplo, que as centenas de piauienses que foram ao enterro de uma das vítimas e se consternaram com o caso tinham o mesmo perfil de escolaridade e renda dos agressores.

O próprio Piauí contraria a tese de que a miséria causa violência. Depois do Maranhão, é o estado mais pobre do Brasil. E um dos menos violentos – a taxa de homicídios só é menor em São Paulo e Santa Catarina. Agora imagine se multiplicássemos a população do Piauí por cinquenta e cortássemos 40% do seu território. Chegaríamos a um país como Bangladesh, onde 150 milhões de miseráveis convivem com uma das menores taxas de homicídio do mundo – apenas 2,5 homicídios por 100 mil habitantes, um décimo da taxa brasileira.

O perfil de internos de prisões para menores de idade também contraria a crença de que agressores são vítimas da miséria. Uma pesquisa da Fundação Casa de Campinas de 2013 mostra que, de 277 internos, 80% vêm de famílias com casa própria, e metade têm renda superior a 2 mil reais. As taxas de escolaridade dos menores presos eram similares às de fora da cadeia.

Se não é a pobreza, seria então a desigualdade o motor da violência? Essa eu deixo com o psicólogo americano Steven Pinker, autor de um excelente compêndio sobre violência humana, o livro Os Bons Anjos da Nossa Natureza. Pinker aponta uma falácia de relação e causa: países mais desiguais geralmente são mais violentos, mas isso não quer dizer que desigualdade cause violência:

O problema de invocar a desigualdade para explicar mudanças na violência é que, embora ela se correlacione com a violência se compararmos estados e países, não se correlaciona com a violência ao longo do tempo em um estado ou país, possivelmente porque a verdadeira causa das diferenças não é a desigualdade em si, mas características estáveis como a governança do estado ou a cultura, que afetam tanto a desigualdade como a violência.

Um exemplo que Pinker fornece é o dos Estados Unidos: a desigualdade atingiu um mínimo em 1968, quando a criminalidade estava no auge, e subiu entre 1990 e 2000, enquanto a violência despencou.

Outra razão sempre citada são as famílias desestruturadas. Crescer sem o pai ou a mãe leva os jovens ao crime? Difícil saber. Segundo o IBGE, em 16% das famílias brasileiras, a mãe cuida sozinha dos filhos (famílias só com o pai e os filhos são outros 2%). Mas 0,01% dos adolescentes comete crimes violentos (a confiar na estatística de quem é contra a redução da maioridade penal).

O mais provável, nesse caso, é a relação inversa: em ambientes com maior criminalidade, é mais comum haver mães solteiras. Os filhos delas acabam virando criminosos não por falta do pai, mas porque crescem num ambiente criminoso. Pinker tem um raciocínio parecido:

Embora filhos indesejados possam vir a cometer crimes ao crescer, é mais provável que as mulheres em ambientes propensos ao crime tenham mais filhos indesejados do que a indesejabilidade cause diretamente o comportamento criminoso.

A ideia de que a ausência do estado causa todos os problemas do mundo é sedutora. Mas na hora de estudar as origens da violência é melhor deixar ideologias de lado.

(por Leandro Narloch - @lnarloch)

 

Polícia: lá e aqui. Ou: Quando vamos começar a valorizar nossos policiais?

Escrevi nesta terça um artigo sobre meu vizinho xerife, comentando a diferença entre a valorização que a polícia tem aqui nos Estados Unidos e a falta de prestígio (e remuneração) no Brasil. Em seguida, levantei a hipótese de o patriotismo, bem calibrado e sem ufanismo boboca, explicar parte dessa postura distinta. Pois bem: meu amigo Bene Barbosa, do Movimento Viva Brasil, aquele que tenta defender nosso direito básico de ter uma arma (algo bastante sedimentado por aqui), mandou hoje cedo uma imagem que retrata com perfeição meu texto. Ela vale por mil palavras:

Polícias

Ou seja, enquanto a polícia americana é aplaudida pelo governo e pela população quando mata bandido, no Brasil ela é vítima de perseguição e investigação, sem falar dos ataques infindáveis que a turma dos “Direitos Humanos” desfere. Essa gente só se mexe para defender bandido, para lutar pelos “direitos” dos assassinos e estupradores, nunca pelos policiais que ganham baixos salários e colocam suas vidas em risco todo santo dia.

Quando morre um policial em combate, o pessoal das ONGs de “Direitos Humanos” nunca aparece, nem manda mensagens de apoio aos familiares. Mas quando morre um marginal, um delinquente, um traficante, sai de baixo! Eles cospem fogo na polícia, que consideram, como instituição, algo fascista! Pergunto: como ter uma polícia decente em tais circunstâncias? É impossível.

Passou da hora de o Brasil mudar, passar a valorizar aqueles que colocam-se na linha de tiro dos bandidos para proteger a população, para garantir a ordem e a paz, para fazer cumprir as leis. Ninguém vai negar que exista a banda podre policial, que há muitos corruptos na força policial. Isso precisa ser combatido com firmeza também. Mas não é jogando fora o bebê com a água suja que vamos fazer isso. A quem interessa só detonar a polícia como instituição? A quem interessa só defender bandidos?

Rodrigo Constantino

 

Uma esquerda desnorteada. Ou: Saída pela direita

Thatcher já mostrou que a saída é pela direita

A esquerda perdeu o rumo. Por um lado, isso é bom, pois o rumo que tinha sempre foi terrível, em direção ao abismo. Mas o fato é que nossa esquerda está desnorteada, sem saber o que defender, horrorizada diante do avanço “conservador”. A fadiga de poder, após mais de 12 longos e infindáveis anos de PT no governo, toda a corrupção que já veio à tona (e ainda falta muita coisa, como no BNDES), a visível incompetência na gestão da economia, a criminalidade em alta enquanto os “intelectuais” viram as costas para o povo vítima dos marginais, tudo isso contribuiu para a decadência da esquerda.

Por ser quase hegemônica há décadas, nossa esquerda se acomodou, e hoje seus principais “pensadores” são figuras caricatas, repetidores de slogans marxistas ultrapassados, defensores do indefensável: um governo corrupto e autoritário que, para ser apenas medíocre, ainda teria que melhorar muito. Os “intelectuais” de esquerda não conseguem mais debater de forma séria, precisam apelar para ataques pessoais, tentar monopolizar as virtudes. Nunca leram Mises, Hayek, Burke, Scruton, Dalrymple, Oakeshott, Berlin, etc. Perderam, uma vez mais, o bonde da história e não conseguem encantar nem mesmo as massas mais ignorantes.

Diante desse quadro, em que os liberais e conservadores viram até objeto de estudo acadêmico para se compreender seu sucesso e avanço, o que fazem os velhos ícones da esquerda? Algum tipo de mea culpa? Alguma reflexão séria sobre os motivos que trouxeram a esquerda até esse abismo? Nada disso. Se assim agissem não seriam mais esquerda. Insistem nos mesmos erros, repetem que o problema ainda é o “neoliberalismo”, demandam mais esquerdismo como solução para o fracasso esquerdista!

Como exemplo, podemos ver o artigo de Cid Benjamin publicado hoje no GLOBO. Benjamin tornou-se um crítico voraz do PT, de Lula em especial. Mas o que ele quer é mais esquerda! Essa gente condena o PT e passa a aplaudir o PSOL, o PT de ontem (e ainda sua linha auxiliar). Não aprenderam absolutamente nada com os próprios erros! Acham que o PSDB é conservador (que piada). Abaixo, alguns trechos do artigo (volto depois):

Na economia, é preciso substituir as medidas que trazem mais sacrifícios aos trabalhadores por outras, que apresentem a conta da crise aos ricos: a queda da taxa de juros; a cobrança do imposto sobre grandes fortunas; o aumento da taxação de grandes heranças; mudanças na área tributária para que, por exemplo, assalariados que ganham R$ 4.700 por mês não acabem pagando um percentual maior do que os bancos; o fim da isenção de impostos sobre a distribuição de lucros e dividendos, que representa a maior parte da remuneração dos grandes executivos etc.

Na política, no momento é preciso concentrar esforços na proibição de que empresas financiem candidatos e partidos, que é fonte de corrupção e os deixa, depois, a seu serviço. O PT não é capaz de liderar o movimento por essa saída progressista. Outras siglas de esquerda tampouco. Não têm musculatura para tal.

Por isso, é urgente a conformação de uma ampla frente que incorpore partidos, segmentos de partidos, entidades democráticas e populares e personalidades, mas que, sobretudo, se abra para a sociedade e para aqueles setores e cidadãos interessados em mudar o quadro político.

Disso depende a possibilidade de uma saída progressista para a atual crise. Sem ela, o reacionarismo que vivemos continuará a crescer. O resultado será mais retrocesso e mais sacrifícios para os trabalhadores.

Ou seja: vamos migrar mais rápido na direção da Venezuela! É o que propõe o esquerdista decepcionado com o PT. É um espanto! Essa turma é incapaz de evoluir. Continua presa nos tempos da Guerra Fria, ou antes, em 1917! Acha que é preciso atacar os mais ricos para ajudar os mais pobres. Acha que precisa condenar o lucro para favorecer o trabalhador. Acha que financiamento público de campanha é a solução. Esses “progressistas” querem um “progresso” que nos levaria de volta ao fracassado socialismo!

Abaixo, um texto antigo meu, mostrando por onde deve ser a verdadeira saída:

A saída pela direita

“Se a incoordenação social da liberdade econômica é um defeito, maior, socialmente, é o defeito que nasce de essa liberdade se coordenar.” (Fernando Pessoa)

No pós-guerra, a Europa encontrava-se devastada. O desemprego era de dois dígitos, a economia estava estagnada e a auto-estima estava em baixa. Com este quadro, o governo assumiu um papel relevante para o desenvolvimento da região e retomada de investimentos. As teorias de Keynes pareciam ser leis divinas. O Estado, em todos os países da região, cresceu demasiadamente. Durante alguns anos, sentiu-se o efeito positivo dessa intervenção, tida como necessária na época. Mas com o tempo vieram as conseqüências inevitáveis.

A Inglaterra vivia com uma taxa de juros de 16%, a inflação chegando a 24% e um déficit governamental explosivo. As greves eram regra, não exceção. Os sindicatos eram grandes monopólios de empregos, tornando o mercado de trabalho completamente inflexível. A Inglaterra estava em decadência, criada por um estatismo descabido e exagerado, similar ao francês. Para tornar as coisas ainda piores, veio a crise do petróleo em 1973, levando ao decreto de estado de emergência em Londres.

Nesta época, ganhava maior expressão no meio acadêmico o Institute of Economic Affairs, escola liberal que serviu como plataforma para dois grandes nomes que alteraram o rumo da história econômica: Hayek e Milton Friedman. O instituto, através de panfletos, livros e seminários, divulgou as idéias liberais pela Inglaterra, propiciando maior esclarecimento quanto aos fundamentos econômicos. Plantou, no campo das idéias, as sementes necessárias para alterar o rumo da nação.

Em 1979, Margaret Thatcher se tornou Primeira Ministra, a única mulher a ocupar este cargo. Junto com Keith Joseph, seu mentor e braço direito, Thatcher deu tudo de si para divulgar suas idéias liberais e alterar os paradigmas pré-concebidos de Estado super protetor. Eles falaram o inimaginável. Declararam que a Inglaterra precisava de um setor privado forte, criador de riqueza, espírito empreendedor, pessoas que tomassem riscos. Falaram que a Inglaterra precisava de mais milionários e mais bancarrotas. De mais mercado e de menos governo. O grande influenciador desta guinada era Hayek, que Thatcher citava sempre, além de carregar seu excelente livro The Constitution of Liberty na bolsa.

Os desafios pareciam insuperáveis. Margaret era minoria dentro de seu próprio partido. Suas idéias liberais iam contra o consenso da época, calcado num nanny estate estilo keynesiano. Além disso, o poder dos sindicatos era tremendo, e as greves ficavam cada vez mais violentas. Thatcher chegou a afirmar que os dois maiores problemas da economia inglesa eram os monopólios de indústrias nacionalizadas e o monopólio dos sindicatos. Guerra a ambos foi declarada.

Em conjunto com estes esforços, os gastos do governo foram duramente cortados, revertendo uma tendência de quase quatro décadas. Mesmo com essas duras medidas, a situação não estava melhorando rapidamente, e a segunda crise do petróleo, em 1979, fazia suas vítimas. A popularidade de Thatcher estava em baixa, quando a Argentina declarou guerra em 1982 ao invadir as Falkland Islands, ou Ilhas Malvinas. A dura resposta de Thatcher, seguida da vitória relativamente rápida, transformaram a posição de Thatcher em casa. Este poder maior ajudou enormemente a revolução de mercado promovida por Thatcher.

O grande passo rumo à mudança se deu com as privatizações de setores estratégicos. Estas empresas haviam provado serem ineficientes, inflexíveis, pressionadas politicamente e com grande excesso de quadro de pessoal. Planejamento central e nacionalização haviam falhado. Havia chegado a hora de testar o novo. Os commanding heighs da economia seriam passados para mãos privadas, após perderem rios de dinheiro em mãos públicas. Ocorreu uma guinada no foco em produção para o foco no consumidor. Este era quem mandava, e suas demandas deveriam ser atendidas pela competição entre produtores diferentes. Em 1984, este movimento teve seu pico com a venda da British Telecom. A forte melhoria nos serviços pôde ser imediatamente sentida, além de aumentar a arrecadação de impostos do governo, graças a rentabilidade melhor da empresa. O desemprego não caiu no começo, mas em 1990 a Inglaterra já possuía a menor taxa da Europa.

A revolução estava feita, e a Inglaterra assumiu uma posição de destaque na região e no mundo. Provava para todos que um novo modelo econômico fazia mais sentido. Um modelo direcionado à economia de mercado, com menos governo, que passou a assumir mais uma posição reguladora. Um modelo com imperfeições, como qualquer outro, mas infinitamente mais eficiente que os demais. A receita estava definida, e os países que sabiamente souberam segui-la coletaram os benefícios, enquanto tantos outros optaram por manter as utopias socialistas e um Estado paternalista. Estes foram ficando cada vez mais sem competitividade internacional, verdadeiros dinossauros num mundo globalizado, culpando sempre o capitalismo por seus próprios erros.

O leitor é livre para escolher o caminho que lhe parece mais adequado: esquerda ou direita. De um lado, há os exemplos da Venezuela, Cuba, Argentina. Do outro, os países ricos e desenvolvidos. Ele pode escolher qual caminho seguir; só não pode fugir das consequências da má escolha.

Rodrigo Constantino

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