Temer se encontra com Dilma e vence braço de ferro; não vai mais ser vítima de assédio (por REINALDO AZEVEDO)

Publicado em 09/12/2015 18:52
e MAIS: “O adeus à moda antiga”, por Carlos Brickmann e "Inimigos íntimos", por José Casado.... No blog de AUGUSTO NUNES, de veja.com + uol

Vamos lá. Michel Temer, vice-presidente da República, e Dilma Rousseff, a presidente, se encontraram por 50 minutos na noite desta quarta.

Ele disse o que acertaram:
“Combinamos, eu a presidente Dilma, que nós teremos uma relação pessoal, institucional, que seja a mais fértil possível”.

Ela preferiu emitir uma nota:
“Na nossa conversa, eu e o vice-presidente Michel Temer decidimos que teremos uma relação extremamente profícua, tanto pessoal quanto institucionalmente, sempre considerando os maiores interesses do País”.

Ele escolhe a palavra fértil, que quer dizer fecundo, farto, produtivo. Com uma restrição: tudo isso dentro do “possível”.

Ela diz que a relação será “profícua”, que quer dizer frutífera, proveitosa. Não falou no “possível”. Preferiu um advérbio de intensidade: “Extremamente”. Com alguma frequência, advérbios não querem dizer nada na boca ou na pena de políticos. São apenas “verba” que “volant”…

Depois das pressões absurdas de que ele foi alvo e da carta em que deu um chega pra lá, até que a coisa ficou de bom tamanho.

É claro que ele venceu esse pequeno braço de ferro.

Aposto que não haverá mais ministros dando declarações em seu nome e que o vice não mais será compelido a dizer o que não pensa, porque sabe ser falso, a saber: que um eventual impeachment é golpe.

Temer pode agora ficar onde estava, o que lhe assegura a Constituição. Caso Dilma seja impedida, ele assume.

E ponto.

(REINALDO AZEVEDO).

Dilma e Temer coabitam o território da falsidade, por JOSIAS DE SOUZA (do UOL)

Dilma Rousseff reagiu aos desaforos da carta do seu vice com respeito e compostura. Ou seja, está completamente fora de si. “Na nossa conversa, eu e o vice-presidente decidimos que teremos uma relação extremamente profícua, tanto pessoal quanto institucionalmente.”

Michel Temer respondeu à gentileza com ensaiada amabilidade. Quer dizer: voltou ao normal. “Combinamos, eu a presidente Dilma, que nós teremos uma relação pessoal, institucional, que seja a mais fértil possível''.

Foi o primeiro encontro entre os dois desde a divulgação da carta-desabafo em que Temer disse ser tratado como “vice decorativo” por uma Dilma que “não tem confiança em mim e no 
PMDB, hoje, e não terá amanhã.”

Que conclusão extrair de uma desavença que evolui do cheiro de enxofre para a pseudo-reconciliação em 48 horas? Por um lado, é bom que Dilma e Temer continuem a se falar. Por outro lado…

O tipo de relacionamento que prometem manter entre si, “profícuo” e “fértil”, apenas reforça a convicção de que a política é o território da falsidade, da hipocrisia. É como se Dilma e Temer informassem à plateia que não convém levá-los a sério.

 

 

 

“O adeus à moda antiga” e outras seis notas de Carlos Brickmann

 

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

Uma carta como há muito não se via; não só por ser carta, igual às de antigamente, como pelas bem-traçadas linhas, em que um político cauteloso expõe com toda a precisão o grau de dissolução do governo sem recorrer a indelicadezas, usa uma expressão em latim sem prejudicar a clareza do texto e rompe com a presidente sem usar a palavra rompimento. Michel Temer deu adeus a Dilma.

Após a carta de Temer (https://wp.me/p6GVg3-Y0) parece próximo o adeus de Dilma ao Planalto. O PMDB governista está acuado (e seu DNA tende a levá-lo para o lado mais suculento). O impeachment ganhou força. Mas quem divulgou a carta? A mensagem de Temer a Dilma é pessoal, sigilosa. Pode ter sido divulgada por ordem de Dilma ─ teria sido uma bobagem, mas normal em quem atravessa a rua para pisar na casca de banana do outro lado. Ou por algum puxa-saco, para puxar o saco. Ou por um inimigo interno, que gostaria de ver Dilma no chão para que Lula pudesse candidatar-se em 2018 como vítima da elite. Ou por alguém que quisesse apenas agradar um jornalista influente e benquisto, como Jorge Moreno, de Globo, sem se preocupar com o efeito político do vazamento.

Vazar a carta foi ótimo para Temer, vítima da descortesia do Planalto; excelente para mostrar ao PMDB que a conciliação acabou; maravilhoso como demonstração de derretimento de um governo (até Nelson Jobim, que foi ministro de Lula e Dilma, passou para a oposição). Foi tão bom para o vice que, se o governo não a divulgasse, seria difícil para o pessoal de Temer resistir à tentação.

A foto fatal

Carlos Brickmann

Um retrato fiel do esfacelamento do governo é a foto de Dilma com os ministros (https://wp.me/p6GVg3-Y7), quando se disse “indignada” com o processo de impeachment. Não há na foto nenhuma mulher, nem Kátia Abreu, ministra da Agricultura, que tinha virado amiga de infância de Dilma. Não aparecem os ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa, que cuidam da economia. Nem o seu melhor articulador político, o ministro Gilberto Kassab. Em compensação, lá está Henrique Alves, do PMDB ortodoxo.

Dizem que continua por enquanto no Ministério do Turismo porque a inimigo não se pede nada, nem demissão.

A força do inimigo

O PMDB, conforme levantamento do colunista Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br), tem sete governadores, quatro vices, 67 deputados federais, 17 senadores e 996 prefeitos. Tirando o governador do Rio, Pezão, e a família Picciani, ainda com Dilma, é a maior força de oposição do país.

A nova frente

Não se impressione com a nova operação Crátons, da Polícia Federal, sobre diamantes extraídos ilegalmente de reservas indígenas, com a cumplicidade de índios aculturados (e bem aculturados). Faz parte da Lava Jato, mas parece que não é das maiores. Entretanto, há coisa bem grande à frente, provavelmente logo: informa o colunista Ricardo Noblat (https://noblat.oglobo.globo.com/meus-textos/noticia/2015/12/olha-o-japones-de-volta-gente.html) que o Ministério da Justiça recebeu pedido de verba para nova fase da Operação Lava Jato.

Comentário de Ricardo Noblat: “O japonês da Polícia Federal voltará a ser visto por aí antes do Natal”.

O velho rombo

O governo quer recriar a CPMF, quer aumentar o imposto sobre os combustíveis, diz que precisa de muito dinheiro para cobrir o rombo no orçamento. A CPMF, garante o ministro Joaquim Levy, renderia R$ 30 bilhões. Mas só em 2015 os benefícios fiscais dados a empresários de setores que o governo considera importantes alcançaram R$ 408 bilhões, prometidos em 2014 (em que houve eleições e era preciso conquistar corações, mentes e bolsos do empresariado). Simplesmente o dobro dos benefícios fiscais concedidos um ano antes.

Se os setores escolhidos não tivessem tantos benefícios, não haveria rombo: ao contrário, o orçamento federal seria superavitário, permitindo juros menores.

O gosto amargo

Com a recessão econômica do governo Dilma, o que era doce acabou-se. A produção brasileira diminuiu 10% de janeiro a setembro, comparada com o mesmo período de 2014. O consumo por pessoa caiu de 2,8 kg por ano, em 2011, para 2,5 kg por ano. Mas o governo tem apenas parte da culpa: praticamente todas as grandes empresas de chocolates recorreram a manobras feias para aumentar os lucros, reduzindo o peso das barras e bombons e mantendo os preços.

A redução sempre foi informada na embalagem, só que para quem lê com lentes.

Perigo externo

A grande vitória do partido ultradireitista francês Frente Nacional, liderado por Marine Le Pen, é um risco para o mundo inteiro, inclusive o Brasil. A Frente Nacional sempre flertou com o fascismo e o repúdio aos estrangeiros; e, neste momento de atentados promovidos pelo terror islâmico e pela migração em massa de refugiados muçulmanos, ganha força a tendência de expulsar os imigrantes. Seria uma tragédia humanitária; e teria tudo para transformar-se numa onda contra todos os que não sejam “franceses puros”, seja lá isso o que for. O que acontece na Europa costuma ter reflexos no Brasil e em todo o mundo.

Um perigo.

 
 

José Casado: Inimigos íntimos

 

Publicado no Globo

A leveza das colunas de mármore, projetadas como penas pousando no chão, dissimula o clima pesado de conspiração permanente no Palácio do Planalto. Não é obra do PT, apesar de a burocracia do partido se vangloriar de ter inventado o Brasil a partir de 2003.

É da natureza do poder, registrou o escritor francês Honoré de Balzac em “A comédia humana”, obra exaustiva sobre a elite na era pós-napoleônica, que o levou a ideias desesperadas como a de “levar meus ossos ao Brasil, num empreendimento louco e que escolhi justamente por causa da sua loucura…” — escreveu à namorada polonesa, em 1840.

Desde a campanha de 2010, é evidente que a presidente e o vice convivem, se toleram e, eventualmente, compartilham tapetes. Dilma Rousseff, que completa 68 anos na próxima segunda-feira, e Michel Temer, 75 consolidados em setembro, nunca foram amigos, mas se tornaram inimigos íntimos.

A dissonância virou discórdia ainda no primeiro mandato, com a presidente constantemente vetando propostas emuladas pelo vice que, ao seus olhos, beneficiariam alguns no PMDB e confrontariam interesses do governo do PT. Embargou, por exemplo, negociações sobre os créditos podres de instituições financeiras sob intervenção do Banco Central.

Características do vice como frieza, polidez e circunspecção — que na análise venenosa do falecido senador Antonio Carlos Magalhães emprestam-lhe a aparência de “mordomo de filme de terror” — dissuadiram combates.

O clima ficou tempestuoso com as desastradas cruzadas de Dilma para esfacelar o PMDB e liquidar a candidatura do líder do baixo clero, Eduardo Cunha, à presidência da Câmara.

A quebra do Estado se tornou evidente na reeleição, e o governo entrou em liquefação porque perdeu a bússola das próprias contas. O vice cresceu como referência do descontentamento de personagens quase invisíveis na cena política, como o banqueiro Lázaro Brandão, presidente da fundação que controla o Bradesco. Governo e PT passaram a qualificá-lo como “conspirador”. A presidente ecoa, de maneira enviesada, quando repete não ter motivos para “desconfiar dele um milímetro”.

O processo de impeachment tornou-se real, com aval preliminar do Supremo, que viu nele um problema político, e não jurídico. Alguns oposicionistas agora sonham com a presidência Temer, sob o compromisso de ele não buscar a reeleição e apoiar o parlamentarismo em 2018. Falta definir qual é o interesse público e combinar com as ruas.

É bom lembrar: há outro processo em andamento, no TSE. Trata-se da cassação da chapa Dilma-Temer por supostas fraudes nas contas da campanha do ano passado.

A resolução do impeachment, qualquer que seja, não garante o fim do processo de cassação de Dilma-Temer — e vice-versa. Em tese, seria possível o vice assumir e continuar sujeito à perda de mandato por crime eleitoral.

Nesse baralho político, sobram as cartas dos inquéritos sobre corrupção na Petrobras, catalisadores daquilo que talvez seja o primeiro choque real do Estado brasileiro com interesses das antigas e novíssimas oligarquias.

Movimentos recentes no Judiciário sugerem uma próxima ofensiva sobre transações de próceres peemedebistas.

(por José Casado)

 

 

Sob FHC, também houve ‘corrupção organizada’, POR JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Em depoimento à força-tarefa da Lava Jato, o petrodelator Nestor Cerveró disse que Delcídio Amaral recebeu propinas de US$ 10 milhões quando era diretor de Óleo e Gás da Petrobras, no governo FHC. Incomodado, Fernando Henrique Cardoso subiu no caixote do Facebook para gritar: “Se houve algo durante o meu governo, foi conduta imprópria do Delcídio, não corrupção organizada, como agora.'' Hummm… Não é bem assim.

Os fatos demonstram que o petismo realmente exagerou. Enxergou o poder como um favo de mel. Enfiou os dedos. Lambeu-os com gosto. Por algum tempo, desfrutou de todas as dádivas do mundo. Hoje, foge das abelhas. Mas FHC sabe que a corrupção no seu governo não foi ocasionada pela conduta imprópria de personagens obscuros. Apenas para refrescar a memória do ex-presidente tucano, cabe citar o caso Sudam.

Sob FHC, quem dava as cartas na Sudam era Jader Barbalho (PMDB-PA), hoje um aliado do petismo. No auge do escândalo, que terminou com a cassação do mandato do personagem, Jader contratou a consultoria Boucinhas & Campos para provar que seu patrimônio pessoal não era de R$ 30 milhões, como se noticiava. Tinha razão. A Receita Federal descobriria depois que essa cifra correspondia apenas à multa devida por Jader. O patrimônio era maior.

À Receita, Jader alegou que sua prosperidade resultava sobretudo do suposto êxito que obtevera como agronegociante. Para o fisco, o sucesso estava escorado em informações falsas. Minuciosos, os auditores chegaram a bater à porta de supostos compradores de gado da Fazenda Rio Branco, de Jader.

Entre as imposturas corroboradas pelo Fisco estava a hipotética compra, em 1998, de uma fazenda no Pará. Pertencia a José Osmar Borges, a quem Jader teria pago R$ 600 mil, em três parcelas. Os auditores não encontraram vestígio do trânsito do dinheiro. Ou seja, Jader teria recebido a propriedade de presente. O mimo media 6 mil hectares.

Dono de três CPFs, controlador de seis empresas, Osmar Borges foi acusado de desviar mais de R$ 100 milhões em incentivos fiscais da Sudam. Boa parte liberada por afilhados de Jader, que FHC acomodora barbalhamente nos fundões da administração tucana.

Se a memória lhe falhar, FHC pode tocar o telefone para o governador do Mato Grosso, Pedro Taques. Recém-filiado ao PSDB, Taques era, na época da gestão tucana, procurador da República. Ajudou a varejar a Sudam. Jader, por Barbalho, chegou a ser algemado e preso. Passou poucas horas na cadeia. Eram tempos pré-Sérgio Moro. Até por isso, a corrupção organizou-se.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Veja.com + UOL

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário