Editorial do Estadão: Irresponsabilidade como método

Publicado em 14/12/2015 16:48
NO BLOG DE AUGUSTO NUNES, DE VEJA.COM

Editorial do Estadão: Irresponsabilidade como método

Publicado no Estadão

A petista Dilma Rousseff não pode mais permanecer na Presidência da República pela simples razão de que adotou a irresponsabilidade como método de governo. Sua administração violou de forma sistemática e deliberada as leis referentes à gestão das contas públicas, mas não o fez porque foi obrigada por circunstâncias adversas e passageiras, como costumam alegar Lula, Dilma e a tigrada, e sim em razão de certezas ideológicas da petista, derivadas de uma visão deletéria do papel do Estado.

Ao longo do primeiro mandato de Dilma, mesmo diante de insistentes alertas de técnicos do governo segundo os quais tal conduta estava comprometendo a capacidade do Estado de honrar seus compromissos, a equipe econômica da petista – por ordem expressa dela – continuou a cavoucar o erário para dele extrair os recursos necessários para manter as políticas populistas do PT, enquanto maquiava as contas para enganar o país a respeito do estado putrefato das finanças nacionais.

Se ainda havia alguma dúvida a respeito dessa irresponsabilidade, mesmo diante das contundentes conclusões do Tribunal de Contas da União (TCU), um documento sigiloso produzido por técnicos do Tesouro Nacional em julho de 2013, revelado agora pelo Valor, comprova de uma vez por todas que o governo sabia perfeitamente dos riscos que assumiu ao recorrer às mutretas fiscais para sustentar a malfadada “nova matriz macroeconômica” – um delírio estatista nascido das convicções de Dilma.

O relatório dizia que, a se manter aquela política inconsequente, o Brasil perderia o grau de investimento em até dois anos e teria um passivo de R$ 41 bilhões em razão das “pedaladas” no pagamento de diversos subsídios. Afirmava também que a chamada “contabilidade criativa” – conjunto de truques para simular superávit em contas que apresentavam déficit – minava a credibilidade da política fiscal.

Esse estudo foi apresentado ao secretário do Tesouro, Arno Augustin, em novembro de 2013. Na época, já estava claro que a “nova matriz” fazia água por todos os lados – a inflação subia mesmo com a contenção dos preços administrados, as despesas do governo cresciam mais do que a arrecadação e as desonerações já atingiam R$ 70 bilhões. Com esse cenário, informa a reportagem, os técnicos alertaram que a situação fiscal se tornaria em breve insustentável e que a meta de superávit primário daquele ano, de 2,3% do PIB, não seria atingida. O secretário reagiu. Disse que aquela reunião tinha o objetivo de acabar com o “motim” dos técnicos contra a política econômica – que, segundo Augustin, era fundamental para manter o crescimento do país. Ademais, afirmou ele, somente quem havia sido eleito – Dilma Rousseff – tinha a prerrogativa de ditar a política econômica. Aos técnicos, portanto, cabia somente acatá-la. Qualquer forma de crítica era considerada uma sabotagem.

Ao longo de 2014, em razão da campanha eleitoral, o controle de informações e decisões no Tesouro e na Fazenda, do ministro Guido Mantega, ficou ainda mais rígido. Naquele ano, as “pedaladas” já haviam inflado os resultados fiscais em quase 300% – tudo para que Dilma pudesse garantir, no palanque, que o país estava com as contas em ordem e pronto para dar um formidável salto a partir de sua reeleição. “O Brasil vai bombar em 2015”, chegou a declarar a presidente, acusando os adversários de “alarmismo”.

Naquela oportunidade, como agora ficou claro, Dilma já sabia qual era o tamanho do desastre que estava por vir e mentiu deliberadamente para se eleger. Portanto, que as aparências não enganem. Arno Augustin pensava e agia conforme suas convicções, mas todas as suas atitudes resultaram de ordens diretas de Dilma, de quem o secretário era apenas um “soldado”, um “cumpridor de tarefas”, na definição de alguns dos entrevistados pelo Valor. Arno cometeu vários delitos, mas o principal foi não ter contrariado a chefe – esta sim, inteiramente responsável por todas e cada uma das medidas que resultaram no flagelo fiscal que o Brasil enfrenta hoje.

 

A charge do Alpino

 

 

Ricardo Noblat: Dilma ou Temer: quem é o futuro

Publicado no Globo

Dentro do PT e do governo, o clima é de desânimo. Ninguém teve coragem até aqui para dizer à presidente Dilma que o impeachment está na soleira da porta do gabinete dela no terceiro andar do Palácio do Planalto, e que talvez não demore tanto para entrar.

“Infelizmente, ela já foi”, limitou-se a observar para um amigo na última quinta-feira um dos poucos ministros que Dilma leva em conta. Ontem, confrontado com o tamanho modesto das manifestações, o ministro não mudou de opinião.

Este talvez seja o principal problema de Dilma: ela gosta de pouca gente; quase não confia em ninguém, nem mesmo nos que lhe são mais próximos; e tem horror a políticos.

Em contrapartida, desperta os instintos mais primitivos dos que tratou mal alguma vez, ou não atendeu. Michel Temer? Esqueça. Eduardo Cunha? Não. O maior eleitor do impeachment de Dilma é ela própria.

Outro dia, Dilma pediu aos seus ministros que a defendessem em entrevistas. Poucos o fizeram. A maioria receia dizer algo que seja mal interpretado por Dilma e lhe custe uma repreensão.

Acostumaram-se ao silêncio, e a jogar na retranca. Muitos acumulam mágoas. É duro ouvir gritos vez por outra. Na dúvida, arriscar-se para quê?

Mais seguro é nada fazer que não tivesse sido autorizado previamente por Dilma. Pois uma mulher que já mandou o diretor do Tesouro sair de uma reunião só por que estava despenteado…

Ou que se desentendeu com a ama do Palácio da Alvorada, descontrolou-se e jogou cabides nela, que revidou jogando cabides na presidente… Dilma é uma granada sem pino.

Eu disse ama. Por causa de uma ema que havia bicado seu cachorro, Dilma brigou com o jardineiro do palácio.

Fora os líderes do governo e do PT, e esses mais por obrigação do que por gosto, são raros os políticos de peso na Câmara e no Senado que defendem Dilma, o seu governo e o seu mandato.

No impeachment de Fernando Collor, os chamados cardeais do Congresso mandavam ali e conduziam seus pares. Hoje, na Câmara, manda o baixo clero. E os cardeais que restam se ocupam em conspirar no plenário contra Dilma.

Há muita dissimulação e esperteza. E vontade para arrancar de um governo em ruínas o que ele ainda pode dar.

Por mais que ele dê, contudo, ninguém quer retribuir com os votos necessários para derrotar o impeachment. De resto, Dilma tem fama de quem promete e não entrega.

De resto, o vice-presidente Temer tem fama de que entrega o que promete. E ele tem mais para oferecer do que Dilma.

Temer tem o futuro para oferecer. Um futuro com as mesmas dificuldades enfrentadas por Dilma, mas um futuro.

Com que futuro Dilma acena? Por que se acreditar que, superado o impeachment, o desempenho dela no cargo jamais lembrará o desastre que é?

A presidente sem apoio popular, sem autoridade política, sem plano de governo, de repente se recuperará só por que não caiu?

Para que não caia só lhe restam dois caminhos: brigar com Temer, tomando-lhe o PMDB, ou se recompor com ele. E com ele e o PMDB compartilhar o poder até 2018.

Temer pregou o aparecimento de quem possa unificar o país. Para que seja ele o unificador, terá de unificar primeiro seu partido. É nisso que está empenhado. Por enquanto, Dilma dá sinais de que escolheu brigar com ele.

Não seria o mais recomendável.

Com a carta chorosa, Temer fez 1 x 0 em Dilma. Fez 2 x 0 ao obter maioria na Comissão Especial que julgará o impeachment.

Fez 3 x 0 quando Eliseu Padilha, ministro da Aviação Civil, pediu as contas do cargo para ficar ao seu lado.

Fez 4 x 0 ao trocar o líder do PMDB, aliado de Dilma, por um líder seu aliado.

Temer guarda a bala de prata para matar Dilma, se for o caso: a antecipação do congresso que levaria o PMDB a romper com o governo.

 

 

Oliver: E vamos lá de novo

VLADY OLIVER

Reinaldo Azevedo fez um balanço bastante ponderado da “guerra midiática” a que estamos sendo submetidos. As redações país afora não se acanham em comemorar o que seria “uma vitória do governo”, o aparente fracasso das manifestações de ontem. Fracasso por quê, cara pálida? Quer dizer que a participação popular e não a gravidade das acusações é que pauta as atitudes dos políticos? É a popularidade da causa, e não sua decência, o real motor que move nossa representatividade? Tenha paciência.

O que está acontecendo é evidente: estão banalizando o sentido das manifestações, na intenção de nivelá-las por baixo e, assim, descaracterizá-las como movimentos populares legítimos. Quanto custa ir até os locais das manifestações, para depois ser tratado como coxinha? Quanto custa dar sua contribuição cívica para uma causa que depois é distorcida em todos os jornais no dia seguinte? Acredito que o povo está cansando mesmo é disso que aí está. Já entendeu qual é o próximo nível da disputa, que é o embate corpo-a-corpo.

Não há mais diálogo possível com quem insiste em ver as coisas sempre pelo mesmo lado, meus caros. Sinto dizer, mas fazer o povo de massa de manobra tem seu preço. Acho que as “oposições” usam esses movimentos legítimos como arietes de seus interesses. A oposição que aí está não quer se mexer. Quantas vezes teremos de repetir essa verdade na cara deles até que nos representem? O povo já entendeu o custo-benefício dessas manifestações. Elas não se traduzem em correia de transmissão na representatividade política que elegemos ultimamente. Pelo contrário.

Elegemos atores cujo compromisso era fazer oposição ao governo. O que fizeram estes senhores? Roubaram nossos votos e se bandearam para o lado esquerdo da força, meus caros. São eles os guardiões de Dilma e do Chefe, e não a quadrilha em si. São eles que posam de bonzinhos na rua para nada fazerem em seus gabinetes depois do ato. Acordem, brasileiros!!! Eu me recuso a ser manipulado de novo, me recuso a acreditar nestes cretinos. A ordem já está dada: prendam essa quadrilha e depois conversamos. Quebrem a espinha dorsal dessa seita pilantra colocando os criminosos na cadeia, meus caros. Simples assim. Lutaremos com quem sobrar. Essa é a verdadeira causa a ser defendida.

Também acho, como bem registrou Reinaldo Azevedo, que quero eleger Fernando Holiday como candidato a qualquer coisa. Vou mais longe: podemos usar nossa força digital para alavancar essa e outras candidaturas. Mais longe ainda: elas deverão ser um contraponto inequívoco a tudo isso que aí está. Diferente do que pregam os irmãozinhos do outro lado, eu não quero a aniquilação das esquerdas, como estes querem a da “direita”.

Eu quero é a convivência forçada. Quero o embate. Quero o argumento, a tensão e a vigilância que fazem da coisa pública essa eterna vigiada pela sociedade que lhes paga os proventos. Eu quero é a diversidade, mas não essa edulcorada pelos carcamanos da mortadela. Quero é um diversidade legítima. E vou defendê-la no braço, se for o caso. Não tem volta, cretinos.

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Fonte:
Blog do Augusto Nunes (veja.com)

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