FHC no lugar de Temer? Trata-se de uma rematada bobagem! (por REINALDO AZEVEDO)

Publicado em 03/11/2016 14:05
Ainda que o TSE venha a cassar a chapa que elegeu Michel Temer, é evidente que o ex-presidente quer afastar esse cálice. E faz muito bem! (POR REINALDO AZEVEDO, EM VEJA.COM)

O tucano Xico Graziano, que foi chefe de gabinete da Presidência no governo FHC, escreve nesta quinta, na Folha, um artigo de rara infelicidade. Uma de suas teses: o ex-presidente é o nome certo para assumir a Presidência da República caso o TSE venha a cassar a chapa Dilma-Temer. O julgamento deve acontecer só no ano que vem. Se isso ocorrer, o Congresso escolhe o presidente-tampão. O vitorioso no pleito indireto não precisa ser parlamentar. Grazziano diz ainda que FHC também é o melhor do PSDB para disputar a Presidência em 2018 em eleições diretas. O artigo cobre o líder tucano de elogios. Concordo com todos eles. Mas vamos com calma.

Não vou aqui discutir se FHC é ou não o melhor nome tucano para o pleito direto. Sei de uma coisa: ele não quer nem ouvir falar. Aos 85 anos, exibe ótima forma física e está intelectualmente tão agudo como sempre. Mas todos conhecemos a rotina estafante de uma campanha eleitoral. O Brasil não é o Uruguai. É claro que ele não se submeteria a isso. E duvido que tivesse paciência, caso fosse bem-sucedido na disputa, para encarar as miudezas da política.

O que é impertinente, para dizer pouco, é Grazziano lançar o nome de FHC para um eventual certame indireto no caso de o TSE cassar a chapa que também elegeu Temer. Em primeiro lugar, a especulação, a essa altura do campeonato, é desnecessária e se confunde com torcida. Em segundo lugar, tudo o que o PT quer é um pretexto novo para ver se consegue encruar o discurso do golpe, que deu errado, que não colou.

Reentronizar FHC seria mel na sopa para… Lula! Sim, ele mesmo! Passou boa parte da sua existência emulando mentalmente com seu antecessor, dizendo-se melhor do que o outro, mas sempre sabendo que contava uma mentira a si mesmo. Considerem que a troca de guarda se daria com o país em meio a debates espinhosos como reforma trabalhista e da Previdência… Um FHC que voltasse ao cargo sem eleição conferiria verossimilhança ao discurso vigarista do golpe.

Notem: chega a ser penoso ter de entrar no mérito. A questão central deste post nem é essa. Acho um despropósito tratar desse assunto agora. Fica parecendo que há no tucanato, o que é falso, um movimento de desestabilização de Temer com o objetivo de, mais uma vez, levar FCH a sentar naquela cadeira. Ele já esteve lá. Venceu duas eleições diretas no primeiro turno.

O texto de Grazziano, que, parece, atua hoje nas redes sociais só serve a este propósito: criar burburinho nas… redes sociais.

FHC não quer voltar à Presidência da República nem pela via direta nem pela indireta. E faz muito bem! Tem uma herança rica demais para dilapidá-la como candidato a salvador da pátria.

Grazziano perdeu uma ótima chance de escrever sobre outro assunto. Qualquer outro.

Falar em “Frente Ampla de Esquerda” é coisa de vigarista intelectual. Mas tomara que “dê certo”. Só assim dará errado!

Tudo aquilo de que um país precisa é ter esquerdistas na oposição; o ruim é quando eles chegam ao governo

“A esquerda só se une na cadeia.” Essa é uma máxima antiga de esquerdistas, que circulava inclusive durante a ditadura. Tratava-se de uma ironia com as múltiplas correntes em que sempre se dividiram os esquerdistas. Cada grupelho, ainda hoje, reivindica sua superioridade teórica e a eficácia de suas táticas. Isso chegou ao estágio da loucura quando a luta contra o regime militar degenerou em terrorismo. Celerados de várias correntes até se uniam numa determinada operação — um sequestro, por exemplo —, mas logo se distanciavam, cada grupelho com a cara enfiada em seus próprios equívocos.

O PT, vamos ser claros, mudou um pouco isso, né? Esquerdistas continuam a se encontrar na cadeia. Mas agora não mais em razão de ações, terroristas ou não, de viés político. Desta feita, é roubalheira mesmo. Lá também estão empresários e lobistas que fizeram parte da arquitetura criminosa.

O partido, como vocês viram, foi esmagado nas eleições deste ano. Teve um desempenho semelhante ao de um partido nanico. Suas principais lideranças estão na cadeia ou sob forte investigação, sentindo já o cheiro que vem ou da Papuda ou da carceragem de Curitiba. Ora, nessas horas, os tais “intelectuais” resolvem participar do debate.

Publiquei à tarde um post com esta informação. Releiam. Volto em seguida:
A Folha informa que um grupo de ditos intelectuais de esquerda vai lançar, nos próximos dias, um movimento chamado “Quero Prévias”. Liderados por alguns professores universitários, entre eles o cientista político Marcos Nobre, da Unicamp, eles já têm até data para o lançamento do manifesto: será no dia 8 de novembro. A ideia é mobilizar a esquerda e organizar a realização de prévias para a escolha do candidato presidencial em 2018. Para o grupo, a derrota nas eleições municipais demonstra a necessidade de ampliar o debate antes da escolha do principal nome da esquerda na próxima disputa. A proposta é que não filiados a partidos políticos também participem dessas prévias. Que divertido! Uma coisa típica das heterodoxias teóricas de Nobre. Olhem que fabuloso: nem as tendências internas do PT se entenderam, mas o professor já quer saber quem será o candidato da esquerda unida. A propósito: não conviria à esquerda primeiro se unir? E quem decide isso? Os professores universitários?

Voltei
Pode até parecer que esses tais “intelectuais” representam a vanguarda modernizadora das esquerdas. Já que os “antigos” e “pragmáticos” fizeram tudo errado e enfiaram o pé na jaca, então viriam agora os puros e honestos para tentar fazer um trabalho de depuração e resgatar algumas verdades essenciais, conspurcadas pelos outros.

Ouso dizer que isso é ainda mais velho do que aquilo. Por que Marcos Nobre não propôs que esquerdistas dialogassem entre si e buscassem a unidade quando estavam no poder? Bem, não era necessário, certo? Afinal, cada um com sua identidade.

Agora, diante da derrocada, eis que ele se lembra de que pode existir uma essência comum a todas essas correntes, o que permitiria criar, então, uma frente ampla. E por que ela seria necessária? A resposta está na ponta da língua: em razão da chamada “guinada conservadora”, da “ascensão da direita”.

Ocorre que essa é uma das fantasias mais mentirosas e picaretas do universo mental esquerdista. Essa unidade “do lado de lá” — ou “de cá” — nunca existiu. Trata-se de uma falácia que serve para alimentar a pregação de mistificadores. Nobre e seus amigos supostamente renovadores são ainda mais atrasados que o pragmatismo sindical petista. Ao defender uma “Frente Ampla”, em razão da tal essência comum, supõe-se algo semelhante também “do lado de lá” (que é o de cá).

E quais seriam essas essencialidades? Ora, “eles” seriam os que se interessam por justiça social, pelo bem, pelo belo e pelo justo, e nós — é claro! — gostamos do contrário: lutamos por mais desigualdade, pelo mal, pelo feio e pelo injusto.

Tomara que Nobre e seus amigos sejam bem-sucedidos. Essa é a boa esquerda. Nunca vai conseguir enganar ninguém. Será sempre minoritária. E tudo aquilo de que um país precisa é ter esquerdistas na oposição. Eles são um perigo é no governo.

Paulo Roberto, depois de roubar muito, já pode viver as delícias da impunidade pós-delação

Cada um diga o que quiser, né? Eu tenho cá algumas estranhezas com as consequências das delações premiadas. Parece-me que alguns bandidos poderão juntar a vida tranquila de agora com um passado de fausto e luxo. Refiro-me aos delatores. Ao traírem o povo brasileiro, viveram à tripa forra. Ao trair seus próprios companheiros de crime, saiu, na prática, incólume.

Isso quer dizer que eu sou contra a delação premiada? Não! Eu me oponho é ao excesso de liberalidade com bandido colaborador.

Como vocês já leram, o juiz Sergio Moro determinou que Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, deixe de usar a tornozeleira eletrônica a partir desta quinta. Ele nem mesmo precisa voltar à sua casa à noite.  Pode ir para onde quiser em território nacional.

Costa é o primeiro delator da Lava-Jato. Foi ele quem abriu a fila. Terá de passar mais três anos fazendo serviços comunitários.

Bem, dizer o quê? Não sei a quantas andam as finanças pessoais da família Costa, mas infiro que o sr Paulo Roberto não esteja na penúria, não é?

Foi preso no dia 17 de março de 2014, quando a operação foi deslanchada. Colaborador fiel, acabou solto, embora tenha sido condenado a 20 anos de prisão. Agora, desde que não se meta em confusão, pode viver tranquilamente.

É bom que, tudo indica, ele não precise trabalhar. Porque não vejo quem poderia contratar seus serviços. Certamente, como disse Drummond, restou um pouco daquilo tudo.

Roubando o que ele roubou, passou na cadeia, fechado para valer, apenas seis meses. Para um ladrão do seu calibre, convenham, é muito pouco. Ele tem todos os motivos para acreditar que, sob esse “regime” do MPF, que parece implacável com a corrupção, o crime compensa.

Paulo Roberto teve uma vida certamente muito boa quando ajudava a sangrar os cofres da Petrobras e seguirá com uma vida boa agora. É evidente por si mesmo que há algo nessa história que está mal encaixado.

“Ah, está contra a delação?” Não! Parece-me que um condenado a 20 anos que passa apenas seis meses na cadeia recebe um prêmio excessivo.

E, nesse caso, também há algo especioso: o mesmo Ministério Público Federal que defende que a corrupção seja crime hediondo faz acordos impressionantemente favoráveis aos delatores.

A propósito. Se o MP estiver certo e se o crime de corrupção for comparável ao homicídio doloso com agravantes, pergunta-se: também um homicida ardiloso poderia ser beneficiado por uma eventual delação?

Paulo Roberto assaltou o país e já pode andar livre, leve e solto por aí.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (veja.com)

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