DIREITA BURRA: Ingenuidade de antipetistas colaborou com as esquerdas (por REINALDO AZEVEDO)

Publicado em 13/12/2016 04:45
Marchar contra a política, contra os políticos, contra as ditas forças tradicionais (e seus sinônimos) corresponde a entregar o ouro para o bandido. A pesquisa indicando que Lula está de volta ao jogo dá sua contribuição à estabilidade. Mas esses dados também trarão consequências deletérias (por REINALDO AZEVEDO, em VEJA.COM).

AVISEI! Sem fingir surpresa, sim? Ou: Pesquisas e lados bom e mau

Vivemos realmente dias interessantes, pois não?

Há uma reação um tanto assustada e espantada nos setores mais agudamente antipetistas e antilulistas às pesquisas publicadas pelo Datafolha. Tanto quanto os sites e blogs alinhados implícita ou explicitamente à esquerda estão em festa.

Bem, meus caros, eu vinha alertando precisamente para isso, não é? O arquivo do blog está à disposição de todos.

Eu ainda não entendi qual é a dificuldade que temos de combater os que violaram as leis seguindo as leis. Será que é pedir muito?

Não lhes parecia óbvio — a mim, sempre pareceu —que não se deve confundir o combate à corrupção com o combate às instituições? Quando se dispara um mecanismo de desmoralização da política, qualquer que seja ela, como esse que está em curso, o que se faz é igualar a todos na lama.

Ora, um critério que diga que todos são iguais e que a todos condena  leva a uma única consequência. Qual? Vamos pensar um pouco? Não há nenhuma diferença entre dizer “Todos são culpados” e “Todos são inocentes”. Alguém tem alguma dúvida a respeito.

Os setores mais histéricos das redes sociais tomaram um susto. Viram que a pregação em curso e o sistemático desrespeito a qualquer parâmetro institucional só interessa às esquerdas. E agora?

Sim, a pesquisa indicando que Lula está de volta ao jogo eleitoral — se não estiver na cadeia — e que a população quer eleições diretas agora (justamente quando Lula ainda não está na cadeia) fez com que alguns malucos botassem o pé no freio. Não deixa de dar a sua contribuição à estabilidade.

Mas é claro que esses dados também trarão consequências deletérias. A partir de agora, uma reforma da Previdência que seja minimamente digna vai se mostrando impossível. E também não é preciso ser bidu para isso.

Ora, se as esquerdas que se colavam, já hoje, contra a reforma e contra a PEC do Teto liderariam uma disputa eleitoral; se Lula aparece na ponta em todos os cenários e se Marina Silva a todos venceria no segundo turno; e se assim é mesmo sem a esquerda mobilizada, nas ruas, falando em nome dos velhinhos e dos “direitos”, como será depois?

Alguém realmente acha que os políticos genuinamente conservadores e aquela turma do dito “centrão” vão querer dar murro em ponta de faca?

O quadro, para mim, não traz nada de surpreendente. Ao contrário! Está acontecendo tudo conforme previ, tudo conforma vaticinei. E sei o quanto apanhei esses tempos em razão disso. Outro dia, uma senhora me perguntou por que eu estava “defendendo o PT”… Acreditem! Não! EU ESTAVA ACUSANDO JUSTAMENTE OS QUE ESTAVAM TRAZENDO O PT DE VOLTA AO JOGO. Eis aí.

No sábado, antes das pesquisas, escrevi aqui: “Quando até uma decisão certa de um tribunal — como foi a derrubada da liminar ilegal de Marco Aurélio — é vista como uma manobra escusa, estamos diante de um sinal de que o combate à corrupção está virando uma espécie de doença autoimune: os mecanismos de defesa estão atacando o próprio organismo. Já não se distingue o funcionamento normal do sistema de elementos patogênicos.”

À polícia ou que é da Polícia!

À política o que é da política!

E todos cumprindo seus deveres institucionais, nos limites do que exigem as leis.

É grande a chance de o resultado ser bom!

O verdadeiro conservadorismo, que é o que preserva instituições, tem muito a ensinar aos apressadinhos. Todo porra-louca de esquerda serve aos propósitos da direita. Todo porra-louca de direita serve aos propósitos da esquerda.

E todos os burros, finalmente, servem aos propósitos dos oportunistas e bucaneiros, que estão lucrando com a bagunça.

Ingenuidade de antipetistas colaborou com as esquerdas

É claro que não se devem tomar os números do Datafolha como antecipadores do que vai acontecer em 2018. Ainda é muito cedo, como todos sabemos. A realidade, nem é preciso que eu demonstre isso, anda muito mais dinâmica do que poderia ser de nossa escolha. Países com estabilidade institucional têm muito menos solavancos. Esse frenesi permanente na política brasileira não é prova de saúde institucional, não. Ao contrário. É sinal de que estamos com problema.

Assim, não há de se tomar Lula como forte candidato ou Marina Silva como virtual eleita. Falta muita coisa. Mas é inequívoco que essa sensação de fim do mundo, de fim dos tempos, que estamos experimentando induz uma recuperação das esquerdas. A razão tristemente óbvia: se todos são iguais, então por que foi mesmo que o PT foi transformado na personagem central do petrolão?

Bem, eu acho que o PT foi e é a personagem central, junto com Lula, o seu grande protagonista. Ocorre que a gritaria contra os políticos, ainda que compreensível, está levando muita a gente a concluir que o mal é bem maior. Outro dia, um desses intelectuais de palpites fáceis, resolveu criticar a índole do próprio brasileiro. Parecia que ele estava sugerindo que a corrupção entre nós é mesmo uma cultura.

Lula pode nem conseguir se candidatar, ainda falarei a respeito, e muita coisa pode vir por aí, a mudar esse quadro. Mas já se percebeu que fatias consideráveis da população podem, sim, mudar de humor com certa celeridade e, em vez de tomar o caminho da mudança radical, migrar para uma posição de certo conforto moral, onde estava antes dessa crise.

Qual é o ponto fulcral? Notem: Dilma só está fora porque cometeu crime de responsabilidade e porque perdeu completamente a interlocução no Congresso. Ficou sem condições políticas de governar. No oposto complementar da atual realidade política, Temer só é presidente porque é essa a solução constitucional, mas também porque as forças que o amparavam no Congresso conseguiram se ajustar com milhões de brasileiros que pediam mudança.

A aliança tácita de milhões que queriam o impeachment com o Congresso que lhes deu o impeachment era apenas episódica, frágil, superficial. Foi relativamente fácil abalá-la ou mesmo rompê-la. Disso se encarregou o Ministério Público Federal, com a sua pauta política e o seu protagonismo. Os movimentos de rua, aos quais sobra disposição, mas ainda falta um tanto de teoria, não perceberam a tempo que só uma força lucra com essa fratura: as esquerdas, especialmente o PT.

Marchar contra a política, contra os políticos, contra as ditas forças tradicionais (e seus sinônimos) corresponde a entregar o ouro para o bandido. A razão é simples: sem a soma das ruas — depurada do excesso de entusiasmo — com os ditos “políticos” tradicionais, não se faz, por exemplo, reforma da Previdência, aquela de que Lula e as esquerdas não querem nem ouvir falar.

Combater a corrupção não é programa de governo ou ponto de chegada, mas mero instrumento de política pública. Antes de mais nada, é uma obrigação. As tarefas de um governante são imensamente maiores e mais complexas do que isso.

À medida que o processo político se mostra refém do Dia da Marmota, em que cada um parece repetir o anterior, com a sua rotina de operações espetaculares, sua fila de corruptos comprovados ou presumidos e sua rotina de permanente assalto aos cofres públicos, a desesperança vai se somando ao enfaro. A indignação vai cedendo espaço, então, ao fatalismo. “Ah, o Brasil é assim mesmo…”

É esse quadro que devolve as esquerdas ao jogo. E elas estão de volta, isso é inequívoco. Aproveitam-se, em boa parte, da ingenuidade e da inexperiência daqueles que, com tanta força e galhardia, lhes fizeram oposição, mas que se deixaram enredar, também, por forças nem tão ingênuas.

As instituições não podem ser submetidas a permanentes insultos, confundindo-se o justo combate à corrupção com o combate à ordem legal. Em situações assim, emerge um certo desejo de ordem de inspiração e aspiração autoritárias, que pode sonhar com um demiurgo por ora desconhecido, ou pode se voltar para o passado, tocado por certa nostalgia. Sim, refiro-me a Lula.

Sua eventual candidatura em 2018, se a estabilidade precária durar até lá, tem desafios jurídicos imensos. Tratarei do assunto. O ponto não é esse.

Nós é que precisamos buscar um lugar do discurso e da prática política que seja, sim, implacável com a corrupção, mas conseguindo distinguir as instituições das pessoas.

Sem isso, ganham os porta-vozes do caos.

Temer faz bem em cobrar respeito a instituições. Ou vigora o caos

Em carta ao procurador-geral da República, presidente cobra o cumprimento da lei; o contrário só traz instabilidade

O presidente Michel Temer enviou um documento ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, lamentando os vazamentos do conteúdo de acordos de delação premiada e alertando para os malefícios que eles causam. Não se trata de interferência nenhuma na investigação. Ao contrário. O que se pede é o cumprimento da lei.

Ah, sim: outro vazamento já está na praça.

Nota antes que continue: imprensa não é guardiã de sigilo. Se tem acesso, deve publicar o que tem. Ao órgão estatal cabe zelar pelo sigilo enquanto existir.

O presidente pede a celeridade possível na condução do processo e lembra os malefícios causados à economia e ao país por esses procedimentos heterodoxos.

Temer lembra as crises econômica e política que o país atravessa e observa: “A condução dessas e de outras políticas públicas a cargo da União vem sofrendo interferência pela ilegítima divulgação de supostas colaborações premiadas em investigações criminais conduzidas pelo Ministério Público Federal, quando ainda não completado e homologado o procedimento de delação”.

E, mais adiante, faz um apelo institucional: “Ante o exposto, a União pleiteia que Vossa Excelência examine a possibilidade de se imprimir celeridade na conclusão das investigações em curso (…) Requer também que as colaborações premiadas porventura existentes sejam, o quanto antes, finalizadas, remetidas ao Juízo competente para análise e eventual homologação (na forma da Lei nº 12.850, de 2013) e divulgação por completo. Com isso, a eventual responsabilidade criminal dos investigados será logo aferida”.

O documento é assinado pelo próprio Temer e pela advogada-geral da União, Grace Mendonça.

Como se sabe, vieram a público os termos da pré-delação de Cláudio Mello Filho, um dos diretores da Odebrecht. Nem se trata, destaque-se, da delação propriamente.

Segundo o documento, o presidente é acusado de ter pedido à Odebrecht uma doação irregular, para o PMDB, de R$ 10 milhões. Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, também aparece como personagem de destaque.

Bem, dizer o quê? Eu tinha defendido justamente isso em texto publicado no sábado. A Lava Jato deve ser livre para fazer o seu trabalho, como sempre foi, mas não pode ser livre para transgredir a lei ou para tolerar que se transgrida.

Se não se tomarem as devidas ações prudenciais no campo institucional, é evidente que o país caminha para um mau lugar.

Não há mal nenhum que possa atingir a Lava Jato se seus atores se comportarem dentro das regras. Afinal, queremos que os larápios sejam punidos justamente porque defendemos o triunfo da lei.

Ou será que cometo algum engano?

Há nomes da delação vazada contra os quais nada há

Outros delatores relatarão crimes de Lídice, Kátia, Heráclito, Aleluia, Arthur Virgílio ou Dornelles. No que veio a público, não se identifica o crime

Meus caros, também a imprensa precisa tomar cuidado para não acabar cometendo injustiças e sair por aí misturando alhos com bugalhos. Há alguns nomes na tal pré-delação de Cláudio Mello Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, que podem até divertir pelo apelido. Os políticos podem até ser submetidos ao ridículo em razão do tratamento que lhes dispensava um potentado do empresariado nacional… Mas terão cometido algum crime? Não nesse caso ao menos. Se cometeram outros, em circunstâncias diversas, aí não sei.

É por isso que vazamentos dessa natureza — e reitero que não cabe à imprensa guardar sigilo ou atuar como juiz informal — precisam ser coibidos. Cabe ao Estado guardar o sigilo. Vejamos alguns exemplos em que o que se tem é até um testemunho da independência do parlamentar.

Não gosto da senadora Lídice da Mata (PSB-BA). O que ela pensa não me interessa. Teve uma atitude que considerei detestável durante o impeachment. É chamada na pré-delação, para a galhofa da galera, de “A Feia”. E o que que se diz da “Feia”? Que recebeu R$ 200 mil. Foi caixa dois? De toda sorte, ele reclama que a senadora não deu a menor pelota para o pleito da empresa depois. Não se está diante do caso de compra de uma senadora.

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O deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) é o “Boca Mole”. A gente ri. Está ali também como destinatário de uma colaboração. Ilegal? De quando? A ver. O que ele fez pela Odebrecht nesse caso ao menos? Nada! Relata-se uma ajuda prestada no passado quando um funcionário da empresa foi feito refém no Iraque. É crime? No mais, destaca-se que o parlamentar é uma pessoa influente. E daí?

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O caso da senadora Kátia Abreu (PSD-TO), sem apelido, tem uma certa graça irônica. O tal Mello Filho, que, tudo indica, não tinha pruridos em comprar o que precisasse ser comprado, fica ofendido com uma ligação que teria recebido em busca de doação. E daí? Buscar colaboração privada era da regra do jogo. Notem que não há, do mesmo modo, a mais remota sugestão de troca, seja na condição de senadora, seja na de ministra da Agricultura.

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Da mesma sorte, procurem a menor sugestão de irregularidades cometidas por Arthur Virgílio (“Kimono”), José Carlos Aleluia (“Missa”) ou Francisco Dornelles (“Velhinho”), ainda que todos tenham recebido doação da empreiteira. Os trechos seguem abaixo.

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Por que escrevo este post? Porque não estamos em dias de Comitê de Salvação Nacional, num Tribunal de Execução Pública, em que basta o nome de um político ser citado por um delator para que ele passe imediatamente à condição de bandido. Notem: acima, vai um elenco de políticos do PSB, DEM, PSD, PSDB e PP. A menos que se reserve para a delação propriamente a informação de que estabeleceram com a Odebrecht uma relação de troca, não há crime nenhum aí. E também não está claro que essas colaborações tenham origem em caixa dois.

Ainda faltam mais de 70 delações de pessoas ligadas à Odebrecht. É bem provável que os vazamentos continuem. Compete ao Ministério Público, à imprensa e, em certa medida, a cada um de nós separar o joio do trigo, o alho do bugalho, para que inocentes e culpados não seja jogados todos no mesmo saco.

Isso, como está claro, só interessa ao partido que organizou o maios esquema de corrupção da Terra e agora tenta se safar na presunção de que todos, sendo igualmente culpados, são igualmente inocentes.

NA VEJA.COM – Política não é polícia; polícia não é política

Sempre a política é tomada apenas como coisa de polícia ou que a polícia vira coisa de política, todos perdem. A começar da institucionalidade

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (veja.com)

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