Randolfe, que fala fino com Maduro e é esbirro da “Lava J&J”, quer falar grosso comigo

Publicado em 11/08/2017 13:58
Durante audiência, o senador que combina gravatas com um assassino, resolve ligar um post meu a uma ação da Abin. Então vou mostrar pra ele “O É da Coisa”. Pela ordem! (REINALDO AZEVEDO)

Vejam esta foto.

No primeiro plano, Randolfe combina a sua gravata com a de Maduro; ao fundo Ivan Valente, que grita “Fora, Temer” todo dia, e Luciana Genro. Os cadáveres de Maduro não estão nessa foto

No primeiro plano, Randolfe combina a sua gravata com a de Maduro; ao fundo Ivan Valente, que grita “Fora, Temer” todo dia, e Luciana Genro. Os cadáveres de Maduro não estão nessa foto

O senador Randolfe Rodrigues, do Amapá, meteu, nesta quinta, os pés pelos pés na sessão conjunta das comissões de Direitos Humanos e de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Eu já o sabia equivocado, claro!, mas não o tinha na cota de um covarde — covardia política. O homem resolveu me atacar de maneira asquerosa. Já chego lá.

Os senadores ouviram o depoimento do general e chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, a quem está subordinada a Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Certa fantasia que circula em Brasília sustenta que o órgão foi mobilizado pelo governo Temer para espionar Rodrigo Janot, procurador-geral da República, e Edson Fachin, ministro do Supremo e relator dos processos do petrolão.

Antes de ir a detalhes, algumas observações prévias. Sempre considerei, por óbvio, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) equivocado. Afinal, ele é do PSOL, esse partido que já carrega no nome este oximoro homicida, de homicídio em massa mesmo: “socialismo e liberdade”. O mundo conheceu e conhece países livres. Conheceu e conhece países  socialistas. As duas coisas, no entanto, jamais se conjugaram. Quando muito, partidos socialistas fingem tolerar a democracia pelo tempo que avaliam útil a seus desígnios. Se 0 puderem, eles a golpeiam. Assim, o PSOL é, por si, uma desonestidade intelectual e a manifestação de uma farsa. Como Randolfe.

“Ah, Reinaldo, mas você mesmo diz que agora ele é Rede”. Bem, no máximo, poderia compor um dueto, ou desafio, de vozes com Marina Silva. Ele migrou para essa legenda por incompatibilidade com, acreditem!, o PSOL do Amapá. Mas ele segue sendo o mesmo em essência.

Este senhor, como sabemos, passou a ser o que chamo de “soprano do golpe”. Virou, ao lado de Alessandro Molon —um petista disfarçado de marineiro —, plantonista do “Jornal Nacional”. Ainda vai recorrer à Justiça cobrando vínculo empregatício… Também costuma dar, com a competência que tem, aula de deposição de presidente aos frequentadores da Casa de Caetano Veloso, onde certamente há a possibilidade de se ouvir boa música, mas não se corre o risco de aprender algo que preste em política.

Muito bem. Num dado momento de sua intervenção, Randolfe cita um texto publicado pela revista “Veja”, segundo o qual o general teria se encontrado com o próprio Temer e assessores no dia 3 de junho de 2017. E agora transcrevo a sua fala:
Segundo ainda a revista, a partir dessa data, se organizou ainda uma ofensiva contra a Operação Lava Jato, tendo como alvo o procurador-geral da República e o ministro Edson Fachin. Essa reunião teria definido uma “varredura” sobre a vida privada do ministro Fachin. E se teria suscitado nessa reunião que existiriam relações do ministro Fachin com membros da JBS, que passariam a ser utilizadas depois (…). Coincidência ou não, logo após essa data, no dia 5 de junho, que é conhecido por ser mais governista do que o próprio presidente Michel Temer, publicou uma matéria com o seguinte título: “Fachin em jantar com o Joesley, o Folgadão, e Renan, que varou a madrugada. Pode isso, não!” Esse é o título da matéria do jornalista Reinaldo Azevedo, que teria sido veiculada dois dias após esta reunião. Repito: é de conhecimento de todos a relação… Recentemente, o presidente da República só concedeu entrevista ao vivo, exclusivamente, ao jornalista Reinaldo Azevedo, quando sofria o processo de denúncia na Câmara dos Deputados.

Sim, já respondi em “O É da Coisa”, programa de rádio que ancoro na Band News FM, à fala do senador. O vídeo segue abaixo. E volto ao tema.

Retomo
Randolfe, como afirmo hoje na Folha, é só um “Jean Wyllys que não ousa dizer seu nome”. Não passa, também ele, de um falastrão que cospe por outros meios, com seu jeitinho de comunista janota. Observem, no entanto, que ele pode ser bastante doloso quando quer. Na sua fantasia, o post que publiquei me foi soprado, ora vejam, pela Abin! Eu seria um mero repassador das coisas decididas no complô —     que, de resto, não aconteceu.

E quais são as evidências que a sua delinquência intelectual lhe aponta? Estas:
1: o meu post foi publicado dois dias depois da suposta reunião;
2: Temer concedeu só a mim entrevista exclusiva “quando sofria processo…” — até nisso, erra: a dita-cuja aconteceu no dia seguinte à vitória do presidente.

Não estranho que esse comunista que resolveu entrar no armário tenha Janot na conta de um grande jurista. Como se nota, eles operam com os mesmos critérios e têm, pelo visto, a mesma concepção do que seja “prova”. Digamos que a reunião com a Abin tivesse acontecido. Na cabeça perturbada desse comuna golpista, se o meu texto saiu depois, então é consequência daquele ato. É um caso clássico de falácia que os escolásticos já apontavam: “post hoc ergo propter hoc” — ou: “depois disso; logo, por causa disso”. Randolfe notou que o dia sempre amanhece depois que o galo canta e chegou à conclusão de que o dia amanhece porque o galo canta.

É um desclassificado intelectual.

E é também um covarde, um dos dois defeitos de caráter que mais abomino. O outro é a deslealdade.

Fui vítima
Como já disse no programa “O É da Coisa”, eu é que fui vítima de uma quadrilha de vazadores. Recorri à Justiça para saber em que lugar se acoita: na Procuradoria Geral da República ou na Polícia Federal. Tenho um palpite, mas prefiro aguardar a apuração. Em meio a milhares de gravações, duas que nada tinham a ver com a investigação foram tornadas públicas: uma conversa minha com uma fonte (Andrea Neves) e outra do ministro Gilmar Mendes, do STF, com o senador Aécio Neves.

Aí, sim, estão atos criminosos.

Sim, eu publiquei, sim, o texto a que se refere Randolfe. Leiam. Nenhum dos convivas o desmentiu.

E lamentei não ter podido publicar uma informação que me chegara então. Saiu pouco depois no “Poder 360”, a saber:
“Ao ser indicado para o STF (Supremo Tribunal Federal), em 2015, Edson Fachin percorreu os gabinetes dos 81 senadores. Amigos ajudaram a marcar audiências e a dar suporte à candidatura. O contato com alguns senadores foi facilitado também por Ricardo Saud, do grupo J&F, a empresa dona da JBS-Friboi.

Segundo o pensamento percuciente de Randolfe, tal post não foi pautado pela Abin porque publicado antes daquela suposta reunião. Já o meu foi publicado depois…

Ah, sim: sabem por que não consegui publicar a informação sobre a ajuda de Ricardo Saud — confessadamente o homem da mala de Joesley Batista — a Fachin? Porque eu ainda estava sem blog. Em razão daquele vazamento, havia pedido demissão da “Veja”. Por quê? Na conversa com Andrea, havia criticado uma reportagem da revista. Ainda que esta tivesse insistido para eu continuar, o que não aconteceu, eu não teria aceitado.

Randolfe poderia ter lembrado também que fui eu a publicar a informação de que a filha de Rodrigo Janot integra a equipe de advogados que cuida do acordo de leniência da Odebrecht e da OAS. Leia, se quiserem, os textos aquiaqui e aqui.

Ah, sim: são textos do dia 9 de maio. Não devem ter sido pautados pela Abin, né? Aliás, o site ainda estava hospedado na VEJA…

Se eu operasse com os critérios de Randolfe, escreveria: “Coincidência ou não, o vazamento da minha conversa aconteceu depois que revelei que a filha de Janot trabalha para empreiteiras investigadas pela Lava Jato”…

Uma das características mais evidentes do fascismo de direita e de esquerda é a rapidez com que saca contra a honra alheia.

Diz Randolfe que sou “mais governista do que Michel Temer”. Essa foi uma ironia que eu mesmo fiz com o presidente quando lhe pedi que citasse o que considerava feitos de seu governo. Ele não listou um dos que considero mais importantes, embora, digamos, invisível: a reestruturação do setor elétrico.

Entendo que a queda de Temer, se tivesse acontecido, teria sido desastrosa para o país. Mas não daria murro em ponta de faca se considerasse hígida a denúncia de Janot. O que ele apresentou até agora é, a meu ver, uma farsa que se erige sobre uma soma formidável de ilegalidades. E, como se sabe, o homem tem a desfaçatez de conceder uma entrevista com ameaças ao presidente da República.

Não vendo razões para a queda, acrescento a questão política: folgo com a permanência de Temer para que comunistas disfarçados de humanistas não triunfem. Não venha querer depor um governante legítimo, com reiteradas ações em defesa da democracia e do Estado de Direito, quem posa, sorridente, ao lado de um assassino, como faz Randolfe, com seu ar servil a Nicolás Maduro. Não venha me dar aula de moral e cívica quem tem a desfaçatez de harmonizar a sua gravata com a de um brucutu fascistoide que mata e prende opositores, que lidera um regime de terror, que condena gerações à miséria e ao atraso.

A foto que se vê no alto é de 2013. Foi tirada no auditório Darcy Ribeiro, da Universidade de Brasília. Os psolentos foram lamber as botas sujas de sangue do tirano. Estavam comemorando o ingresso da Venezuela no Mercosul.

Pois é… O governo Temer, que Randolfe quer derrubar, fez o contrário: botou Maduro para correr, como deixou claro o ministro Aloysio Nunes Ferreira na entrevista que me concedeu ontem.

Então ficamos assim: eu escolho o governo que baixou a inflação de 10% para menos de 3,5%; que tirou o país da recessão, que reestruturou o setor elétrico, que retomou a exploração do pré-sal, que baixou os juros para um dígito etc.

E Randolfe que continue mergulhado na poça de sangue e irresponsabilidade.

Escute uma coisa, rapaz! Você e a ala fascista da Lava Jato não me intimidam e vão ter de me engolir. Quando vagabundos, e alguns nomes eu já tenho, tentaram me pegar, só contribuíram para ampliar a minha voz.

Como diria Chico Buarque, pare, Randolfe, de falar fino com ditaduras e de tentar falar grosso com a democracia.

Não vai funcionar!

(REINALDO AZEVEDO)

Eleições em tempos de cólera: cuidado com o disco voador! Eu vou chamar o síndico: Mar-co-la!

Os críticos severos do voto em lista também não querem distritão. Então fica como está? Os que atacam o fundo público eram, na maioria, contra as doações privadas

É mesmo do grande balacobaco!

Sim, sou avesso aos “distritão” porque os partidos deixam de ter importância. E não acho isso bom. Aliás, pergunto: como, nesse caso, falar em “fidelidade partidária”? Cada deputado vira dono do seu voto e faz dele o que quiser, não? A rigor, não se distingue muito da candidatura independente. O sujeito é uma celebridade? Equilibra bola na ponta do nariz? Põe os indicadores frente a frente e gira um dedo no sentido horário e outro no sentido anti-horário? É craque em trava-línguas? Já deixou vazar nudes e depois chamou a Polícia?

Está pronto para ser candidato.

Eu também sou contra o financiamento público de campanha. Divergência principal: vai se pegar dinheiro do Orçamento para fazer o futuro carregar o passado. Como o dinheiro será dividido? Terá de levar em conta, de algum modo, as eleições de 2014. Mas o mundo mudou daquela data para cá. A legenda que conseguisse, com os seus recursos, reverter a fortuna, bem, que o fizesse. Mas com dinheiro público?

Sim, sou contra o distritão e o fundo público. Mas também sou contra os argumentos falaciosos e a hipocrisia.

Noto que, majoritariamente, os coleguinhas da imprensa estão entortando o nariz para as duas coisas. Boa parte deles, no entanto, aplaudiu a decisão absurda do STF que proibiu doação de empresas a campanhas. Sem um nem outro, faz-se o quê? Bem, vamos chamar o “síndico” da nossa tragédia: “Marcola”.

Cuidado com o disco voador!

Ah, os arquivos estão aí. Fiquei falando praticamente sozinho contra a proibição da doação de empresas.

Nessas horas, já disse, jornalistas deveriam se colocar no papel de estudantes do Enem fazendo redação: não basta criticar! É preciso apresentar solução.

Voto em lista
É evidente que, sem doações de pessoas jurídicas, o fundo haveria de ser público. E será. A última coisa que se pode fazer é manter o voto proporcional, como é hoje, ou que se diga como esse dinheiro seria distribuído. Aliás, a questão também é pertinente no caso do distritão, mas menos deletéria: OS PARTIDOS ACABARIAM FAZENDO ESCOLHAS MAIS RESTRITIVAS, A SABER: DIMINUIRIAM O NÚMERO DE CANDIDATOS PARA CENTRAR FOGO NOS VIÁVEIS. OU ESTARIAM JOGANDO DINHEIRO FORA. No caso do voto proporcional, essa seletividade não é necessário: todo voto acaba indo para o partido partido.

Ora, com fundo público, a única coisa que faz sentido é o voto em lista. Mas aí os moralistas de meia-tigela gritam: “Ah, isso só vai ajudar os acusados de corrupção”. É uma besteira! As legendas sempre lembrarão os falsos varões de Plutarco e as falsas vestais dos partidos adversários.

Críticas
E por que a solução óbvia não emplacou? Ora, porque diziam que isso só beneficiaria os atuais parlamentares e não levaria à renovação. Qual é o exato oposto do proporcional? É o distritão. E qual é a crítica que leio agora? “Ah, isso só vai reforçar as lideranças tradicionais…” Olhem aqui: não gosto desse modelo, mas essa crítica é farisaica. Acusar alguém que tem votos de atrapalhar a ascensão de quem não tem é argumento de imbecil ou de vigarista.

Bom caminho
O bom caminho, pós-burrada do STF, sempre consistiu em escolher o voto em lista para 2018 e o distrital-misto para 2022. Uma emenda deveria restabelecer, desde já, para aquele ano vindouro, a doação de empresas a campanhas, tomando o cuidado de observar no texto: “na forma da lei”. E haveria quatro anos para definir tal lei.

Reitero: dadas três formas — proporcional (como é hoje), distritão e lista —, a pior opção é ficar tudo como está. Um candidato que não recebesse a sua cota do fundo público poderia até mesmo pleiteá-la na Justiça, ainda que não contasse nem com o voto da própria mãe…

Ousadia
Ora, se não querem o financiamento público nas atuais circunstâncias, então os críticos digam o que pretendem. Se rejeitam lista e distritão, idem. Se vão ficar com o proporcional, parem de reclamar do Tiririca e apontem alguma forma viável de distribuir a grana de campanha…

Ah, sim: formou-se uma frente de partidos contra o distritão que reúne políticos do PT, PC do B, PSOL, PR, PRB, PHS, PSD, PSB e PDT. Reitere-se: é uma frente de membros desses partidos, não das legendas propriamente. Mas eles querem o quê?

Uma vitória de Pirro (FERNANDO GABEIRA, no ESTADÃO)

Trabalhando ao ar livre, em lugares de pobre conexão, nem sempre sigo os detalhes da patética cena política brasileira. Mas quando tento recuperar tudo no fim de semana, saio com uma sensação de que não perdi muito.

No caso da sobrevivência de Temer, triunfou a tese da estabilidade. Eu já a havia combatido, em nome de um equilíbrio dinâmico que soubesse combinar a retomada econômica com a luta contra a corrupção. Minha tese foi derrotada. Mas parcialmente, porque ela afirmava também que a estabilidade sem luta contra a corrupção se transformaria no seu contrário, era mais inquietante ainda.

A sobrevivência de Temer significou um golpe num dos pilares da luta contra a corrupção: a transparência. Não poderemos saber o que aconteceu de fato. Mas estimulou a distribuição de verbas e cargos. Ela põe em risco a própria aspiração dos defensores da estabilidade, a redução dos gastos públicos. Temer tornou-se refém do Congresso.

E a conta não será alta apenas pelas emendas ou pelos cargos. Em todas as frentes os recursos do Estado serão disputados como um butim.

O projeto de Refis, que reescalona dívidas públicas, ganhou uma versão no Congresso que não só perdoa às vezes 99% do valor a ser pago, como representa uma perda de R$ 252 bilhões para os cofres públicos. Os sindicatos querem muito mais do que perderam com o fim do imposto sindical. Os partidos, um modesto fundo de R$ 6 bilhões para disputarem as eleições sem buscar apoio nos eleitores ou sequer usar a imaginação para se financiarem.

Quanto mais denúncias surgirem contra Temer, mais alta será a conta. As bocas estão abertas à espera de novas chances, na verdade, antecipando-se a elas. Temer quer o cargo, eles querem os recursos, estão unidos nessa sinistra versão de estabilidade.

Fixando-me apenas na esfera política: a sobrevivência de Temer pode representar também um golpe no futuro, bloqueando a renovação. Embora sejam governantes diferentes em contextos diferentes, a salvação de Temer e a constituinte de Maduro partilham um perigo comum: desmoralizar as eleições. No caso do ditador venezuelano, o objetivo é afastar a oposição, caminhar para um sistema de partido único e eleições quase unânimes, como em Cuba. No caso brasileiro, o objetivo é manter um sistema partidário falido, em que é possível escolher apenas entre visões políticas fracassadas.

A sobrevivência de Temer foi o passo dado com os olhos na relativa quietude das ruas. A indiferença é relativa, porque a opinião manifestou-se em pesquisas, estimulou o Congresso a desafiá-las, a impor sua própria agenda.

Concessões à bancada dos ruralistas, redução de áreas de proteção ambiental na Amazônia, discursos, ombros tatuados com a palavra Temer, caímos num parlamentismo do horror. Mas isso também é a armadilha que tecem para que as pessoas se afastem enojadas da política, concluam que aquilo é um universo paralelo, o melhor é ignorá-lo.

Veio o aumento da gasolina. Vem aí mais imposto. As pessoas não vão ignorar facilmente a máquina que devora o seu dinheiro.

A tentativa de criar um mundo tão repulsivo que a maioria se afaste dele é um dado na mesa. As eleições desta semana no Estado do Amazonas fazem pensar: uma forte abstenção e a disputa entre duas figuras do sistema falido.

Por outro lado, a existência desse mundo repulsivo pode estimular a vontade de mudança. São duas ideias em constante tensão: virar as costas ou tentar mudar. Ainda que leves no momento, ventos de mudança começam a soprar. Grupos em fusão discutem como participar, propondo candidaturas independentes. Muitos viveram no exterior, acham que precisam contribuir para o País, estão sintonizados com a revolução digital e rejeitam todos os métodos que arruinaram o sistema político brasileiro.

Por dever de ofício, continuarei acompanhando a cena brasileira, aos trancos no meio da semana, em detalhes no fim. Mas na conjuntura que se abre, o investimento maior é na possibilidade de renovação.

Olhar apenas para o que está aí é deprimente. É preciso um horizonte, conhecer o que se move, apontar possíveis conexões e até ajudar com a experiência vivida de erros e acertos. Todos os países nessas circunstâncias tendem a achar seu caminho de renovação. O Brasil seria um caso inédito de país que não se mexe com vigor quando é explorado por sistema partidário voraz pilotando dispendiosa máquina estatal.

Não se trata de algo solene do tipo ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil. Mas para muitos o dilema pode ser no futuro próximo: ou acabar com essa pilhagem ou se despedir do Brasil.

Apesar de partilharmos uma cultura, uma História nacional, não dá para nos sentirmos num país de verdade quando as quadrilhas pilham os seus recursos. Nem acreditar em justiça quando se anula, em nome da privacidade empresarial, um processo de Mariana, que trata de 19 mortes, centenas de pessoas expulsas de casa e um rio envenenado.

Ao aceitar a permanência de Temer em nome da estabilidade, mercado, empresários e até mesmo uma parte da imprensa não percebem a mensagem que enviam aos políticos inescrupulosos que reinam em Brasília. Eles são espertos o bastante para avançarem sempre que, por meio de atos repulsivos, conseguem a indiferença enojada da sociedade. Mas são mais espertos ainda para entenderem que mercado e empresários estão dispostos a pagar tudo pelo que consideram, erroneamente, a estabilidade.

Sem pressão da sociedade e com o beneplácito de um mercado imediatista, compreenderam muito rapidamente que o momento é do banquete das hienas. Todo esse desastre por causa da estabilidade, do medo de caminhar, paralisia com o mito de que sem Temer acabaria a reconstrução econômica e um PT na lona é o bicho-papão que voltaria ao poder.

*Jornalista

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Fonte:
Blog do Reinaldo Azevedo/Estadão

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