O MUNDO PERCEBEU O RIDÍCULO: SÓ AHMADINEJAD GANHOU

Publicado em 24/11/2009 16:09



O encontro de Mahmoud Ahmadinejad com Luiz Inácio Lula da Silva foi bom apenas para Mahmoud Ahmadinejad: visita um país e um líder em ascensão e, assim, passa a idéia de que está menos isolado do que está. O Brasil perde. E, se quiserem saber, o próprio Lula sai chamuscado. Mas isso, rigorosamente, não é problema meu. Tal encontro, se quiserem saber, se completa com o visita do iraniano a Hugo Chavez.

O venezuelano, evidentemente, não terá os cuidados do presidente brasileiro, que fez a defesa do direito de o Irã desenvolver energia nuclear para fins pacíficos… É de gargalhar de escárnio! Quem deixa claro não ter fins pacíficos é o próprio Ahmadinejad. Os dois encontros põem Lula e Chávez em pé de igualdade — e isso, claro, é ruim para “o filho do Brasil”.

Como disse a Economist, o nosso herói conhece a “hybris” — prefiro com essa grafia. Experimenta a transgressão que, nas tragédias gregas, motiva a reversão do destino do herói. É ela que o torna tão cheio de si e cego para a realidade da “cidade”, metido em seus próprios devaneios. Os jornais influentes do mundo noticiaram as boas-vindas de Lula a Ahmadinejad, destacando a sua defesa de que o Irã desenvolva “um programa nuclear pacífico”. A informação raramente vem desacompanhada de alguma ironia já que o líder do Irã é o primeiro a demonstrar que… não é pacífico! Noto que, na entrevista coletiva que ele concedeu, não retirou, em nenhum momento, a opinião de que Israel não deve existir.

Na mesma edição eletrônica em que noticia que o presidente Lula defendeu que o Irâ seja integrado ao concerto internacional, em vez de isolado, o New York Times informa que o governo do Irã resolveu recorrer à força bruta — espancamentos, prisões, interrogatórios — para sufocar a oposição. O governo decidiu ainda empreender um grande esforço para desacreditar a oposição. Estão sendo implantados nas escolas nada menos de 6 mil centros da Milícia Basij para defender os ideais da Revolução Islâmica. Uma nova unidade policial foi criada apenas para fazer uma varredura na Internet em busca de vozes dissidentes. A Guarda Revolucionária já tem o controle do sistema de telecomunicações do país e planejada criar um nova agência de notícias. É a Lula News de lá. Só que com porrete.

O aiatolá Ali Khamenei acredita que está em curso no país uma “guerra suave” de natureza subversiva, que atinge especialmente artistas e professores, que viveriam numa atmosfera de “sedição”. O plano é “reislamizar” o sistema de educação, purgar a influência secularista dos professores e livrar a mídia das “idéias subversivas”.

O que me impressiona é que os delírios de lá encontram correspondência com os delírios daqui. Também a nossa “Guarda Revolucionária” pretende controlar da educação às telecomunicações. E se esforça noite e dia para desmoralizar — coisa deferente de “combater” — as oposições. O petismo não recebe Ahmadinejad apenas para marcar posição e evidenciar sua autonomia — o que já seria tolice o bastante. Há, também, admiração genuína, verdadeira, por aquele sistema.

Lula só tem uma diferença com o Irã: lá, a autoridade máxima se contenta em ser um aiatolá. Lula não aceita nada menos do quer ser Maomé. E, desta feita, o mundo percebeu o seu ridículo.


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E NO ORIENTE MÉDIO? NADA? NADA!


Só para não dizerem que ignorei a patacoada.

Qual é a chance de o Brasil passar a ser influente na política do Oriente Médio? Recebendo Ahmadinejad, e com esse discurso, nenhuma!

Nem Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, vê isso com bons olhos. Os aiatolás financiam o Hamas, rival de morte do Fatah, o grupo de Abbas, que governa a Cisjordânia.

Lula só deu o passo da arrogância. Nada mais.


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“PENETRAÇÃO E DIÁLOGO”


Não faço mais clipping, mas o trechinho é irresistível. Para saber o que pensa Celso Amorim da visita de Ahmadinejad e qual é a versão oficial do Itamaraty, basta ler Eliane Cantanhêde. Vejam que primor:

“(…)
É, ao contrário, fazer como o Brasil faz inclusive com a Venezuela de Chávez: perto o suficiente para ter penetração e diálogo, longe o necessário para não se comprometer com regimes, governos ou decisões pontuais. Ao contrário, tendo força moral para criticá-los. É melhor ter o Irã por perto e submetido a alguns compromissos do que tê-lo isolado para fazer o que bem entender. Aliás, o simples fato de haver uma crescente oposição interna é bom sinal. Ahmadinejad sabe que ela não está sozinha e que o mundo está de olho. Não deixa de ser uma forma de proteção.
Engana-se quem acha que é uma ação do Brasil veladamente contra os EUA. Ao contrário, trata-se de um jogo bem combinado.”

Viram só? Até os namoricos com Chávez estão explicados: é questão de “penetração e diálogo”. Entendo. É, costuma funcionar muito na diplomacia… Não só.

Mas também não é sempre. Chamberlain e Daladier decidiram fazer isso com Hitler. Os dois primeiros entraram com o diálogo. Ao que Hitler responde:u “A penetração é comigo!” E saiu penetrando mundo afora.

E o mais bonito é saber que Lula combinou tudinho com os EUA…

Agora sabemos: se um líder quer ter importância regional ou mundial, o negócio é desenvolver um programa nuclear secreto e ameaçar destruir outros países. Dá supercerto, geeenteeee!!!

Sabemos mais: Lula faz discurso antiamericano só para enganar os trouxas. É um verdadeiro braço de Washington na América do Sul. Entre quatro paredes, Marco Aurélio Garcia costuma de fantasiar de Tio Sam: “I Want You”…


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DOIS DEPUTADOS E UMA FAIXA

terça-feira, 24 de novembro de 2009 | 0:05

Rendo também minhas homenagens aos deputados tucanos Marcelo Itagiba (RJ) e Zenaldo Coutinho (PA). No momento em que o facínora do Zóio Junto chegava ao Congresso, ambos estenderam uma faixa em que se lia “Holocausto nunca mais”. E tocaram apitos em sinal de protesto. Louvo-lhes a iniciativa e lastimo que o protesto não tenha mobilizado outros colegas seus.

Ah, sim… Eduardo Suplicy deu de presente a Ahmadinejad adivinhem o quê? Haldol? Não! Mogadon? Não! Lexotan? Não!

O seu livrinho sobre renda mínima…

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Pelo menos um macho para afrontar Ahmadinejad. E é gay


No título acima, exploro, evidentemente, o clichê que consiste em associar a coragem à macheza. É claro que se trata de uma bobagem. Sei que não é coragem que faz a fêmea da maioria das espécies proteger a cria com a própria vida se preciso. A sobrevivência da espécie explica o ato. Entre os humanos, a maioria das mães também daria a vida por seu filho — e, aí, já é coragem, sim. Logo, esta não é um atributo masculino; tampouco está relacionada à condição sexual de cada um.

Estou, claro, fazendo um gracejo e uma homenagem ao rapaz que entrou na entrevista coletiva de Mahmoud Ahmadinejad carregando a bandeira gay. Foi posto pra fora pela Polícia Federal. Mais gente deveria tê-lo imitado, levando outras tantas bandeiras — de todos os que são perseguidos por aquela ditadura teocrática disfarçada de governo popular, onde as divergências são tratadas a bala.

Na entrevista concedida a William Waack, Ahmadinejad disse que o homossexualismo é contra a natureza e ameaça a humanidade. É mesmo? Ninguém se torna homossexual porque quer ou porque foi “contaminado por uma doença”. A porcentagem de pessoas com essa característica deve ser a mesma desde que o homem está na terra. Todos sabem que sou contra o tal projeto que criminaliza a dita “homofobia”, por exemplo. Considero que se trata de uma bobagem patrulheira que mais reforça a discriminação do que serve para aplacá-la. E é preciso dizer: os homossexuais não são nem nunca foram ameaça a coisa nenhuma!

O que ameaça a humanidade é a corrida nuclear; o que ameaça a humanidade é a intolerância; o que ameaça a humanidade é o desejo declarado de destruir um país; o que ameaça a humanidade é negar o horror do Holocausto; o que ameaça a humanidade é o não-reconhecimento dos direitos fundamentais de um indivíduo; o que ameaça a humanidade são as sociedades que rejeitam o habeas-corpus…

É por isso que afirmo, no uso-clichê que faço da linguagem da linguagem, que houve alguém “macho” o bastante para deixar isso claro a Ahmadinejad. Um macho gay.

Está de parabéns!

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Eis um artigo que honra a democracia e a civilidade


Mesmo com atraso, acho que vale o registro: maiúsculo o artigo do governador José Serra (SP) na Folha de hoje sobre a presença de Mahmoud Ahmadinejad no Brasil. Há coisas, e toquei neste assunto noPrograma do Jô, que não dependem da posição ideológica deste ou daquele; há coisas que dizem respeito apenas à civilidade. Segue o texto na íntegra. Não voltei a fazer clipping, não. O artigo já está na rede.
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Visita indesejável

É DESCONFORTÁVEL recebermos no Brasil o chefe de um regime ditatorial e repressivo. Afinal, temos um passado recente de luta contra a ditadura e firmamos na Constituição de 1988 os ideais de democracia e direitos humanos. Uma coisa são relações diplomáticas com ditaduras, outra é hospedar em casa os seus chefes.

O presidente Ahmadinejad, do Irã, acaba de ser reconduzido ao poder por eleições notoriamente fraudulentas. A fraude foi tão ostensiva que dura até hoje no país a onda de revolta desencadeada. Passados vários meses, os participantes de protestos pacíficos são brutalizados por bandos fascistas que não hesitam em assassinar manifestantes indefesos, como a jovem estudante que se tornou símbolo mundial da resistência iraniana. Presos, torturados, sexualmente violentados nas prisões, os opositores são condenados, alguns à morte, em julgamentos monstros que lembram os processos estalinistas de Moscou.

Como reagiríamos se apenas um décimo disso estivesse ocorrendo no Paraguai ou, digamos, em Honduras, onde nos mostramos tão indignados ao condenar a destituição de um presidente? Enquanto em Tegucigalpa nos negamos a aceitar o mínimo contacto com o governo de fato, tem sentido receber de braços abertos o homem cujo ministro da Defesa é procurado pela Interpol devido ao atentado ao centro comunitário judaico em Buenos Aires, que causou em 1994 a morte de 85 pessoas?

A acusação nesse caso não provém dos americanos ou israelenses. Foi por iniciativa do governo argentino que o nome foi incluído na lista dos terroristas buscados pela Justiça. Se Brasília tem dúvidas, por que não pergunta à nossa amiga, a presidente Cristina Kirchner?

Democracia e direitos humanos são indivisíveis e devem ser defendidos em qualquer parte do mundo. É incoerente proceder como se esses valores perdessem importância na razão direta do afastamento geográfico. Tampouco é admissível honrar os que deram a vida para combater a ditadura no Brasil, na Argentina, no Chile e confratenizar-se com os que torturam e condenam à morte os opositores no Irã. Com que autoridade festejaremos em março de 2010 os 25 anos do fim da ditadura e do início da Nova República?

O extremismo e o gosto de provocação em Ahmadinejad o converteram no mais tristemente célebre negador do Holocausto, o diabólico extermínio de milhões de seres humanos, crianças, mulheres, velhos, apenas por serem judeus. Outros milhares foram massacrados por serem ciganos, homossexuais e pessoas com deficiência. O Brasil se orgulha de ter recebido muitos dos sobreviventes desse crime abominável, que não pode ser esquecido nem perdoado, quanto menos negado. O mesmo país que tentou oferecer um pouco de segurança e consolo a vítimas como Stefan Zweig e Anatol Rosenfeld agora estende honras a alguém que usa seu cargo para banalizar o mal absoluto?

As contradições não param por aí. O Brasil aceitou o Tratado de Não Proliferação Nuclear e, juntamente com a Argentina, firmou com a Agência Internacional de Energia Atômica um acordo de salvaguardas que abre nossas instalações nucleares ao escrutínio da ONU. Consolidou com isso suas credenciais de aspirante responsável ao Conselho de Segurança e expoente no mundo de uma cultura de paz ininterrupta há quase 140 anos com todos os vizinhos. Por que depreciar esse patrimônio para abraçar o chefe de um governo contra o qual o Conselho de Segurança cansou de aprovar resoluções não acatadas, exortando-o a deter suas atividades de proliferação?

Enfim, trata-se da indesejável visita de um símbolo da negação de tudo o que explica a projeção do Brasil no mundo. Essa projeção provém não das ameaças de bombas ou da coação econômica, que não praticamos, mas do exemplo de pacifismo e moderação, dos valores de democracia, direitos humanos e tolerância encarnados em nossa Constituição como a mais autêntica expressão da maneira de ser do povo brasileiro.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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