VOCÊS TÊM DE LER… editorial de hoje do Estadão intitulado “Candidata pessoa jurídica”:

Publicado em 08/04/2010 16:10 e atualizado em 08/04/2010 19:28
A população que se acostume: não há hipótese de a ex-ministra Dilma Rousseff, como ela disse e tornou a dizer nos últimos dias, se “desvencilhar” do governo Lula. Isso significa que não há hipótese de a candidata ir para o embate sucessório como uma figura de projeção que, embora fiel ao presidente a quem tudo deve, e leal à administração da qual fez parte desde a primeira hora, tenha identidade própria, propostas próprias ? em suma, vida eleitoral própria. A tática petista de transformar a campanha em um confronto entre o período Fernando Henrique e o atual já não se explica apenas pela expectativa de explorar a grande popularidade de Lula em favor de sua apadrinhada, que ainda não disputou nem uma vaga de síndica, diante de um adversário, o ex-governador José Serra, calejado nas urnas e na atividade pública.

Para o lulismo, a preferência pela disputa plebiscitária ? “nós e eles, pão, pão, queijo, queijo”, na memorável descrição do presidente ? tende a ser cada vez mais um imperativo advindo de uma indigesta realidade: a esqualidez aparentemente irremediável do desempenho da candidata, apesar do curso intensivo a que a submetem alguns dos melhores nomes do ramo. À falta de uma Dilma pessoa física, só resta aos seus mentores fazer dela uma pessoa jurídica ? a representação da era Lula.

Naturalmente, o esquema exige descarnar o opositor para criar a ficção de que os nomes à espera do eleitor na urna eletrônica serão, para todos os efeitos, os de dois governos. Daí as tentativas de Dilma de descaracterizar as manifestações do candidato que, diferentemente dela, tem um perfil político estabelecido e fala por si.

Dentro da camisa de força em que as suas limitações e os cálculos plebiscitários dos seus mentores a aprisionaram, a ex-ministra não pode permitir que Serra reconheça méritos neste governo e se proponha a ir em frente ? que é, afinal, o que a população deseja de todos os candidatos. O governador tem de se comportar como os “lobos em pele de cordeiro”, que Dilma diz enxergar nos oposicionistas quando defendem a manutenção das políticas sociais de Lula (sem omitir que as suas sementes foram plantadas na gestão que o precedeu). À interdição das opiniões contrárias ao maniqueísmo atrás do qual oculta as suas carências, a candidata acrescenta a mentira pura e simples. Serra ? ela disse isso duas vezes em poucos dias ? é o responsável pelo racionamento de energia em 2001 e 2002, por ter sido ministro do Planejamento de Fernando Henrique ? 6 anos antes, fingiu esquecer.

A súbita agressividade da ex-ministra, na sua ânsia de passar ao público mensagem do gênero “Dilma e Lula, tudo a ver”, decerto reflete também o seu visível desconforto ao participar, sem a confortadora companhia do presidente, de eventos preparados para promover a humanização de sua imagem. Nessas horas, temperamento e a lulodependência insatisfeita se combinam para fazê-la tropeçar nas próprias deficiências. O momento crítico é o encontro com a imprensa. Um dia, a ex-prisioneira torturada no regime militar, quando solicitada a comentar as declarações de Lula sobre as greves de fome de dissidentes cubanos, aproveitou para fazer uma comparação infame entre os presos políticos brasileiros. Estes, só a muito custo conseguiram falar com a Anistia Internacional. Já os cubanos, seriam privilegiados, deu a entender, “porque o acesso que eles têm à mídia é muito grande”.

Na sua produzida excursão sentimental a Minas, seu Estado natal e segundo maior colégio eleitoral do País, depois de São Paulo, Dilma teve de se haver com uma pergunta sobre as razões que a levaram a começar a sua pré-campanha em “berço tucano”, numa alusão ao governo Aécio Neves, do PSDB.

Agressiva, a candidata reagiu então com 4 pedras em cada mão e um disparate na cabeça. “Minas é meu berço, viu? E eu não sou tucana”, começou, para emendar: “Tancredo, que eu saiba, também não era tucano. Que eu saiba, Juscelino Kubitschek não era tucano.” Ao que se saiba, Juscelino morreu em 1976. Tancredo, em 1985. E o PSDB foi fundado depois, em 1988. Longe de Lula, logo se vê, Dilma é uma autêntica anticandidata. O criador terá de fazer muito mais do que já fez pela criatura.

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EM MINAS, DILMA PREFERE O TRAIDOR JOAQUIM SILVÉRIO DOS REIS A TIRADENTES. OU: QUE PASSADO CONDENA QUEM?

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, ficou longe das obras alagadas do PAC no Rio. Instalou-se em Minas - sua terra natal, mas onde não fez carreira política; não na legalidade ao menos -, visitou o túmulo de Tancredo Neves, que o PT tratava a pontapés quando vivo, e concedeu uma entrevista à rádio Itatiaia em que fez a apologia da traição. Ou, para ficar numa simbologia cara às Minas Gerais: Dilma voltou à terra de Tiradentes para aplaudir Joaquim Silvério dos Reis. O PT é assim: entre o cordeiro e o lobo, escolhe o lobo, apesar de estar sempre com um chapeuzinho vermelho.

Ontem, Dilma estava mais mansinha. Na entrevista, elogiou o ex-governador Aécio Neves — “exemplar”, segundo ela — e fez a apologia da traição. Indagada sobre a chapa “Dilmasia”, acabou defendendo que os mineiros votem nela para presidente e no tucano Antonio Anastasia para governador. E ainda tentou fazer uma graça, com aquele seu humor muito característico: disse preferir o nome “Anastadilma”. Numa única resposta, traía seus anfitriões do PT e ainda convidava os tucanos de Minas a trair o seu partido. Como sabem, Dilma andou falando esses dias sobre “cordeiros e lobos”.

A grande Cecília Meireles imortalizou o movimento nativista da Inconfidência Mineira no magistral “Romanceiro da Inconfidência”, o melhor livro de poesia brasileira — como unidade —  publicado no século passado. Não me estenderei sobre os motivos dessa afirmação aqui, o que pode ficar para outro texto. Quero lembrar duas estrofes magistrais com que brindou o traidor Joaquim Silvério dos Reis:

Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério:
que ele traiu Jesus Cristo,
tu trais um simples Alferes.
Recebeu trinta dinheiros…
- e tu muitas coisas pedes:
pensão para toda a vida,
perdão para quanto deves,
comenda para o pescoço,
honras, glórias, privilégios.
E andas tão bem na cobrança
que quase tudo recebes!

Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério!
Pois ele encontra remorso,
coisa que não te acomete.
Ele topa uma figueira,
tu calmamente envelheces,
orgulhoso e impenitente
com teus sombrios mistérios.
(Pelos caminhos do mundo, nenhum destino se perde: há os grandes sonhos dos homens, e a surda força dos vermes.)

Está tudo aí, leitor. Não há nada mais que se possa acrescentar sobre a censura à traição. Noto, antes que comente um outro aspecto da entrevista, que Dilma dá a entender que, fosse Aécio o candidato tucano, então o PT não teria por onde fazer a sua campanha, não é mesmo?, já que ele, segundo Dilma, é “exemplar”. Parece-me infantil supor que o ex-governador de Minas caia em tal truque. Há dias, os petistas mobilizaram manifestantes a soldo, pagando uns trocados mesmo, para fazer arruaça na Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves. Eis o PT: à luz do dia, flores para o ex-presidente; à socapa, financiamento ilegal de “protestos”…

Na entrevista, Dilma voltou ao monotema de sua campanha: a disputa, que não existe, entre FHC e Lula. E afirmou sobre o candidato tucano: “Acho que o ex-ministro José Serra vai ter que ser analisado no quadro do governo FHC. Eu não escondo o Lula. Espero que ele não esconda o governo do qual participou”.

Claro, claro… Embora a disputa seja entre Serra e Dilma, não entre o ex-presidente e o atual, acho que os tucanos não precisam e não devem fugir dos confrontos do passado.  É isto: que ninguém esconda nada!

Parece que a petista quer que o eleitor considere que Serra nada mais é do que o seu passado de ministro de FHC — algo de que ele deva se envergonhar? Se o passado não passa para ele, então é o caso de considerar que o passado também não passa para ela. Dilma, entao, ainda é aquela que militou em organizações terroristas que mataram inocentes. Estou mentindo? Mataram ou não mataram? O que Serra tem a esconder sobre o seu passado? E Dilma?

Ela pode, como fez ontem, depositar flores no túmulo de Tancredo Neves, que o PT atacou com impressionante virulência quando vivo. Mas Serra não tem por que depositar flores no túmulo de Carlos Lamarca, não é mesmo? Tancredo está no passado dele, e Lamarca, no dela. O passado não passa? Então vamos a ele. Mas vamos para valer.

Onde andarão as famílias das vítimas assassinadas pelas organizações a que Dilma pertenceu porque cismaram que os brasileiros queriam a ditadura que elas também queriam? Contar a história heróica de alguns facínoras indenizados com dinheiro público é mistificação fácil. Só não é barata porque tem muita gente montada na bufunfa, coisa que custa bilhões, o que o povão ignora. E a história dos inocentes que morreram vítimas do terrorismo, sem que tenham recebido por isso um tostão? Alguém se dispõe a contar?

Os adiposos cerebrais
“Ai, como esse ele joga pesado!!!” Jogo? Há mentira no que escrevi acima? Demonstrem!  Alguns idiotas subacadêmicos — subintelectuais de subuniversidades financiados pelas tetas do governo — reclamam por aí, dos baixos de sua adiposidade cerebral: “Ai, como esse Reinaldo faz um debate atrasado, dos anos 50!!!” Faço? O que é ser moderno? Esconder-se no isentismo que tem lado? Pendurar-se em algum órgão público? Eu só tenho o mau gosto — para alguns — de chamar as coisas pelo nome que elas têm. E, na hora certa, chamarei os adiposos cerebrais e aproveitadores também.

“(Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.)”

Deixo claro: eu acho que o Brasil tem é de pensar no futuro. Só estou demonstrando como o debate sobre o passado pode ser surpreendentemente rico. O povo adoraria saber mais, tenho certeza.

LULA NEGA O ÓBVIO: DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL DAS VERBAS CONTRA ENCHENTES. E, ACREDITEM, ACUSA OS ADVERSÁRIOS DE “EXPLORAÇÃO POLÍTICA”


No Portal G1. Volto sem seguida:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou nesta quinta-feira (8) que o governo tenha favorecido a Bahia em detrimento do Rio de Janeiro em repasses para a prevenção de enchentes. Auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) na Secretaria Nacional de Defesa Civil, subordinada ao Ministério da Integração Nacional, mostra desequilíbrio na distribuição de recursos destinados para ações de prevenção a desastres entre 2004 e 2009.

O Rio de Janeiro e seus municípios receberam apenas 0,65% da verba liberada no período. A Bahia, no mesmo período de 2004 a 2009, recebeu R$ 133,2 milhões, ou 37,25% dos recursos liberados. Segundo Lula, quem fez a denúncia precisa provar a irregularidade ao ex-ministro  da Integração Nacional Geddel Vieira Lima, que é da Bahia e foi responsável pela liberação da verba. Geddel deixou o cargo na semana passada para poder concorrer ao governo da Bahia nas eleições de outubro.

O presidente defendeu o ex-ministro. “Não é verdade, conversei com Paulo Bernardo [ministro do Planejamento], Erenice Guerra [ministra da Casa Civil]. O Geddel, como é deputado agora, acho que tem que chamar quem fez a denúncia para essa pessoa provar que ele fez aquilo. Não é possível diante dessa tragédia alguém dizer uma leviandade dessas”, disse Lula.

O relatório que aponta desequilíbrio na distribuição de verbas foi feito por uma equipe de auditores do TCU, a pedido do Congresso, para avaliar a eficiência das ações da defesa civil brasileira devido à demora no atendimento às vítimas das enchentes de 2008 em Santa Catarina. Nesta quarta-feira, o plenário do TCU aprovou o relatório com várias determinações para sanar os problemas apontados na auditoria.

Geddel disse mais cedo ao G1 que estranhou o fato de o TCU ter decidido votar o relatório na semana em que acontecem as enchentes no Rio de Janeiro. Segundo ele, as obras de macrodrenagem que poderiam amenizar os problemas do Rio estavam a cargo do Ministério das Cidades. “Tem muita gente querendo aparecer no ‘Jornal Nacional’. Não vamos transformar uma tragédia em instrumento de disputa política. Podem perguntar ao governador e ao prefeito do Rio de Janeiro. Tudo o que foi pedido pelo estado foi atendido”, afirmou o ex-ministro da Integração.

O presidente acusou críticos do governo de se aproveitarem da tragédia no Rio para fazer política. “Eu acho pobre nesse país é que as pessoas esperam acontecer uma desgraça dessa magnitude para ficar tentando fazer joguinho político pequeno”, afirmou. Nesta quinta, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) anunciou que vai ingressar no Ministério Público Federal com um pedido de apuração da aplicação das verbas federais para prevenção de desastres.

O presidente voltou a responsabilizar ex-governadores e ex-prefeitos do Rio de Janeiro pelos desabamentos provocados pela chuva, que já mataram mais de 160 pessoas no estado.

Segundo ele, os ex-dirigentes não poderiam ter permitido a construção de moradias em áreas de risco. “Eu acho que isso [tragédia] vai aumentando o nível de consciência dos dirigentes para não permitir que as pessoas mais pobres construam suas casas em áreas de encosta. Quando acontece a tragédia, não aparecem os responsáveis que deixaram pessoas irem para lá”, afirmou.

O presidente disse ainda que estuda a destinação de 4 mil casas do Programa Minha Casa, Minha Vida para famílias que ficaram desalojadas em decorrência das enchentes no Rio. Sobre a liberação de mais verbas de emergência para o estado, Lula disse que é necessário esperar a chuva parar para avaliar os danos. “É preciso parar de chover para você fazer um levantamento real das necessidades que você vai ter”.

Nesta quinta, o governo anunciou a liberação de R$ 200 milhões para emergências provocadas pelas chuvas no Rio. Na quarta (7), o prefeito do estado, Eduardo Paes (PMDB), e o governador Sérgio Cabral (PMDB) pediram um repasse R$ 370 milhões ao governo federal.

Comento
Ninguém politizou mais as enchentes de São Paulo do que Lula — secundado pela candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff. Lula chegou a se referir ao tema em cena aberta, numa solenidade a que estava presente o prefeito Gilberto Kassab, sugerindo que seus adversários não foram diligentes o bastante para pedir ajuda ao governo federal.

Dilma se aproveitou da tragédia das chuvas no estado para deitar proselitismo sobre uma de suas fantasias prediletas — o PAC (1, 2, pouco importa). O que há não é politização, não. Estamos diante de números. Ou o dinheiro chegou ao Rio ou não chegou. No caso, o das verbas contra enchentes tem o valor que tem. Se politização houve, foi na distribuição dos recursos.

Ainda não vi deputados da oposição a fazer comício no meio da tragédia ou a comandar manifestação contra a Prefeitura do Rio e de Niterói e contra o governo do Estado, a exemplo do que os petistas fizeram em São Paulo.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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