Um manifesto de intelectuais e artistas em favor de Serra

Publicado em 27/10/2010 11:44 e atualizado em 27/10/2010 16:35

Está circulando desde ontem à noite um manifesto de intelectuais e artistas em favor da candidatura de José Serra à Presidência (site aqui). Seguem a integra e alguns dos signatários:

MANIFESTO DE ARTISTAS E INTELECTUAIS

Votamos em Serra! Ele tem história. Serra está na origem de obras fundamentais nas áreas da Cultura, da Educação, da Saúde, da Infraestrutura, da Economia, da Assistência Social, da Proteção ao Trabalho.

Apoiamos Serra, porque ele tem um passado de compromisso com a democracia, com a verdade e com o uso correto dos recursos públicos, dando bons exemplos de comportamento ético e moral, de respeito à vida e à dignidade das pessoas.

Votamos em Serra, porque o País está, sim, diante de dois projetos: um reconhece a democracia como um valor universal e inegociável, que deve pautar o convívio entre as várias correntes de opinião existentes no Brasil; o outro transforma adversários em inimigos, conspira contra a liberdade e a democracia. Precisamos de um Presidente que nos una e reúna, não de quem nos divida.

Apoiamos Serra, porque repudiamos o dirigismo cultural, a censura explícita ou velada, as patrulhas ideológicas, as restrições à liberdade de imprensa, o compadrio, o aparelhamento do Estado em todas as suas esferas e a truculência dos que se pretendem donos do Brasil. Estamos com Serra porque não aceitamos que um partido tome o lugar da sociedade.

Votamos em Serra, porque o grande título da cidadania dos brasileiros é a Constituição, não a carteirinha de filiação a um partido. A democracia é fruto da dedicação e do trabalho de gerações de brasileiros, que lutaram e lutam cotidianamente para consolidá-la e aperfeiçoá-la. O país não tem donos. O Brasil é dos brasileiros.

Apoiamos Serra, porque precisamos ampliar verdadeiramente as conquistas sociais, econômicas e culturais, sobretudo as que ocorreram no Brasil desde o Plano Real e que nos habilitam a ocupar um lugar de destaque no mundo. Estamos com Serra, porque as outras nações precisam ouvir o Brasil em defesa dos direitos humanos, da autodeterminação dos povos e da paz. O nosso lugar é ao lado das grandes democracias do mundo, não de braços dados com ditadores, a justificar tiranias.

Votamos em Serra, porque ele pautou toda sua vida pública com coerência na luta pela justiça social e pela preservação dos valores universais da democracia e das liberdades individuais.

Apoiamos Serra, porque é preciso, sim, comparar os candidatos e identificar quem está mais preparado para enfrentar os desafios que o Brasil tem pela frente, com autonomia, sem ser refém de grupos partidários ou econômicos. Homens e mulheres, em qualquer atividade, se dão a conhecer por sua obra, que é o testemunho de sua vida. A Presidência da República exige alguém com experiência e competência comprovadas. Não basta querer mudar o Brasil, é preciso saber mudar o Brasil. E a vida pública de Serra demonstra que ele sabe como fazer, sem escândalos e desvios éticos.

Serra é a nossa escolha, porque queremos desfrutar, com coragem e confiança, da liberdade e da igualdade de direitos, como exercício de dignidade e consciência..  Vamos juntos eleger Serra para o bem do Brasil e dos brasileiros - sua maior riqueza!

Por um Brasil de verdades e de bons exemplos.

Vote e peça votos para Serra Presidente 45!
*
Já assinaram o manifesto, entre outros (ver lista completa no site):
Affonso Romano de Sant’Anna
Arnaldo Jabor
Bolívar Lamounier
Carlos Vereza
Celso Lafer
Charles Gavin
Dominguinhos
Elza Berquó
Everardo Maciel
Fabio Magalhães
Fafá de Belém
Fernando Gabeira
Ferreira Gullar
Francisco Weffort
Giulia Gam
Glória Menezes
Guiomar Namo de Mello
Gustavo Franco
Hélio Bicudo
Ives Gandra Martins
João Batista de Andrade
José Gregori
Jose Pastore
Juca de Oliveira
Leiloca
Leôncio Martins Rodrigues
Luiz Alberto Py
Luiz Felipe d’Avila
Lya Luft
Maílson da Nóbrega
Maitê Proença
Malu Mader
Marcelo Madureira
Marco Aurélio Nogueira
Maria Teresa Sadek
Mário Chamie
Mauro Mendonça
Moacir Japiassu
Nana Caymmi
Paulinho Vilhena
Pedro Hertz
Pedro Malan e Catarina
Rosamaria Murtinho
Sandra de Sá
Sérgio Besserman
Sergio Bianchi
Sérgio Fausto
Simon Schwartzman
Stephan Nercessian
Tarcisio Meira
Tonia Carreiro
Tony Bellotto
Zelito Viana

Por Reinaldo Azevedo

A medida que se aproxima o dia da eleição, com as pesquisas indicando a liderança da petista Dilma Rousseff, a retórica violenta do petismo cresce em vez de diminuir. Poderiam, por óbvio, estar exultantes com o que consideram a vitória iminente — e com uma boa vantagem, a estarem certos Datafolha e Ibope. Mas não! Em vez disso, tornam-se ainda mais virulentos. Se uma professora de filosofia da maior universidade do país fala o que falou Marilena Chaui — e, até agora, não percebi uma reação mais contundente de vigilantes colunistas —, imaginem o que não enviam para cá os petralhas que vigiam este blog.

Assim como o PT joga bruto e acusa a brutalidade do outro, deixam mensagens com o propósito único da ofensa, atribuindo-me, o que é fabuloso, o hábito de ofender. É falso! Não costumo agredir ninguém — nem mesmo a língua. Quando ocorre, algum leitor sempre adverte, então corrijo a minha falha. São assim mesmo: precisam que aqueles aos quais consideram inimigos sejam pessoas “más”, capazes das coisas mais sórdidas, cultoras dos valores mais baixos. Podem, então, ser malvados, mergulhar na sordidez e praticar baixezas sem que se sintam culpados.

Não é mais política. O inimigo é transformado em “coisa”, despido de sua humanidade, de sua identidade, de sua verdade, para se tornar uma abstração nefasta. Não querem combater o PSDB ou seu candidato, José Serra, porque considerem suas idéias ruins ou o tomem por incompetente. Não! Ele passa a ser considerado “o retrocesso”, como se sua eventual eleição representasse uma marcha involutiva, que afastaria os brasileiros e o país de um destino. Fora do terreno da política, aí vale rigorosamente tudo, muito especialmente a mentira.

Guerra de posição
Voltemos ao discurso de Marilena Chaui na USP. Ela não está votando, e nem pede que se vote, em propostas, programas , melhorias… Faz tempo que esta senhora acha isso uma bobagem. Seu propósito é outro. Ela tem uma idéia na cabeça: “Estamos votando no futuro deste país e para proposta socialista alcançar o Brasil, a América Latina e a Europa.” Dilma, para ela, como se nota, é uma ponte para esse futuro. Definitivamente, ela não quer esta sociedade, corrigidas as suas imperfeições. O seu reino é outro. De qual socialismo fala esta senhora?

A democracia
Idiota, definitivamente, ela não é. Sabe que uma economia socialista, do tipo planificada, como o mundo a conheceu, não haverá mais. Marilena, a exemplo deste escriba, acredita que a questão central é mesmo a democracia. Mas temos uma diferença fundamental: a dela, e isso está espalhado em vários de seus textos, supõe a superação do que se conhece convencionalmente por democracia — que é a representativa. A minha,  obviamente, é de outra natureza e supõe o aperfeiçoamento dos mecanismos de representação, o que,  para ela, conduz à manipulação e à alienação.

Marilena acredita na utilidade apenas instrumental do conceito “guerra de posição”, como o empregou o comunista italiano Antonio Gramsci. Movimentos sociais, Parlamento, Judiciário e Executivo surgem como trincheiras a serem ocupadas pelo partido, no interior das quais se estabelece a luta pela hegemonia. Cumpre lembrar que, na teoria, isso se faria até que, claro!, tal ocupação pudesse se tornar revolucionária, construindo o socialismo. Ora, o pluripartidarismo, por exemplo, é manifestação óbvia daquela sociedade que Marilena precisa vencer. Não é que ela se alinhe com a tese de que, por burguesa, a democracia deva ser deixada de lado. Ela pretende, na guerra de posição, ocupar os lugares desse modelo de governo para uma nova construção.

Se a democracia era instrumental para Gramsci — fornecia as trincheiras a serem ocupadas —, é Gramsci quem não deixa de ser instrumental para Marilena. Ela não abandonou algumas idéias, não. Teme que a “guerra de posição” acabe se transformando numa acomodação, gerenciada, digamos assim, pela social-democracia ou mesmo pelo liberalismo. Por isso mesmo, ela não abandonou aquela palavrinha que o PT ainda não disse nessa campanha — aliás, não fala a respeito desde 2002: “socialismo”. Dona Doida não acredita, e já deixou isso claro muitas vezes, que possa haver democracia de verdade no capitalismo. Por alguma razão, acha que Dilma pode aproximá-la mais de sua utopia.

Perigosa
É com esse tipo de mentalidade perigosa que se está lidando. Aqueles “intelectuais” que se reuniram na USP odeiam mesmo é a democracia. Não por acaso, todos ali têm, sim, críticas duras ao PT, que não lhes parece esquerdista o suficiente -bem, para alguns lá, Kim Jong-Il seria considerado um moleirão.

Vimos, estarrecidos, que Marilena lançou a tese da suposta conspiração de tucanos, que teria o objetivo de inculpar o PT por eventual baderna em sua manifestação, num movimento claro de satanização do outro. Não contente, um capa-preta do partido resolveu recorrer à polícia, registrando um Boletim de Ocorrência de “preservação de direitos”. Leitores me enviam links que deixam claro que a tese já circula há pelo menos uma semana no submundo dos blogs petistas.

A loucura metódica de Marilena — já que o pensamento que vai acima é uma escolha que tem história — chega a culpar os tucanos por males que ainda nem sofreram e a isentar petistas de malfeitos dos quais ainda não foram acusados. São as categorias absolutas: petistas são bons; tucanos são maus; tucanos são culpados mesmo quando inocentes; petistas são inocentes mesmo quando culpados; tucanos devem ser condenados por aquilo que os petistas acham que eles poderiam fazer; petistas devem ser absolvidos por aquilo que já fizeram.

Entenderam?

Por Reinaldo Azevedo

O PT inaugurou o Boletim da Não-Ocorrência — sob a aparência de boletim de “preservação de direitos. O risco agora é a bandidagem fazer a mesma coisa. Marcola, o presidiário filósofo (Nietzsche está entre seus prediletos…), chama seus advogados para denunciar:

— Olhem, dizem que estão armando umas tretas aí para me culpar, mas quero dizer que o meu grupo é inocente. Exijo um BO de preservação de direitos.

Marcola está bravo.
— Quem diabos me mandou este livro da Marilena Chaui? Isto é um crime! Ela é incapaz de ter uma idéia boa que seja também original; quando é original, não é boa. Tragam-me o Tractatus Logico-Philosophicus, do Wittgenstein! Pode ser aquela tradução da Edusp mesmo…
— Mais alguma coisa, mestre?
— Eu contesto a suposição de que, em “O Ser e O nada”, Sartre estivesse sob a influência do pensamento de Heidegger… O vesguinho é muito primitivo!
— Certo! Se alguém estiver dizendo o contrário, o senhor quer que a gente apague?
— Ainda não… Estou pensando em deixar isso para um Conselho Federal de Filosofia, nos moldes daquele que o Franklin Martins quer para a imprensa! Esse sabe das coisas!
— Boa idéia!

O “Nem”, chefão da Rocinha, também faria o seu Boletim de Não-Ocorrência. A sua exigência já seria outra:
— Sabe aquele manifesto de intelectuais e artistas que resultou naquela festança aqui no Rio? Também quero assinar.
— Como intelectual ou como artista?
— Olhando a lista, tanto faz!
— Talvez não queriam, por causa do nosso ramo de atividade…
— Se até quem bate a carteira do estado assina, por que não eu? Sou criminoso, mas só vendo para quem comprar. Há um monte de gente lá que toma grana do imposto de quem não quer pagar.

O crime, no Brasil, está ficando organizado e letrado! Na contramão da academia!

Por Reinaldo Azevedo

A GRANDE NOTÍCIA DO DIA QUASE IGNORADA PELA IMPRENSA. OU:DEIXANDO-SE PAUTAR PELO ADVERSÁRIO

A notícia vai quase escondida no Estadão. Não mereceu nem mesmo uma chamadinha na primeira página. Nos outros jornais, não vi nada a respeito. Os grandes portais, hoje, a ignoram: o estado de São Paulo teve, no terceiro trimestre, o menor número de homicídios em 14 anos. Na série anualizada, que teve inicio em 1996, comparando-se trimestres correspondentes, o estado atinge a marca de 9 ocorrências para cada grupo de 100 mil habitantes. É o índice mais baixo do país. Só para que se tenha uma idéia do que isso significa: no Brasil como um todo, a taxa é escandalosa, quase o triplo: 26 homicídios por 100 mil habitantes. Em Pernambuco, o índice de São Paulo se multiplica por seis; em Alagoas, por quase sete; no Rio, cuja segurança pública a petista Dilma Rousseff toma como modelo, por quatro.

Qual será o segredo de São Paulo? A própria reportagem do Estadão encerra o texto com uma explicação que certamente agrada aos “especialistas” em direitos humanos, mas desagrada os fatos e a lógica: atribui a queda ao Estatuto do Desarmamento. Sei. E por que não terá o dito-cujo exercido nos demais estados o mesmo efeito? Querem outros que o crescimento econômico esteja na raiz desse feito. O Nordeste foi a região do Brasil que mais cresceu nos últimos anos: a violência, no entanto, explodiu por lá. Em 14 anos, o índice de homicídios em São Paulo despencou: caiu mais de 70%!!!

Mais números: são assassinadas 50 mil pessoas por ano no país, boa parte delas em razão do tráfico de drogas. Se o incide nacional fosse igual ao paulista, morreriam 17.100 — poupando-se 32.900 vidas por ano.

Qual é o segredo de São Paulo?
Se o Estatuto do Desarmamento vale no país inteiro, e os índices de mortes recuam muito timidamente; se o crescimento econômico não explica a redução — já que estados que tiveram excelente desempenho viram explodir a violência —, como explicar o “milagre” paulista? A resposta — que os “especialistas” se negam a ver porque, petistas na sua maioria, estão fazendo política e não ciência — é esta: o estado tem uma polícia mais eficiente e que prende mais bandidos. Querem mais números, que estão ao alcance de todos os meus coleguinhas?

Em dezembro de 2009, a população carcerária no país era de 474.626 pessoas. Do total, nada menos de 34,6% estavam em São Paulo, que tem apenas 22% da população. Será que o estado tem mais pilantras do que os outros ou prende demais? Não! Tem uma polícia e uma segurança mais eficientes. O Rio, por exemplo, vinha em quinto lugar, com menos presos do que Minas, Paraná e Rio Grande do Sul. Eram, há um ano, 399,79  por 100 mil habitantes em São Paulo, contra apenas 166,56 no estado que Dilma elegeu como exemplar na segurança pública.

Vejam que coisa estupefaciente, não é mesmo? Quanto mais bandidos encarcerados, menos bandidos na rua. Quanto menos bandidos na rua, menos gente morta. Essas relações não deveriam ser espantosas, evidentemente. Mas é tal a delinqüência intelectual, teórica e acadêmica no Brasil que o óbvio precisa ser explicitado.

Campanha eleitoral
O eleitor que não é  de São Paulo não sabe: uma das teclas na qual o candidato do PT ao governo do estado, Aloizio Mercadante, derrotado no primeiro turno, bateu muito foi justamente a segurança pública — que, para ele, estava fora de controle.  Até Marina Silva chegou a dizer algo parecido!!! Dilma Rousseff, e isso todo mundo sabe, também é uma crítica severa da política do PSDB na área. Vale dizer: de maneira organizada, sistemática, o PT ataca o que inequivocamente funciona. Há algum tempo, andei me estranhando com um medalhão da Faculdade de Direito da USP, igualmente petista, que andou dizendo besteiras a respeito. Falarei dele em outro post.

Sim, eu acho, sim, que os tucanos são ruins de propaganda pra caramba. Essa questão nem mesmo foi para o horário eleitoral de Serra — e já não tinha sido usada na de Geraldo Alckmin, em 2006. É que alguns bocós consideram que lidar com essas coisas tira o caráter, digamos, “progressista” dos candidatos. Há três eleições, a marquetagem tucana é feita para tentar ganhar votos da esquerda, que, não obstante, votará no PT. O homem comum, esse que anda na rua, que quer segurança pública eficiente, acaba ignorado. Lei e ordem são coisas “de direita”, dizem os colunistas de clichês.

As pesquisas todas apontam que o PSDB perderá a eleição no domingo. Pode ser. Se acontecer, muitas razões poderão ser apontadas (não se joga sozinho, por exemplo), mas uma delas disputa o primeiro lugar nas motivações: a vergonha que os tucanos têm de exaltar os próprios feitos, deixando-se pautar pela agenda do adversário.

Por Reinaldo Azevedo

É lamentável dizer, mas é fato: democracia argentina, hoje, respira melhor sem Néstor Kirchner

Néstor Kirchner poderia estar sendo saudado como o homem que liderou o processo de reconstrução da Argentina, que chegou a uma espécie de grau zero da legalidade. Em vez disso, a democracia é que dá certo suspiro de alívio.

A sorte lançou o político relativamente obscuro e provinciano ao primeiro plano da política. Num governo que teve de ser de união nacional, usou a liderança e o enorme poder que conquistou para liquidar seus inimigos internos no peronismo e deu um jeito de continuar no poder por intermédio de Cristina Kirchner, sua mulher, eleita presidente em outubro de 2007. Em julho daquele ano, passei as férias na Argentina. Embora Cristina fosse senadora por Buenos Aires, bastante conhecida, a verdade é que os argentinos votavam em seu marido. Ela era, de fato, a “muié do Kirchner”.

Em seu “segundo mandato”, os Kirchner decidiram adaptar as instituições a seu projeto político: em vez de instituições fortes, o casal forte. No momento, o “kirchnerismo” trava uma renhida batalha contra a liberdade de imprensa, uma espécie de palavra de ordem que une vários governantes da América Latina que ou tiveram a sua origem na esquerda (não era o caso de Cristina e seu marido) ou adeririam à chamada “onda vermelha” no continente. Hugo Chávez, a quem o casal se associou no continente, foi quem chegou mais longe. O presidente da Venezuela, diga-se, está na raiz de um escândalo comprovado envolvendo a eleição de Cristina: o coronel enviou à Argentina uma mala cheia de dólares para financiar sua campanha.

Kirchner, que tinha o comando do Partido Justicialista, lutava para ser o candidato à sucessão da mulher em 2011 — e essa seqüência não deixa de ser, em si, esdrúxula. Mas vá lá: assim poderia ser nos marcos da democracia. Infelizmente, não é o que vinha acontecendo, não! Não se trata de saudar a morte de ninguém, evidentemente. Mas a democracia argentina, hoje, tem mais chances sem Kirchner do que com ele. Ele estava empenhado em fraudar as regras do jogo que o elegeram e fizeram dele um presidente poderoso e popular.

Não é o caso de usar a morte para extrair lições; basta uma constatação terrivelmente óbvia: por mais que os políticos e os partidos, especialmente os de corte autoritário, imaginem que podem fazer a história caminhar segundo a sua vontade, o acidente continua no comando.

Esses que se organizam para permanecer 20, 30 anos no poder têm de ter  isto em mente: pode demorar, mas os molestadores da democracia morrem sempre antes da esperança.

Por Reinaldo Azevedo

Um leitor me alertou para o conteúdo de um “comentário” de um suposto “leitor” publicado no Estadão Online. O conteúdo é este (segue como veio).Volto em seguida:

“Sou morador de São Paulo do bairro Santa Cecília, que fica próximo a avenida São João, e ontém ouvi duas pessoas em um bar que fui nesta avenida, falando baixinho ( até certo ponto ), sobre a armação que tá sendo criada para o dia 29 de outubro. Segundo estas pessoas um número x de camisas foi mandada ser feita com a insignia do PT, a estrelinha, e muitas pessoas vão estar na passeata que FHC promove neste dia, o 29 de outubro, criando um badernaço sem igual e que terá grande mídia cobrindo, com estas camisas sempre aparecendo. Falavam as duas pessoas que toda a grande mídia já sabe deste fato, e que isso quer fazer as pessoas pelo JN dar cobertura, e outras mídias também, de isso fazer o voto mudar, por sentimentalismo das imagens demonstradas, como eles falavam, de total vandalismo no centro de São Paulo, por parte de petistas.Serão apresentadas muitas pessoas ensanguentadas.”

Comento
Achei o texto de tal sorte analfabeto que fiquei desconfiado. Pensei: “Nem Marcelo Branco e Dilma Rousseff articulando juntos os seus ‘plurals’, copidescados por Emir Sader, realizariam tal proeza com a Inculta & Bela. Isso tem cheiro de armação”. E fiz o óbvio.

Meti um trecho do texto do Google e me chegou a resposta. O “comentário” enviado ao Estadão, que chegou a ser publicado até em blogs da VEJA Online, circulava como post nos blogs oficiosos do petismo, aqueles financiados com dinheiro público. A mensagem também está numa página do Orkut. Em suma: trata-se de uma ação organizada.

Anteontem, na USP, Marilena Chaui afirmou que um amigo dela teria ouvido essa mesma conversa. Vai ver estavam todos no mesmo bar!  Olhem a que “baixura” desceu esta senhora!

Cuidado, tucanos!
Bem, acho que é o caso de o PSDB tomar providências — inclusive legais. Estou começando a achar que os petralhas resolveram denunciar uma conspiração para esconder a… conspiração!  Seria algo mais ou menos assim: “A gente diz que eles vão promover a baderna para nos culpar; aí a gente vai lá e realmente promove a baderna; a culpa será deles!” O procedimento estaria à altura da moral da turma.

Escrevi há algum tempo que assistiríamos aos 15 dias mais sujos da política brasileira desde a redemocratização. Eis aí!

Por Reinaldo Azevedo

Escrevi ontem um texto sobre as mentiras que a campanha do PT conta sobre a Petrobras, com a ajuda deste incrível José Sérgio Gabrielli, militante do partido que também preside a empresa de vez em quando. Agora leiam o que segue:

Por Leila Suwwan, no Globo Online:
Alçada ao centro do debate eleitoral, a ameaça de “privatização” do petroléo já é uma realidade, na opinião de Ildo Sauer, ex-diretor da estatal (2003-2007). Segundo ele, o modelo de concessões criado no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi ampliado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E mais grave: os leilões ocorreram mesmo depois da descoberta do pré-sal - o chamado “filé mignon” das reservas brasileiras - e abrangeram blocos conhecidamente promissores, como o arco do Cabo Frio.

Sauer sustenta que a candidata Dilma Rousseff, ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras, tinha conhecimento do que ocorria e foi conivente com o favorecimento de pelo menos uma empresa privada, a OGX, do empresário Eike Batista, que recrutou executivos estratégicos da Petrobras meses antes do leilão de 2007 (9ª rodada).

Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

O GLOBO: Por que o sr. afirma que foi feita uma privatização do petróleo, inclusive do pré-sal?
ILDO SAUER -
 Em 2006, a ANP e o governo - o presidente da República e a chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras - foram avisados de que a Petrobras, depois de muitos anos de estudo, resolveu furar o sal. Tínhamos feito um poço em Tupi que não encontrou petróleo até o sal, um fracasso. Mas era o lugar ideal para fazer o teste e saber se o pré-sal existe ou não existe. Em julho, furaram e encontraram o petróleo. Portanto, em julho, a especulação de mais de duas décadas estava confirmada. O governo foi avisado. E a ANP foi avisada, conforme manda a lei. O que faltava era dimensionar a reserva. O conselho de todos os técnicos da Petrobras e dirigentes que tinham acesso ao governo, sindicalistas e o grupo de engenharia do Rio de Janeiro pediram para suspender todos os leilões. No entanto, em 2006 o leilão não só foi mantido como limitava, na oitava rodada, a quantidade de blocos que a Petrobras poderia comprar. Dos 280 blocos que iam a leilão, a Petrobras poderia comprar menos de 60.

O GLOBO: Por que limitar?
SAUER - 
A ANP arbitrariamente resolveu fazer isso. com apoio do governo porque dizia que era contra o retorno do monopólio da Petrobras. Como era discriminatório contra a Petrobras, houve ação judicial e teve ganho de causa, uma liminar de suspensão do leilão. O leilão já tinha vendido alguns blocos sobre o pré-sal, um deles para a empresa estatal italiana, quando foi bloqueado. Até hoje não terminou. Isso foi em 2006. O ministro Lobão volta e meia ameaçava retomar o leilão, mesmo sabendo que a maior parte dos blocos dessa oitava rodada estavam sobre o pré-sal.

O GLOBO: Por quê?
SAUER -
 Ele que tem que explicar. Porque tudo isso contradiz o discurso que faz agora a então ministra da Casa Civil e então presidente do conselho da Petrobras. Naquele tempo ela agia na outra direção, de acelerar a entrega do petróleo, fazer leilão e concordava com a redução da participação da Petrobras. Parecem duas pessoas completamente distintas. Eu fazia duas perguntas naquele momento: ou eles não entendiam a dimensão do que estava em jogo ou a ANP e a Casa Civil - o que é grave - entenderam e mesmo assim insistiram em entregar o petróleo.

O GLOBO: E o que aconteceu na nona rodada, em 2007?
SAUER -
 Entramos com força, imploramos para suspender o leilão. Mantiveram. Tudo que fizeram foi retirar 41 blocos premiados. Novamente, o que me deixa perplexo é que, sabendo que o pré-sal era verdadeiro, já confirmados os campos de Tupi, Cacharel e Pirambu, mesmo assim fizeram o leilão de 2007. Diziam que iriam leiloar fora do pré-sal. Mas leiloaram a franja do pré-sal, em 10 blocos. Uma empresa, que foi criada em 2007, que arrancou de dentro da Petrobras o dirigente máximo da área de exploração, que era o gerente-executivo Paulo Mendonça, com toda sua equipe. Ele saiu de lá a peso de ouro e foi trabalhar para investidor privado que, por sua vez, foi assessorado por ex-integrantes do governo anterior e do atual, pagos a título de “consultoria”.

O GLOBO: Mas não houve quarentena?
SAUER - 
Nos negócios normais do capitalismo, quando uma empresa subtrai de outra núcleos estratégicos do conhecimento, as pessoas ficam impedidas de trabalhar, em quarentena técnica ou legal. Neste caso, a presidenta do Conselho de Administração da Petrobras, sabendo que o núcleo estratégico foi retirado, não fez nada e ainda manteve o leilão. Recrutaram a equipe em meados de 2007 e, em novembro, compraram os blocos. Em julho do ano seguinte, venderam 38% de seu capital por R$ 6,7 bilhões. E, desde ano passado, vem anunciando descobertas, confirmando tudo aquilo que nós já dizíamos sobre aquelas áreas, que eram promissoras. Já anunciaram de 2,6 a 5,5 bilhões de barris. Em valor de mercado, em torno de R$ 50 a R$ 80 bilhões, valor maior que a capitalização da Petrobras. Fora esses barris entregues ao Eike Batista, há tantos outros entregues durante os anos. O governo Lula leiloou mais blocos sobre o pré-sal e verteu por mais tempo o modelo inventado pelo FH do que o FH. FH começou a leiloar em 2000, fez 4 rodadas. Lula leiloou 6, dos quais cinco tinham blocos sobre o pré-sal.

O GLOBO: Ou seja, eram blocos que abrangiam áreas onde depois foi confirmado o pré-sal?
SAUER - 
Em 2006 e 2007 eles continuaram fazendo de conta que era pós-sal, mas já sabiam que o pré-sal estava lá. E o governo sabia sim. Em 10 de julho de 2007 é a comunicação formal, carimbada e juramentada de que o sal foi furado e o petróleo foi encontrado. Mas, politicamente, eu sei que o presidente da Petrobras, meu colega, porque fui diretor também, comunicou tanto a presidenta do conselho quanto o presidente da República. Minha perplexidade desde então está baseada na entrega do petróleo do Arco do Cabo Frio. Foi um dos maiores enriquecimentos individuais da história do capitalismo. Agora, o detentor desse patrimônio ainda é visto como figura benemérita ao fazer filantropia, por exemplo, comprando em leilão o terno de posse do presidente da República. Para quem ganhou tantos bilhões tão facilmente, é uma migalha. Por isso eu tomei a peito, mesmo correndo todos os riscos, de contar essa história publicamente, para que isso seja debatido antes das eleições.

O GLOBO: O que Dilma argumentava para manter esses leilões?
SAUER - 
Ela não dizia nada porque não dava explicação, apenas mandava. Em algumas reuniões, ela costumava dizer que a Petrobras tentava enganar o presidente. Era frase costumeira dela: “Presidente, a Petrobras está te enganando, não acredite na Petrobras. A Petrobras pensa primeiro nela e depois no povo brasileiro”. Agora, eu espero que ela tenha se convertido para sempre e, se for eleita, não tenha uma recaída.

O GLOBO: O sr. teme ser acusado de estar participando de uma manobra eleitoral?
SAUER - 
Eu não estou fazendo campanha, estou relatando fatos e quero explicações. Minha contribuição é para cobrar dos dois candidatos uma explicação sobre o que fizeram no passado e um compromisso de transparência e ética. Durante a transição, entre FH e Lula, houve a promessa de que os leilões seriam suspensos e o modelo seria revisto. Não foi até agora e o governo exerceu muito mais o modelo. O modelo novo proposto também não serve porque apenas obriga a Petrobras a ser operadora, o que reduz o risco para os outros e a coloca a serviço do capital estrangeiro. No projeto proposto, quem decide quanto petróleo vai ser leiloado e quando, além da participação da Petrobras, é o Conselho Nacional de Política Energética, inteiramente nomeado pelo presidente. Ou seja, em última instância, a decisão é do presidente.

Comento
Acho a entrevista importante porque se tem aí a comprovação de que a petista Dilma Rousseff não falou a verdade no debate e de que a campanha do PT tem mentido de maneira sistemática. Mas considero uma bobagem, quero deixar bem claro, essa conversa de que “concessão” corresponde a privatização. Já escrevi isso aqui. Na verdade, sou um defensor entusiasmado do modelo, que levou o Brasil perto da auto-suficiência em petróleo.

Por Reinaldo Azevedo

Na Folha:
A EBC (Empresa Brasil de Comunicação), vinculada à Presidência da República, assinou no último dia 22, na Argentina, uma carta de intenções para a criação de uma associação que integrará agências de notícias mantidas pelos governos de nove países da América Latina.

Também assinaram o documento as estatais da Argentina, Bolívia, Cuba, Equador, Guatemala, México, Paraguai e Venezuela.
A criação da Ulan (União Latino-americana de Agências de Notícias) ocorreu em Bariloche em paralelo ao 3º Congresso Mundial de Agências de Notícias. A íntegra da carta não havia sido divulgada até ontem pela organização argentina do congresso, a cargo da Télam.

A assessoria divulgou que a Ulan será “uma associação que tem como fim construir um espaço coletivo de intercâmbio de conteúdos, experiências e formação profissional, com o objetivo de facilitar a inserção na agenda informativa global de uma visão regional própria”.

O ex-prefeito do Rio e dirigente do DEM Cesar Maia disse, em texto distribuído na internet, que a Ulan “pretende organizar e controlar a mídia dos países comprometidos com o socialismo do século 21 de Hugo Chávez”. A assessoria da Télam não respondeu à Folha até o fechamento desta edição. A EBC negou que a Ulan tenha intenção de “controle”.

“O objetivo não se relaciona com o conteúdo distribuído pelas agências e muito menos com seu controle. Não buscará ela contrapor-se a outras mídias e veículos e sim a desenvolver esforços conjuntos para o fortalecimento recíproco das agências públicas de notícias.”

Por Reinaldo Azevedo

Por Catia Seabra, na Folha:
O pátio interno do escritório central da Eletrobras Furnas foi, na semana passada, palco de atos em favor da eleição da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Em duas manhãs da semana passada, dirigentes sindicais e associações de funcionários usaram o sistema de som para pregar o voto na petista a partir das 10h, pleno horário de trabalho.
Os funcionários foram convocados pelo correio eletrônico da estatal para uma “série de debates”. Sob a assinatura “convocação@ elejacerto.com.br”, a mensagem conclamava: “Não vamos ser pegos por surpresas no futuro”, mas não explicitava à que eleição se referia. No pátio, o discurso foi o de que, com a eleição de José Serra (PSDB), haveria demissões e privatizações.

No primeiro dia, consumiu cerca de uma hora e meia. No segundo, foi encerrada em meio a protestos. Em nota, a diretoria de Furnas afirmou ter sido surpreendida pela iniciativa.
Segundo a nota, “sindicatos e entidades de classe realizam regularmente apresentações e discussões no pátio da empresa, com vistas a promover esclarecimentos e discussões relativos a temas de interesse dos funcionários”.

“Na semana passada, no entanto, o discurso assumiu teor político-partidário não endossado pela empresa e, tão logo tomou conhecimento, a diretoria da Eletrobras Furnas interrompeu a apresentação e pediu que se retirassem do local”, acrescentou a nota, concluindo:

“Eletrobras Furnas não promove atividades político-partidárias”.
No sábado, dois dias depois do incidente, o mesmo endereço eletrônico foi usado para enviar aos funcionários e-mails em que Serra é acusado de “cinismo”.

CAIXA
Não é o único caso de declarações de voto no correio corporativo de estatais. No dia 19, o correio corporativo da Superintendência da Caixa Econômica Federal de Ribeirão Preto foi usado para propagação do voto em Dilma. Ex-superintendente, Paulo Duarte de Freitas Lins disparou do e-mail funcional mensagens de apoio.Aqui

Por Reinaldo Azevedo
Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (veja.com

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário