Lula na TV: o arremate do trabalho do palanqueiro

Publicado em 05/11/2010 17:57 e atualizado em 05/11/2010 20:28

Luiz Inácio Lula da Silva fará um pronunciamento oficial hoje, às 20h. Consta que falará como presidente da República. Só acredito vendo. Desde que se deflagrou o processo eleitoral, todas as intervenções deste senhor se caracterizaram pelo desabrido proselitismo partidário, com fins eleitorais. Assim foi no 1º de Maio; assim foi no 7 de Setembro. A primeira intervenção exaltou as conquistas dos trabalhadores no governo dele; a segunda, a nova independência que teria sido alcançada pelos brasileiros no governo dele…

Hoje, creio, vem uma cascata sobre um processo eleitoral como nunca antes na história destepaiz… É bem capaz de Lula se jactar de que o Brasil nunca teve antes 135 milhões de eleitores. Sobrarão elogios para a índole pacífica do nosso povo. Lula deverá dizer platitudes muito típicas do momento: as eleições foram limpas, a oposição é legítima, governistas e oposicionistas devem se unir pelo bem do Brasil…

Em democracias corriqueiras, essas platitudes são importantes. Existem como um sinal de que as instituições estão funcionando normalmente, conforme está previsto nas leis. Na boca de Lula, soará como farsa a qualquer pessoa minimamente exigente. Nunca antes na história destepaiz um governante abusou tanto da máquina oficial para vencer uma eleição. Este provável Lula institucional de hoje é o mesmo que, anteontem, em entrevista coletiva, fazia pouco caso da agressão física de que foi vítima o candidato da oposição.

Ah, sim: ele deve estar com aquele brochinho de “presidente da República”. O mesmo que usava no horário eleitoral do PT. O arremate do trabalho do palanqueiro é esta provável fala mais institucional de hoje. Mistificador! Do começo ao fim!

Por Reinaldo Azevedo


Serra critica governo Lula e é interrompido por manifestante da esquerda… mexicana!

Da Agência EFE. Comento em seguida:
O candidato derrotado à Presidência, José Serra (PSDB), acusou o presidente Lula de desindustrializar o país e adotar um “populismo” de direita em matéria econômica. O comentário do tucano foi feito ontem durante um seminário em Biarritz, sul da França, sobre as relações entre a América Latina e União Europeia. O ex-governador de São Paulo afirmou que o país está “fechado para o exterior” porque passa por um “processo claro de desindustrialização”. Ele criticou os investimentos do governo federal e a alta carga tributária do país.

“É um governo populista de direita na área econômica”, atacou Serra. Para o tucano, o presidente Lula exerce um “populismo cambial” e não tem um modelo econômico definido. Segundo Serra, ele não pôde expor essas ideias do jeito que gostaria durante a campanha eleitoral, na qual foi derrotado pela candidata governista, Dilma Rousseff (PT). “A democracia não é apenas ganhar as eleições, é governar democraticamente”, disse.

O sistema de orçamento participativo, uma das marcas das administrações municipais do PT, na qual o contribuinte decide sobre a destinação de parte dos impostos, também foi criticado pelo candidato derrotado.Serra também comentou as ações brasileiras na política externa. Ele acusou o país de se “unir a ditaduras como o Irã”. Nesse momento, o tucano foi interrompido por um membro da Fundação Zapata, do México, que gritou “por que não te calas?”, provocando um alvoroço na sala. A frase se tornou conhecida depois de o rei Juan Carlos, da Espanha, dirigi-la ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, durante a Cúpula do Chile, em 2008.

Comento
Meu comentário é uma imagem e uma legenda:

Esta senhora à direita de Dilma é Margarita Zapata, presidente da fundação a que pertence o esquerdopata que interrompeu a palestra de Serra. A classe petralha é internacional, hehe...

Esta senhora à direita de Dilma é Margarita Zapata, presidente da fundação a que pertence o esquerdopata que interrompeu a palestra de Serra. Ela veio ao Brsil no lançamento da candidatura do PT à Presidência. A classe petralha é internacional, hehe...

Por Reinaldo Azevedo

(leia primeiro o post abaixo)

Aécio Neves, do PSDB, presidente do Senado? Ai, ai… Vamos ver.

A bancada governista na Casa é de tal sorte acachapante, que essa possibilidade só existiria mesmo na hipótese de um acordão “governo-oposição” em nome, sei lá, de uma agenda mínima, o que certamente seria o máximo para… Dilma Rousseff.  Ou, então… Postas as coisas em números, ficamos assim.

O governismo tem uma bancada potencial, acreditem, de 60 senadores de um total de 81! A conta é esta: PMDB (20), PT (14), PDT (4), PR (4), PSB (4), PC do B (2), PRB (1), PSC (1), PMN (1), PTB (6) e PP (5). Se você contou, leitor, chegamos a 62. É que Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) é de oposição, e Pedro Simon (PMDB-RS) depende das fases da lua. Como informa a matéria do Estadão (abaixo), Aécio poderia fazer a sua pescaria no PTB (6), PP (5) e PSDB (4). Digamos que levasse todos (não haveria a menor hipótese). Somar-se-iam 15 aos… 18 senadores da oposição e 2 possíveis dissidências do PMDB: 35. Aí seria preciso avançar nos outros governistas.

Caso esse movimento se desse à revelia do Planalto, então estaríamos diante de um governo Dilma que estaria acabado antes mesmo de começar. Que Aécio se lance candidato, diga que é candidato, faça movimentos para afirmar que é candidato, vá lá, é do jogo. Ajuda a cacifá-lo como um nome importante no Senado, liderança da oposição etc. Que isso seja levado a sério sem os devidos considerandos, aí é melhor a gente deixar a política de lado e brincar de outra coisa — as moças, de boneca, e os moços, de bola, eliminando-se, claro, as ortodoxias em nome do “mundo moderno”…

Consentimento ou chantagem?
Se for na base do consentimento, muito bem. Numa ousadia e tanto, fosse eu Dilma, tentaria convencer o PMDB e o PT a apoiar o nome de Aécio como candidato de consenso. Seria bastante interessante ter uma liderança da oposição “moderada” nos dois primeiros anos de governo, certo? Nos dois outros, far-se-ia uma troca por alguém da tropa de choque. A gente já viu que o governador Antonio Anastasia é o único da oposição  — do PSDB, quero dizer — que apoiou de saída a CPMF. Acredito, no entanto, que o PT não toparia a brincadeira. Nessas horas, uma coisa é Dilma posar (Emir Sader escreveria “pousar”) de pacificadora. Outra, diferente, é o PT colaborar para alçar ao primeiro plano um possível adversário de 2014. Acho que não vai acontecer.

Caso a candidatura ganhasse corpo à revelia do Planalto, estaríamos diante de um formidável movimento de chantagem dos “aliados” de Dilma Rousseff. Nessa hipótese improvável, Aécio seria a opção dos que teriam decidido mandar um recado ao governo que começa — e também isso parece que não vai acontecer.

Por Reinaldo Azevedo

Leiam o que informa Marcelo Moraes, no Estadão. Estamos diante de um caso bem interessante mesmo. Serve de um bom exemplo, leitores, de como funciona a política. No próximo post, digo por quê.

Aécio assedia aliados de Lula e opera para conquistar presidência do Senado

Com apoio de partidos da base governista, o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) deflagrou articulação política para conquistar a presidência do Senado, acenando em troca com apoio para os parceiros de empreitada controlarem a Câmara. Na chamada “operação Aécio”, bancada por PSDB e DEM e com o apoio informal de setores do PSB e do PP - podendo ter a adesão de PDT e PC do B -, seria formada uma ampla aliança entre esses partidos. Isso garantiria ao grupo uma expressiva quantidade de votos na Câmara e no Senado, ameaçando a parceria entre PMDB e PT para controlar as duas Casas.

No Senado, a soma do bloco de oposição formado por PSDB, DEM e PPS garante 18 votos, total que pode subir para 21, com a adesão de senadores dissidentes do PMDB. É pouco para impor perigo à dupla PMDB-PT. Mas a costura de um acordo com PP (5 senadores), PDT (4 senadores) PSB (3 senadores) e PC do B (2 senadores) mudaria esse patamar para 32 senadores, o que garantiria uma largada forte nessa disputa contra outros 17 senadores do PMDB e 14 do PT. Assim, a decisão da questão se daria através da captura dos votos de partidos mais flutuantes, como PTB e PR, por exemplo.

Não se trata de uma equação fácil, muito menos de efeito garantido, já que o poder de fogo do governo federal é muito grande e pode fazer com que parlamentares da base governista desistam de embarcar no projeto de Aécio, sob pena de retaliação política.Dentro do Palácio do Planalto ainda não surgiu a ordem para explodir os planos tucanos. Mas apenas a existência dessa movimentação já preocupa o governo, que não deseja ver um adversário em potencial da próxima disputa presidencial comandando a pauta e a agenda do Senado e deve atuar para impedir sua vitória.

PMDB
A negociação de Aécio preocupa mais ainda ao PMDB, que sempre tem a Presidência de pelo menos uma das duas Casas e não quer abrir mão desse poder. Quando conquistou a presidência da Câmara, em 2001, Aécio se movimentou de forma semelhante, atraindo apoio de partidos adversários, e derrotou, na época, o favorito Inocêncio Oliveira, então do PFL. Na ocasião, os tucanos também não tinham a maior bancada em nenhuma das duas Casas. Em compensação, tinham o controle do governo federal, com o presidente Fernando Henrique Cardoso, o que, certamente, facilitou a tarefa.

Agora, alinhado com a oposição à presidente eleita Dilma Rousseff, Aécio terá muito mais problemas para fazer a operação avançar. A seu favor, porém, conspiram vários fatores. Primeiro, a disputa entre PT e PMDB para definir quem indicarão para presidir Câmara e Senado. Os partidos negociam um rodízio, mas a discussão está longe de apresentar um consenso. Uma má solução para esse acordo pode gerar espaço para o avanço do ex-governador mineiro.

Articulação
Outro ponto positivo é a forte capacidade de articulação de Aécio. Além de ser consensual entre a oposição, ele conta com apoio garantido dentro do PP, presidido pelo senador Francisco Dornelles (RJ), seu primo. Com o PSB, seu trânsito também é forte. A parceria política com os socialistas é antiga e já rendeu, por exemplo, uma ampla aliança em Minas Gerais, com a eleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), com o apoio do então governador tucano.

A mesma parceria entre PSDB e PSB também produziu frutos no Paraná, onde Luciano Ducci (PSB) assumiu a Prefeitura de Curitiba depois que o tucano Beto Richa se desincompatibilizou do cargo para concorrer e ganhar o governo estadual. O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), defendeu publicamente dentro de seu partido a candidatura de Aécio. Apesar de dizer oficialmente ser contra esse acordo, o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, conversou nos últimos dias com pelo menos dois governadores tucanos, Beto Richa e Teotônio Vilella Filho (AL).

Cargos
A confirmação desses apoios passa por discussões mais complicadas dentro da Câmara. Partidos governistas de porte médio deverão formar blocos parlamentares para ampliar seu tamanho. Assim, conseguiriam cargos melhores na divisão do controle de postos nas Mesas Diretoras e no comando das comissões técnicas e relatorias da Casa. O PSB estuda reeditar com PDT e PC do B o antigo bloquinho, aliança política reunindo os três partidos que garantiria uma bancada de 77 deputados na Câmara. PP, PR e PTB podem também se juntar e montar uma aliança com 103 deputados, superior ao PT, maior partido da Casa, que elegeu 88 deputados.

Aécio também poderia trazer para o Senado a imagem de renovação tão desejada, depois de um período de muitas crises, provocada pela descoberta do inchaço da estrutura da Casa e do pagamento de benefícios exagerados para parlamentares e funcionários por meio de atos secretos.

Por Reinaldo Azevedo

Por Vannildo Mendes, no Estadão Online:
Enquanto disputava o segundo turno da eleição, como marqueteiro do candidato tucano José Serra, o publicitário Luiz Gonzalez tinha a cabeça dividida. Ele mantinha um olho na campanha e outro na disputa judicial que trava há anos contra o próprio PSDB para receber uma dívida de R$ 18 milhões, em valores corrigidos, que alega ter ficado pendente da campanha presidencial de 2006, disputada por Geraldo Alckmin, derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Gonzalez ganhou a causa em março deste ano, por decisão do juiz Daniel Felipe Machado, da 12.ª Vara Federal de Brasília, o que lhe permitiu fechar o contrato para tocar a campanha de Serra, a quem acompanha como marqueteiro desde 2004, quando ganhou a Prefeitura de São Paulo contra a petista Marta Suplicy. Mas o PSDB recorreu alegando cerceamento de defesa e irregularidades na comprovação dos gastos apresentada pela empresa Campanhas 2006 Comunicação Ltda, comandada por Gonzalez.

No dia 6 de outubro, no calor da definição das estratégias do segundo turno, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal acatou a apelação dos tucanos e anulou a sentença da 1.ª instância, que agora volta à estaca zero e o valor da dívida terá de ser revisto à luz da análise dos documentos que comprovam os gastos.

No total, a campanha custou R$ 40,5 milhões, no primeiro e segundo turnos. O PSDB reconhece uma pendência de apenas R$ 4 milhões e quer que os honorários advocatícios, de 10% do valor da causa, sejam cobrados do autor da ação. A guerra com o marqueteiro expõe a crise interna que caracterizou a campanha de Serra.

Neto de espanhóis, sócio das agências GW e Lua Branca, Gonzalez de fato atropelou os caciques tucanos e do aliado DEM nas principais definições. Foi sua, por exemplo, a escolha do slogan “O Brasil pode mais”, criticada por vários integrantes do PSDB e acusada de plágio.

Embargo
Numa última cartada, Gonzalez apresentou na quarta-feira um embargo de declaração, contestando erros formais na sentença que anulou a sua indenização, proferida pela 5.ª Turma do TJ-DF. O caso está concluso para decisão, sobre a mesa do relator, desembargador Romeu Gonzaga Neiva e deve ser levado a julgamento na próxima semana.

Por Reinaldo Azevedo

Desculpo-me, claro, por ser um dos poucos a desafinar o coro dos contentes e falar de coisas que não remetam à “neo-Dilma”, a “Tchutchuca do Pós-Lulismo”, como se isso existisse. Desculpo-me por lembrar que o PT continua a ser PT. Vamos ver.  Na campanha do primeiro turno, o tesoureiro do partido, José Filippi Jr., já mandava cartinhas para as empresas que tinham, digamos assim, um pé na brutalidade. E não é difícil entender por quê. À época, escrevi um post a respeito(Aqui).  Leiam um trecho daquela carta:
“Em 2006. procurei sua empresa como coordenador financeiro da campanha de reeleição do presidente Lula. Naquele momento, sua empresa não aceitou o convite para contribuir com nossa campanha. De todo modo, acredito que ela tenha se beneficiado com os avanços conquistados pelo Brasil…”

Fillippi Jr. está de volta. Agora, ele precisa cobrir o rombo deixado pela campanha. Uma nova carta está sendo enviada. Depois de listar as conquistas do governo Lula, ele pede mais dinheiro. E fala em nome da presidente eleita:“Estou contatando o senhor e sua empresa em nome da Presidente Dilma Rousseff”. O homem cria até um novo conceito sociológico: a “cidadania corporativa”, que deve ser uma coisa  meio parente do fascismo: “A participação de sua empresa nesta eleição, como estabelece a lei brasileira, será muito bem vinda. Buscamos nesta eleição ampliar o número de empresas engajadas nessa prática de cidadania corporativa.” Depois de deixar claro que o governo é excelente e que as empresas têm o dever cívico de participar, só resta apontar o caminho para a contribuição, dando-a como certa (abaixo, a imagem, que pode ser ampliada; no pé, a integra). Ainda sigo:

carta-a-empresarios-pt-achaqueImaginem isso numa república que se levasse a sério mesmo — não naquela em que Chico Buarque não pode perder um prêmio literário… Que o PT, jamais Dilma, expusesse as suas necessidades aos empresários, vá lá. Que listasse as conquistas do partido — NÃO AS DO GOVERNO — para convencer, muito bem! Mas o pedido de dinheiro “em nome da Presidente Dilma Rousseff” tem a cara indisfarçável do achaque e da chantagem. Trata-se de uma afronta ao espírito republicano. É o mesmo que advertir: “A presidente saberá quem colaborou e quem não colaborou”. Colaborou com o quê? Com a sua eleição? Não!!! Com aquele Brasil maravilhoso de que fala Filippi Jr., claro! UMA PRESIDENTE DA REPÚBLICA, AINDA QUE APENAS A ELEITA, NÃO PEDE DINHEIRO JAMAIS NEM USA CONQUISTAS DA SOCIEDADE COMO SE FOSSEM COISAS PRIVADAS, PERTENCENTES A UMA FACÇÃO OU PARTIDO.

Haverá algum protesto ou barulho? Ora, pensa-se no neojornalismo, “o que há de errado em uma autoridade pedir a empresários dinheiro para o seu partido, empresários que podem vir a ser beneficiados ou prejudicados a depender das decisões do governo? Isso é normal! Tão normal quanto roubar o Prêmio Jabuti”.

Segue a íntegra da “carta”. No pé do post, imagem da carta enviada no primeiro turno.

Brasília, 04 de Novembro de 2010.

Prezad (…)

Dilma Rousseff foi eleita Presidente da República, a primeira mulher na história do Brasil. Sua vitória representa uma opção dos eleitores pela continuidade do governo Lula, que criou 14 milhões de novos empregos formais, tirou 28 milhões de pessoas da pobreza e promoveu a ascensão de 36 milhões para a classe média. O Brasil tem hoje destacada posição de liderança internacional e enfrentou com sucesso a grave crise de 2008.
Neste momento em que nos preparamos para uma nova etapa de desenvolvimento econômico e social do Brasil, estou contatando o senhor e sua empresa em nome da Presidente Dilma Rousseff. O segundo turno da campanha eleitoral gerou novas despesas especialmente, com materiais de divulgação, que estamos buscando saldar ainda neste mês de novembro, de acordo com as normas da arrecadação eleitoral. Muitos empresários brasileiros já contribuíram, optando por exercer esse direito facultado pela lei eleitoral, que deixa o financiamento das campanhas a cargo das empresas, principalmente, e dos cidadãos.
A participação de sua empresa nesta eleição, como estabelece a lei brasileira, será muito bem vinda. Buscamos nesta eleição ampliar o número de empresas engajadas nessa prática de cidadania corporativa. Dentro deste espírito, tenho prazer de convidar sua empresa a dar uma contribuição para a campanha de Dilma Rousseff. A doação deve ser feita por meio de depósito (DOC ou TED), diretamente na conta da campanha. Mais informações e as instruções para depósito e emissão do recibo podem ser solicitadas por email ou por meio de contato com nosso Comitê Financeiro no telefone abaixo.

Obrigado e um abraço,
José de Filippi Jr., ex-prefeito de Diadema-SP, deputado federal eleito pelo PT-SP.
Coordenador financeiro da Campanha Dilma Presidente 2010.

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Por Reinaldo Azevedo
O PRÊMIO JABUTI E OS ASQUEROSOS 1 - O jornalismo na fase “Alemanha Oriental” no dia em que o Prêmio Jabuti se transforma num espetáculo de vigarice política

Vocês estão preparados para um exercício de jornalismo comparado e certamente INCOMPARÁVEL? Nunca antes nestepaiz se viu algo assim. Igual, só na Alemanha Oriental, nos tempos em que os melhores redatores tinham origem na Stasi, a polícia política. É bem verdade que nunca antes houve um Prêmio Jabuti assim, que ontem viveu O Dia da Desmoralização.

Leiam o que publica a Folha de S. Paulo.

Prêmio Jabuti vai para Chico Buarque e Maria Rita Kehl
DE SÃO PAULO - Na noite de ontem, na Sala São Paulo, foram anunciados os vencedores do Prêmio Jabuti. “Leite Derramado”, romance de Chico Buarque, ganhou o prêmio de Livro do Ano de Ficção. É a terceira vez que Chico recebe a honraria. A obra também venceu no voto popular. “O Tempo e o Cão”, da psicanalista Maria Rita Kehl, foi eleito o melhor livro de não ficção pelo júri. Eles ganharão R$ 30 mil cada um. Também foram premiados os vencedores das 21 categorias da 52ª edição do Jabuti, anunciados em 1º/10.

Eu sei. Vocês não viram nada de errado aí. Chico Buarque ganhar prêmio de “Melhor Qualquer Coisa” no Brasil é comum. Ele ganharia até Premio de Melhor Caráter — caso disputasse. O concorrente, provavelmente, seria Frei Betto. Agora vamos ver a mesma notícia no G1:

Chico Buarque leva Prêmio Jabuti 2010 por melhor ficção do ano
O cantor, compositor e escritor Chico Buarque recebeu o Prêmio Jabuti 2010 de melhor livro de ficção do ano por “Leite derramado”. A cerimônia de entrega aconteceu na Sala São Paulo, no bairro da Luz, região central da capital paulista, na noite da última quinta-feira (4). É a primeira vez em 52 edições da tradicional premiação literária brasileira que o mesmo escritor vence três vezes na categoria.
O cantor, compositor e escritor Chico Buarque recebe o Prêmio Jabuti 2010 de melhor livro de ficção do ano por “Leite derramado”. Cerimônia aconteceu na noite desta quinta-feira (4), em São Paulo).
Além da escolha do júri oficial formado por editores, “Leite derramado” também foi o vencedor no júri popular, uma novidade na edição deste ano - a votação contou com mais de 5 mil votos efetuados pela internet.
Na categoria não-ficção, os vencedores foram “O tempo e o cão”, de Maria Rita Kehl (júri oficial) e “Linguagens formais: teoria, modelagem e implementação”, de Marcus Vinícius Medena Ramos, João José Neto e Ítalo Santiago Vega (júri popular).
Veja a lista com os demais vencedores do 52º Prêmio Jabuti divulgada em outubro passado:
ROMANCE
1º - “Se eu fechar os olhos” (Record), de Edney Silvestre
2º - “Leite derramado” (Cia das Letras), de Chico Buarque
3º - “Os espiões” (Objetiva), de Luis Fernando Veríssimo

O leitor mais atento já percebeu alguma coisa. Agora vamos ver a mesma notícia da edição online do Estadão (NÃO É A IMPRESSA):

Chico Buarque recebe seu 3º Prêmio Jabuti
Habitualmente avesso a comparecer a eventos públicos, Chico Buarque de Holanda surpreendeu ao participar ontem à noite da entrega da 52.ª edição do Prêmio Jabuti, o mais tradicional da literatura brasileira. O evento aconteceu na Sala São Paulo.
Sua obra “Leite Derramado” (Companhia das Letras) ficou em segundo lugar na categoria Romance, do Prêmio Jabuti. Em primeiro, ficou “Se Eu Fechar os Olhos Agora” (Record), de Edney Silvestre. Em terceiro, o colaborador do ‘Estado’ Luis Fernando Verissimo, com Os Espiões (Objetiva).
Chico Buarque chegou discretamente, quando a cerimônia já tinha começado, e se sentou ao lado de seu editor, Luiz Schwarcz. Chico já havia vencido em outras edições do Jabuti, ganhando o prêmio máximo - Livro do Ano de Ficção. A primeira em 1992, por Estorvo, e depois em 2004, por Budapeste. O evento contou ainda com a presença do governador Alberto Goldman e do prefeito Gilberto Kassab.

Voltei
O livro “Leite Derramado”, de Chico Buarque — que não li nem vou ler porque,  a exemplo do que ocorre com Lula, o sambista como romancista me dá sono —, concorreu na categoria “Romance”. E ficou em segundo lugar. O vencedor foi o exceloente “Se eu fechar os olhos agora”, do jornalista Edney Silvestre, que já recomendei aqui. No próximo post, explico o truque para “premiar” Chico Buarque.

Edney foi banido da notícia na Folha de S. Paulo. No G1, ele aparece só na longa lista de premiação, e o redator ainda teve o capricho de errar o nome do livro  — ficou faltando a palavra “agora”. No Estadão Online, a informação relevante aparece no segundo parágrafo. Mas atenção: na edição impressa do jornal,  Silvestre desapareceu. Quem editou o texto preferiu reservar algumas linhas para informar que o sambista “se sentou ao lado do editor Luiz Schwarcz” (coisa relevantíssima!) e que ele ficou distribuindo autógrafos.

Tratei só de uma parte da nojeira. Falo mais no próximo post.

Por Reinaldo Azevedo

O PRÊMIO JABUTI E OS ASQUEROSOS 2 – Os detalhes de uma fraude. Ou: “Dil-má/ Dil-má”

(Porcaria! Escrevi o post anterior há mais de uma hora. Não vi que tinha ficado  na área de rascunho. Publiquei há minutos. Ele deve ser lido antes deste). 

Qual foi o truque para premiar Chico Buarque? Bem, não houve truque. Tratou-se mesmo de uma arbitrariedade, de uma fraude escancarada. E ponto final! O Jabuti se divide em muitas categorias, a saber (a lista é grande): Romance, Contos e Crônicas, Poesia, Biografia, Reportagem, Infantil, Juvenil, Capa, Teoria e Crítica  Literária, Tradução, Arquitetura e Urbanismo, Fotografia, Comunicação e Artes, Projeto Gráfico, Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil, Ciências Exatas, Tecnologia e Informática, Educação, Psicologia e Psicanálise, Didático e Paradidático, Economia, Administração e Negócios, Direito, Ciências Humanas, Ciências Naturais e da Saúde, Tradução de Obra Literária do Espanhol para o Português

O leite derramado por Chico Buarque que tanto excitou a turma ficou em segundo lugar na categoria “romance”, que está no tal grupo de “não-ficção”. Como pode o segundo lugar da subcategoria se transformar, depois, no primeiro lugar da categoria geral? É uma lógica ou malandra ou asinina. Burros, eles não são. Então se trata mesmo de malandragem. ROUBARAM O PRÊMIO DE EDNEY SILVESTRE OU DE JOSÉ REZENDE JR., primeiro lugar na categoria “Contos e Crônicas” . Fez-se uma premiação política — e não foi a única da noite, o que deixo para um terceiro post.

O trabalho do jornalismo, não fosse ele uma fração da militância petista e do “engajamento”, seria questionar o critério: se Chico não fez o melhor livro em nenhuma das subcategorias que compõem a categoria “Ficção”, como pode ter feito a melhor ficção? Mas quê… A imprensa estava ocupada demais em noticiar os frufrus e rapapés para a celebridade. A sabujice é de tal sorte asquerosa que os textos começam quase sempre por uma estranha adversativa: “Apesar de avesso à badalação…”; “embora não costume participar de eventos…” e vai por aí. Fica parecendo que, quando este senhor surge entre os humanos, uma contradição se estabelece.

Dil-má/ Dil-má
Ao receber o prêmio, boa parte dos presentes entoou o coro “Dil-má/ Dil-má”, o que o jornalismo também não retratou. Tratava-se, em suma, de uma premiação de caráter político. E de caráter político-partidário. Reitero: não foi a única. Chico Buaraque foi nomeado pelo establishment esquerdista de boa parte das redações a voz crítica da nação, seja lá o que isso signifique. Em muitos casos, tem significado a justificação de ditaduras sanguinárias. Tal condição lhe confere o direito, pelo visto, de ser o beneficiário de uma fraude. O Prêmio Jabuti viola a sua própria lógica para distingui-lo. Afinal, quando Chico Buarque disputa, Chico Buarque vence.

O moço da Banda
Reza a biografia, ou hagiografia, de Chico Buarque que, no festival de 1966, a sua “A Banda” foi a vitoriosa, mas o primeiro lugar foi dividido com a esquerdista “Disparada”, de Geraldo Vandré. O próprio Chico, segundo Zuza Homem de Mello, teria exigido do júri a declaração de empate ou recusaria o prêmio. Um gesto bonito, sem duvida: VOCÊ DIVIDIR O QUE LHE PERTENCE É UM ATO DE GRANDEZA. Mas FICAR COM O QUE NÃO PERTENCE É ROUBO. E o Jabuti de “Melhor Livro de Ficção” para Chico Buarque é um roubo.

E há, sem dúvida, uma coisa que iguala aquele ambiente de 1966 a este: foi o alinhamento político-ideológico que fez “A Banda” empatar com “Disparada” —  nesse caso, injustiçada foi a marchinha de Chico. E é o alinhamento ideológico que deu agora o Jabuti de Melhor Livro de Ficção a “Leite Derramado”. Vejam vocês: perca Chico ou ganhe, a esquerda só não abre mão de uma coisa: da injustiça.

Em 1966, eloe dividiu o que lhe pertencia. Espero que, em 2010, ele devolva o que não lhe pertence.

Encerro
Ah, sim: nas muitas categorias do Jabuti, falta criar a de “Editor Mais Bonito” ou, sei lá, “Editor Mais Amigo dos Segundos Cadernos”. Luiz Schwarcz venceria sempre. Ele é o Chico Buarque da área.

Por Reinaldo AzevedoCapitão Nascimento foi fazer Ciências Sociais na USP ou na UnB e já está pronto para ser militante do PSOL. Que pena!
Depois do curso de ciências sociais, Nascimento dá um tiro nos fatos

Depois do curso de ciências sociais, Nascimento dá um tiro nos fatos

E o Capitão Nascimento, hein? Coitado! Foi cursar Ciências Sociais na USP ou na UnB, virou um crítico do “sistema”, já pode ser militante do PSOL e se transformar num burocrata da sociologia esquerdopata brasileira. Aposentado, sugiro que peça uma bolsa de estudos ao CNPq e escreva uma dessas teses que vêm sempre acompanhadas de dois portos. José Padilha, aliás, fez quase isso com “Tropa de Elite 2″:  grudou um rabicho no título: “O inimigo agora é outro”. É quase um manual de instrução para o espectador distraído. Sim, diretor, a gente acabaria entendendo a mensagem. Saí do cinema com a nítida impressão de que Padilha cedeu à patrulha politicamente correta e resolveu corrigir os supostos excessos do filme anterior — justamente os elementos que o tornavam interessante.

Fui assistir, como se nota, à segunda etapa das aventuras do já lendário, no cinema brasileiro ao menos, Capitão Nascimento. Padilha é um craque no seu ofício. A exemplo de “Tropa de Elite”, o sem rabicho, este filme é tecnicamente impecável, embora com um roteiro mais cediço porque muito óbvio. Wagner Moura, em quem se concentram todas as atenções dos espectadores, faz justiça à fama de excelente ator. A personagem, no entanto, é que perdeu graça e relevo. As amarguras e perplexidades do policial atormentado da primeira aventura vivem agora a fase da “revelação das causas”, assim como um anjo vingador que perdesse a inocência. O que era uma narrativa crua, sem moralismos ou esquematismos, tornou-se agora uma teoria sobre o poder e sobre o crime. Como tal, produz-se uma boa e polêmica peça para debate nos bancos universitários,  mas, lamento dizer, um mau filme. Vamos por partes.

Patrulha
Vocês certamente não ignoram o esganiçado debate que “Tropa de Elite”, o um, provocou. A esquerdalha toda desceu o porrete no filme, classificando-o, imaginem só!, de “fascista”. Alguns disfarçavam o mal-estar centrando suas restrições no excesso de violência exibido na tela. Outros lastimavam que Nascimento, um homem decente, sim, mas violento e nem sempre seguidor das regras, tivesse caído nas graças do público, que se dispensaria, assim, de pensar nas “causas” — olhem “as causas” aí — da violência. O incômodo, apontei à época, na verdade, era outro: aquele filme, com todas as letras e sem meios-tons, evidenciava que os consumidores de drogas da Zona Sul do Rio, muitos deles contumazes humanistas, eram financiadores da tragédia a que se assistia nos morros. A história fazia pouco da sociologia vagabunda que acaba romantizando a violência e enaltecendo o crime como, sei lá, uma forma de expressão. Padilha chegou a virar motivo de editoriais de jornais. Colunistas de política passaram a escrever sobre o seu filme. Houve mesmo quem dissesse que ele fazia uma abordagem “de direita”, uma vez que certa militância vigarista em favor dos direitos humanos era ridicularizada.

Terá sido por isso que gostei do primeiro e não gostei do segundo?, pergunto com ironia. Pode ser. Cada um diga o que quiser. Escrevi à época um artigo na VEJA. Transcrevo um trecho:
Nunca antes neste país um produto cultural foi objeto de cerco tão covarde como Tropa de Elite, o filme do diretor José Padilha. Os donos dos morros dos cadernos de cultura dos jornais, investidos do papel de aiatolás das utopias permitidas, resolveram incinerá-lo antes que fosse lançado e emitiram a sua fatwa, a sua sentença: “Ele é reacionário e precisa ser destruído”. Num programa de TV, um careca, com barba e óculos inteligentes, índices que denunciam um “inteliquitual”, sotaque inequívoco de amigo do povo, advertia: “A mensagem é perigosa”. Outro, olhar esgazeado, sintaxe trêmula, sonhava: a solução é “descriminar as drogas”. E houve quem não resistisse, cravando a palavra mágica: “É de direita”. Nem chegaram a dizer se o filme - que é entretenimento, não tratado de sociologia - é bom ou não.
Seqüestrado pelo Bonde do Foucault (já explico o que é isso), Padilha foi libertado pelo povo. A pirataria transformou seu filme num fenômeno. A esquerda intelectual, organizada em bando para assaltar a reputação alheia (como de hábito), já não podia fazer mais nada. Pouco importava o que dissesse ou escrevesse, o filme era um sucesso. Íntegra 
aqui.

Sem poupar ninguém
Qual era, entendo, a grande sacada do primeiro filme? Ninguém era poupado: autoridades, polícia, consumidores de drogas, bandidos… Num país em que o que menos se faz é assumir, ou atribuir, responsabilidades individuais; em que o comportamento de autoridades é freqüentemente marcado ou pela conivência com o malfeito ou pela prevaricação, Capitão Nascimento se transformou num herói popular: incorruptível, implacável, eficiente, ele resolvia, nem sempre dentro da lei. Filme, como disse à época, é entretenimento, não um tratado de moral. Se puder ajudar a recolocar as coisas no seu devido lugar, tanto melhor. Eu acho que aquele ajudava. Na caricatura que fazia do discurso edulcorado de esquerda, que santifica o crime e o transforma numa espécie de rebeldia primitiva, ainda pré-política, o que é besteira, “Tropa de Elite” evidenciava o fundo falso daquele humanismo tosco e, na prática, a sua crueldade.

Mas o crime no Rio mudou, poderia dizer Padilha. É, mudou! Mas a leitura que “Tropa de Elite 2″ faz da realidade tornou-se mais óbvia, fácil e errada. É, antes de tudo, velha! Um terço da fita, por aí, conta como Nascimento acabou contribuindo, efetivamente, para expulsar o narcotráfico das favelas — é ficção, leitor. Expulsos os traficantes, chegaram as milícias, que nada têm de fantasia, e o “inimigo” passa, então, a ser outro. Só que, desta feita, mais poderoso porque articulado com o poder político. Pois bem.

A facilidade
Nascimento está separado da mulher — a relação já era ruim no primeiro filme por causa da profissão do rapaz. Alguns anos se passaram. O filho do casal é agora adolescente. Ela casou-se de novo. E justamente com um certo Diogo Fraga, ativista de direitos humanos, que acaba se elegendo deputado. Fraga é, em muitos aspectos, o antípoda do capitão, a quem considera um troglodita. São adversários públicos. O militante está preocupado com as raízes sociais da violência e tem a certeza de que a culpa é do tal “sistema”. Se certo ativismo do miolo mole, disfarçado de defesa dos direitos humanos, era objeto de caricatura no primeiro filme, neste, está com a razão teórica. Nascimento não divide apenas a mulher e o filho com Fraga. Os dois também dividem o filme.

Fraga está entre aqueles que acreditam, contra todas as evidências, que o Brasil tem presos demais e que isso, no fundo, é uma expressão da luta de classes. Numa de suas palestras, chega a fazer uma conta marota, de lógica apenas aparente — como é típico das esquerdas. Pega a taxa de crescimento da população brasileira e confronta com a taxa de crescimento da população carcerária. Em seguida, estima que as duas seguirão constantes e conclui, para o riso cúmplice dos idiotas que o escutam, que, num prazo dado, a seguir aquela tendência, toda a população brasileira estará encarcerada. É coisa de vigaristas. Peguemos uma comunidade de 100 pessoas no ano “x”, onde não houvesse um só preso. No ano seguinte, alguém comete um delito e vai para a cadeia. Este salto de “zero preso” para “1 preso”, então, já estaria condenando todo o grupo porque ele teria demonstrado uma tendência infinita de crescimento.

Desta feita, na fita, Fraga não é o idiota útil, não! Ele vai se revelar, na verdade, o sábio. A luta de Nascimento contra o crime, no primeiro e no segundo filmes, no fim das contas, se revela uma grande inutilidade porque a verdade verdadeira da questão, fica claro, não está relacionada a indivíduos e suas escolhas. Os consumidores de drogas, absolvidos, desapareceram da história; os traficantes, ainda estupidamente violentos, são apenas uns molambos humanos, massa de manobra de outros espertos; a polícia, ainda notoriamente corrupta, também não deixa de ser instrumentalizada. Todos ali, heróis e bandidos, são peças manobráveis de um jogo muito mais pesado: o tal “sistema”. Não por acaso, num dado momento da fita, Padilha volta a sua câmera para o Congresso Nacional, onde estaria, então, a origem de tudo.

Reações
Foi divertido ler a reação da “crítica” ao segundo firme. Alguns que malharam o primeiro gostaram do que viram agora. Seria um trabalho mais maduro, sem “os excessos” do primeiro. Há até quem diga que “Padilha aprendeu” a verdade. Eu, como notam, faço, de certo modo, o contrário. Será tudo, então, pura ideologia? Vamos ver. Esse papo de “sistema”, vênia máxima, é de quando eu tinha 14 anos e era militante trotskista. Já lá se vão 35 anos. Deixei de ser esquerdista, entre outras razões, quando percebi que “o sistema” que estaria na raiz dos descalabros que Padilha narra — e de todas as injustiças que as esquerdas dizem querer corrigir — também está na raiz da popularização dos antibióticos, dos celulares e da comida barata.

O “sistema”, em suma, não é nada! Vivo aqui falando mal do poder, acho até que é uma obrigação do jornalismo, mas o fato é que aquele Congresso que aparece como a causa de todos os males, ainda que pareça absurdo dizê-lo, contribui para o Brasil melhorar. Sem ele é que as coisas costumam ficar complicadas. E certamente há muitos corruptos lá dentro. Não há lei eficiente o bastante que consiga proibir o indivíduo de delinqüir. Ela tem é de ser eficiente para punir os que a transgridem — e nisso, com efeito, costumamos ir muito mal. Mas não há, reitero, remédio para quem escolhe o caminho do crime;  em qualquer grupo social, trata-se de uma escolha.

Assistindo ao filme, vocês verão que o tal “sistema” sempre dá um jeito de se reciclar. Ou bem todas aquelas injustiças, supostas causadores da violência, de que tanto fala o tal Fraga, são equacionadas, ou não há solução. E isso, bem, isso é simplesmente mentira! O Estado de São Paulo, por exemplo, tem hoje a menor taxa de homicídios por 100 mil habitantes do país, quase um terço da nacional, um quarto da do Rio, quase um sexto da de Pernambuco. Ora, além das escolhas pessoais, há as escolhas de certas políticas públicas. E dentro do tal sistema!

Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), que disputou a Presidência, poderia ser o líder espiritual de “Tropa de Elite 2″. Nos debates do primeiro turno, qualquer que fosse a questão que lhe propunham — saneamento, meio ambiente, economia ou educação —, com seu ar professoral e de um jeito meio destrambelhado de velhinho maluquinho, ele dizia, “em nome dos trabalhadores”, escandindo as sílabas, separando-as com a mão: “O nome disso é de-si-gual-da-de. Sem resolver a de-si-gual-da-de, todas as soluções são falsas”.

Padilha não quer mais confusão. Bandidos, consumidores de drogas e, de certo modo, até a polícia corrupta, todos são vítimas do “sis-te-ma“. Não por acaso, Diogo Fraga foi inspirado no deputado Marcelo Freixo, do PSOL, para quem muitos do artistas de Tropa de Elite 2 fizeram campanha. Ele comandou uma sem dúvida meritória CPI contra as milícias no Rio. O que não torna, evidentemente, corretas as teses do PSOL. Padilha fez um segundo filme para, de certo modo, pedir desculpa pelo primeiro. E este também seduz multidões. Não deixa de ser uma evidência do seu talento.

Capitão Nascimento foi metralhado pela patrulha politicamente correta. Virou um fanfarrão de esquerda, apesar daquele seu ar atormentado. Uma pena!

Por Reinaldo Azevedo

Vejam como a coisa pode começar facinha, facinha, para Dilma Rousseff. O Estadão conseguiu ouvir 25 dos 27 governadores eleitos (ou reeleitos) sobre a volta da CPMF. Disseram-se favoráveis ao imposto 14 deles. O único oposicionista do grupo é Antonio Anastasia, de Minas (PSDB).

Agora a boa notícia: disseram “não” Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Beto Richa (PSDB-PR), Marconi Perillo (PSDB-GO), Simão Jatene (PSDB-PA), Rosalba Carlini (DEM-RN) e Raimundo Colombo (DEM-SC). Três outros oposicionistas, embora ouvidos, preferiram não opinar: Teotônio Vilela (PSDB-AL), Anchieta Júnior (PSDB-RR) e Siqueira Campos (PSDB-TO). Entre os governistas, só dois não disseram nem “sim” nem “não”: Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Confúcio Moura (PMDB-RO). Roseana Sarney (PMDB-MA) e Omar Aziz (PMN-AM) não foram encontrados. Os outros 13, todos da base aliada, são favoráveis.

Publiquei ontem aqui um post com um vídeo sobre o paraíso em que Dilma prometeu transformar a saúde brasileira. Teria sido honestíssimo ter dito: “Olhem, quero fazer tudo isso, mas conto com a colaboração de vocês. Nós vamos recriar a CPMF…” Sim, eu sei, eleitoralmente não teria sido muito inteligente. Então se promete o céu e depois se vai atrás de um imposto… É mais inteligente, mas muito pouco honesto.

Esse debate já começa na pura malandragem. Dilma vai ter uma maioria acachapante no Congresso. Lá é o lugar de propor impostos novos e debater com a sociedade. O truque, posto em prática pelos governadores do PSB, é dividir o ônus da criação de mais um imposto com as oposições. Antonio Anastasia, governador de Minas — e, supõe-se, o senador eleito Aécio Neves — topam a parada. Seria a primeira promessa descumprida por Dilma. Usará os governadores como laranjas. Que os da situação ofereçam seu auxílio, vá lá. Que um oposicionista já tenha se oferecido…

Não se trata de saber se é preciso ter mais dinheiro ou não, se o imposto será grande ou pequeno. Claro que é preciso mais grana. É defensável, sob certo ponto de vista, criar contribuições para a educação, para o transporte público, para a segurança, para engordar os magros, emagrecer os gordos, construir casas… Para todas as demandas da sociedade, existem os tributos arrecadados. A carga no Brasil já beira a extorsão. O que está em debate é o caminho. E o caminho está errado.

Qual vai ser a orientação? Vai se criar primeiro o imposto da saúde para, depois, debater a queda da carga tributária? Ora, tenham paciência! O truque é primitivo! Abaixo, há uma entrevista boa de Aécio Neves, em que diz coisas sensatas. A postura propositiva, de que ela fala, inclui aumentar a carga tributária, em vez de oferecer alternativas para reduzi-la?

Por Reinaldo Azevedo

No Estadão:
O DEM divulgou ontem nota repudiando a tentativa da presidente eleita, Dilma Rousseff, de recriar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), qualificada pelo partido como “o famigerado imposto do cheque”. A CPMF acabou em dezembro de 2007, depois que as oposições se uniram a alguns senadores governistas dissidentes e rejeitaram a proposta de sua prorrogação.

Para o líder do DEM, deputado Paulo Bornhausen (SC), que assina a nota, a “convocação” da presidente eleita aos governadores, para assumirem o movimento pela volta do imposto, é um “capricho vingativo do atual presidente da República”.

Bornhausen disse que o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) logo após o fim da CPMF e o constante aumento da arrecadação de tributos alimentaram os cofres públicos com mais recursos do que os gerados pelo imposto do cheque.

O DEM conclamou a oposição no Congresso e nos Executivos e Legislativos estaduais a se unir para impedir a volta da CPMF.

Já o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), vice-líder da oposição, afirmou em discurso na Câmara que o presidente Lula “mente” ao afirmar que faltou dinheiro para a saúde. Citando números da Receita Federal e do Tesouro Nacional sobre aumento na arrecadação de impostos, Hauly disse que “nem sempre os interesses do Planalto são os da nação. É o caso dessa famigerada contribuição para a saúde”.

OAB. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, considerou “preocupante” o fato de Dilma ter declarado estar havendo pressão dos governadores pela volta da CPMF. “Sem se falar numa reforma tributária é efetivamente querer jogar nos braços da sociedade toda uma responsabilidade para manter o Estado”, afirmou Cavalcante, que participou, em Curitiba, de almoço na Associação Comercial do Paraná (ACP).

Segundo ele, a questão do financiamento da saúde precisa ser discutida por todos os brasileiros. “Mas não será à custa da sociedade que vamos resolver o problema”, ressaltou.

Ophir disse que o trabalhador já é sacrificado pagando em impostos o correspondente a cerca de cinco meses de salário e não seria justo aumentar ainda mais o peso sobre eles para “atender ao problema de caixa” dos Estados. “Nós estaremos na contramão mais uma vez de tudo que precisamos. Ao invés de desonerar estaremos onerando ainda mais o empresariado, mormente as empresas familiares deste país que não aguentam mais essa alta carga tributária.”

Por Reinaldo Azevedo

Olhem aqui: não serei eu a defender bobagens ditas por esse ou por aquele. E, como todos sabem, defendo as leis. Mas sei reconhecer muito bem quando, em nome de uma ideologia ou de uma causa política, tenta-se magnificar uma tolice, um ato irresponsável, para tentar tirar dele proveito que nada tem a ver com aqueles que teriam sido supostamente agravados.

Se forem varrer as chamadas redes sociais em busca de inconveniências, cretinismos, preconceitos, tolices, viraremos uma sociedade de policiais. A Justiça brasileira vai ser entupida de causas dessa natureza. E reitero: não desculpo ninguém por nada. Poucas coisas me constrangem tanto quanto manifestações que lembrem racismo, xenofobia ou o que seja. Neste blog, escrevi certa feita: “Se Samuel Johnson afirmava que o nacionalismo é o último refúgio dos canalhas, o regionalismo é o último refúgio dos canalhas caipiras”.

Não tenho saco pra isso, não! Já lancei meus livros em várias cidades do Brasil. Costumo bater um papo com leitores — casa sempre cheia, felizmente, hehe… Sempre que um ou outro dizem coisas como: “Nós aqui em São Paulo, Minas, Rio Grande do Sul etc…”, interrompo. Não reconheço essas identidades. Costumo dizer que não bato papo com “categorias”, mas com “pessoas”. Procurem nos arquivos: digo que não sou de São Paulo, mas de Dois Córregos; mais especificamente, da Fazenda Santa Cândida; mais especificamente ainda, do Tijuco Preto, onde, de fato, nasci, no meio da estrada (mas os detalhes ficam pra autobiografia, hehe).

Não tentem extrair uma metafísica do “ser paulista”, do “ser mineiro”, do “ser baiano”, do “ser qualquer coisa” que começo a ficar enjoado. No máximo, herdamos traços de comportamentos familiares; esses, sim! Ficam estampados em nós para sempre. Se forem bons, ótimo! Se forem ruins, teremos de lutar contra eles a vida inteira. E, se Tio Rei pode dar um conselho, lá vai: jamais sintam orgulho de algum defeito herdado ou atribuam a ele alguma virtude. Tudo o que em nós é ruim só nos atrapalha. Não deriva o bem do mal, nunca! Mas me desviei um pouco.

Volto ao ponto
Querem comer o fígado daquela moça que andou dizendo bobagens sobre nordestinos. Louvo o rigor dos legalistas. Mas também pergunto onde estava tanta coragem quando o presidente da Repúbica, o sr. Luiz Inácio Lula da Silva, atribuiu a crise econômica mundial aos “louros de olhos azuis”. Ou isso não aconteceu? Trata-se ou não de uma fala racista?

No dia 27 de março de 2007, a BBC publicou uma entrevista com a então ministra da Integração Racial (!), Matilde Ribeiro. Leiam uma pergunta e uma resposta:
BBC Brasil - E no Brasil tem racismo também de negro contra branco, como nos Estados Unidos?

Matilde Ribeiro -
 Eu acho natural que tenha. Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.

E então? À época, escrevi um texto intitulado: “A ministra Matilde Ribeiro tem de ser demitida e processada”Acabou deixando o cargo por causa daquelas folias com cartão corporativo. Não pelo absurdo que disse.

Que coragem é essa que se volta contra indivíduos — e, reitero, não estou dizendo que as pessoas não devam arcar por aquilo que dizem —, mas é leniente com falas escancaradamente racistas de pessoas públicas? Mais: para combater o dito “racismo” de uma paulista, aí, então, quem passa a ser alvo de achincalhe é a população de São Paulo. Ora, tenham paciência! Este é o estado onde fez carreira o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva, que dispensa apresentações. E a capital deste estado já elegeu como prefeita a paraibana Luíza Erundina — não vou perguntar se alguma capital do Nordeste elegeria um paulista porque não quero cair nesse joguinho fácil.

Vamos devagar aí! Há uma medida nas coisas. Exemplos de boçalidade existem aos montes. Ontem, exibi um contra paulistas. Cliquem aqui e encontrarão outro. Pesquisem na rede, e eles são milhões. Estão tentando fazer tempestade em copo d’água. De resto, se existe uma retórica que opõe brasileiros a brasileiros, os pobres às elites, “nós” a “eles”,  “o povo” (eleitores que estão com ele) a “gado” (eleitores que não estão), essa retórica, como se sabe, vem lá do Planalto e foi disseminada nos palanques Brasil afora. Esse é o discurso de Lula, não da oposição. Tampouco encontra guarida em São Paulo, que  é a cidade brasileira com o maior número de nordestinos do país.

Por Reinaldo Azevedo

Por Cristina Grillo, na Folha:

Sábado, quando a Catedral Metropolitana do Rio abrir as portas para uma missa em homenagem aos 90 anos do cardeal Eugenio de Araújo Sales, os fiéis vão encontrar uma pessoa diferente da que comandou a Arquidiocese do Rio por 30 anos (de 1971 a 2001).
O homem sisudo, de voz e passos firmes, deu lugar a um senhor que caminha com dificuldade, fala baixo e ri.
Suas ideias, contudo, não mudaram. Diz que bandido deve ser tratado como bandido, não como cidadão.



Folha - O sr. foi sagrado bispo aos 33 anos e tornou-se cardeal aos 48. É uma trajetória rara na igreja, não?
Eugenio de Araújo Sales -
 Não é comum, mas não me julgo uma pessoa excepcional por isso. Apenas procurei cumprir meus deveres. Sempre disseram que eu era tradicionalista, mas nunca me classifiquei assim.

Incomodava ser chamado de tradicionalista enquanto, durante a ditadura, o sr. ajudou entre 4.000 e 5.000 perseguidos políticos a sair do país? 
Eu não achava bom ser chamado de tradicionalista. Mas continuava meu trabalho da mesma forma.

O sr. ligou mesmo para o então ministro do Exército, general Sylvio Frota [ministro do presidente Ernesto Geisel, de 1974 a 1977], e disse: “Se receber a comunicação que estou protegendo comunistas no Palácio [São Joaquim, sede da arquidiocese], saiba que é verdade”? 
Disse, mas não para agredir. Estava revelando amizade, mas independência também. Não houve reação negativa dele. Uma vez fui chamado para receber a Medalha do Pacificador [concedida pelo Exército], mas não quis porque a situação era muito difícil. Frota entendeu que não fazia aquilo como afronta. Eles sabiam que eu não era comunista.

Hoje temos a questão da violência, do tráfico. Qual o papel da igreja nesse cenário? 
O mesmo daquela época. Por mais de uma vez bandidos armados pararam meu carro quando eu subia para o Sumaré [região do alto da floresta da Tijuca]. Quando viram que eu estava no carro, mandaram seguir. Depois disso, sempre passo com as luzes internas acessas. É sempre um susto. Eles conhecem o carro e procuram esconder armas. Entendo o sofrimento deles, mas isso não justifica seus atos. Bandidos têm que ser tratados como bandidos, não como cidadãos. Bandido tem direitos humanos. Não tem direito de ser bandido, mas não pode ser injustiçado. 
Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Por Valdo Cruz, na Folha:
Ex-governador de Minas e senador eleito, Aécio Neves defende a “refundação do PSDB” para recuperar sua “identidade”. Para isso, propõe refazer o programa partidário até maio de 2011.

O novo texto defenderia sem “constrangimentos” as privatizações de FHC e, ao mesmo tempo, fugiria de armadilhas eleitorais fixando que empresas como Banco do Brasil e Petrobras devem ser mantidas como estatais.
Ele promete uma “oposição generosa” a Dilma nas discussões sobre reformas e “aguerrida” na defesa da democracia e da ética. Aécio diz que o presidente Lula “atropelou” algumas instituições na campanha, mas Dilma “foi eleita legitimamente”.



Folha - Qual será o papel do PSDB no governo Dilma?
Aécio Neves -
 Existiu um pensador inglês que deixa um ensinamento tanto para o governo que assume como para a oposição. Benjamin Disraeli, primeiro-ministro da Inglaterra (1804-1881), dizia que para haver um governo forte é preciso haver oposição forte. É esse papel que temos de desempenhar.

O PSDB precisa de mudanças após as últimas três derrotas?
Estamos no momento de refundar o PSDB para recuperar nossa identidade partidária. Por isso estarei propondo ao partido que, daqui até maio, quando teremos nossa convenção partidária, possamos refazer e atualizar o nosso programa partidário.
Vou sugerir um grupo de três notáveis do partido para coordenar essa refundação.

Quem seriam os notáveis?
O presidente Fernando Henrique, o candidato José Serra e o ex-presidente do PSDB Tasso Jereissati.

Qual a linha da refundação?
Que fale da nossa visão sobre privatização sem constrangimentos. Temos de mostrar como foi importante para o país a privatização das telecomunicações, Embraer, Vale. Ao mesmo tempo assegurar, de forma clara, que existem empresas estratégicas do Estado que não estarão sujeitas a qualquer discussão nessa direção, como o Banco do Brasil, a Petrobras.

O sr. quer acabar com as armadilhas eleitorais em que o partido caiu nas eleições?
Temos de falar disso com altivez, reconhecendo e assumindo o nosso legado. Não existiria o governo Lula com seus resultados se não tivesse havido os governos Itamar Franco e FHC.

FHC disse que não mais apoiará um PSDB que não defenda seu passado.
Eu compreendo a angústia do presidente, mas não vou, numa hora dessas, olhar para trás. Vou olhar para a frente. O governador Serra defendeu com extrema altivez e coragem pessoal as teses que achava que deveria defender. Foi um guerreiro nesta campanha, defendeu valores extremamente importantes.

E sobre lançar daqui a dois anos o candidato do PSDB a presidente em 2014?
Não sei se é hora de pensar nisso. A vida é feita por etapas. Não podemos é correr o risco de ter um processo atropelado no final. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Por João Domingos e Eugênia Lopes, no Estadão:
Enquanto a presidente eleita, Dilma Rousseff, descansa até domingo da jornada das eleições, os partidos aliados trabalham para assegurar o maior espaço possível no futuro governo. O PMDB, por exemplo, fez chegar ao PR a proposta de um escambo no feudo ministerial: a Agricultura, hoje ocupada por Wagner Rossi, ligado ao vice eleito, o peemedebista Michel Temer, seria trocada pelos Transportes.

Se a negociação der certo, e se Dilma concordar, o PR poderia indicar o senador eleito Blairo Maggi (MT) para a Agricultura. E o PMDB passaria a cuidar da pasta que desde 2003 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou ao PR, primeiro para Anderson Adauto, hoje prefeito de Uberaba, depois para o senador Alfredo Nascimento, que disputou o governo do Amazonas e perdeu.

O Ministério dos Transportes deverá investir R$ 17 bilhões nas rodovias federais em 2011, 36% a mais dos que os R$ 12,5 bilhões deste ano - R$ 5 bilhões em manutenção de rodovias e outros R$ 7,1 bilhões na ampliação da malha rodoviária.

O PSB espichou o olho para um ministério na área da infraestrutura. Em reunião da Executiva Nacional do PSB, ontem, os socialistas concluíram que cairia bem ao partido um ministério tocador de obras em lugar do técnico Ciências e Tecnologia, há oito anos sob o seu comando.

“Um ministério na área da infraestrutura para o PSB seria melhor do que o de Ciência e Tecnologia, porque nós elegemos seis governadores, quase todos de Estados pobres que necessitam de muitas obras”, disse o governador reeleito do Piauí, Wilson Martins. O deputado Júlio Delgado (MG) concordou: “Seria uma forma de a presidente Dilma mostrar o diferencial em relação ao presidente Lula.Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Leia entrevista concedida pelo cientista político Amaury de Souza ao Estadão Online. Não sei por quê, a matéria não vem assinada.

Dilma terá muita dificuldade para formar equipe una, afirma cientista político

A presidente eleita Dilma Rousseff tem feito afirmações que “não se coadunam com a realidade política à sua volta nem com a ideia de continuidade do governo”, adverte o cientista político Amaury de Souza. Ela promete critérios rigorosos para indicar ministros, “mas sabe que chegou ao poder apoiada por uma ampla coalizão de partidos e interesses, que terá de atender.” Trata-se de grupos formados, em sua maioria, “numa cultura de partilha de cargos”. Dilma também chegará ao Planalto cercada de lideranças derrotadas que terá de abrigar, de antigos amigos e auxiliares que pretende preservar. Tudo junto com uma base de apoio heterogênea, “que dificultará a formação de uma equipe unida, como pretende”. Por fim, dividirá espaço “com um PMDB que sabe a força que tem”. Ou seja, a tarefa é mais difícil do que as palavras sugerem.

Nesta entrevista, o cientista político - sócio-diretor da Techne e pesquisador sênior do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Idesp), em São Paulo - ressalta ainda que, na área de direitos humanos, Dilma diz que acha “bárbaro” o costume iraniano de apedrejar condenados até a morte - referência ao episódio da condenada Sakineh Ashtiani -, mas ao mesmo tempo avisa que as relações entre governos as negociações comerciais podem ser preservadas. Ou seja, a indignação dela “parece apenas uma forma de bom-mocismo”. Amaury de Souza estranha, ainda, que a presidente eleita defenda a elaboração de novo critério de produtividade para definir a desapropriação de propriedades rurais. “Por que só para a agricultura?”, pergunta. “Por que não fazer o mesmo, então, para outros setores da economia? Para o próprio governo? Além disso, como avaliar áreas onde quem determina o resultado é o mercado?”

A entrevista:

A presidente eleita Dilma Rousseff afirmou, em entrevista, que escolherá ministros com base em competência técnica e histórico limpo. Vai conseguir?
Ela tem assumido compromissos públicos que não se coadunam com a noção de continuidade. E não falo apenas do critério de escolha de ministros, que seguia a regra dos acordos políticos, mas também sobre ajuste fiscal, agências reguladoras e outros temas.

Se ela se empenhar, terá chance de montar uma equipe assim?
Nesse caso ela não terá como manter muitos nomes do atual ministério. Teria de fazer uma mudança profunda, pois tem um enorme arco de aliados. Há casos já citados na mídia, como Antonio Palocci, José Eduardo Martins Cardozo, Fernando Pimentel. Ela sofrerá pressão para acomodar derrotados importantes nas eleições. E certamente quererá manter por perto o seu pessoal, gente que a acompanha há muito tempo - um exemplo é Graça Foster, na área de energia.

Dilma disse também que “não vai se pautar pela partilha de cargos, mas pela construção de uma equipe una”. Terá força para isso? 
Existe aí mais um dilema. Para começar, ela estaria rejeitando o que tem sido uma longa tradição no País, e que o PT assimilou muito bem, que é o espírito de partilha de cargos. Se o PMDB tiver uma participação proporcional no governo, disporá de um poder muito grande. Não devemos nos iludir. As ideias, prioridades e modos de atuar do PT e do PMDB não se coadunam. Quanto à equipe unificada, o arco de partidos se traduz numa grande heterogeneidade. A coalizão em torno de sua candidatura é enorme.

A nova presidente parece mais rigorosa na avaliação do episódio de punição da iraniana Sakineh Ashtiani. Definiu como “bárbaro” o castigo de apedrejamento. Pode haver mudança nas relações Brasil-Irã?
Ela fez, de fato, uma condenação mais dura, o Lula não chegou a isso. Mas também deu a entender que, na prática, business is business, as relações comerciais não deveriam ser afetadas pela posição adotada em matéria de direitos humanos.

Ela promete ao MST um tratamento político duplo. Diz que não vai permitir abusos à lei, mas também não verá a luta agrária como um caso de polícia. Na prática o sr. espera mudanças?
Ela diz que em seu governo não acontecerá um novo ‘Eldorado de Carajás”, e que está a favor de uma revisão dos critérios de produtividade no campo, para definir áreas que podem ser desapropriadas. Cabe perguntar: por que só para a agricultura? Por que não fazer o mesmo, então, para outros setores da economia? Para o próprio governo? Além disso, como avaliar áreas onde quem determina o resultado é o mercado?”

Por Reinaldo Azevedo

Leia primeiro o texto abaixo

Tentei achar a íntegra da carta de Sérgio Guerra, presidente do PSDB, no site do partido, mas não consegui. A homepage entra com problema. Escarafunchei um pouco, mas parece que não está lá. Sempre houve certo delay entre a realidade e a página eletrônica do partido… Assim, comento o que a Folha Online acabou divulgando (post acima). Mas talvez não seja mesmo necessário ter mais do que aquilo que se lê.

Escrevi nesta madrugada sobre a fala de ontem do senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG), no Jornal Nacional, respondendo, ou nem tanto, às acusações que Lula fez às oposições: “É importante que aqueles que venceram as eleições, e venceram de forma legítima, compreendam que, na democracia, muitas vezes o papel da oposição é tão relevante quanto o papel daqueles que venceram as eleições”. Já escrevi por que ela me pareceu fraca, insuficiente.

Agora, vejo na carta de Guerra que o partido fará oposição, claro!, mas sem aderir ao “quanto pior, melhor”. Entendo. O responsável por tais palavras, evidentemente, não é Guerra. Trata-se, de fato, de uma cultura interna. Imaginem se um dos adversários do PT, o maior, teria de fazer tal justificativa. Essa ressalva evidencia uma legenda - e, de certo modo, esse é um problema da oposição como um todo, que é refém do que o adversário pensa dela. Na oposição, o PSDB sempre permitiu que os petistas fossem seus juízes. Quando não há essa subordinação, há, então, a tentativa do “acordão”.

Os primeiros passos da oposição — leia-se, por razões óbvias, PSDB — são erráticos e, creio eu, errados. Mas isso o tempo dirá. É o começo. Todo mundo está tateando o terreno. Quando um governador do PSB, como Cid Gomes, lança Aécio para presidir o Senado, é claro que falam aí afinidades que estão acima, ou antes, de questões como “oposição” ou “situação”. Diz a lógica que o PMDB talvez não aceitasse a parada se ela fosse mesmo levada a sério. Mas uma parte do PSB, que não é a de Eduardo Campos — o partido já é grandinho para despertar ambições — dá sinais de que pode buscar interlocução alternativa no campo oposicionista. Desde que não seja, ora vejam!, aquela do “quanto pior, melhor”.

Aécio falou ontem como “o” representante da oposição no Jornal Nacional. Hoje, já há várias declarações suas na imprensa. Numa delas, concede que há espaço no PSDB para uma figura “com a dimensão de José Serra”. Certo! Em outra, diz ser muito cedo para cuidar de candidatura, que o PSDB tem de ter antes um projeto, e o resto acontece naturalmente. Como se nota, desloca-se para receber a bola. Uma coisa em tudo isso  é certo: é preciso ter um projeto.

Com Lula no poder e a economia no melhor da sua forma (ao menos segundo a percepção do consumidor, quadro que não se manterá), o PSDB teve um desempenho eleitoral muito respeitável. Foi a “política”, pois, que impediu a vitória de Dilma no primeiro turno e que garantiu aos tucanos 44% dos votos válidos. Dilma não terá o céu de brigadeiro de Lula, mas apostar num mau governo seria, evidentemente, uma tolice. Ao contrário: o PSDB  — e as oposições como um todo — deveriam se preparar para disputar o poder com um governo que, dados os seus marcos, fosse mesmo Nota 10. Porque aí, então, tentaria encontrar os valores pelos quais lutar.

Quaisquer que sejam esses valores,  eles terão de contrastar os influentes do petismo. Se alguém acredita que será fácil enfrentar a máquina eleitoral do partido em 2014, bem, é o caso de tirar o cavalo da chuva. Mais: se acredita que uma Dilma inviável daqui a quatro anos não daria lugar a Lula, então o sujeito é mesmo um inocente. 2014 está muito longe, menos pelo tempo em si do que pelos eventos possíveis. Nunca se esqueçam da importância que o acidente exerce na história. Seja como for, a única saída para o PSDB é falar claro. E é dispensável o partido dizer que não aposta no “quanto pior, melhor”. Até porque, na democracia, a máxima é outra: “Quanto menos oposição, pior!”

Por Reinaldo Azevedo

Por Gabriela Guerreiro, na Folha Online. Comento no post seguinte:

Em carta encaminhada nesta quinta-feira a militantes, candidatos e colaboradores do PSDB, o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE), defende que o partido faça uma oposição “forte” à presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), mas sem a prática do “quanto pior, melhor”.

Mesmo depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que a oposição foi “raivosa” durante seu governo ao fazer a “política do estômago”, Guerra adotou um tom ameno ao propor a fiscalização do governo Dilma. O presidente do PSDB afirma, na carta, que as urnas deram ao PSDB a “obrigação” de fazer oposição ao governo Dilma, com a defesa de bandeiras tradicionais dos tucanos –como a liberdade de pensamento e do respeito às leis.

“Nunca fomos, e não seremos agora, a favor do quanto pior melhor. Entretanto, as urnas deram ao partido a obrigação de fazer uma oposição forte, sem concessões. E para defender bandeiras como a defesa da liberdade de pensamento e do respeito às leis, nós precisamos, mais do que nunca, da ajuda permanente de vocês”, diz na carta.

Guerra pede o apoio dos aliados para fiscalizar o novo governo a partir de janeiro de 2011. “A luta pela democracia não se faz só em época de eleição, mas todos os dias, em todos os lugares, reais ou virtuais. Para essa grande tarefa de fiscalização do governo e de difusão dos nossos ideais, contamos com vocês.” Na carta, o tucano diz ainda que o PSDB “saiu maior, mais forte e unido” das eleições ao eleger oito governadores e manter bancadas “representativas” no Congresso e Assembléias Legislativas.

“Vocês sabem que nada nesta caminhada foi fácil. E nós sabemos que sem vocês não teríamos força para chegar aonde chegamos. Sabemos também que temos pela frente a tarefa de fazer o nosso partido avançar muito mais na sua organização e na sua integração com a sociedade.”

Por Reinaldo Azevedo

Outro dia a Globo exibiu um filme bastante interessante, que eu já tinha visto em vídeo. Se vocês não assistiram, recomendo. Chama-se O Último Jantar (The Last Supper), de 1995, dirigido por Stacy Title. A boa tradução, obviamente, seria “A Última Ceia”. O trocadilho é esse, já que, vocês verão, à sua moda, o filme trata de um ritual religioso. Ainda que venham a detestá-lo, vale por Cameron Diaz, que está uma belezoca (tá, essa dica é para os rapazes). Mas as moças têm lá bons estímulos ao intelecto, hehe.

Estudantes “liberais” (nos EUA, isso quer dizer “a esquerda possível”, já que, para sorte deles, a história os blindou contra certo tipo de delírio do atraso), todos com aspirações intelectuais e libertárias, moram juntos. São jovens, modernos, divertidos e se acham tolerantes e inteligentes. Um deles pega carona, sem saber, com um homicida perigoso. O cara acaba ficando para o jantar. É um gorila de extrema direita: xenófobo, militarista, antipacifista. O choque com os “liberais” é inevitável e chega ao confronto físico. Resumo: um dos “pacifistas” acaba por cravar-lhe uma faca nas costas.

A “turma do bem” havia cometido um assassinato. Ocorre que o brutamontes dizia coisas tão desprezíveis e era tão violento, que o ato se confundiu com legítima defesa. Passado o torpor, tem início a racionalização da morte:
- era um fascista; merecia viver?;
- vivo, ele tornaria o mundo melhor ou pior?;
- os “liberais” não vinham sendo muito moles e covardes? Não havia chegado a hora de agir?

Os “tolerantes” têm uma idéia: começam a chamar para jantar pessoas pelas quais nutrem um olímpico desprezo. Todas elas são submetidas a um “julgamento”. Ignorantes do risco que correm, são estimuladas, incitadas mesmo, a dizer o que pensam. Passam pelo festim diabólico, entre outros:
- o reverendo homofóbico que vê na aids um castigo de Deus;
- o machista misógino;
- a militante antiaborto;
- o sujeito que não acredita no efeito-estufa;
- um rapaz contrário ao direito dos sem-teto;
- a moça que detesta arte contemporânea…

A todos é dado um certo “direito de defesa”, embora não saibam que estão sendo julgados. A cada coisa chocante que dizem, segue uma pergunta para que digam algo ainda pior. “Reprovados”, são induzidos a tomar um vinho envenenado. O tribunal dos liberais, dos progressistas, dos modernos, é implacável. A fala das vítimas é não mais do que uma caricatura do que seriam as opiniões “conservadoras”.

O que Title faz é jogar na boca dos “condenados” aquilo que seus algozes gostariam de ouvir. Explico-me: eles querem eliminar seus adversários - assim, quanto mais idiotas e simplistas eles forem, melhor. A regra é a seguinte: reduza seu oponente a um borrão de tudo aquilo que você mais odeia, e haverá, então, um bom motivo para eliminá-lo. É a intolerância dos tolerantes.

Contei o fim do filme? Não! O desfecho é surpreendente. Aqueles pobres idiotas, que reivindicam o direito de dizer quem pode e quem não pode viver, não estavam preparados para uma abordagem um pouco mais requintada do mundo. E terão a chance de experimentá-la, o que os humilha intelectualmente. Não vou contar mais. Vejam.

No Brasil
Os esquerdistas no Brasil gostariam que seus adversários fossem tão tolos quanto são os dos assassinos de O Último Jantar. Se a Igreja Católica - a séria - combate a abordagem oficial sobre a camisinha, então ela é “responsável pela expansão da aids porque estimularia o sexo sem proteção”; se alguém acusa o Bolsa Família de ser a indústria da miséria, então é porque quer que os pobres morram de fome; se faz restrições de natureza ética ao aborto, então é porque despreza os direitos da mulher. Aí fica fácil: ao reduzir o Outro à estupidez, podem matar sem culpa.

E qual é a suposição intectualmente verossímil para que possam ser assassinos éticos? Os “direitistas” estariam defendendo “o passado”, enquanto eles, os “esquerdistas”, teriam a nos oferecer um futuro glorioso.
*
Este texto foi publicado neste blog no dia 28 de janeiro de 2008. Impressionante, não é mesmo?

Por Reinaldo Azevedo
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Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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