Fernando Haddad, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!

Publicado em 08/11/2010 13:33 e atualizado em 09/11/2010 07:41

Por Reinaldo AzevedoFernando Haddad, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!

Acabo de assistir no Jornal Hoje a uma entrevista de José Joaquim Soares Neto, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). É impressionante! Não por acaso, o órgão responsável pela condução do Enem é conhecido por Inepto. Trata-se de um grupo de trapalhões. Se um dia fôssemos reduzir a prática petista a um decálogo, o mandamento nº 1, sem dúvida, seria este: “A culpa não é minha”. O burocrata, com ar meio espantado, visivelmente aparvalhado, tranqüilizou os estudantes: “A gráfica assume a inteira responsabilidade por qualquer problema”.

COMO? E daí que ela assuma “inteira responsabilidade”? Aonde isso nos leva, doutor? A lógica da transferência de responsabilidades dá o norte ético do MEC, deste incrível Fernando Haddad, que, MAIS UMA VEZ, DESAPARECEU. Aliás, os estudantes poderiam começar a se organizar para gritar em coro: “HADDAD, CADÊ VOCÊ? EU VIM AQUI SÓ PRA TE VER”.

Nas outras bobagens feitas pelo MEC, às pencas, quem aparecia para falar com a imprensa era Maria Paula Dallari Bucci, secretária de Ensino Superior. Acho que ela considera que já deu bastante a cara ao tapa. Agora chegou a vez de José Joaquim. Haddad tomou chá de sumiço. Só deu as caras nos últimos dias para contestar os índices da educação que ajudaram a pôr o Brasil lá no pé da lista do IDH. E ele veio a público para quê? Ora, para afirmar que a responsabilidade pelos números ruins é de governos passados. A culpa é sempre dos outros.

Essa gente é uma piada. O presidente do “Inepto” anuncia para quarta-feira a criação de um site em que o aluno poderá solicitar que a correção da prova seja feita com a ordem invertida, conforme constava na folha de gabarito, ou para que as vítimas da “prova amarela”, aquela com questões repetidas , solicitem novo exame… Só essa segunda ocorrência pode ter atingido mais de 30 mil alunos.

É patético! A principal qualidade do Enem haveria de ser a credibilidade. Ela está indo para o brejo. Qualquer solução que não seja a realização de um novo exame, PARA TODO MUNDO, caracteriza uma afronta à lei e à Constituição. E alguém tem de ser posto na rua, não é mesmo? O meu candidato ao desemprego é Fernando Haddad.  Deve voltar à condição de mero acadêmico, onse a sua incompetência faz menos vítimas.

Por Reinaldo Azevedo

Liminar da Justiça Federal suspende o Enem em todo o país

Por Nathalia Goulart. na Veja Online:

A Justiça Federal do Ceará acatou nesta segunda-feira pedido de liminar do Ministério Público Federal e determinou a suspensão temporária em todo o Brasil do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2010. “A suspensão tem caráter temporário e cabe recurso ao Ministério da Educação”, afirma a juíza Carla de Almeida Miranda Maia, da 7ª Vara Federal, responsável pela decisão. Procurado pela reportagem, o MEC, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que está ciente da decisão judicial, mas não quis se pronunciar a respeito. Enquanto vigorar a suspensão judicial, segundo a juíza, o MEC não poderá divulgar informações sobre resultados das provas do fim de semana e tampouco marcar nova prova.

“Acatei o pedido de liminar porque entendi que o Enem não foi realizado com a devida segurança, desde a impressão até sua realização, neste fim de semana”, acrescenta a magistrada, referindo-se às falhas de impressão dos cadernos de questões e respostas entregues aos candidatos no sábado. “A suspensão é válida até que a Justiça avalie o recurso que o MEC provavelmente apresentará, ou até que os responsáveis pelo exame apresentem soluções consideradas suficientes para estancar as falhas do Enem 2010.”

A magistrada criticou também a proposta em estudo no MEC de realização de novo exame, ao qual compareceriam apenas os estudantes diretamente prejudicados pelo erro na impressão das provas de cor amarela. “O que foi apresentado até agora, aplicar a prova apenas a esses candidatos, não é suficiente”, diz. “Novas provas poriam em desigualdade todos os candidatos remanescentes.”

A juíza criticou ainda as declarações do presidente Joaquim José Soares Neto, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), autarquia do MEC responsável pelo Enem. Em entrevista coletiva após a realização da prova do sábado, Soares Neto se referiu ao exame como uma “missão cumprida”, a despeito dos problemas ocorridos. “Isso é espantoso. É uma afronta ao coração do Enem”, diz Carla de Almeida.

Em nota, o procurador da República Oscar Costa Filho, que apresentou a ação civil pública aceita pela Justiça, também criticou a proposta do MEC de realização de nova avaliação. “O fato do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) ter aventado realizar provas separadas para o mesmo concurso apenas confirma o total desconhecimento dos princípios que informam os concursos públicos, entre os quais a igualdade”, diz.

Por Reinaldo Azevedo

Haddad, um pensador do socialismo!Ou: O homem que quase salvou a União Soviética!!!

Um bobalhão aí, que conseguiu meu e-mail sei lá como, me manda uma mensagem longuíssima — não li até o fim, não, viu? — afirmando que decidi “pegar Fernando Haddad para Cristo” e que meu problema com ele é “ideológico”. Huuummm… Comecemos pelo básico. Haddad e Cristo não combinam numa mesma frase, ainda que seja só uma metáfora hiperbólica. E há a minha máxima aqui tantas vezes enunciada: sempre que alguém se compara, de algum modo, a Cristo, sugiro primeiro a crucificação; depois a gente avalia o resto. Qual é, Mané?

Peguei “pra Cristo” nada! É um absurdo sugerir que decidi criticar Haddad agora. Eu faço isso há muito tempo. Desde que ele foi nomeado! Já o caracterizei há muito neste blog — “o típico esquerdista de fala mansa, com ar ideologicamente asseado”. Embora ela possa escrever numa linguagem herbívora, as suas intenções são carnívoras. Num livro publicado em 2004 - Trabalho e Linguagem - Para a Renovação do Socialismo - é capaz de afirmar coisas como: “O sistema soviético nada tinha de reacionário. Trata-se de uma manifestação absolutamente moderna frente à expansão do império do capital. Fazendo um pastiche vagabundo de Marx, sentencia sobre o passado, o presente e o futuro numa linguagem que parece profunda e sábia, mas que não passa de uma espantosa coleção de bobagens: “Sob o capital, os vermes do passado, por vezes prenhes de falsas promessas, e os germes de um futuro que não vinga concorrem para convalidar o presente, enredado numa eterna reprodução ampliada de si mesmo, e que, ao se tornar finalmente onipresente, pretende arrogantemente anular a própria história. Esse é o desafio que se põe aos socialistas. A tarefa, 150 anos atrás, parecia bem mais fácil”.

Já tive cargo de chefia em redação e já tive revista. Hoje, só mando em mim mesmo, hehe — só a Pipoca me obedece, mas nem sempre. Se, naqueles tempos, um redator qualquer me apresentasse o que vai acima, eu botaria o bruto pra correr, debaixo de chicote.  O que significa aquilo, além da tentativa de parafrasear Marx com a habilidade com que Tiririca tentaria se mostrar um ator dramático?

É pouco? Sabem o MST, este que está aí, ameaçando a produção com táticas terroristas? Haddad também pensa algo a respeito da turma: “Trata-se de um movimento que mudou completamente a pauta clássica de reivindicações: ele não reclama maior remuneração ou menor jornada, nem tampouco favores do Estado. (…) Revolucionariamente, o MST quer crédito, apoio técnico e autonomia. (…) São iniciativas dessa natureza, progressivas em todas as dimensões da vida social, que devem sempre chamar a atenção dos socialistas e lhes servir de inspiração para sua conduta política”.

Haddad é formado em direito e se tornou mestre em economia em 1990. O nome de sua monografia? Atenção: “O caráter sócio-econômico do sistema soviético”. Ele exalta os camaradas, é claro, e vê grandes virtudes naquele modelo. Menos de dois anos depois, a União Soviética acabou, o que dá conta da atualidade do pensamento deste rapaz e expõe as suas qualidades de visionário.

O doutorado, ele já foi fazer na filosofia: “O Materialismo Histórico e Seu Paradigma Adequado”. Ele gosta de temas complexos, como a gente nota. O que isso tem a ver com o Enem? Ora, só estou mostrando qual era a experiência intelectual de Haddad e demonstrando como ele costumava lidar com temas terrenos antes de ser levado ao Ministério da Educação para desmoralizar o provão, desmoralizar o Enem e criar a fantasia da multiplicação de universidades federais.

Imaginem se um homem com tais e tantas preocupações intelectuais, com essa cabeça sempre fervilhante, viria a público para falar sobre essa bobagem que é deixar no escuro milhões de estudantes brasileiros.

Qual é, gente? Haddad é um pensador do socialismo. Não tem tempo a perder com o povo!

Por Reinaldo Azevedo

Um furo de enfoque deste blog

Já faz cinco anos e quatro meses que o ministro Fernando Haddad, da Educação, não é demitido. Por falar nisso, cadê ele?

Por Reinaldo Azevedo

Defensoria Pública vai recomendar ao MEC a anulação do Enem

Por Rafael Moraes Moura, no Estadão Online:

A Defensoria Pública da União (DPU) vai recomendar nesta segunda-feira (8) ao Ministério da Educação que seja anulada a prova de sábado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Caso o governo não atenda à recomendação em um prazo de 10 dias, a DPU deve entrar com uma ação civil coletiva na Justiça Federal contra a União, fazendo a mesma solicitação.

Para o defensor público federal Ricardo Emílio Salviano, a solução encontrada pelo MEC - de aplicar outra prova para os candidatos prejudicados pelos erros no caderno amarelo - não é satisfatória. “Se você vai aplicar uma prova com questões distintas para os demais candidatos, você poderia estar distorcendo o grau de exigência, vai aferir um grupo com uma medida e outro grupo com outra prova, que pode não ter o mesmo grau de dificuldade”, comentou.

Correção invertida. O presidente do Inep, Joaquim José Soares Neto, anunciou que o órgão vai disponibilizar a partir da próxima quarta-feira a página online para os estudantes pedirem a correção invertida das provas do sábado por causa da troca do cabeçalho do cartão-resposta. O prazo para o preenchimento do requerimento vai até o dia 16 de novembro, segundo ele.

Para Salviano, a medida é insuficiente. “A simples inversão da correção da prova de uma por outra não é suficiente para sanar as irregularidades, tendo em vista que foi quebrado o princípio da isonomia dos candidatos”, disse. “Não vejo outra alternativa a não ser a anulação das provas de sábado.”

Na opinião do defensor público federal, a falha na prova de domingo foi “pontual”, o que não justificaria a sua anulação. “(Sobre) A prova do domingo, não tivemos conhecimento, relatos na defensoria, mas conhecimento pela imprensa, de que houve candidatos divulgando o tema da redação, mas entendemos que essa falha foi pontual, e não deve ser atribuída ao Inep”, disse.

Apesar de todos os problemas verificados nesta edição do Enem, e na do ano passado, o exame não perdeu a credibilidade, avalia Salviano. “O Enem é um projeto que está sendo implantado, que passa por ajustes. É uma medida eficaz, que auxilia os candidatos no ingresso ao ensino superior e que deve ser mantida pelo MEC.”

Os alunos que se sentiram prejudicados com as falhas do Enem 2010 podem entrar em contato com a DPU pelo email [email protected]. As informações podem ajudar a defensoria, caso o órgão entre com uma ação coletiva na Justiça Federal.

Por Reinaldo Azevedo

Depois do Paradoxo do Asno de Buridan, temos o Paradoxo de Haddad

asno-de-buridanE as sandices continuam. Leiam o que informa Carolina Stanisci, no Estadão Online. Volto em seguida:

Manutenção de sigilo impediu revisão de provas, diz gráfica

A gráfica RR Donnelley divulgou, em carta ao Inep, que a impressão das provas do Enem ocorreu, “segundo previsão contratual, dentro dos mais rigorosos critérios de segurança e sigilo”. E que, “nesse contexto, todos os materiais foram impressos rigorosamente dentro do cronograma pactuado e nenhum conteúdo foi desviado”. Segundo a gráfica, essa manutenção do sigilo do conteúdo é que impediu que fossem “feitas revisões”, como a leitura do material impresso. O Inep, porém, teria, segundo o edital que rege o Enem 2010, que ter revisado todo o conteúdo.

Foi percebido, no processo, que 33 mil cadernos amarelos tiveram defeitos - dos quais 21 mil foram distribuídos. Mesmo assim, justifica a gráfica, o número de erros está dentro da margem de erro comum em gráficas, representando 0,003 sobre os quase 10 milhões de cadernos impressos. O documento, direcionado ao presidente do Inep, Joaquim José Soares Neto, não explica como as provas erradas pararam nas mãos dos alunos.

Comento
O negócio é o seguinte: ou o exame sai direitinho, sem erro, mas com quebra de sigilo, ou, então, preserva-se o sigilo, mas a prova sai com erro. Exigir as duas coisas ao mesmo tempo parece ser demais para os ineptos. O Inep tinha a obrigação contratual da revisão. Não a exerceu pelo visto. Numa hipótese ainda pior, há o risco de ela ter sido feita.

A gráfica vem agora com a tal margem de erro. Sei. Por isso existe material excedente, para fazer eventuais trocas. Aí é preciso haver gente devidamente treinada, com um arsenal de respostas caso ocorram um problema e outro.

Conhecem a leitura crítica sobre o Paradoxo do Asno de Buridan, condenado a morrer de fome e de sede entre a água e a alfafa porque não consegue fazer a melhor escolha? Já temos o Paradoxo de Haddad: ou a prova está certa e vaza, ou não vaza e está errada. Uma boa parte dos impostos que pagamos é consumida por essa turma.

Ah, sim:
“Fer-nan-do Had-dad,
ca-dê vo-cê?
Eu vim a-qui
só pra te ver!”

Por Reinaldo Azevedo

08/11/2010

 às 14:50

As últimas de Franklin Martins, o libertário

Sempre que Franklin Martins defende a liberdade de imprensa, os meus glóbulos  brancos entram em alerta, se mobilizam. Leio na Folha Online o que vai abaixo. Volto em seguida:

Ministro condena censura e diz que mídia já é vigiada por blogosfera

Por Elvira Lobato e Andreza Matais:
O ministro Franklin Martins (Comunicação Social) disse nesta segunda-feira ser contra o Judiciário censurar a imprensa ou a qualquer tipo de restrição ao conteúdo publicado pela mídia. A liberdade, segundo ele, deve ser total, porém a imprensa não está acima da crítica. “A imprensa deve ser livre. Se ela romper com um segredo de Justiça responderá sobre isso. Cada um publica o que quer.” E complementou: “O Brasil não vive ameaça à liberdade de imprensa, basta abrir os jornais. O governo é espinafrado por quem quer que seja e quem bem entende.”

Sobre a criação de conselhos estaduais de comunicação, ele afirmou que, se for só para observar, não há problema, mas ponderou que a imprensa já é fiscalizada pela blogosfera, que, às vezes, age de forma “selvagem”. “A era do aquário acabou. Estamos na era da rede”, afirmou. O ministro apresentou o seminário internacional das comunicações eletrônicas e convergência de mídias, que será realizada nesta terça e quarta-feira, em Brasília, no auditório da Caixa Econômica Federal.

Com 300 convidados, representantes de agências reguladoras, de países da comunidade europeia, da Argentina e da Unesco, o evento irá discutir um novo modelo de regulação. O governo prepara um anteprojeto de lei para ser encaminhado à presidente eleita, Dilma Rousseff, a quem caberá fazer o debate público sobre o tema. “A presidente eleita tem todo o direito de fazer o que quiser. Eu confio que ela achará que cabe essa discussão. Ela tem uma visão moderna dos desafios.”

O ministro defende que o Estado tem “o dever” de regulamentar serviços objeto de concessão pública e comparou a reforma que o governo pretende fazer no setor de radiodifusão à mudança no setor elétrico feita na gestão Lula. “A radiodifusão faturou R$ 13 bilhões no ano passado e as telecomunicações, R$ 180 bilhões. Se não tiver uma repactuação, a radiodifusão vai ser atropelada por uma jamanta.”

Comento
Huuummm… Começo pelo fim. Então toda essa sede de regulamentação de Franklin Martins buscava proteger as empresas do setor de radiodifusão, e a gente não sabia, ficava a maldar de seu desvelo? Todas aquelas propostas da Confecom, que estão ganhando uma versão local em assembléias legislativas comandadas pelas esquerdas, tinham o objetivo de proteger as empresas jornalísticas da sanha das telefônicas. Pô, por que o valente não disse isso antes, não é?, e eu o teria chamado de “companheiro de luta”!? Ora, tenha paciência!

É verdade. As empresas de telefonia resolveram se comportar como empresas de radiodifusão, só que sem a restrição constitucional que obriga estas a ter uma participação do capital estrangeiro de, no máximo, 30%. Aquelas não têm restrição nenhuma. O que eu acho? Por mim, que sejam todos livres. Como eu já fui socialista (quando criança) e aprendi que “a classe operária é internacional”, não ligo que o capital também o seja. O que não dá é para competir em condições desiguais. Por que 30% e não 49%, por exemplo? Bastaria que o controle estivesse nas mãos dos nacionais.

Franklin também fala, cheio de satisfação, que os “aquários” estão sendo vigiados pelas “redes”. Mistura jargão com ressentimento. “Aquário” é uma metáfora-metonímia para designar os respectivos comandos das redações. Antigamente, em alguns jornais, TVs e revistas, os chefes se reuniam numa sala com porta de vidro. Para decidir a edição do dia, não para conspirar, como supõe a esquerda perturbada e dá a entender Franklin Martins. Pois bem: ele está contente porque os tais “aquários” seriam agora fiscalizados de forma até “selvagem” pela blogosfera.

De selvageria vigilante o governo entende. Alguns dos “fiscais” brucutus são financiados com dinheiro oficial: ou pagos pela TV Lula, de que Franklin é chefe, ou por anúncios de estatais. Trata-se de patrulha oficial, não de vigilância democrática.

Vamos ver o que vem no tal projeto. Uma coisa é certa: a censura, conforme queria essa gente, não vai acontecer. Essa proposta, a sociedade já repudiou. Falta agora que o governo pare de usar a verba oficial de publicidade, da administração direta e das estatais, para premiar os sabujos e punir quem se ocupa de fazer apenas jornalismo. Porque isso caracteriza um modo solerte, e canalha, de censura.

Por Reinaldo Azevedo

MEC disfarça a própria incompetência ameaçando os alunos

twitter-mec

E o Enem, hein?

Fernando Haddad, ministro da Educação, é de uma incompetência que chega a ser comovente. Não obstante, é um daqueles que Lula gostaria de ver mantidos no Ministério de Dilma Rousseff. É impressionante! Não há coisa que esse senhor consiga fazer direito, mas a educação é uma das áreas mais superfaturadas da era Lula. Os números do ProUni ajudam a construir o mito. A fantástica máquina criada para repassar dinheiro público para mantenedoras privadas é considerada a grande obra do gênio.

Achando certamente que a barafunda criada na prova de sábado, com a inversão dos gabaritos, era café pequeno, o MEC resolveu ontem ameaçar os estudantes. No Twitter, mandou uma mensagem: afirmou que alunos que já “dançaram” no Enem estariam tentando tumultuar o processo (imagem no alto). O Ministério promete tomar as medidas judiciais para puni-los. E anuncia que tudo está sendo “monitorado”. É terrorismo! Prestem atenção à linguagem: o MEC recorre à gíria da garotada para demonstrar que é moderno. Mas está no paleolítico no que concerne à liberdade de expressão. Quem já deveria ter dançado há muito tempo é Haddad.

Não só! No Fantástico, a mãe de uma estudante diz ter solicitado ao Ministério uma sala especial para a filha, que está com catapora, fazer a prova. Recebeu um e-mail como resposta: solicitações para salas especiais têm de ser apresentadas com dois meses de antecedência. Entendo! A garota deveria ter sabido em setembro que contrairia catapora em novembro… Santo Deus! Pior: a reportagem ouviu um representante do Ministério que assegurou que houve o necessário isolamento. Não houve. O MEC educa os nossos adolescentes ameaçando-os e mentindo.

Também houve problema com a tal “prova amarela”, com repetição de questões. O Ministério tem um resposta: no máximo, atingiu 1% dos que fizeram o exame. Parece pouco? Fala-se 33 mil pessoas!!! Há alguns dias o MEC foi notícia porque decidiu censurar Monteiro Lobato.

Mais quatro anos de Haddad na educação, as provas de seleção serão substituídas por campeonato de relincho.

Por Reinaldo Azevedo

Aécio: “vigoroso”, não “generoso”

Na sexta, escrevi aqui um texto intitulado “Aécio presidente do Senado? Vamos fazer as contas para não fazer de conta. Muitos admiradores do senador eleito reclamaram, afirmando que eu estava pegando no pé dele. Não estava, claro! Lembrei uma coisinha óbvia. Ele só conseguiria o posto em duas hipóteses: a) um governo Dilma que já fosse inviável antes de começar, com rebelião da base, o que não acontecerá; b) um acordão com o Planalto que liquidaria a oposição antes mesmo de ela dizer “bom dia!”.

A proposta foi tornada pública por Cid Gomes, governador do Ceará (PSB), amigo de Aécio, cujo partido é sócio do PSDB de Minas na Prefeitura de Belo Horizonte. O mesmo Cid aproveitou para sugerir a recriação da CPMF, idéia imediatamente encampada por Antonio Anastasia, governador de Minas. As pessoas juntaram tudo e começaram a maldar. Vocês sabem como é esse ambiente político. Vivem procurando pêlo em casca de ovo — e geralmente encontram.

Mas Aécio avisa que não é nada disso. E os que me criticaram podem agora me elogiar. O senador eleito concorda comigo: não há a menor chance! E ele também avisa que propôs uma oposição “vigorosa”, não “generosa”. Considerando que o que define uma democracia é a existência de oposição, então acho que essa é uma boa notícia. Poderia começar por tentar convencer o governador Anastasia a retirar o seu apoio à recriação da CPMF. Uma oposição “vigorosa” tem de começar por cobrar do governo que cumpra a sua promessa de redução da carga tributária escorchante que existe no Brasil. Se não o fizer, estará sendo só “generosa”.

Leiam trechos da reportagem de Christiane Samarco, no Estadão:

“Não postulo e não serei presidente do Senado”

Sob o argumento de que sempre respeitou a proporcionalidade na distribuição do poder no Parlamento, o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) disse ao Estado que em momento nenhum articulou com os partidos aliados e até mesmo da base governista o apoio à sua candidatura à presidência do Congresso. No sábado, o Estado revelou que foi deflagrada uma ampla articulação política para que Aécio conquiste o comando do Senado, em operação bancada por PSDB e DEM, com o apoio informal de setores do PSB e do PP. A articulação contaria com a possível adesão de PDT e PC do B, que ajudaram a eleger Dilma Rousseff presidente. Em troca, o senador apoiaria esses parceiros na briga pelo controle da Câmara.

“Não postulo, não articulo, não disputo e não serei presidente do Congresso. É natural que a presidência do Senado caiba às forças majoritárias, o que não é o nosso caso. Quem pensa que estou articulando isto, ou não me conhece, ou não conhece o Congresso. Fui parlamentar por 16 anos e sempre defendi, e continuo defendendo, o respeito à proporcionalidade na ocupação dos espaços no Parlamento”, afirmou Aécio. (…) “Minha participação nisso é zero, zero, zero. Não estou conversando com ninguém e não falei com um único senador sequer sobre presidência do Senado. Não postulo nada e não quero cargo algum.”

(…)
O tucano diz que seu maior objetivo é defender os interesses de Minas, o que o levará a construir “pontes políticas”, até com setores do governo, que viabilizem reformas também do interesse do País. A busca dessas pontes, no entanto, não vão impedir, segundo Aécio, que o PSDB faça uma oposição “vigorosa” ao governo Dilma, e não “generosa”, expressão usada pelo ex-governador que chegou a provocar interpretação de que haveria um embate “suave”. “Ao contrário. Faremos oposição com uma cobrança clara em relação aos compromissos e às promessas feitas pela candidata Dilma Rousseff. Será uma oposição firme, mas responsável.” Aqui

Encerro
Está dito! Dilma prometeu revolucionar a saúde sem CPMF e reduzir a carga tributária. É preciso cobrar isso dela: vigorosamente! É uma questão de generosidade com o país.

Por Reinaldo Azevedo

A continuar assim, o PSDB começou a perder a eleição de 2014 na segunda-feira passada

Sou tomado pela chamada “vergonha alheia” ao ler certas coisas que se escrevem por aí sobre o ex-governador José Serra. Pelo visto, querem condená-lo a um segundo exílio. Tudo indica que há gente interessada em cassar novamente seus direitos políticos. Até parece que ele saiu humilhado dessas eleições. E basta olhar o mapa eleitoral do país e o número de votos que teve para constatar que isso não aconteceu. Que haja curiosidade sobre seu destino político, bem, isso é razoável e sensato. Que se tente arrancar dele uma declaração de aposentadoria precoce, isso é de uma estupidez sem tamanho. De onde vem tanto ódio? De onde vem tanto rancor? Por que, afinal de contas, ele incomoda tanto? Ou por outra: quem anda, assim, tão incomodado?

Parece-me que ele tem o direito de decidir que atuação terá na conversa com seus pares do PSDB, não é mesmo? Uma coisa é certa: se é preciso assassiná-lo politicamente para que outra liderança possa emergir, então não emerge exatamente uma liderança. Nunca sou oblíquo quando escrevo. Ao contrário: é evidente que Aécio Neves, senador eleito (PSDB-MG), desponta como figura fortalecida nesse processo. O noticiário já espelha isso. Mas poderá o PSDB — e um Aécio realmente líder, o que ainda precisa ser construído — abrir mão de São Paulo?

“Ah, mas ninguém quer isso, Reinaldo!” É claro que não! O partido caminha para 20 anos de poder no estado que representa um terço do PIB. E, se ninguém quer isso, então respeita Januário”, como naquela música de Luiz Gonzaga. O PSDB paulista também elegeu seu governador no primeiro turno e fez o senador mais votado do Brasil. Quem sai das urnas com 44 milhões de votos, nas condições em que se deu a campanha — FEITA MAIS PELO CANDIDATO E PELA SOCIEDADE DO QUE PELO PSDB, QUE ISSO FIQUE MUITO CLARO —, merece um tantinho mais de respeito de alguns plantadores de notícias e de seus hortelões.

Digam claramente o que querem — “Eu acho que Serra tem de se aposentar, de se exilar, de ter os direitos políticos cassados” — ou parem com essa história de tentar eliminar precocemente as pessoas da vida política. Quem teve 44 milhões de votos tem o direito político e constitucional de pleitear o cargo que bem entender, segundo as regras da democracia e do seu partido, inclusive, ou me provem que não, a Presidência da República. “Ah, isso seria improvável”. Pode até ser. Mas acho que já deveríamos todos estar vacinados contra a tentação de fazer história antes da história.

Tomar Serra como a encarnação das irresoluções do PSDB ou é estupidez ou má fé. Diria até que, em certo sentido, ele é mais resolvido do que a média do partido. Não se trata com essa ligeireza estúpida alguém com a sua trajetória política. Ora vejam: e se tivesse vencido a eleição? Ah, então seria o homem mais forte da República, por definição. Como perdeu — e essa derrota poderia ter sido por um único voto —, então se deve cobrar dele o suicídio político. Não existe essa pessoa que, por um único voto, ou é mendigo ou  é rei.

Isso nunca deu em nada
Como eu não creio que algum tribunal obrigará Sócrates a beber cicuta, é bom uma parte do tucanato controlar a sua vocação carnívora. Essa tática nunca deu em coisa boa. É o tipo de excesso de esperteza que acaba devorando o dono. Estou entre aqueles que consideram que a eleição de 2002 era mesmo invencível — pertencia a Lula; pertencia ao PT. As de 2006 e 2010, isto é claríssimo para mim, o PSDB as perdeu para si mesmo.

Não há refundação do partido, seja lá o que isso queira dizer, que resista a certos métodos. A continuar assim, os tucanos começaram a perder a eleição de 2014 na segunda-feira passada.

Por Reinaldo Azevedo

A CPMF, a vingança e a oposição

A proposta de recriação da CPMF ultrapassa o limite do ridículo e da vigarice política, e o governador de Minas, Antonio Anastasia, deveria guardar distância da trapaça se não quiser que pareça que está usando a CPMF para fazer a tal “oposição propositiva” — sem nem mesmo bater um papinho com seus pares. Como escrevi aqui no dia mesmo daquela entrevista concedida por Lula e Dilma, se era isso o que os petistas queriam, que  o dissessem durante a campanha eleitoral. Não há dúvida de que a questão vinha sendo debatida no governo e que Dilma contaria com governadores-laranja, mais adiante, para tentar lavar uma proposta do Planalto. Mas tenho para mim que Lula, na entrevista, foi um tantinho precipitado. Revi o filme daquele dia, e dá para notar que ela fica um pouco constrangida. Não era para deflagrar já a operação. Acontece que o Babalorixá de Banânia não consegue vencer a sua raiva. À diferença do que diz, ele não sabe perder — e também não sabe ganhar.

Como revelou o presidente, a batalha da CPMF foi a ÚNICA que ele perdeu no Congresso. E não engole aquela derrota de jeito nenhum! De fato, ela teve algo de simbólico. Foi em dezembro de 2007, ao ver o imposto ser derrubado no Senado, que Lula constatou de modo inequívoco: “Não adianta eu tentar a (re)reeleição porque vou perder no Senado”. E perderia mesmo. Ficou furioso com as oposições e decidiu sair em campanha pelo país para pegar seus inimigos na Casa por conta das duas questões: a) a derrota da CPMF propriamente; b) o sepultamento da possibilidade do terceiro mandato. As coisas ficaram entaladas na sua goela.

E então não teve dúvida: na primeira entrevista depois da eleição de Dilma, decidiu acertar as contas com o passado, que é o que faz sempre. Estamos diante de uma das pessoas mais vingativas da política brasileira. A construção do petismo supõe, como se sabe, a tentativa de destruir a memória e a herança do PSDB. Já escrevi centenas de textos a respeito. É da sua natureza. Não se trata de um partido da ordem, que aceita conviver com a divergência; quer eliminá-la. Mas, além da componente partidária e do modo como se constrói a legenda, há o aspecto pessoal: Lula tenta desconstruir FHC todos os dias porque o tucano o bateu duas vezes nas urnas — e no primeiro turno! Lula não aceita isso até hoje. “Mas e Collor?” Bem, Collor se ajoelhou diante do lulismo e fez mea-culpa. Nesse caso, tudo bem!

Questão de caminho
É uma questão e caminho. Ou bem constatamos que a carga tributária brasileira já beira o escândalo — muito superior à de países com seu grau de desenvolvimento — ou bem condescendemos que sempre dá para arrancar da sociedade um pouquinho mais, em nome de nobres interesses. A promessa solene de Dilma Rousseff foi a diminuição da carga tributária, não a elevação. Espera-se dos oposicionistas que honrem os milhões de votos que receberam. Na rejeição à CPMF, muitos outros milhões certamente se agregarão.

Por Reinaldo Azevedo

“Lamento a conversão forçada de Dilma”

Por Alfredo Junqueira, no Estadão:
O cardeal e arcebispo emérito do Rio de Janeiro, d. Eugênio Sales, que completa 90 anos hoje, lamentou o que chamou de conversão tardia da presidente eleita, Dilma Rousseff, na reta final da campanha eleitoral. O religioso disse temer a pressão que grupos favoráveis à descriminalização do aborto e aos direitos dos homossexuais farão sobre a presidente. “Espero que o compromisso, que ela assumiu, ela possa cumprir.”

Apesar de classificar o homossexualismo como “anormalidade” e dizer que uma de suas preocupações no mundo é a China, d. Eugênio nega ser conservador ou reacionário. Cita como exemplo a ajuda que deu a “milhares” de refugiados de ditaduras sul-americanas e a animosidade que sofreu de militares brasileiros por se opor à tortura de presos políticos. O cardeal repudia abusos cometidos por padres contra crianças, mas compara as denúncias de pedofilia a campanhas difamatórias nas quais o Vaticano foi acusado de conivência com o Holocausto. Nascido em Acari, no Rio Grande do Norte, d. Eugênio foi ordenado padre aos 23 anos. Aos 33, já era bispo e tornou-se cardeal aos 48. Para ele, seu mérito foi a fidelidade à Igreja.

Como o sr. acompanhou esse processo eleitoral em que a questão religiosa entrou de forma tão enfática no debate?
Sou inteiramente contrário ao aborto e à exaltação dos homossexuais. Casamento de homem com homem é um erro. Sou contra, mas sempre digo que é importante ter paciência com as pessoas. É uma aberração da natureza. Mas não se pode jogar pedra.

O que o sr. achou desses temas terem sido usados pelos candidatos?
Lamento que isso tudo tenha acontecido e também lamento a conversão forçada da presidente eleita. Na véspera da eleição, ela declarava “não sei se é válido”, tinha uma posição. Mas também não digo se ela está sendo ou não sincera. Achei que poderia haver recuo. Graças a Deus, parece que não está acontecendo isso.

Houve uma conversão forçada da presidente eleita?
Não posso julgar a pessoa. Não sei dizer. Trato bem, mas sem elogios.
(…)
Como o sr. avalia a situação do mundo hoje?
O mundo é feito de homens e os homens são limitados. Eles assumem posições que nunca levam à concórdia. Tem muita coisa difícil ainda. A China, por exemplo. Ainda é um regime marxista.
 
(…)
E quanto ao posicionamento do papa Bento XVI?
Ele foi bem. Disse que os bispos tinham razão em ensinar a verdade. Acho também. Não havia motivo de causar espécie.

O sr. está completando 90 anos de vida e 67 de sacerdócio. O que foi mais importante para o sr. nesse período?
É difícil distinguir umas coisas de outras. Mas eu acho que foi a fidelidade e a dedicação total à Igreja. Eu acho que esse foi o ponto que marcou. Acho que sou uma pessoa muito normal. Não sou excepcional.
(…)
O sr. considera ter sido patrulhado pela esquerda no Brasil?
A esquerda não me tolerava. Para eles, eu era conservador, golpista.

Dos momentos mais importantes da história recente do País, o que mais marcou o sr.?
Passei por momentos difíceis. Nos anos 70, um argentino veio pedir abrigo. Rezei para decidir o que fazer. Como cidadão, não podia abrigá-lo, já que ele fugiu de outro país. Mas, como pastor, tinha a obrigação. Foram milhares (de refugiados acolhidos). Uns 5 mil. Isso gerou animosidades, mas é motivo de satisfação na minha vida pastoral. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Palocci inaugura hoje transição, que pode custar R$ 2,8 milhões

No Estadão:
Oito anos após haver comandado a histórica transição entre as administrações de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), Antonio Palocci volta hoje ao mesmo prédio, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), para iniciar a passagem entre os governos de Lula e Dilma Rousseff. Ele recebe o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, encarregado de pilotar as discussões técnicas da transição pelo lado do governo. Formalmente, quem coordena a transição é o ministro interino da Casa Civil, Carlos Eduardo Esteves Lima. Ele ficará a cargo das tarefas mais burocráticas.

Duas equipes vão cuidar dos trabalhos, cujo objetivo é evitar interrupções no funcionamento da máquina pública durante a troca de comandos. Dilma pode nomear até 50 pessoas para assessorá-la e dispõe de R$ 2,8 milhões para pagar salários. Na semana passada, ela enviou ao Planalto uma lista com 39 nomes que comporão a equipe num primeiro momento. Pelo lado do governo, foi designado um técnico de cada ministério.

Os assessores de Dilma receberão senhas para acessar um portal que conterá informações de cada pasta: orçamento, programas em andamento e o estágio de cada um, quanto da verba já foi gasta. Foi elaborada ainda a chamada “agenda 120″, que lista problemas a serem resolvidos nos primeiros quatro meses de governo.

A equipe de Dilma elaborará metas a serem atingidas nos 100 primeiros dias de governo, segundo informou o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Enquanto Palocci cuidará da transição pelo lado técnico, o lado político será comandado pelo vice-presidente eleito, Michel Temer, além de Dutra e do deputado José Eduardo Martins Cardoso (PT-SP). A decisão de incorporar Temer foi anunciada formalmente no dia 2, numa tentativa de contornar o mal-estar gerado pelo fato de Dilma haver realizado sua primeira reunião de trabalho após as eleições só com petistas. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Cobrada por sindicalistas, Dilma terá primeiro teste fiscal com novo mínimo

Por Lu Aiko Otta, no Estadão:
O primeiro teste sobre a disposição da presidente eleita, Dilma Rousseff, de promover o ajuste fiscal defendido por integrantes do governo e da equipe de transição ocorrerá nesta semana: a reunião com as centrais sindicais sobre o reajuste do salário mínimo e das aposentadorias acima do mínimo.

Esses são os dois itens que mais pesam nos gastos do governo, sem contar os juros da dívida pública. O assunto será discutido pelos representantes dos trabalhadores, do atual governo e da equipe de transição, que trabalhará no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Se quiser mesmo segurar o crescimento dos gastos, ela terá de conter o ímpeto dos sindicalistas. Para cada R$ 1 a mais concedido ao mínimo, as despesas do governo com o pagamento de benefícios previdenciários e assistenciais vinculados ao piso nacional aumentarão em R$ 286,4 milhões, segundo cálculos do Ministério do Planejamento. Se fosse implementada a promessa do candidato do PSDB, José Serra, de R$ 600, o gasto adicional seria de R$ 17,7 bilhões. É dinheiro suficiente para pagar 15 meses do Bolsa-Família.

As centrais, porém, têm um argumento que cala fundo no coração desenvolvimentista de Dilma: foi a política de dar ganhos reais ao mínimo que impulsionou o consumo nos últimos anos e permitiu ao Brasil escapar dos efeitos mais negativos da crise econômica de 2008 e 2009.

“A Dilma já disse duas ou três coisas que indicam que a política de valorização do salário mínimo vai continuar”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique. “Ela disse que é preciso fortalecer o mercado interno e reforçou a importância do salário mínimo nesse processo.”

Além disso, a própria presidente eleita já demarcou as linhas de um eventual aperto. “Recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos”, afirmou, após a divulgação do resultado das eleições.

Acordo. Apesar do discurso favorável a aumentos generosos para o mínimo, manobras nos bastidores procuram controlar maiores danos nas contas públicas. Por orientação do governo, o relator do Orçamento de 2011, senador Gim Argello (PTB-DF), disse aos sindicalistas que poderá dar um reajuste mais generoso em 2011, mas ele será descontado do aumento para 2012.

Explica-se: por uma regra acertada entre governo e centrais, ainda não convertida em lei, o mínimo é corrigido conforme a inflação e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos atrás. Por esse mecanismo, o valor para 2011 seria R$ 538,15, que é o piso atual (R$ 510) corrigido pela inflação, mas sem o acréscimo do PIB porque em 2009 a economia encolheu 0,2%. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

O discurso vigarista da canalha que lucra ao jogar o Brasil contra o Brasil. Ou: Os “fascistas do bem” estão assanhados!

É vergonhoso o que certos setores da imprensa vêm fazendo no caso da jovem Mayara, que postou mensagens absurdas no Twitter, contra os nordestinos. Atenção! Não estou dizendo que ela não deva RESPONDER PELO QUE FEZ (e não por aquilo que NÃO FEZ ), mas há um limite para as coisas. As penas têm de ser proporcionais aos delitos. É um princípio da civilização que não pode ser esmagado pelos “civilizados”. A imprensa politicamente correta está exibindo seu lado sensacionalista. Lembra aqueles senhores que ocupam as tardes nas TVs com programas policiais, exibindo, aos berros, as suas soluções simples e erradas para problemas difíceis. A palavra de ordem parece ser esta: “Já que ela escreveu aquelas barbaridades, então vamos linchá-la; destruí-la”. Ou ainda: “Descobrimos que ela é muito má; a Justiça é lenta; vamos resolver nós mesmos esse problema e condená-la”. O espírito que anima essa sede de punição e reparação é fascistóide. Os fascistas do bem estão na Internet e nos jornais, magnificando o que não tem importância e tentando despertar forças que, uma vez libertas, dificilmente voltam para a caixa.

Mayara, uma paulista, escreveu coisas inaceitáveis sobre “nordestinos”? Por certo! Ela é a única? Não é! Nordestinos, mineiros, sulistas etc. escrevem coisas  inaceitáveis sobre paulistas? O tempo inteiro! Uma simples pesquisa na rede vai revelá-lo. O ressentimento contra São Paulo é tão grande quanto escandalosamente injusto. Injusto, aliás, é o ressentimento contra qualquer região. Mas São Paulo está proibido de posar de vítima porque não pega bem. Afinal, o estado mais rico da federação — e fica parecendo que assim é porque roubou isso de alguém… — tem de agüentar calado as suas supostas culpas. Mas o que digo eu? “São Paulo” como ente só existe na boca dos que têm a pretensão ser seus inimigos! Uma das coisas que me agradam neste estado, ou nesta capital, é precisamente isto: ser paulista ou paulistano não quer dizer nada em especial. Não somos conhecidos por nossa esperteza silenciosa, por nosso charme adoravelmente malandro, por nossa sensualidade à flor da pele, por nosso espírito nativista, por nosso amor às lendas da floresta… Felizmente, ser paulista ou paulistano, ou morar por aqui, permite que a gente NÃO SEJA COISA NENHUMA! E aos não-paulistas informo: nem levem muito a sério esse negócio de que somos trabalhadores incansáveis. Há muitos vagabundos por aqui, como em toda parte.

Diziam-me mineiros no começo da corrida presidencial: “Esquece, Reinaldo! A esmagadora maioria deste estado não vai votar em Serra porque se consolidou a idéia de que ele tomou o lugar de um mineiro”. E cansamos de ler a respeito desse nobre sentimento na imprensa, sem que alguém se lembrasse dizer: “Epa! Que história é essa?” Agora imaginem se detectassem tal sentimento em São Paulo. Logo escreveriam um tratado sobre a arrogância dos paulistas ou sei lá o quê. O sentimento antipaulista é a versão local do recalque que degenera no antiamericanismo. Em certas áreas do país, querem tratar os paulistas como o “eles”, categoria que estaria em oposição ao “nós”. O caso Mayara trouxe esse sentimento à tona. Assim como existem antiamericanos dentro dos EUA, existem antipaulistas em São Paulo: parte da imprensa daqui não está sendo menos bucéfala do que a imprensa de acolá.

Mentiras
É simplesmente mentira que exista na maior cidade nordestina do Brasil — sim, leitor, há mais nordestinos em São Paulo do que em Salvador, a maior capital do Nordeste — um sentimento antinordestino.  O pernambucano Lula fez a sua carreira em São Paulo. A paraibana Luíza Erundina foi prefeita da capital do Estado. Uso exemplos da política porque é nessa área que esse tipo de sentimento se exacerba. Conheço algumas capitais do Nordeste. Não o suficiente para escrever tratados ou ser peremptório a respeito de algumas coisas. Mas já fui a restaurantes populares e a restaurantes chiques da Bahia, por exemplo, onde se tem, talvez (a conferir), o maior percentual de população negra do país. E, claro, já fiz isso dezenas de vezes em São Paulo, onde o percentual de negros é muito menor. A nenhum observador honesto escapará uma evidência: é muito mais freqüente a presença de negros nos ambientes refinados de São Paulo do que nos de Salvador ou do Recife.

O país tem de aprender a equacionar as suas diferenças. E vem fazendo isso, ora acertando, ora errando, não vou entrar nesse mérito agora. Mas não venham tentar dar aula de civilidade tolerância a São Paulo os que não combatem no próprio solo as escandalosas desigualdades e os preconceitos os mais evidentes. QUEM DECIDE FAZER GUERRA REGIONAL ESTÁ SENTANDO EM CIMA DO PRÓPRIO RABO PARA TENTAR DENUNCIAR O ALHEIO. Seria mesmo maior o preconceito que os “paulistas”, como se existisse essa categoria!, têm contra os  nordestinos do que o que aquele que ALGUNS NORDESTINOS ricos têm contra os nordestinos pobres no próprio Nordeste? Ora, tenham paciência!

O que leva um jornal como o “Correio”, da Bahia, a publicar na primeira página a foto da autora das mensagens infelizes com o título “A paulista”? Será esse jornal tão zeloso em combater as injustiças existentes no próprio estado como é em tentar promover uma guerra contra São Paulo em nome da… justiça? Admitir-se-ia que um jornal paulista publicasse a foto de um criminoso qualquer nascido na Bahia como o “O baiano”? É claro que não! E não creio que isso devesse ser tolerado. O Ministério Público certamente entraria em ação.  Já São Paulo pode suportar muito bem uma carga de preconceito se o objetivo nobre é… combater o preconceito!

Ciclo de violência
Coisas inacreditáveis estão em curso. É de estarrecer uma reportagem da Folha neste sábado. Ficamos sabendo que a moça é filha de um relacionamento extraconjugal do pai, Antonino Petruso. Leiam:
O empresário Antonino criticou a declaração de sua filha -fruto de um caso extraconjugal no fim dos anos 80 -, que, segundo ele, causou efeito colateral indesejado para toda a família. ‘Tenho raiva de quem faz preconceito, seja amarelo, branco, azul, pobre. Se ela [Mayara] realmente escreveu aquilo, vai ter que pagar.’”

É espantoso! É assustador. Ele próprio expõe a sua vida privada e a da garota, como se a condição de “filha fora do casamento” tornasse menores seus vínculos com a  jovem, tomada, no contexto, como agente de um desequilíbrio familiar. Ironicamente, sua empresa se chama “Supermercado do Papai”. O supermercado é do papai! O papai revela ainda que a relação com a filha não é boa; não quer que as opiniões dela sejam confundidas com as da família — talvez quisesse dizer “a verdadeira família”.

Não sei que punição a Justiça vai aplicar a essa moça — até porque será preciso muita licença jurídica para provar que ela praticou racismo, como sabe qualquer advogado medianamente informado. Mas há como ela ser punida mais do que está sendo? Se não conseguir mudar de nome, as suas mensagens no Twitter a terão destruído para sempre. Quantos milhares já fizeram a mesma coisa, não porque sejam militantes racistas, mas porque estão mal informados, pensam errado, reproduzem tolices que ouvem de outros? E os nordestinos os únicos agredidos.

A coisa agora segue no ritmo do horror, do pega-pra-capar. Já que ela foi estúpida o bastante para escrever aquilo, pode ter a imagem estampada na capa de um jornal da Bahia como “a paulista”. Já que escreveu aquilo, pode ser demonizada pelo pai, que a trata como uma bastarda, agente de dissabores familiares e ovelha desgarrada, que não reproduz os valores da família — ele, na verdade, tem “raiva” de gente assim. Já que escreveu aquilo, ela não terá direito a um julgamento justo. Afinal, os nossos irmãos nordestinos merecem um desagravo — nem que seja o linchamento.

Por isso recomendei aqui o filme a O Último Jantar (The Last Supper), de Stacy Title, cuja boa tradução em português seria “A Última Ceia”, já que o filme, por metáfora, evoca um ritual religioso. Não deixem de ver! Por acidente, um grupo de jovens bem-informados, politicamente corretos, muito sábios, acaba tendo de enfrentar a fúria de um fascistóide. Um deles mata o bandidaço. Eles se dão conta, então, de que o mundo não ficou pior com aquela morte. Como não ficaria pior se morressem o pastor homofóbico, o xenófobo, a puritana… Então decidem agir para tornar o “mundo melhor”.  Vejam as conseqüências . Trata-se de um debate formidável sobre o bem, o mal, a tolerância e os tribunais de exceção.

Não são melhores
Não são melhores do que Mayara os que promovem uma guerra entre regiões, os que a tomam como representante de alguma corrente influente em São Paulo e os que a lincham moralmente, não poupando nem mesmo detalhes de sua  vida privada, que nada têm a ver com a besteira que escreveu. Na verdade, são piores. Mayara é só uma moça que disse uma estupidez. O “Correio”, da Bahia, é um jornal que tem responsabilidades de apelo coletivo. Se a jovem viola um princípio constitucional ao escrever o que escreveu, o mesmo fez o jornal baiano. E cadê a OAB para acioná-lo? Cadê o Ministério Público Federal para propor uma investigação? E a Folha? Provem que as informações sobre a vida privada da garota servem a algum outra coisa que não à fofoca e à expiação.

Arremato
Indivíduos dizem bobagens o tempo inteiro. Há uma diferença entre dizê-las e se organizar para pôr em prática as sandices que eventualmente escrevem nas redes sociais. A punição tem de ser proporcional ao crime. E tem de ser aplicada pela Justiça, não por um pelotão de fuzilamento moral ou por aproveitadores interessados em faturar com a guerra regional, que tenta opor o Brasil ao Brasil.

Quem inventou esse país cindido tem um projeto político e dele extrai os melhores resultados para si e para o seu grupo. No dia 27 de março de 2008, durante um discurso em Pernambuco, Lula cobriu de elogios Severino Cavalcanti (PP-PE), ex-presidente da Câmara, afirmando que ele fora derrubado do posto por causa do “preconceito das elites paulistas e do Paraná”. Essa “guerra” tem servido unicamente aos propósitos daqueles que lucram politicamente com o confronto entre Nordeste e São Paulo, entre ricos e pobres, entre brancos e negros…

Poderia, e agora para encerrar mesmo, haver manifestação mais clara do uso vigarista dessas falsas clivagens do que o discurso que Lula fez na sexta-feira? Segundo ele, a sua eleição e a da “companheira Dilma” significaram a superação de preconceitos.  E ele disse isso num pronunciamento oficial! Ora, então a eventual derrota de ambos teria significado o contrário. Logo, a única maneira de a gente demonstrar que ama o Brasil unido é alinhando-se com o PT. As falas de Mayara pertencem a Mayara, o indivíduo. O rumo que tomou essa irrelevância tem de ser pensado à luz da cultura política que está sendo alimentada pelo poder. Em muitos aspectos, Mayara também é vítima de uma ação política deliberada para dividir o país. E há um monte de jornalista tonto ou mau-caráter fazendo o servicinho para o PT. Como sempre.

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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