É preciso que haja diferença entre vender um banco, comprar um banco e roubar um banco

Publicado em 11/11/2010 15:52

Leitor, caso você se veja tentado a comprar um banco, cuidado! Por quê? Você certamente confiará que o Banco Central, que acompanha mensalmente os balancetes das instituições financeiras, sabe se a empresa está podre ou não. Precavido, você também vai consultar o parecer da auditoria independente que acompanha permanentemente o desempenho do dito-cujo. Mesmo assim, como não é do tipo que joga dinheiro fora, vai contratar uma outra empresa para avaliar se está tudo nos conformes.

Mas tudo isso pode ser absolutamente irrelevante. Vejam o caso do Banco Panamericano:
- O Banco Central avisa: “Não tenho nada com isso”;
- a Delloite, que fazia auditoria interna, avisa: “Não tenho nada com isso”;
- a KPMG, que fez a auditoria a pedido do Banco Fator, que intermediou a operação em nome da Caixa, avisa: “Não tenho nada com isso”;
- o Banco Fator avisa: “Não tenho nada com isso”;
- a CEF, que comprou as ações do Panamericano, avisa: “Não tenho nada com isso”.

Percebeu, leitor? Com tantos “expertos”, espertos e espertalhões cuidando de tudo, nos mínimos detalhes, nada impede que você torre seus bilhões comprando um banco quebrado. Se bem que… Vamos pensar.

Aquisição e fusão de bancos não são coisas tão raras, não é mesmo? Fizeram-se aos montes depois do processo saneador levado adiante pelo governo Fernando Henrique Cardoso. E não se sabe de nenhum banco privado, nacional ou estrangeiro, que tenha levado uma tungada do tamanho que levou a CEF: mais de R$ 700 milhões. O dinheiro investido no Panamericano virou pó. A se dar crédito às versões, executivos de um banquinho mixuruca conseguiram levar no bico gente altamente especializada em detectar fraudes. E olhem que, até onde se sabe, não era nada muito sofisticado, não, hein? O Panamericano vendia carteiras de crédito a outros bancos, pegava a grana antecipada, mas fazia de conta que os pagamentos feitos pelos devedores ainda eram seus.

Visto tudo de perto, encontram-se sempre aquelas incríveis coincidências que aproximam o mundo da política do mundo dos negócios. Informa Lauro Jardim no Radar Online: “Rafael Palladino, ex-presidente do Banco Panamericano, sempre chamou atenção do mercado pela relação muito próxima com Marcio Percival Alves Pinto, vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal (indicado por Aloizio Mercadante para o cargo) e Walter Appel (dono do banco Fator, um dos que auditaram o Panamericano para a CEF)”Dá para entender.

É preciso que haja diferença entre vender um banco, comprar um banco e roubar um banco.

A credibilidade do sistema

Qual é o problema nessa história do “não tenho nada com isso (ver post acima)?” Ora, quem garante que o sistema bancário brasileiro é sólido e que não existem instituições podres operando no mercado? O Banco Central e as auditorias. Se eles todos dizem que foram enganados pelo Panamericano, por que não poderiam estar sendo enganados por gente mais graúda, ou até mesmo mais miúda, mas em condições de afetar a credibilidade do conjunto? Não, não! Algum culpado vai ter de aparecer aí, e a história tem de ser crível. Por enquanto, só temos, como é costume nos últimos oito anos no Brasil, o crime sem criminosos.

Por Reinaldo Azevedo

O Panamericano e os jabutis em cima das árvores

Não sou do setor financeiro, é claro! Até onde sei, nenhum jornalista é. Se vocês entregarem um banco pra eu tomar conta, é provável que, sem a ajuda da Caixa Econômica Federal, ele vá à falência, embora eu saiba a diferença entre comprar um banco, vender um banco e roubar um banco… Mas conheço pessoas que entendem do setor. E elas me dizem que há um monte de jabutis passeando sobre as árvores. Como não é o habitat natural do bicho, há algo de estranho nisso tudo.

O que essa gente toda não entende, em primeiro lugar (ou entende, mas resiste em chamar a coisa pelo nome), é por que a Caixa Econômica Federal foi se meter num banco com o perfil do Panamericano, que tem, sem dúvida, um perfil “agressivo”. Oferece crédito,  por exemplo, a clientes com histórico de cheque sem fundo. Em compensação, cobra juro maior. Huuummm: juro maior a quem já tem histórico de calote, entenderam? O índice de inadimplência no banco é de 10,9%. Nos bancos comuns, varia, varia de 3,3% a 5%.

Durante a crise financeira, a CEF criou a CaixaPar para ir às compras. Nove meses depois de pensar muito na melhor oportunidade de negócios, decidiu adquirir os 49% do Panamericano — e parou por aí, não comprou mais nada. A operação foi realizada no fim de 2009, um ano pré-eleitoral, e só concluída neste ano. Além daquele perfil “ousado”, o que mais chamava a atenção no Panamericano? Bem, vai ver era o controlador, Silvio Santos, dono também de uma rede de televisão.

No passado, bancos na situação do Panamericano eram simplesmente liquidados pelo Banco Central. “Cabruuuummm!” Desta feita, o empréstimo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) decidiu salvar a instituição, tendo o patrimônio do grupo Silvio Santos como garantia. Louvo a confiança do FGC na “avaliação de mercado” das empresas do grupo. Nunca antes na história destepaiz se fez um trabalho tão rápido. O FGC certamente confia nas informações prestadas pelos executivos do grupo… Vamos ser claro? A liquidação do banco, que seria o usual nesse caso, só procura livrar a Caixa Econômica Federal de um vexame, evidenciando o péssimo, para não dizer obscuro, negócio que fez.

“Reinaldo, o FGC não está aí justamente para isso? É que antes ele não existia” O FGC está aí para impedir que a crise numa instituição contamine todo o sistema — é um fundo garantidor de crédito, não de banco quebrado. Nem estou dizendo que se fez isso para livrar a cara de Silvio Santos. É bem provável que ele vá ter de vender patrimônio para saldar a conta. O FGC está é livrando a cara da Caixa Econômica Federal e daqueles que a meteram nesse imbróglio.

Por Reinaldo Azevedo

De algum modo alfabetizado, Tiririca já pode comprar e vender bancos…

O deputado eleito Tiririca — aquele que pontificou, otimista: “Pior do que está, não fica” — passou no teste feito no TRE de São Paulo. Conseguiu ler algumas manchetes de jornal e, segundo entendi, conseguiu escrever alguma coisa, o bastante para não ser considerado ujm “analfabeto” segundo os critérios do Mobral.

Já pode ser nomeado para o grupo da Caixa Econômica Federal que avalia risco na aquisição de bancos privados ou para uma daquelas consultorias que  não viram nada de errado na instituição. Vamos combinar: com Tiririca em qualquer uma dessas funções, pior do que ficou não teria ficado, certo?

Por Reinaldo Azevedo

Emenda à PEC da Felicidade: “Todo mundo tem direito ao Baú da Felicidade”

Quero propor uma emenda à PEC da Felicidade, de Cristovam Buarque (PDT-DF). Todo mundo tem de ter o direito de vender um carro usado à Caixa Econômica Federal. Ou melhor: vender, não! A CEF paga R$ 200 mil e se torna sócia do seu Monza 1988, em bom estado. Como poderia dizer Silvio Santos, “todo mundo tem direito ao baú da felicidade da Caixa Econômica Federal”.

Por Reinaldo Azevedo

O escândalo CEF-Panamericano: “Do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar”…

Leiam o que informam Fabio Graner e Fernando Nakagawa, no Estadão Online. Volto em seguida:

O diretor de Fiscalização do Banco Central, Alvir Hoffmann, explicou nesta quarta-feira, 10, que se o Banco Panamericano fosse liquidado neste momento o rombo financeiro seria da ordem de R$ 900 milhões. O aporte feito ontem à noite pelo controlador, o empresário Silvio Santos, no entanto, foi maior: de R$ 2,5 bilhões. A diferença é explicada pela necessidade de ajuste patrimonial da instituição de cerca de R$ 1,6 bilhão.

Durante entrevista, o procurador-geral do Banco Central, Isaac Ferreira, informou ainda que a legislação vigente prevê que a responsabilidade do caso é de todos os sócios, inclusive da Caixa que é sócia minoritária. “Portanto, ela tem responsabilidade legal”. Ele negou a afirmação de que o fato de a Caixa ser uma instituição controlada pelo Tesouro Nacional seria impeditivo para a liquidação do Panamericano.

Hoffmann informou, ainda, que “há indícios de venda dupla” de carteiras. Ou seja, um mesmo ativo pode ter sido vendido a mais de um banco. Segundo ele, há vários indicativos que apontam para o crime financeiro. “Há perspectiva que certamente vão redundar em processo para o Ministério Público”, disse.

Vida normal
Hoffmann disse que, após o aporte de R$ 2,5 bilhões do Grupo Silvio Santos no banco PanAmericano, a instituição financeira está recuperada e segue vida normal. Para ele, as instituições que operam com o Panamericano não têm motivo para se preocupar no curto e médio prazos. “O mercado verá o banco como confiável porque está com seu com seu balanço reconstituído. O banco tem uma liquidez imensa”, disse Hoffmann. “Não vemos razão para preocupação de qualquer outra contraparte que viesse a ter dificuldade com este banco no curto e médio prazo”, acrescentou o diretor, destacando que o controlador aportou recursos para cobrir as operações e que toda a diretoria do banco foi trocada, contando com a presença de cinco indicados da Caixa Econômica Federal e mais três nomes “de tradição” no mercado.

Voltei
Um exercício sempre muito ilustrativo é inverter os papéis oposição/governo para saber como estariam reagindo os atores. Então o roteiro fictício é o seguinte. O presidente é Fernando Henrique Cardoso — Geraldo Alckmin ou Serra, tanto faz —, e a Caixa Econômica Federal enfia mais de R$ 700 milhões num banco privado, adquirindo parte de suas ações, mas não seu controle. A operação, naturalmente, interessa ao controlador da instituição — não por acaso, dono de uma emissora de televisão, desses que jamais seriam molestados pelo tal “controle social da mídia” que algum tucano tarado estaria querendo fazer.

Depois de uma exaustiva apuração da situação do banco, a CEF concluiu que era um negocião. Há quatro meses, o Banco Central deu sua bênção à operação. Há coisa de um mês, descobriu-se que o Panamericano havia maquiado suas contas. Mais ou menos nesse período, Silvio Santos, o controlador da instituição, manteve um encontro fora da agenda com o presidente Tucano, já alçado a controlador do Brasil. O escândalo vem à luz 10 dias depois da eleição —  com a vitória de um tucano, naturalmente.

Agora imaginem
O que o PT estaria dizendo a esta altura? Procuradores fariam fila para ver quem  meter primeiro na cadeia. O noticiário seria invadido pelas suspeitas de fraude, conluio e compadrio. Mas o PT não está na oposição. E a pauta passa a ser esta: a CEF, gente, não foi lesada, tá? Silvio Santos é que está dando as garantias.

Não foi? Então leiam o que informa o Estadão Online:
“As ações da instituição já são negociadas abaixo do valor contábil diante da forte queda de quase 30% no pregão de hoje. A grosso modo, um banco vale menos que seu patrimônio quando o mercado desconfia de sua saúde financeira ou quando possui uma rentabilidade inferior aos custos de captação. Com base nas cotações de hoje, o valor de mercado do Panamericano gira em torno de R$ 1,167 bilhão. Para efeito de comparação, na abertura de capital da instituição, em dezembro de 2007, o banco foi avaliado em quase R$ 2,5 bilhões. Na BM&FBovespa, os papéis do banco fecharam em queda de 29,54% a R$ 4,77, abaixo dos R$ 5,61 declarados no patrimônio líquido do segundo trimestre deste ano. Para efeito de comparação, as ações de grandes bancos privados, como Itaú Unibanco e Bradesco, são negociadas a quase 300% acima do valor registrado no balanço.”

Eis um negocião feito pela Caixa Econômica Federal!

O mais curioso é que lemos também que a Caixa pode recorrer à Justiça contra o Panamericano. Certo! O BC vai apurar as responsabilidades dos dirigentes do banco. É uma obrigação. Mas eu tenho uma questão: e quem vai apurar as responsabilidades da CEF nesse péssimo negócio? A instituição meteu mais de R$ 700 milhões numa fraude.

É o que eu sempre digo: ninguém privatiza recursos públicos como o PT. A privatização tucana era assim: o empreendedor privado ficava com a estatal — na verdade, com parte das ações — e pagava uma bolada ao poder público. No petismo, é o contrário: o poder público paga uma bolada para instituições privadas, não controla o negócio e ainda toma na cabeça. A privatização tucana dividia com todos os brasileiros o lucro — na forma de mais telefones, de mais empregos e investimentos etc. A privatização petista divide com todo mundo o prejuízo

Como diria Silvio Santos,
“do mundo não se leva nada/
vamos sorrir e cantar/
lá, lá, rá, rá/
lá, lá, rá, rá…

Por Reinaldo Azevedo

A bolada e a bolinha

Sílvio Santos leva uma bolada e devolve uma bolinha.

Por Reinaldo Azevedo


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Tags:
Por:
Reinaldo Azevedo
Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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