Retrato em branco e preto, por Reinaldo Azevedo

Publicado em 23/11/2010 09:12

Passadas as eleições, saiu de cena o país do marqueteiro João Santana, aquele em que todos gostaríamos de viver, e caímos no Brasil governado por Lula — auxiliado de perto, como não se cansou de dizer, por Dilma Rousseff, agora presidente eleita. E a crua realidade vai emergindo, especialmente na infra-estrutura e na saúde. Na sexta-feira passada, uma reportagem do jornal “Financial Times” e a divulgação de uma pesquisa feita pelo IBGE trouxe o país em branco e preto.

Aeroportos
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) esculhambou os aeropostos brasileiros, que foram motivo de reportagem no Financial Times.Giovanni Bisignani, presidente da entidade, disse ao FT que não tem visto progresso suficiente no setor no Brasil. “Para evitar uma vergonha nacional, o Brasil precisa de estrutura maior e melhor para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016″,  Bisignani.  Sobraram críticas para a estatal Infraero — uma empresa que estaria mais ocupada em garantir o empreguismo do que em resolver os problemas do setor. Sua histórica ineficiência mereceu destaque.

Pois é… Eis aí um setor que ficou sob inteira responsabilidade de Dilma. O número de passageiros saltou de 68 milhões em 2000 para 113 milhões em 2008, e a infra-estrutura aeroportuária ficou quase na mesma. O petismo preferiu, para não variar, o canto de auto-exaltação: “Levamos os pobres para os aviões”. Ainda que fosse assim, em que condições? O ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi tomado de indignação cívica. Atacou a IATA, que estaria expressando apenas o ponto de vista das empresas, fazendo, como ele disse, “terrorismo”. Pois é…

Ontem a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) ser reuniu com seis empresas para tomar medidas preventivas para tentar evitar o caos nos aeroportos no fim do ano. Uma das medidas adotadas foi a proibição de overbooking: as empresas não poderão vender mais passagens do que os assentos disponíveis. A Aeronáutica divulgou um comunicado aos pilotos afirmando que pode até mesmo proibir pequenos aviões particulares de voar nos horários de pico entre as cidades de Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília… Estudo feito pelas empresas indica que os aeroportos de 9 das 12 cidades-sede da Copa do Mundo operam já hoje acima de sua capacidade.

Saúde
Em quatro anos, entre 2005 e 2009, nada menos de 11.214 leitos para internação foram desativados no país. Os números são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Caiu também o número de internações pela primeira vez desde 1998. A taxa nacional de leitos para internação em 2009 (2,3 por mil habitantes) ficou abaixo do padrão estabelecido pelo Ministério da Saúde, de 2,5 a 3 por mil habitantes. Nos países que fazem parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a taxa média foi de 3,8 em 2007. Ah, sim: antes que Lula diga que isso se deu porque a oposição derrubou a CPMF, cumpre lembrar que seu governo ficou com o imposto de 2003 a dezembro de 2007.

Assim como os petistas muitas vezes se orgulham do caos aéreo porque seria um sinal de que pobre passou a andar de avião, José Gomes Temporão, Dilma e Lula talvez  digam que a diminuição de leitos é uma prova de que o brasileiro está saudável como nunca antes na história destepaiz

Por Reinaldo Azevedo

Por Tânia Monteiro, no Estadão:
A chuva do fim da tarde de ontem na capital federal alagou o subsolo do Palácio do Planalto. Uma das salas, onde funciona a telefonia e comunicações, na saída dos elevadores do prédio principal, foi totalmente tomada pela água da chuva e os funcionários levaram mais de uma hora tentando limpar o local, sem sucesso. “A água está jorrando pelas tomadas”, comentou um dos funcionários.

O serviço médico, que também funciona no subsolo, precisou ser fechado. Na parede da sala a água escorria como uma cascata. Ao tentarem acender a luz ocorreu um curto circuito, com faíscas saindo das tomadas. Tudo ficou no escuro. O gerador foi acionado, mas desligado depois. Também houve problemas no quarto andar do Planalto, onde fica a Casa Civil, mas de menor intensidade. O Palácio do Planalto acabou de passar por uma grande reforma, que consumiu um ano e cinco meses de obra, ao custo de R$ 103 milhões.

A reforma, no entanto, não tem agradado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já reclamou do ar condicionado gelado demais, das paredes trincadas - algumas até com buracos - e da luz que apaga sozinha, apesar dos sensores que não acendem quando deveriam acender.De acordo com informações da Casa Civil, a empresa responsável pela obra, Porto Belo, foi acionada pelo Exército, que é o administrador da obra. Pelo contrato, a empresa é obrigada a fazer os reparos para consertar os estragos. O presidente Lula não estava no Planalto quando parte do prédio foi alagado. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Sarkozy, os navios da corrupção e o Brasil

Por Andrei Netto, no Estadão:
Mais um escândalo político bate às portas do Palácio do Eliseu. Após as suspeitas de financiamento ilegal de campanha no caso Woerth-Bettencourt e das denúncias de espionagem de jornalistas, a presidência francesa está agora no centro do caso Karachi - um processo de corrupção dos anos 90. Em depoimento à Justiça, ex-ministro da Defesa da França, Charles Millon, confirmou que houve pagamento de propina às autoridades paquistanesas e formação de caixa 2 na França durante a venda de submarinos para o Paquistão em 1995. Nessa época, o ministro do Orçamento era Nicolas Sarkozy.

Trata-se de um dos mais nebulosos escândalos de vendas de armas já revelados na Europa. Em 1992, um esquema de distribuição de propina foi montado pelo governo francês para seduzir autoridades do Paquistão, que pretendia adquirir submarinos. À época, os franceses Agosta, fabricados pela Direção de Construções Navais (DCN), disputavam o contrato com embarcações alemãs, mas foram as escolhidas. Em 1995, com a vitória de Jacques Chirac sobre Edouard Balladur nas eleições presidenciais, o novo presidente ordenou uma investigação sobre os contratos de duas empresas: Sofma e Mercor, cujos papéis no negócio eram distribuir as propinas no Paquistão, em troca de fatias de 6,25% e 4% do contrato, respectivamente. Em 1996, Chirac suspendeu as atribuições da Mercor e, em 2001, da Sofma.

Coincidência ou não - a Justiças do Paquistão e da França ainda investigam o caso -, em 2002 um atentado ocorrido em Karachi, no Paquistão, resultou na morte de 14 pessoas, entre as quais 11 funcionários do estaleiro DCN. A suspeita é que o atentado tenha sido vingança pelo fim do pagamento das propinas.

Depois de 15 anos de mistérios e segredos de Estado, o caso voltou à tona na última semana quando o ex-ministro da Defesa de Chirac, Charles Millon, confirmou, em depoimento à Justiça, que houve pagamento de “comissão” a autoridades paquistanesas, assim como de “retrocomissões” - pagamentos que retornariam à França de forma ilegal para alimentar as contas de campanha de Balladur de 1995, da qual Sarkozy era porta-voz.

À época, o pagamento de propinas no exterior não era ilegal na França, mas o caixa 2 era. A dúvida hoje é se Sarkozy participou do esquema de pagamento de propina e de recebimento de “retrocomissões”. Uma investigação realizada em Luxemburgo e revelada pelo site francês Mediapart indicou que o atual presidente teria autorizado a criação de uma outra empresa, a Heine, que intermediou as comissões entre o Paquistão e a França. Aqui

A mesma
A DCNS, novo nome da Direção de Construções Navais (DCN), estaleiro envolvido na venda de armas ao Paquistão, é o mesmo que constrói submarinos no Rio de Janeiro e fornecerá a tecnologia para futuras embarcações nucleares da Marinha brasileira ao custo de 6,7 bilhões de euros. A empresa mudou ao longo do tempo, mas alguns dos personagens são os mesmos da venda ao Brasil. Como no caso paquistanês, o governo brasileiro também enfrentou a dúvida entre os submarinos alemães e franceses. Graças a promessas de transferência de tecno ogia, Paris e a DCNS venceram a disputa, apesar do preço mais elevado do contrato. Pesou na decisáo o fato de a Alemanha não deter o conhecimento de navios nucleares.

Quando fecharam o acordo, causou surpresa a seleção da construtora Odebrecht como parceira da DCNS . O Ministério da Defesa do Brasil disse que a escolha era uma prerrogativa da DCNS, não dos governos. Pelo menos duas personalidades francesas envolvidas no caso Karachi estão no primeiro plano político agora: o presidente Nicolas Sarkozy e Alain Juppé, ex-premiê de Jacques Chirac e atual ministro da Defesa. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Edital omite custo de energia do trem-bala

Por Dimmi Amora, na Folha:

O estudo para aprovar a viabilidade do trem-bala que ligará São Paulo e Rio de Janeiro não previu a construção de linhas de transmissão de energia elétrica. Com isso, um custo estimado em pelo menos R$ 1 bilhão foi cortado do preço do projeto, que está previsto em R$ 33,1 bilhões. O problema foi apontado por um dos interessados no projeto durante os pedidos de esclarecimento ao edital, que levantou que o estudo de viabilidade não previa a construção pelo vencedor do sistema de abastecimento de energia.

Embora não preveja o custo da linha, o edital diz que o vencedor será responsável por toda a construção do sistema e pela interface com os fornecedores de energia. “Entendemos ser imperativo que essa construção, bem como a interface com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), seja realizada pelo poder concedente, garantindo a disponibilidade de energia necessária à operação do TAV (Trem de Alta Velocidade), de forma a manter a viabilidade do empreendimento”, pede um interessado.

Em sua resposta, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) informa que vale o que está escrito no edital. Em outros problemas apontados nos esclarecimentos, o órgão público responsável pelo leilão informa aos participantes que os estudos são só referenciais e o que vai valer é o que o vencedor do leilão apontar como solução.

PROPOSTAS
As últimas dúvidas sobre o edital só foram esclarecidas pela ANTT no final da sexta passada, a menos de nove dias da entrega das propostas, marcada para a próxima segunda. Ainda há pressão de empresas interessadas no adiamento do prazo. Nos pedidos de esclarecimento, os interessados apontam que há dúvidas quanto à verba destinada para indenização de desapropriações, que será paga pelo governo. Instalações temporárias não estavam previstas no estudo.

A ANTT informou que esses custos ficarão também a cargo dos vencedores e não do governo. A falta de linhas não é o único problema em relação aos custos do trem-bala já apontados. Estudo do consultor legislativo do Senado Marcos Mendes mostra que a reserva de contingência do projeto foi excluída. De acordo com ele, em projetos de grande porte, esses custos podem representar até 30% do valor do projeto.

Além disso, o TCU (Tribunal de Contas da União), ao aprovar o estudo de viabilidade, apontou várias inconsistências no projeto, entre elas o fato de o estudo de demanda ter sido tendencioso e de os preços das pontes estavam subestimados porque levaram em conta os preços de projetos de ferrovias comuns, sem considerar as especificidades do trem-bala.

Por Reinaldo Azevedo

ANP beneficia empresa presidida por Marcelo Sereno, da turma do patriota José Dirceu

Por Dimmi Amora e Hudson Corrêa, na Folha:
Dirigentes da ANP (Agência Nacional do Petróleo) passaram por cima de regras do órgão para beneficiar o grupo empresarial Andrade Magro, dono da Refinaria de Manguinhos, no Rio. Até dezembro de 2009, a empresa tinha como principal executivo o petista Marcelo Sereno, que foi assessor do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (2003-2005). Dirigentes da ANP que tomaram as decisões a favor do grupo são aliados dos senadores peemedebistas José Sarney (AP) e Edison Lobão (MA).

Sereno foi nomeado presidente da empresa que comanda a Refinaria de Manguinhos em 2008. Ele foi candidato a deputado federal, mas não se elegeu (garantiu a terceira suplência). O período em que esteve à frente dos negócios coincide com a fase em que o grupo empresarial passou a colecionar decisões favoráveis na ANP. A agência chegou a contrariar sua própria legislação em favor dos empresários, segundo documentos obtidos pela Folha. No caso mais evidente, em abril de 2009, a procuradoria da ANP deu parecer favorável ao cancelamento do registro da empresa Tiger Oil, subsidiária do grupo Magro, que ficou mais de um ano sem distribuir combustível.

Pela legislação, a paralisação é tolerada até o limite de seis meses. Depois desse prazo, o registro deve ser cancelado por uma decisão da diretoria colegiada da ANP, e a empresa não pode funcionar. Após a decisão dos técnicos, o caso da Tiger foi encaminhado para o diretor de Abastecimento da ANP, Allan Kardec Duailibe Barros Filho, que deveria mandá-lo ao colegiado para decidir pelo cancelamento. Ex-filiado ao PC do B, Kardec é genro do ex-presidente da Fundação José Sarney, José Carlos Sousa e Silva. Sua indicação ocorreu quando Lobão era ministro de Minas e Energia. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Diretor do BC é candidato à vaga de Meirelles, mas também concorrem o Bradesco e o Santander…

Por Vera Rosa e Eugênia Lopes, no Estadão:
A pedido de Dilma Rousseff, quatro nomes já foram sondados para substituir o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Na prática, a presidente eleita só aguarda a conversa com Meirelles, que deve ocorrer amanhã, em Brasília, para decidir quem comandará a política monetária a partir de 2011.

“Alguns me perguntam o que espero para o futuro, o que espero para a vida pública. Eu espero terminar, de fato, esse mandato juntamente com o presidente Lula”, disse Meirelles, na noite de ontem, ao participar de cerimônia na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Questionado se o discurso tinha tom de despedida, ele abriu um sorriso. “Foi de celebração”, respondeu.

Até agora, o mais cotado para a cadeira de Meirelles é uma solução doméstica: Alexandre Tombini, diretor de Normas do Banco Central. Mas também foram sondados o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabucco; o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fábio Barbosa (Santander), e o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros.

Tombini tem bom relacionamento com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que permanecerá no cargo. O plano de Mantega, com o aval de Dilma, é reduzir a dívida interna líquida para 30% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2014. A intenção é que os juros reais cheguem a 2% ao ano no fim do mandato.

As especulações sobre a saída de Meirelles provocaram oscilações no mercado ontem. A presidente eleita quer fechar a escalação da equipe econômica até o fim da semana. Ela ficou muito contrariada com Meirelles ao saber que ele impôs condições para ficar no cargo - como a manutenção da autonomia na definição dos juros -, quando estava em Frankfurt, na Alemanha.

Telefonema. O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci chegou a telefonar para Meirelles para saber se as declarações eram verdadeiras. Ele negou. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Juro futuro sobe com aposta na saída de Meirelles e inflação

No Estadão Online

As projeções de juros a partir dos contratos futuros de depósito interfinanceiro (DI) negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) ampliaram as altas no início da tarde e fecharam o pregão regular, às 16 horas, perto das máximas do dia. O movimento de alta ocorreu desde cedo e ganhou força à tarde, sempre em reação às dúvidas sobre a permanência de Henrique Meirelles na presidência do Banco Central no governo Dilma Rousseff, em meio a um cenário mostrado pela pesquisa Focus do BC da persistente elevação das expectativas de inflação no mercado financeiro.

“A leitura de uma provável saída de Meirelles é que as medidas necessárias para combater a pressão inflacionária corrente e a futura, detectada pela pesquisa Focus, podem não ser tomadas”, comentou um operador. Além disso, há a avaliação de que Dilma vai centralizar a política monetária no Planalto, e para isso já estaria prevendo desvincular em algum momento do seu governo o status de ministro do cargo de presidente do Banco Central.

O mercado se defende dessa percepção elevando as taxas dos DI em todos os prazos. Nos contratos mais curtos, com vencimento em 2011, o impacto é menor, mas se amplia nos prazos intermediários e longos.  “O mercado reage em alta porque antevê uma política fiscal mais frouxa no governo Dilma”, disse Paulo Rebuzzi, da mesa de renda fixa da Ativa Corretora, “sem que a equipe de transição dê sinalização em contrário”.

Ao término da negociação normal, o DI com vencimento em janeiro 2012 projetava taxa de 11,77% ao ano, de 11,66% no ajuste de sexta-feira, com 229.505 contratos negociados hoje; o DI de janeiro 2013 avançou a 12,35% ao ano, de 12,16% na sexta, com 243.140 contratos negociados; o DI de janeiro de 2014 subiu para 12,38% ao ano, de 12,14% na sexta, com 23.390 contratos. Nos DI mais longos, os avanços foram ainda maiores, chegando a 0,32 ponto porcentual nos contratos com vencimento em janeiro de 2021:  o DI de janeiro de 2017 subiu a 12,37%, de 12,05% na sexta-feira, com 27.920 contratos; e o DI de janeiro de 2021 foi a 12,41%, ante 12,09%, com 4.650 contratos.

Nos contratos curtos, o DI de abril de 2011 fechou a 10,84%, de 10,80% no ajuste de sexta-feira, com 247.945 contratos, e o de julho de 2011 a 11,17% ao ano, de 11,11%, com 82.415 contratos.

Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo de hoje, a presidente eleita não convidou nem pretende convidar Meirelles a permanecer no comando do Banco Central. Na semana passada, Meirelles declarou que só permaneceria no cargo com garantias de autonomia da instituição e confirmou ter recebido convite da equipe de transição para discutir esta semana o futuro da autoridade monetária. O diretor de Normas do BC, Alexandre Tombini, aparece como o nome mais cotado para o cargo.

Despedida
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou na noite desta segunda-feira (22) que seu encontro com da presidente eleita Dilma Rousseff “será anunciado na hora certa”, indicando que não há uma data fechada. Ao ser perguntando se o discurso feito pouco antes, durante o evento Prêmio Qualidade 2010 Sinaprocim-Sinprocim, no prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), não tinha um tom de despedida do governo, Meirelles sorriu e respondeu: “Foi de celebração”, o que repetiu por duas vezes.

“Portanto, alguns me perguntam o que o senhor espera para o futuro, o que o senhor espera para a vida pública. Eu espero terminar de fato esse mandato juntamente com o presidente Lula, concluindo esse tipo de trabalho de responsabilidade do Banco Central do Brasil que é zelar pela estabilidade macroeconômica do País e, portanto, prover as condições básicas para o crescimento sustentado”, disse, quase no final do seu discurso, depois de ter detalhado vários números que mostraram a evolução macroeconômica brasileira desde 2003 até o momento e a estabilidade dos  fundamentos econômicos com previsibilidade da condução da política econômica.

Por Reinaldo Azevedo

Governo do Rio atribui arrastões a pacificação de favelas

Leiam atentamente o que vai abaixo. Volto em seguida:

Os arrastões que ocorreram no Rio de Janeiro durante o fim de semana e nesta segunda-feira foram associados pelo governador do Estado, Sérgio Cabral, às ações de pacificação nas favelas da cidade, com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). “Sem dúvida, os arrastões têm relação com reconquista de território e com a nova política de segurança pública do Rio. Nós não vamos retroceder nessa política. Vamos avançar, pacificando comunidades e levando paz à população”, declarou o governador durante evento na manhã desta segunda-feira.

Cabral anunciou que o secretário José Mariano Beltrame está reunido com a cúpula da Secretaria de Segurança Pública para definir os próximos passos da Polícia Militar. “Estamos preparando uma reação organizada contra os crimes cometidos neste fim de semana”, disse ele, referindo-se aos assaltos a motoristas realizados na via Dutra, na Linha Vermelha, na Lagoa e no bairro de Laranjeiras.

Enquanto isso, novos assaltos foram realizados na manhã desta segunda-feira em Irajá, subúrbio do Rio. Três veículos foram incendiados e os pertences dos motoristas foram roubados. Cabral anunciou que o policiamento nas ruas ganhará o reforço de 150 novas motocicletas nesta segunda-feira. É a primeira leva de uma encomenda de 325 motocicletas compradas pela Secretaria de Segurança.

A prioridade é de emprego das novas motocicletas em áreas onde arrastões seguidos de roubos têm ocorrido com mais frequência. 

Por Reinaldo Azevedo

E se Cabral tentasse agora prender bandidos para ver o que acontece?

Leiam primeiro o post abaixo

Eu gosto que lembrem o que escreve e gosto de lembrar também. É uma questão de honestidade com os leitores. Afinal, construímos juntos este troço aqui. Pois é. A bandidagem anda inquieta no Rio. Sérgio Cabral, o maior marqueteiro do país depois de Lula, atribui a explosão de violência ao sucesso de sua política de segurança. É um raciocínio interessante. No dia em que ele for 100% eficaz, então o Rio vira uma praça de guerra. Peço licença para relembrar o que escrevi no dia 15 de outubro. Volto depois.
*
Aplaudam quantos quiserem, e eu continuarei a chamar de mistificação. A polícia do Rio de Janeiro ocupou ontem o chamado Morro dos Macacos, no Rio, onde um helicóptero foi derrubado por traficantes no ano passado. Marketing da polícia: instalou-se a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) sem um único tiro! Uau! A bandidagem também fica grata e pacificada!

O que terá acontecido? Assinale a alternativa correta:
a - (  ) os bandidos se converteram em trabalhadores honestos;
b - (  )  foram aterrorizar a população em outro morro;
c - (  )  fizeram um acordo de cavalheiros com a polícia.

Essa política de segurança do governador Sérgio Cabral (PMDB), que Dilma Rousseff considera modelo e que seduz tanta gente na imprensa, especialmente a carioca, é uma piada! Ontem, José Mariano Beltrame, secretário de Segurança, concedeu uma entrevista, que vi no Jornal da Globo. Segundo o valente, o objetivo principal dessa política é recuperar território, não prender malfeitores. Ah, bom! Agora está explicado!

Digamos que tenha acontecido a alternativa “b”, não a “c” (embora eu não esteja bem certo disso): há de se supor que Cabral pretenda “libertar” todas as áreas da cidade, acabando com o domínio do narcotráfico por ali, certo?. Certo! Mas sem prender ninguém! Assim, entendemos que os criminosos não estarão nos morros do Rio, mas também não estarão nas cadeias. Logo, se o governador for 100% eficiente em sua obra, os outros estados que se cuidem porque ele estará exportando seus maus rapazes para outras unidades da federação: “O Rio não dá! Vamos para outros estados”.

Cabral é esperto: ele “pacifica”, ganha manchetes positivas e não tem o trabalho de manter presos em cadeias, o que é sempre difícil de administrar e caro. Alguns números explicam certas coisas.

Em dezembro de 2009, a população carcerária no país era de 474.626 pessoas. Do total, nada menos de 34.6% estavam em São Paulo, que tem apenas 22% da população. Será que o estado tem mais pilantras do que os outros ou prende demais? Não! Tem uma polícia e uma segurança mais eficientes. O Rio vinha em quinto lugar, com menos presos do que Minas, Paraná e Rio Grande do Sul. São 399,79 os presos por 100 mil habitantes em São Paulo, contra apenas 166,56 no Rio.

Agora vejam que interessante: no Mapa da Violência, com dados de 2007, São Paulo estava em 25º lugar (antepenúltimo) nos estados com o maior número de homicídios (15 por 100 mil - já baixou para quase 10); o Rio estava em quarto: 45 por 100 mil; a média brasileira é 26 por 100 mil. Não é que mais bandidos na cadeia significa menos cadáveres nas ruas? Incrível!!!

Fico feliz pelas áreas pacificadas - na hipótese de não ter havido apenas uma pacificação com o crime, não sem ele. Mas chegou a hora de Cabral começar a prender os marginais. Ou, então, que ele nos apresente essas almas pias, convertidas ao bom-mocismo. Se não o fizer, no dia em que ele pacificar todo o Rio de Janeiro, terá passado seus malfeitores para seus colegas governadores.

Tudo bem… Eu sei que vêm Olimpíada, Copa do Mundo, o diabo a quatro, e esse papo de polícia pacificadora faz parte desse grande marketing do nosso bundalelê cordial. Mas respeitem minimamente a inteligência de quem lida com a lógica e sabe fazer conta. Quero saber onde estão os traficantes das áreas que a polícia de Cabral ocupou. Sem eles, aconteceu, na verdade, uma de duas coisas: ou acordo ou mera transferência de base de operação.

Se o governador ou o secretário Beltrame tiverem alternativas novas, cartas para o blog.

Voltei
Pois é… Algo ficou fora do arranjo de Cabral. Já se sabe, a esta altura, que o tráfico segue fazendo o seu “trabalho” nos morros onde estão instaladas as UPPs. O que mudou? A bandidagem não desfila mais com revólveres e fuzis nas mãos, e o narcotráfico não promove mais seus megabailes funk. É para mostrar à comunidade que “algo” mudou. “Pacificado”, o tráfico se tornou mais discreto. Vende menos, mas também emprega menos mão-de-obra, já que não precisa mais temer as incertas da polícia. 
Afinal, ela já está ali. Consta que a lucratividade aumentou.  Tudo se tornou muito urbano, muito civil, muito, assim, “cidadão”!!! O tráfico, finalmente, adquire consciência social, entenderam? O tráfico quer ser respeitado! Ainda fornecerá seus personagens às colunas sociais, como o bicho nos anos 80. Brizola “domou”, à sua maneira, os bicheiros; Cabral, os narcotraficantes.

Pois bem… Houve termo que ficou fora da equação. Ninguém se espantou quando Cabral avançava levando a sua “paz” sem prender ninguém, certo? Só o Tio Rei aqui. Até pedi em outro texto que Cabral apresentasse ao público seus “convertidos” à legalidade. Eles não apareceram. Quem é essa gente que está aterrorizando a população do Rio? Será mesmo coisa do Comando Vermelho, que estaria sendo afrontado pelas UPPs? Huuummm… E se forem pessoas “desempregadas” pelo crime organizado, os pés de chinelo do tráfico, de que os chefões não precisam mais?

Bandidos desocupados e soltos logo arrumam o que fazer, não é mesmo? Eu tendo a achar que seria conveniente que Cabral começasse a prender os bandidos do Rio. Quem sabe a situação melhore…

Por Reinaldo Azevedo

O Rio, o crime e o idealismo dos “especialistas”

Às 23h40 de ontem, o Globo Online pôs no ar uma reportagem que talvez esteja na edição impressa de hoje do jornal. Consulta uma série de “especialistas” sobre os ataques que a bandidagem vem fazendo no Rio nos últimos dias. Todas as pessoas ouvidas proclamam o sucesso das UPPs — as unidades da dita polícia pacificadora — e entendem que o narcotráfico está reagindo à ação bem-sucedida da Secretaria de Segurança. Assim é se lhes parece, mas, até onde sei, não é assim. Até porque, e isto é uma informação, o tráfico não foi banido das áreas a que chegaram as UPPs coisa nenhuma! Essa é uma doce ilusão de acadêmicos, ONGs e da imprensa. Como é uma ilusão que reforça alguns de seus preconceitos ditos humanistas, então é proclamada por aí. Mas é mentira.

Os pauteiros dos jornais, das revistas e das TVs deveriam dar um jeito de pôr repórteres nessas áreas. Os meus — os da rede — me contam que houve, sim, um ordenamento do tráfico de drogas, que agora opera de maneira bem mais sutil, nada ostensiva, mas continua a fazer normalmente o seu “trabalho”. Tanto é assim que o preço da mercadoria que vendem continua o mesmo. Também o narcotráfico opera segunda a lei da oferta e da procura. Quando esta é muito maior do que aquela, a droga fica mais cara. E ela não está. O fornecimento do bagulho está regularíssimo, e os preços, estáveis. Vale dizer: chega normalmente às bocas e narizes. O problema é que as áreas ditas “pacificadas” precisam é de menos mão-de-obra de segurança. A “Narcotráfico Inc.” vive um momento de enxugamento de quadros e de corte horizontal de pessoal.

Os trabalhadores dos outros setores, quando dispensados, vão para a fila do seguro-desemprego. Os desse ramo optam pela Bolsa-Madame. E saem barbarizando. Eu já tinha escrito aqui que Sérgio Cabral e seu secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, haviam descoberto a quadratura do círculo: a sua política de ocupação das favelas operaria o milagre do sumiço do bandido: oficialmente, a PM avança nas áreas dominadas pelo narcotráfico, levam a “paz”, e os bandidos somem — ou se convertem. A guerra do estado do Rio contra o narcotráfico nem mata bandidos nem faz prisioneiros. E isso excita o espírito humanista dos nossos “intelectuais”, que passam, então, a acreditar em milagres. Ora…

Há gente querendo aterrorizar a população e passar a sensação — que, ademais, é real — de insegurança? Sem dúvida nenhuma! Mas o que se tem aí é evidência do “sucesso” da política de segurança? Ora… “Humanistas” e “intelectuais” costumam não gostar de cadeia. Até prova do Enem traz hoje em dia questão sobre Michel Foucault… Esses poetas bucólicos acreditam que, quando uma UPP “ocupa” um morro sem dar um tiro, entamos  diante de uma operação bem-sucedida. Foi do que se orgulhou Beltrame no dia 15 do mês passado, quando a unidade subiu o Morro dos Macacos. Ora, o silêncio significava um tiro no bom senso. O único barulho que se ouviu foi o dos aplausos. Dilma se animou. O Rio virou modelo de segurança pública para o resto do país… Meu Jesus Cristinho!

Desculpo-me por desafinar esse doce consenso. Bandido não desaparece. Se não é preso nem morre, então está “trabalhando”. Se a mercadoria que ele vende continua a abastecer o mercado normalmente sem nem sequer uma variação no preço, alguma coisa há de errado. Lamento perturbar o idealismo dos “especialistas”, mas o problema é maior do que se pensa. Saiam dessa zona de conforto que se conforma com a explicação simples e errada de que se trata apenas de uma “reação” às ocupações dos morros — até porque não foram tantas assim, não é? O problema é mais complexo. O narcotráfico “pacificado” está liberando mão-de-obra, que, ociosa, foi à luta.

Ou bem a polícia do Rio começa a fazer “prisioneiros” ou se cria, então, a Bolsa Pó: tenta-se convencer o traficante a deixar o vida bandida em troca de uma prebenda oficial — sempre lembrando que o crime paga mais.

Por Reinaldo Azevedo


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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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