Doença de Lula: jornalistas e cientistas políticos parecem Sheldon, do “The Big Bang Theory”

Publicado em 30/10/2011 14:51 e atualizado em 31/10/2011 07:27
por Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes e Lauro Jardim, em veja.com.br, e colaboração de Roberto Romano, professor de Ética da Unicamp

Doença de Lula: jornalistas e cientistas políticos parecem Sheldon, do “The Big Bang Theory”

A maioria já deve ter assistido a algum episódio do engraçadíssimo “The Big Bang Theory”. Certos jornalistas e também “alguns cientistas sociais” sofrem do “Complexo de Sheldon”: tudo tem uma explicação, sempre ancorada em sólidos fundamentos, por mais tola e inútil que seja. É o caso agora da doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ficar desenhando cenários a partir do que se tem hoje é de uma espantosa inutilidade, que deixaria Leonard, o físico experimental, estupefato. É por isso que ele, apesar de meio bobalhão, como os outros, é o único que arranja mulher… A quantidade de especulação que se está produzindo é uma coisa fabulosa. E o que é pior: contra a história e a experiência empírica.

“A candidatura Lula em 2014 se inviabilizou de vez”…
“Se Lula não puder se esgoelar nos palanques, diminui a sua importância no pleito”…
“A política não será mais a mesma depois disso”…
Tá bom! Se é preciso dizer alguma coisa, pode ser até isso. Mas convém olhar um pouco para a história recente do Brasil. Pra começo de conversa, não se conhece ainda a gravidade da moléstia. Se a hipótese mais otimista dos médicos se confirmar, Lula estará pronto para a campanha de 2012, ainda que possa reduzir o ritmo planejado. A sua presença nos palanques e na TV, no entanto, reforçará os aspectos mitológicos — irracionais, como em todo mito, mas politicamente eficazes — de sua figura.

O país acaba de passar por uma experiência que falseia esses juízos definitivos. É preciso olhar um pouco para a escolha recentemente feita pelo eleitorado. É bem provável que, num país como os EUA, por exemplo, a candidatura de uma Dilma Roussseff tivesse naufragado junto com o diagnóstico de câncer. Não por maldade, impiedade ou frieza do eleitorado, mas por razões culturais, em nome do velho pragmatismo: “Vai que ela não se cure ou volte a ficar doente…”

No Brasil, conforme o antevisto neste blog (está em arquivo), a doença reforçou a imagem da mulher corajosa, destemida, que enfrenta desafios. Em 26 de abril de 2009, dois dias depois do anúncio da doença de Dilma, escrevi:
“Por aqui [Brasil], há uma chance nada desprezível de se transformar o que é obviamente uma fragilidade num ativo político-eleitoral. Como já disse, a semente foi lançada na coletiva da tarde de ontem. Dilma se saindo bem no tratamento - o que é o mais provável segundo os médicos -, talvez o Planalto se preocupe menos com a reação do eleitorado brasileiro - que também anda sensível às histórias de superação pessoal como exemplos morais de superação coletiva - do que com a reação do PT.”

Acho que acertei, não é mesmo?

Lembro que a imprensa americana explorou, e não foi pouco, o câncer de pele que John McCain, o adversário de Barack Obama, tivera muitos anos antes. Sua saúde e sua idade, diga-se, eram pautas permanentes. E essas questões jamais eram abordadas para lhe exaltar o destemor, a superação, a coragem, a determinação, o vigor… Nada disso! Falava-se abertamente do risco que representava o voto num candidato com aquele histórico. Em coisas assim, a maioria dos americanos é de um jeito, e a maioria dos brasileiros é de outro. Por aqui, uma abordagem principalmente pragmática de um assunto como esse é considerada ofensiva.

Assim, descarte-se o câncer como interdição para a disputa política. Não é. Tudo vai depender de como evolui a saúde do ex-presidente da República. Caso o governo Dilma caminhe para um quadro de impopularidade, anunciando-se dificuldades para a reeleição — E ISSO NÃO ESTÁ DADO HOJE, DESTAQUE-SE — e caso Lula esteja sem a doença (a palavra “cura”, em casos de câncer, precisa ser empregada com mais cuidado), ele será o candidato do PT. É simples assim. E com o ativo eleitoral de quem “venceu o mal”. Será “menas” verdade, mas não importa. A candidata Dilma, por exemplo, foi declarada “curada”, o que é tecnicamente falso, como sabe qualquer oncologista.

O que estou dizendo é que nada de definitivo se estabelece no cenário por enquanto. 2014 não está nem mais nítido nem mais opaco do que estava antes do anúncio deste sábado. Além de estar longe demais! Quanto a 2012 — dada a exploração política da doença de Dilma no passado —, os petistas sempre podem optar por fazer do limão uma limonada. Cumpre lembrar que, naquelas paragens, inexiste tema que não possam ser convertido em moeda político-e eleitoral. Quando não se tem limite, o câncer não é um limite.

Por Reinaldo Azevedo

Bobagens como nunca antes na história do jornalismo

Lula se transformou num mito vivo, não é? Toda mitologia se sustenta, por óbvio, na irracionalidade. No caso do petista, muitas forças concorreram pra isso: setores da imprensa, esquerdistas da academia, marxistas da Igreja, sindicalismo e, junto com eles todos, os oportunistas. Notem: até os intelectuais, que costumam dissecar e descrever os mitos, entraram na festa. Resultado: muitos para adorar; poucos para pensar.

Quando um evento traumático, como é o câncer, colhe uma personalidade assim, a possibilidade de se falar e escrever porcaria é gigantesca. Leio jornais todos os dias desde que comecei a trabalhar para ganhar a vida, aos 15 anos. E eu posso lhes assegurar: Raramente se produziram tantas asnices como nestes dois dias. E não adianta tentar jogar a conta nas costas largas da Internet, não. Alguns supostos medalhões do jornalismo impresso expõem de maneira insofismável o declínio intelectual da profissão.

Voltarei ao assunto naquele textão da madrugada. Mas é, com efeito, chocante. Alguns idiotas, tentando demonstrar que não se deixam tocar pela emoção, só reforçam a dimensão mitológica de Lula; outros, tentando lhe puxar o saco, não se dão conta da crueldade.

É um tempo de perda de parâmetros. O articulista, com receio das muitas patrulhas, mais se ocupa em administrar a própria opinião do que o que em dizer o que pensa.

Por Reinaldo Azevedo

A bobagem monumental sobre a doença de Lula: tratam de modo mítico até o tumor

Acho que, pela primeira vez, Lula experimenta uma reação adversa — ainda que bastante leve e ainda que lhe queiram puxar o saco — decorrente da mitologia que criou em torno do próprio nome, com a ajuda, como já disse, de partes da academia, da imprensa, da Igreja Católica e do sindicalismo. É impressionante! A coisa poderia ser simplificada assim: ele não pode nem mesmo ter um câncer, como ocorre com milhões e pessoas. Nele, há de ser uma espécie de predestinação. E o que é pior: os tolos que embarcam nessa julgam estar fazendo jornalismo inteligente, crítico e ousado. A que me refiro em particular?

De todas as coisas cretinas, idiotas mesmo!, ditas sobre a doença que o acomete, a que ocupa o topo é aquela que diz mais ou menos o seguinte: “Vejam que ironia! Lula foi ter câncer justamente num órgão associado à fala, que tanta importância teve ou tem na sua militância política”. Sei. Se fosse câncer em outro órgão qualquer, a dita “ironia”, por acaso, seria menor?

Trata-se de uma bobagem fenomenal! Fica parecendo que os deuses do Olimpo, à moda antiga, se reuniram para decidir que destino, punição ou graça dar àquele mortal. Não consta que falar muito predisponha ao câncer, ainda que seja a linguagem do proselitismo, do convencimento, da manipulação, cada um chame como quiser. Tentar encontrar um nexo que seria, sei lá, de ordem espiritual entre a vocação do prosélito e um tumor no órgão da fala está no terreno da bruxaria, da feitiçaria, da… bobagem. Não deixa de ser uma forma de mitificação da personagem. Em Lula, nada seria gratuito; tudo seria, de algum modo, motivado; tudo quereria sempre dizer alguma coisa; tudo traria o peso de um simbolismo. Ora, vão plantar batatas!

Recomendo, aliás, cuidado com a constante associação que se está fazendo entre o tumor na laringe e o tabaco e álcool. Ok, a informação tem de ser transmitida, sim. É uma questão que interessa ao público. Mas há algo que vai um tantinho além do terreno da medicina nessa história e que tem de ser considerado. E já não falo mais sobre Lula apenas.

Direito a uma história
Reitero: acho correto que se informem as práticas de risco, que podem predispor algumas pessoas ao câncer. Mas esse debate, vamos dizer, comportamental não é assim tão simples. Longe de mim querer fazer poesia com “coisas que matam”, como diriam alguns. Mas eu realmente não sei se Lula teria sido quem é sem os seus gorós, as suas cigarrilhas, os aspectos, então, pouco saudáveis de sua existência.

Goste-se dele ou não — todos sabem o que penso sobre o político —, o fato é que ele tem uma história que lhe pertence. Cada existência é uma narrativa inteira. Eu sempre me incomodo um pouco quando se tenta escoimar uma vida de suas impurezas — de seus aspectos considerados incorretos —, como se a eternidade espreitasse os viventes não fossem as coisas erradas que fazemos.

Eu me incomodo, em suma, com certa suspeita que sempre paira de que o doente procurou a doença. Sim, que as pessoas sejam advertidas dos riscos etc. e tal, mas que não nos esqueçamos que o maior fator de risco ainda é a aleatoriedade. É ela que, de verdade, nos atormenta.

Ninguém escolhe ter tumor aqui, ali ou acolá. As pessoas todas tendem a escolher a felicidade. Mesmo aquelas um tanto desastradas, cumpre notar, não optaram pelo sofrimento. Eu não gosto muito desse dedo em riste, sabem? Eu tenho dificuldades com certa caridade intolerante.

Por Reinaldo Azevedo

Estava ouvindo rádio no carro. Domingão. Os políticos não estão dando sopa. O tema do dia é a doença de Lula. Alguém tem de falar alguma coisa. E a CBN não teve dúvida: encontrou um serzinho miserável que anda por aí, ator de terceira linha da Globo, papagaio de pirata profissional, que vive grudado nos países baixos da canalha que pede “controle da mídia” (especialmente o controle da Globo…), para opinar sobre o assunto.

Ele havia falado com Lula? Não! Ele nem conhece o ex-presidente. Havia falado com a família de Lula? Não! Ele também não é íntimo da turma. Ele é ao menos um militante qualificado da “organização”? Não! Costuma ser impiedosamente ridicularizado pelos petistas; é alvo permanente de chacota. Muitos deles dizem se ver tentados a lhe jogar algumas moedinhas quando esbarram nele em eventos para os quais não foi convidado. E qual é a sua notória especialização no caso? Nenhuma! Ele é papagaio de pirata até do câncer alheio!

É que a CBN, afinal, precisava ouvir alguém, pô!!! Serve até mesmo um sujeito que adoraria censurar a CBN.

O vadio afirmou na entrevista que eu teria fechado a área de comentários do meu blog para conter as críticas a Lula. Uma ova! Está aberta como sempre. O que fiz foi avisar que daria instruções para que não se publicassem comentários impróprios. Mais: repudiei as tentativas de politização da doença, de um lado (os que detestam Lula) ou de outro (os que o veneram). E, assim, repeti oprocedimento de 2009, quando Dilma ficou doente.

Agora até meliante que se finge de ator vai tentar tirar casquinha do meu blog? Se esses caras acreditassem nos próprios delírios, seriam apenas loucos. Como não acreditam e continuam a repetir as mentiras, não passam de canalhas.

Por Reinaldo Azevedo

Lula e o serviço público de saúde. Ou: Do que Gilberto Dimenstein deveria se envergonhar

Ai, ai!

No primeiro texto que escrevi sobre a doença de Lula, censurei uma coluneta de Gilberto Dimenstein em que ele afirma que o câncer do ex-presidente “vai servir de lição”. Foi mais longe: Infelizmente é desse jeito, com as pessoas sentindo-se próximas e vulneráveis diante de uma ameaça, que se consegue mudar atitudes” (cito no português original).Já disse o que pensosobre essa abordagem.

Parece que os lulistas radicais não gostaram do texto e resolveram pegar no pé do colunista. Aí ele fez o quê? Ora, resolveu atacar o “outro lado”, escrevendo um texto intitulado: “O câncer de Lula me envergonha”. E escreve:
Centenas de e-mails pediam que Lula não se tratasse num hospital de elite, mas no SUS para supostamente mostrar solidariedade com os mais pobres. É de uma tolice sem tamanho. O que provoca tanto ódio de uma minoria?”

Pronto! O mesmo jornalista que, horas antes, achou irônico que Lula tivesse um câncer justamente no órgão associado à fala (e daí?), agora decidiu “atacar a minoria” para mostrar que ele é um homem favorável “à maioria”. Já que o lulismo pegou no seu pé, ele decidiu lhe puxar o saco.

Não acho que Lula ou qualquer político estejam obrigados a se tratarem em hospitais públicos ou a manterem seus filhos em escolas do estado.Mas que se note: NÃO ACHO PORQUE UM POLÍTICO NÃO É RESPONSÁVEL, SOZINHO, PELA BAIXA QUALIDADE DESTE OU DAQUELE SERVIÇOS. ASSIM COMO NÃO É RESPONSÁVEL ÚNICO POR EVENTUAIS ASPECTOS POSITIVOS DO PAÍS, DA SUA ECONOMIA, DO SEU DESENVOLVIMENTO.

Lula e o petismo tentaram privatizar a história do Brasil. Mais do que isso: fizeram tabula rasa do passado para se colocarem como os fundadores de uma nova civilização, o que é absolutamente mentiroso, estúpido, fraudulento. EU REALMENTE NÃO ACHO QUE LULA ESTEJA OBRIGADO A SE TRATAR NUM HOSPITAL PÚBLICO, mas entendo que se faça a cobrança a quem declarou, e não faz tanto tempo, que “a saúde no Brasil está próxima da perfeição”. AS PESSOAS TÊM O DIREITO DE TER ESSA OPINIÃO.

Acho lamentável esse tipo de postura. Ao perceber que fez uma grande besteira, Dimenstein resolveu jogar os lulistas contra os críticos de Lula para poder se colocar como juiz, dizendo-se “envergonhado”. Tenha a santa paciência!

Reitero: eu não acho que Lula esteja moralmente obrigado a se tratar num hospital público, mas não há nada de ofensivo na sugestão. Rigorosamente nada!

O que deve nos envergonhar, isto sim, é o padrão da saúde pública no Brasil. Aliás, Dimenstein deve achar que a sugestão é ofensiva a Lula justamente porque esse serviço, no país, é um lixo; está, obviamente, “muito longe da perfeição.”

Dimenstein deveria é se envergonhar não da opinião dos leitores — ele não tem nada com isso. Deveria é se envergonhar dos dois textos que escreveu a respeito.

Vai ter de tentar o terceiro.

Por Reinaldo Azevedo


Eu espero, de verdade!, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recupere plenamente. E peço aos leitores que sejam comedidos ao relacionar críticas de natureza política ao estado de saúde do petista. Cortei alguns comentários que me pareceram além do aceitável, o que não quer dizer que eu concorde com muitos outros que foram publicados. A doença de Lula não pode cercear a liberdade de expressão, mas costumo apelar, em momentos assim, a uma palavra que me é muito cara: decoro. Não existe decoro sem ponderação.

Boa parte do que Lula representa, a meu juízo, tem de ser vencido se quisermos um país responsável, mas é o amadurecimento da sociedade brasileira que tem de lograr esse propósito. Que ele continue com saúde para que possa ser enfrentado por aquilo que pensa, diz e faz. Repito aqui, pois, a recomendação que fiz por ocasião da doença da então ministra Dilma Rousseff. Sim, foram os petistas a transformar o câncer da agora presidente em ativo eleitoral, o que apontei aqui. Marco Aurélio Garcia chegou a sugerir que aquilo poderia render votos. Talvez façam o mesmo com Lula, tão logo ele esteja bem, sendo apontado como a nova Fênix nos palanques de 2012. Hugo Chávez leva ao paroxismo a exploração vigarista de seu mal. Se os petistas repetirem a dose, cumpre denunciá-los, como denunciei a manipulação no caso Dilma. Mas nada disso deve levar os que não simpatizam com o petismo a cruzar a linha do bom senso e do bom gosto. Comportamento de petista não é um padrão que se deva usar para balizar o nosso próprio comportamento.

Já escrevi isso aqui e lembro ainda uma vez. Quando extraí dois tumores do crânio, em 2006, conheci de perto as piores baixezas — e, de certo modo, conheço ainda. Basta eu informar aqui que me ausentei por algum tempo ou que atrasei um pouco a postagem porque tinha ido ao médico, e lá vem a corrente dos sórdidos, fazendo sempre os piores votos: os delicados pedem a minha morte; os brutos não são tão generosos…

Nada disso, minhas caras, meus caros! Somos gente de outra natureza. Naquele 2006, uma pessoa que eu considerava amiga, mas com quem mantinha severas divergências, enviou-me, um dia antes da minha internação, um e-mail — que ela deve ter julgado muito terno e amigo —, em que misturava as nossas diferenças ideológicas com o meu estado de saúde. Eu sou cristão, fazer o quê? Confesso que já tentei renunciar à fé, mas não consegui. Consolar os aflitos é coisa que voa nas asas dos anjos. Fazer votos para que um doente “saia melhor” e “mais lúcido” do sofrimento cheira a enxofre. Nunca mais foi minha amiga, nunca mais mereceu nada além do meu desprezo e do meu asco.

Que Lula se recupere, sim! Para que possamos dizer a ele que está errado em muita coisa. Para que sirva de referência, saudável e lúcida — dada a lucidez possível de seu pensamento —, de uma porção de coisas que não queremos para o Brasil.

O câncer não é instrumento de vingança política, não é uma lição de vida, não é um livro didático! Ele só ensina que é preciso vencê-lo. Nada mais!

A educação pelo câncer
Enviam-me aqui um texto de Gilberto Dimenstein, um dos monopolistas da bondade de que a nossa imprensa anda cheia. O título de sua crônica é este:“Câncer de Lula vai servir de lição”. Santo Deus! Segundo o jornalista, “o país vai conhecer, como nunca conheceu, os efeitos no cigarro, apesar de tantas campanhas realizadas há tanto tempo.” Ele lembra que o tumor do ex-presidente apareceu “justamente na laringe, por onde passa a habilidade de Lula em convencer as pessoas em seus discursos.” Achou que era pouco e avançou na conclusão: “Infelizmente é desse jeito, com as pessoas sentindo-se próximas e vulneráveis diante de uma ameaça, que se consegue mudar atitudes.”

Dimenstein lembra aquele meu interlocutor, que passou a merecer o meu desprezo. O sentido de sua crônica horrível é este: “Viu? Quem  mandou fumar?” Não pára aí: “Justo na laringe, hein???” E encerra com um norte moral: O terror é didático.

É claro que já antevejo todas as pautas que vão pipocar sobre o câncer de laringe e sua relação com o cigarro. Dado o contexto, fazem sentido. Lula é personalidade pública. O que acontece a pessoas como ele tem sempre grande repercussão. Mas eu realmente repudio essa tentativa de se ver a doença pelas lentes de uma espécie de moral, ainda mais quando se conclui que o medo ilumina a razão.

Em síntese: Lula não está doente porque quer, não está doente porque merece, não está doente para ter uma lição de vida. Estará hoje nas minhas orações.Doenças não tornam a gente nem melhor nem pior. Elas só nos ensinam que é preciso vencê-las. O resto é mistificação de tolos que acreditam na didática ou na pedagogia do tumor. Por alguma razão, certo cretinismo pretende que um nódulo vai ensinar aos doentes o que não lhes ensinaram nem Deus nem a ciência.

Torço para que Lula saia incólume dessa. Força aí, meu Apedeuta!

Texto publicado originalmente às 19h48 deste sábado
Por Reinaldo Azevedo

De braços dados com os meus leitores - Só os que acreditam em bandidos a soldo se surpreenderam com o que escrevi sobre Lula. Este blog tem história, arquivo e memória!

Os leitores que conhecem este blog e que me lêem habitualmente não se surpreenderam com o que escrevi sobre a doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aqueles que caem no conto de vigaristas e que acreditam nas coisas que me são atribuídas —  não naquelas que eu efetivamente escrevo — se disseram surpresos. Estava na igreja quando recebi a notícia, via SMS. Dei instrução para que se publicasse a informação e se tomasse extremo cuidado com os comentários.

Tinha um compromisso familiar — o batismo do queridíssimo Thiago, de quem nos tornamos padrinhos —, e só voltei à minha casa no fim da tarde. Escrevi, então, o post acima e li os comentários do outro, excluindo muitos que me pareceram acima do tom. Fernando Oliveira, que nos ajuda (a mim e à Dona Reinalda) na mediação dos comentários, é competente e criterioso, mas se trata de uma operação sempre delicada, que envolve aspectos também subjetivos.

Antes que prossiga, uma observação importante. Ser “anti-Reinaldo Azevedo”, atacar-me, ainda que de modo estupidamente gratuito, rende grana. Os que o fazem, sem exceção, são patrocinados por dinheiro público — propaganda de governo ou de estatais. Virou uma profissão. Quem paga deve saber por quê. Quem recebe também. Não dou bola. Meu compromisso é com os meus leitores.

Ontem, em pleno sabadão, este blog recebeu 90.121 visitas. Agredir-me é uma forma de tentar existir na rede — sem contar que se trata, como é verificável, de uma profissão, de um meio de vida. É um troço moralmente miserável, mas, às vezes, o sujeito não tem outra opção na carreira; é o que resta a ex-jornalistas convertidos em esbirros do oficialismo. Sugiro, a propósito, aos admiradores dessa página que ignorem os valentes. Não entrem nessas páginas suspeitas para bater boca como comentaristas. Estão em busca de visibilidade.

Surpresa por quê?
Sou menos vaidoso do que muitos supõem ou acusam, mas tenho alguns orgulhos. Um deles é pensar com coerência e não mudar de acordo com o vento. No dia 25 de abril de 2009, quando a então ministra Dilma Rousseff fez o anúncio de sua doença, escrevi o texto “A atitude digna de Dilma”. Lá está com todas as letras:
“(…) doença não é categoria de pensamento. Doença não serve para distinguir pessoas, nem para o mal nem para o bem. No meu mundo, homens e mulheres são mesmo imperfeitos, têm problemas - inclusive os de saúde. Mas não se conformam com eles. Os males que temos, no corpo e na alma, têm de ser combatidos.
Espero, sinceramente, que a ministra vença a sua doença. E aproveito para dar a diretriz do blog neste caso. Será considerado um inimigo desta página aquele que ousar fazer o que faz a escória que combato: usar essa questão para atingir politicamente a pré-candidata do PT. A Dilma que combato é a que lidera a farsa política do PAC. A Dilma que luta, como todos nós, contra os seus males merece o meu aplauso.”

Faço, quando é pertinente fazer, a devida distinção entre “a pessoa” e “o político”. É claro que muita gente tenta embarcar nessa diferença para chamar “questão pessoal” o que é mera apropriação do dinheiro público. Eu escolhi a civilização.

No dia 26 de abril de 2009, num texto intitulado “A doença sem metáforas”, apontava o trabalho de “gente que vem lá do submundo do subjornalismo para tentar borrar a área de comentários, fazendo um esforço para caracterizar os leitores desta página como brucutus que não sabem a diferença entre dramas privados e questões públicas.” Acrescentei: “E agem assim precisamente porque eles não distinguem uma coisa de outra. É preciso que arrastem para a lama aqueles que consideram adversários para justificar seu próprio vício de se espojar no lodo.” Nesse texto, eu já apontava o risco de que os petistas fizessem uma exploração eleitoreira do evento a partir de uma fala da própria Dilma na entrevista coletiva: Aliás, nós, brasileiros, temos esse hábito de sermos capazes de enfrentar obstáculos, de transpô-los e de sair inteiros do lado de lá.”

Muito bem! No dia seguinte, 27 de abril de 2009, Fernando Haddad, ministro da Educação, caia de boca no câncer eleitoreiro. Para a minha estupefação, afirmou:“Imagino que [o câncer] possa até fortalecer [a ministra] pela sua própria trajetória, pelos desafios que ela já venceu. Pode fortalecer a identidade da ministra no projeto que se confunde com a superação das dificuldades do próprio país”. Entenderam? Haddad via a doença como um ativo eleitoral e como uma metáfora. E não estava sozinho.

A reflexão mais grotesca, e não há surpresa nisto, foi feita por Marco Aurélio Garcia sobre a qual escrevi no dia 28 de abril de 2009, presenteando-o com um texto intitulado “A voz do tártaro: dirigente do PT reflete sobre os benefícios eleitorais do câncer”. Dizendo ter conversado com um filho médico, afirmou o bruto:
“Do ponto de vista médico, ela tira isso aí de letra. Do ponto de vista político, ele disse que isso vai reforçar a candidatura dela.
 Eu, que já enfrentei situações parecidas, não tenho a mínima dúvida de que nossa ministra Dilma já se saiu bem desta, inclusive a coragem com que enfrentou, a franqueza.Ou seja, isso deve ter impactado muito bem na opinião pública do País”.

No dia seguinte, 29 de abril de 2009, escrevi então o artigo“Câncer no palanque: um ‘case’ de Comunicação. E notava:
“Faltavam a Dilma qualidades de, digamos assim, ‘mãe dos pobres’ - assim como Lula é o pai. Ela era tão-somente a mãe do PAC, algo muito impessoal, frio, que não vinha rendendo os necessários dividendos eleitorais. Ninguém inventou uma doença para Dilma - isso é uma bobagem. A invenção é outra. Trata-se de uma personagem: UMA MULHER DOENTE, CURADA PELA CORAGEM. Essa é a peça publicitária, sobre a qual os próprios petistas falam com destemor; mais do que isso: tratam do assunto com uma falta de vergonha que é muito característica.”

Vergonha na cara
Não! Eu jamais faria, ou permitira que se fizesse, baixa exploração política de um tema como esse. Como digo no texto lá do alto, sobre Lula, eu acho detestável que se possa politizar o câncer, que a doença seja tratada como metáfora, como punição moral, como conseqüência de nosso eventual mau comportamento. E, como está fartamente demonstrado aqui, não assumi essa postura agora. Há mais de dois anos, com Dilma, atuei da mesma maneira. E a razão é simples: eu sei o que eu penso, e penso o que penso. Não emprego instrumentos que considero ilícito que meu adversário empregue. Do mesmo modo, não acho que ele só tem legitimidade se operar com os meus critérios. E nada disso me impede ser bastante duro com aquilo que repudio.

É bom provar o que se diz, não? O que vai acima desmonta duas farsas: 1) a dos vigaristas do subjornalismo, que pretendem me atribuir uma prática e um pensamento que não são meus para me caracterizar como truculento porque, assim, disfarçam a própria truculência a serviço do oficialismo, e 2) a dos petralhas; eles, sim, conforme o demonstrado, levaram o câncer para o palanque e para a rinha política.

“Mas e então, Reinaldo, como é que ficamos?” Ficamos como estávamos. Nego-me a considerar essa gente o meu norte moral e a reproduzir as suas práticas. A Internet está aí. Devo ter sido o primeiro jornalista, talvez no mundo, a considerar inaceitáveis as práticas daqueles que derrubaram o homicida Muamar Kadafi. Não precisei que Obama se dissesse chocado para, então, poder ancorar em alguma referência politicamente correta a minha própria indignação.

Não são meus adversários que ditam meu norte moral. E eles só são meus adversários porque acreditam em coisas em que não acredito, porque fazem coisas que eu não faço, porque querem um mundo que eu não quero.

Por Reinaldo Azevedo

Como eu trato Lula e como o blogueiro oficial de Lula já me tratou. Eis por que somos tão diferentes

Critiquei um ator de quinta, um palhaço dos petralhas, que afirmou na CBN que os leitores do meu blog estavam se dirigindo a Lula de maneira imprópria, o que teria me levado a fechar a área de comentários — uma mentira óbvia. Todos sabem que adotei, em relação à doença do ex-presidente, a mesmíssima postura que adotei em 2009, quando Dilma ficou doente. Mas e “eles”? E a rede petralha?

Em julho de 2007, um ano e quatro meses depois de eu ter passado pelas minhas cirurgias, num desses embates sobre descriminação da maconha, recebi de um sujeito chamado “Jorge Cordeiro” uma mensagem extremamente agressiva, que não poupava das vilanias nem mesmo a minha família. Na parte publicável de sua mensagem, que dizia respeito só a mim, lia-se isto:
“Talvez, se vc fumasse maconha, não teria tido as tais bolotinhas na cabeça, né dodói?”

É isso mesmo que vocês entenderam. O cara estava dizendo que só tive tumores no crânio porque não fumei maconha.

Aí dirá alguém: “Mas que importância tem esse cara, Reinaldo? Por que falar dele”. Pois é. Ele foi nomeado pouco tempo depois o BLOGUEIRO OFICIAL DE LULA. Passou a ser o chefão do “Blog do Planalto”. A voz de Lula na Internet achava que as pessoas tinham ou deixavam de ter tumores em razão de seu bom ou de seu mau comportamento. No caso, Cordeiro estava sugerindo que o bom comportamento era fumar maconha. Como eu não havia fumado, estaria arcando com as conseqüências.

O post original está aqui. Quando ele foi nomeado, escrevi outro . Reproduzo a resposta que lhe dei em julho de 2007 (em azul). Volto em seguida.

Vamos ver, Cordeiro, se, ao imolá-lo, ao menos diminuo os pecados do mundo. Cordeiro não deve ter bolotinhas na cabeça, o que me faz supor que ele fume maconha. Problema dele, não meu. Como ele a consegue? Bem, aí é problema da polícia, já que o tráfico continua a ser um crime. É um pedacinho do que essa gente pensa. Em uma ou duas linhas, todo o horror das suas utopias se revela. Observem que ele lida com a máxima de que o doente é culpado por sua doença. Por que me nasceram tumores na cabeça? Ora, porque não “relaxei e gozei” - ao menos não à moda deles.

Exceção feita à contaminação por transfusão, a Aids, por exemplo, é uma doença associada a comportamentos de risco. Nem assim, é claro, faz sentido dizer que a culpa é do próprio doente. Não era a doença que ele buscava, mas o prazer. Daí decorre que a arma eficaz para combater a sua expansão é conjugar a divulgação de métodos preventivos (o que o Brasil faz) com o apelo às escolhas morais (o que o Brasil não faz). Há comportamentos de risco também no que respeita a formações tumorais, claro. Mas é certo que ninguém fuma, consome gordura em excesso ou deixa de se alimentar com fibras em busca de um tumor.

O remelento, vejam só, não está nem mesmo me dizendo que, se eu tivesse tido, até os tumores, uma vida mais asséptica, mais comedida, mais regrada, a doença não teria me atingido. Nada disso. Ele deve acreditar nas virtudes relaxantes da maconha e em seus mistérios gozosos, que teriam me faltado - daí os tumores. Pior do que isso: a minha não adesão a um comportamento que ele considera bacana fez com que eu pensasse essas coisas que penso. E as bolotas me vieram como uma punição. Cuidado: não ser petralha ou maconheiro provoca câncer.

Voltei
Essa foi uma das milhares de agressões que recebi e recebo ainda. São os mesmos que, diante de um acidente aéreo que mata quase duas centenas de pessoas, fazem a mímica do estupro, imaginando que atraem com violência o corpo de terceiros contra o próprio pélvis, num prazer extraído sabe-se lá de que baixeza d’alma.

Nem assim, minhas caras, meus caros, vou liberar certos comentários. Não aceitarei que se pague na mesma moeda; não darei a eles o prazer perverso de supor que somos iguais. Pela simples, óbvia e boa razão de que não somos. O homem que Lula escolheu para cuidar do seu blog foi capaz de me escrever aquela enormidade. Essa é uma das razões por que não pertencemos à mesma categoria de humanos.

Eu continuarei a desejar sorte a Lula. Eu continuo a achar que isso nada tem a ver com punição ou sei lá o quê. Também não vejo ironia nenhuma do destino.Todos os dias, mundo afora, milhares de pessoas que nada fazem senão se ocupar da própria vida e da vida daqueles que amam são colhidas por infortúnios, sem que se possa inventar uma narrativa cheia de nexos causais ou simbolismos.

Os que sofrem merecem ser consolados, o que não quer dizer que precisemos concordar com seus atos. Não se trata de endurecer sem perder a ternura, como dizia aquele assassino, que isso, pra mim, é lema de remédio para a “paumolescência”, como dizia a turma do Casseta & Planeta. Trata-se apenas de escolher um padrão mínimo de civilidade e passar a operar a partir dele.

Se Lula quis levar  gente capaz de escrever aquele troço para dentro do Palácio, muito bem! No meu blog, exijo mais respeito do que o vigente no ambiente palaciano.

Texto publicado originalmente às 22h37 deste domingo
Por Reinaldo Azevedo

31/10/2011

 às 6:47

Um comentário que a filha de Mário Covas enviou ao blog. Ou: O que eles fazem, o que não devemos fazer

O subjornalismo canalha acusa agora os adversários do PT de fazer rigorosamente o que os esbirros do partido fizeram e fazem com aqueles que consideram seus adversários. Comigo não se criam porque:
a) não tenho receio dessa escória;
b) fico feliz a cada vez que falam mal de mim; por que alguém gostaria de ser elogiado por larápios e ladrões de dinheiro público? Por que alguém gostaria de ser aplaudido por gente que enche a pança com o dinheiro dos pobres?

No post acima, mostro como se comportou comigo o cara que se tornou blogueiro de Lula, a sua voz na Internet. Nem por isso mudarei a postura do blog. Seguirei no caminho que abracei.

Recebo de Renata Covas Lopes, filha do governador Mário Covas (SP), que morreu no dia 6 de março de 2001, o seguinte comentário:
Caríssimo, tem toda razão, sábias palavras: “Não aceitarei que se pague na mesma moeda; não darei a eles o prazer perverso de supor que somos iguais. Pela simples, óbvia e boa razão de que não somos.”
Dolorosos comentários sobre a doença de meu pai… Cheguei a ler que a doença devia tê-lo matado mais rápido. Mesmo assim não os tratarei da mesma maneira!
Meu pai já estava bem doente, e Zé Dirceu bradou: “Vamos bater neles nas urnas e nas ruas…E bateram na porta da Secretaria de Educação”. Mesmo assim, não farei o mesmo…

Voltei
Renata tem razão. Vejam este vídeo. O texto que vem a seguir fornece o contexto.

Não fosse pelo sotaque, daria para saber pelo caráter tratar-se de José Dirceu. Transcrevo a sua fala:

“E nós vamos dar a eles esta reposta: mais e mais mobilização, mais e mais greve, mais e mais movimento de rua, e vamos derrotar eles nas urnas também porque eles têm de apanhar nas ruas e nas urnas”.

O “chefe de quadrilha” (segundo a PGR) e deputado cassado por corrupção fez aquele discurso em 2000, durante uma assembléia de professores em greve. O sindicato era presidido por Bebel — sim, aquela da greve eleitoreira de 2010, que foi até multada pelo TSE e que preside o sindicato até hoje. É uma profissão boa. Não precisa sujar a unha de giz. Dias depois, em 1º de junho daquele ano, seguindo as ordens do chefão, os trogloditas agrediram covardemente o governador Mário Covas, agressão física mesmo, como vocês viram acima! Já bastante debilitado pelo câncer — morreu nove meses depois —, ele chegou a ter um ponto de sangramento no lábio e outro na cabeça.

É assim que eles fazem política: atropelando as leis nas ruas e nos palácios.

A escória que mama nas tetas públicas hoje em dia acha que palavras duras sobre a doença de Lula são uma espécie de ofensa à santidade. Já Mário Covas podia, meses antes de morrer, ser espancado em praça pública, sob a incitação de Dirceu.

O “chefe de quadrilha” já se manifestou sobre esse vídeo e tentou dizer que era só força de expressão, que “bater nas ruas” queria dizer uma vitoria eleitoral. Releiam a frase:
“E nós vamos dar a eles esta reposta: mais e mais mobilização, mais e mais greve, mais e mais movimento de rua, e vamos derrotar eles nas urnas também porque eles têm de apanhar nas ruas e nas urnas”.

Não! Sobre a derrota nas urnas, ela já havia falado. “Bater neles nas ruas” quer dizer “bater neles nas ruas”; quer dizer aquilo que os petistas fizeram com Covas.

Mas Renata tem razão; eu mesmo, se me permitem, tenho razão. Não se pode e não se deve pagar na mesma moeda. E assim deve ser NÃO para provar para eles que somos moralmente superiores. Para eles, não precisamos provar nada. Eles nem sequer saberiam apreciar um ato acima da linha de imoralidade.

Devemos proceder assim em homenagem à decência, à integridade do nosso caráter, à bonomia da nossa alma..

Por Reinaldo Azevedo

Dilma suspende por 30 dias repasses a ONGs. É o mínimo a fazer. E é muito pouco

A presidente Dilma Rousseff assinou um decreto que suspende por 30 dias os pagamentos a ONGs por serviços prestados por meio de convênios com órgãos federais. No período, será feita uma avaliação da execução dos convênios firmados até o dia 16 de setembro. Entre as irregularidades relacionadas pelo decreto, que terão de ser procuradas, informa o G1, estão “a omissão no dever de prestar contas; descumprimento injustificado do objeto de convênios, contratos de repasse ou termos de parceria; desvio de finalidade na aplicação dos recursos transferidos; dano ao erário público; prática de outros atos ilícitos na execução de convênios, contratos de repasse ou termos de parceria”.

Caso se constate alguma irregularidade, a entidade será informada, e a suspensão pode durar mais 60 dias aguardando a correção do problema. E se não acontecer? Informa o G1: “O ministro deverá instaurar tomada de contas especial (procedimento para apurar responsabilidades e cobrar o ressarcimento do prejuízo aos cofres públicos); registrar a irregularidade no Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse e informar à Controladoria-Geral da União (CGU) os dados das ONGs e dos convênios irregulares.” A ONG ficará impedida de celebrar novos convênios.

Volto a esse assunto das ONGs mais tarde. O decreto é uma medida mínima de moralização, tomada num momento em que as coisas parecem, e estão, fora do controle. Há aí uma questão de fundo que precisa ser revista, não contemplada no texto. Falarei mais a respeito.

Por Reinaldo Azevedo

A loucura particular de Dilma se acentua – “Governo vai assumir mais risco para ter trem-bala”

Por Marta Salomon e Renato Andrade, no Estadão:
Mais um atraso no cronograma e uma parcela maior de risco na conta do governo. Esse é o retrato atual do projeto do trem de alta velocidade que ligará São Paulo ao Rio de Janeiro. Na melhor das hipóteses, o trem começará a circular em 2017 e a um custo maior para os cofres públicos. A rodada de conversa com os candidatos a operar o negócio e oferecer a tecnologia do trem levou o governo a estudar assumir uma demanda mínima de passageiros. Se o número de usuários ficar abaixo do estimado, o governo compensará a operadora. Além disso, os candidatos querem um seguro contra eventuais atrasos na obra, adiantou ao Estado o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo. O leilão deverá ser realizado em julho. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Para quando ficou o lançamento do edital do trem-bala, que estava previsto para outubro?
Fizemos reuniões exaustivas e profundas com todos os interessados nessa primeira etapa, que escolherá o operador e a tecnologia. Provavelmente em duas semanas haverá um desenho do edital para a consulta pública. Hoje sabemos bem as limitações de cada grupo, quais são os pontos que incluem ou excluem A ou B. Fechamos as conversas com o pessoal da Alemanha, França, Espanha, Japão e os coreanos.

Os chineses apareceram?
Não sei se eles têm condições de entrar nessa primeira etapa, com transferência de tecnologia. O foco deles é mais na obra da construção das linhas.

Quais são os pontos que a ANTT vai levar ao Planalto?
Existe uma preocupação com o atraso nas obras. Estamos estudando quais são as alternativas.

O governo daria uma garantia?
É isso que estamos discutindo. Tecnicamente, se houver um atraso, eles têm que ter uma compensação. Tem que ter um tipo de seguro.

Quem bancará o projeto executivo?
O investimento é da estatal Etav. Ela é quem vai capitalizar os recursos porque a gente entende que o governo tem de ter o controle. O papel do operador nessa fase é especificar a infraestrutura necessária. O operador vai botar o trem e cotar uma estruturação financeira. Isso tem um custo e, se demorar a construção da infraestrutura, vai haver uma perda.

O seguro vai ter alguma relação com o início efetivo da operação? Se as obras atrasarem um ano o governo compensaria esse um ano sem faturamento?
Podemos compensar com um ano a mais de concessão ou pagar uma multa para a operadora. É isso que estamos estudando, quais são os instrumentos que podemos utilizar para minimizar essas questões.

Quanto custará o projeto executivo?
Por volta de R$ 600 milhões. É caro. É um investimento alto.

Como está o cronograma?
A idéia é colocar o edital em audiência pública ainda em novembro. Vamos fazer audiências em todos os municípios por onde passará o trem. Demos publicar a versão final do edital em janeiro.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

Só 9% da alta da arrecadação é usada para investimentos

Por Érica Fraga, na Folha:
ma fatia pequena do aumento expressivo da carga tributária ocorrido desde meados da década de 90 se traduziu em novos investimentos públicos no Brasil. De cada R$ 100 a mais em impostos arrecadados entre 1995 e 2010, apenas R$ 8,6 foram direcionados para elevar investimentos feitos pelo governo, como construção de escolas e hospitais, ampliação de portos e aeroportos e melhorias em estradas. A conta é do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. A elevação significativa da carga tributária nos últimos anos serviu principalmente para sustentar o aumento dos gastos correntes do governo, que incluem benefícios sociais e salários de funcionários públicos. “Nós aumentamos a carga tributária para gastar mais”, afirma Schwartsman.

Os investimentos da chamada administração direta (incluindo governos federal, estaduais e municipais) cresceram R$ 56,9 bilhões entre 1995 e 2010, descontada a inflação. Esse aumento equivale a 8,6% dos R$ 661,6 bilhões a mais arrecadados. “O governo está tomando muitos recursos sob a forma de impostos e retribuindo muito pouco em investimentos”, diz o economista Marcelo Moura, do Insper. Moura ressalta que, em 2010, quase metade das despesas do governo federal foi direcionada a gastos sociais (como os programas de transferências de renda e a previdência social). Outros 25% cobriram gastos com servidores públicos e 6,8% se converteram em investimentos.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

Ministério favorece prefeitos do PC do B

Por Daniel Bramatti, no Estdaão:
Mais de um terço das prefeituras comandadas pelo PC do B estão na lista das atuais beneficiadas por recursos do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, pasta que é controlada pelo partido desde 2003. Em termos proporcionais ao desempenho eleitoral, o partido é o líder disparado do ranking de convênios.

Dos 41 prefeitos que os comunistas elegeram nas últimas eleições, 15 (37%) recebem recursos do Segundo Tempo, programa destinado a jovens e crianças “em situação de risco social”. Empatados, PT e PPS têm a segunda maior taxa de prefeitos atendidos - apenas 7%.

Em números absolutos, o número de convênios conquistados pelo PC do B é igual ao assinado por prefeitos dos oposicionistas PSDB e DEM - 15 cada um. Isso foi alardeado pelo Ministério do Esporte como prova de que os recursos são distribuídos de acordo com critérios técnicos, e não políticos. Mas PSDB e DEM elegeram, respectivamente, 18 e 11 vezes mais prefeitos que os comunistas - o fato de não haver uma proporção próxima a essa na assinatura dos convênios é evidência estatística que de que o favorecimento partidário é o que predomina.

Critérios. Os dados ressaltam o alcance do “esporteduto” montado pelo PC do B, que, conforme revelou o Estado em uma série de reportagens, também alimenta com verbas federais uma rede de militantes instalada em organizações não governamentais e secretarias municipais e estaduais de Esportes por todo o País.

Os números também demonstram que o “aparelhamento” das verbas federais não sofrerá impacto apenas com o fim dos convênios com ONGs e sua substituição por prefeituras, medida anunciada pelo novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, logo depois de ser indicado para o cargo. Rebelo, assim como o antecessor, Orlando Silva, é um dos líderes nacionais do PC do B.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

PF indicia Rossi como “líder” de esquema

Por Fausto Macedo, no Estadão:
Relatório de 40 páginas da Polícia Federal descreve o modus operandi do ex-ministro Wagner Rossi (Agricultura), apontado como “líder da organização criminosa” que teria arquitetado fraude no Programa Anual de Educação Continuada (Paec) - capacitação de servidores - para desvio de R$ 2,72 milhões. A PF vai indiciá-lo criminalmente nesta semana, imputando a ele formação de quadrilha, peculato e fraude à Lei de Licitações.

Segundo o relatório, a investigação descobriu “verdadeira organização criminosa enraizada no seio do Ministério da Agricultura”. A PF sustenta que “os investigados, muitos travestidos de servidores públicos, atuavam no âmbito de uma estrutura complexa e bem definida, agindo com o firme propósito de desviar recursos da União”.

Rossi foi o quarto ministro do governo Dilma Rousseff a perder o cargo. Ele caiu em agosto, após denúncias de tráfico de influência, falsificação de documento público, falsidade ideológica, corrupção ativa e distribuição de propinas a funcionários que teriam participado do procedimento administrativo que ensejou a contratação da Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da PUC-SP.

Lobista. O relatório é subscrito pelo delegado Leo Garrido de Salles Meira. Além do ex-ministro, ele decidiu indiciar outros oito investigados, inclusive o ex-chefe de gabinete Milton Elias Ortolan. A PF confirmou denúncia da revista Veja, que revelou que o lobista Júlio César Fróes Fialho detinha poderes excepcionais na pasta, embora não tivesse vínculo formal com a pasta.

“Toda a trama inicia-se com a associação do lobista com a cúpula do Ministério da Agricultura”, assinala a PF. “O plano consistiria em direcionar a execução do programa de capacitação de servidores para determinada instituição de ensino, da qual seria exigida vultosa quantia.” A PF destaca que Rossi, Ortolan e Fróes “dando prosseguimento à trama delituosa, associaram-se a dois professores da PUC”.

Por Reinaldo Azevedo

Editorial do Estadão sobre invasão na USP: “A baderna a serviço do crime”

A Cidade Universitária voltou a ser palco de confrontos entre estudantes e a Polícia Militar (PM). Os incidentes ocorreram na noite de quinta-feira e começaram depois que os policiais militares detiveram três alunos que fumavam maconha no estacionamento do prédio de História e de Geografia. Quando os levavam para o 91.º DP, a fim de registrar a ocorrência, os policiais militares foram atacados por cerca de 200 estudantes.

Além de terem apedrejado seis viaturas policiais e ferido três soldados, os estudantes invadiram o prédio administrativo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde praticaram atos de vandalismo, e anunciaram que só sairão do local após a revogação do convênio que permite à PM garantir a segurança na Cidade Universitária. O convênio foi assinado após o primeiro caso de latrocínio no local, ocorrido em maio deste ano. A vítima foi um estudante de economia, assassinado ao reagir a uma tentativa de roubo. Entre janeiro e abril, os roubos na Cidade Universitária aumentaram 13 vezes e os atos de violência - tais como estupros e sequestros relâmpago - cresceram 300%.

Até então, a Cidade Universitária - situada ao lado de uma favela - dispunha apenas de uma Guarda Universitária, que não pode portar armas e que conta com 130 agentes de segurança patrimonial, divididos em dois turnos, para proteger dezenas de prédios e fiscalizar seus estacionamentos, além das 100 mil pessoas que circulam diariamente pelo câmpus. Mas, apesar da crescente violência, minorias radicais constituídas por servidores, alunos e professores resistiam e continuam resistindo à presença da PM no câmpus. Militantes de micropartidos de esquerda, eles associam a PM à “repressão”, alegam que a presença de policiais militares fere a autonomia universitária e classificam o câmpus como “território livre”.

Alegando que a Cidade Universitária estava se convertendo em terra de ninguém, o Comitê Gestor da USP - apoiado pela maioria da comunidade acadêmica - superou as resistências políticas, elaborou um plano emergencial de segurança para a Cidade Universitária, definiu um modelo de policiamento aprovado por entidades de professores, alunos e funcionários e, em junho, fechou um acordo com a PM para colocá-lo em execução. É esse convênio que os invasores do prédio administrativo da FFLCH querem revogar.

Para confirmar que se trata de movimento ideológico, eles apresentaram uma lista de reivindicações absurdas, impossíveis de serem atendidas, do ponto de vista jurídico. Além de aproveitar o incidente para fazer novas críticas ao reitor João Grandino Rodas e acusar a PM de agir como “o braço armado dos exploradores”, pedindo sua imediata retirada do câmpus, os invasores querem autonomia absoluta nos “espaços estudantis”. Reivindicam, ainda, a extinção de todos os processos administrativos e criminais contra estudantes, professores e funcionários. São centenas de sindicâncias e de ações judiciais instauradas pela reitoria para apurar desvios de conduta e punir quem depredou o patrimônio da USP e ameaçou a integridade física de colegas em assembleias, greves e piquetes. Em nota, o Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre) classificou a invasão da FFLCH e a oposição à presença da PM no câmpus como uma luta pelos “direitos civis”.

Na realidade, o que está em jogo no câmpus da USP não são as liberdades públicas nem os direitos fundamentais de estudantes, professores e funcionários. Quando invocam o princípio da autonomia universitária e pedem que a PM seja expulsa do câmpus, os baderneiros fazem o jogo dos assaltantes, assassinos, estupradores e traficantes de drogas. É evidente que, desde o início do convênio firmado com a reitoria, a presença de policiais militares na Cidade Universitária vem prejudicando os negócios dos fornecedores de drogas, reduzindo seus lucros. Além de se colocarem - consciente ou inconscientemente - a serviço do crime organizado, os invasores cometem outro erro. Eles confundem “território livre”, expressão usada na academia para designar a livre troca de ideias, com uma república independente - como se a USP existisse à margem do Estado e da sociedade que a sustentam.

O que ocorreu no embate com a PM e com a invasão da FFLCH não são atos de rebeldia intelectual - são apenas demonstrações de irresponsabilidade e de alienação ideológica.

Por Reinaldo Azevedo

Haddad fala sobre Enem como pré-candidato do PT e decide se comportar como juiz

Pr Natália Cancian, na Folha:
O ministro da Educação Fernando Haddad descartou ontem a possibilidade do cancelamento de todas as provas do Enem, como pede a Procuradoria no Ceará. “Eu não tenho notícia nenhuma de uma tese estapafúrdia como essa”, afirmou àFolha na tarde de ontem, durante um evento com pré-candidatos à prefeitura de São Paulo no Itaim Paulista, na zona leste da capital. A Justiça Federal no Ceará deu até amanhã para o Inep (órgão do MEC responsável pelo Enem) se manifestar sobre pedido do Ministério Público Federal, que quer a suspensão do exame nacional no país ou a anulação das questões vazadas em colégio de Fortaleza, Ceará.

Para Haddad, há apenas duas possibilidades em discussão: a anulação das 14 questões que foram apresentadas a alunos do colégio Christus e a reaplicação do exame para esses alunos. O MEC prefere a segunda por considerar que o problema se restringiu “a um grupo pequeno em universo de 4 milhões de candidatos”. “Reaplique-se a prova. Não há necessidade de anular as questões”, disse Haddad.
(…)


Por Reinaldo Azevedo

Um legítimo petista - Do escândalo da cueca a estrela em ascensão

Por Maria Lima, no Globo:
Mais um escândalo do PT, o primeiro “dinheiro na cueca” protagonizado pelo deputado José Nobre Guimarães (PT-CE) e seu ex-assessor parlamentar petista José Adalberto Vieira da Silva, aos poucos, também vai virando piada de salão. Como o mensaleiro João Paulo Cunha (PT-SP), que foi reabilitado e dirige hoje a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a principal comissão da Câmara, o suposto dono dos US$ 100 mil transportados na cueca de Adalberto, no auge do escândalo do mensalão, em junho de 2005, é uma estrela em ascensão e galga, a passos largos, postos de comando na Casa.

Guimarães é vice-líder do governo e despacha em reuniões no gabinete do líder Cândido Vaccarezza (PT-SP). O próximo passo é assumir a liderança do PT na Câmara em substituição a Paulo Teixeira (PT-SP), em fevereiro. Em seu segundo mandato de deputado federal, o irmão do ex-deputado José Genoino - como ainda é apontado por muitos no Congresso apesar de já ter estrela própria - não esconde o prestígio que adquiriu no comando de articula$ções para votação de matérias estratégicas para o governo.

Ele foi o relator da MP que instituiu o polêmico Regime de Contratação Diferenciada (RDC) para obras da Copa de 2014. E colaborou, entre outras matérias, com o projeto que definiu regras mais rígidas para crimes de lavagem de dinheiro, em parceria com o líder Vaccarezza, e que foi aprovado semana passada no plenário.

Quando o ex-presidente Lula e o PT viviam o auge das revelações diárias do mensalão, em 2005, o flagra do que ficou conhecido como o caso dos “dólares na cueca” foi mais um baque no governo. Foram denunciados pelo Ministério Público o então deputado estadual José Nobre Guimarães e o ex-auxiliar flagrado no aeroporto em São Paulo, no dia 8 de julho, com US$ 100 mil na cueca e mais R$ 209 mil numa mala.

Por Reinaldo Azevedo

Afilhados lideram cargos de confiança no Esporte

Por Fernando Mello e Natuza Nery, na Folha:
Alvo de suspeitas de desvios de verbas para beneficiar o caixa do PC do B, o Ministério do Esporte lidera o ranking das pastas que mais nomearam pessoas sem nenhum vínculo com o funcionalismo público para seus cargos de confiança. Um levantamento feito pela Folha mostra que, do total de cargos de confiança desse ministério, 66% são ocupados por funcionários de fora dos quadros públicos.  O número supera o teto estipulado para a contratações de trabalhadores não concursados para órgãos federais. De acordo com o decreto 5.497, de 2005, editado pelo ex-presidente Lula, a maior parte dos cargos de livre nomeação (conhecidos pela sigla DAS) nos escalões inferiores devem ser preenchidos por funcionários públicos.

Nos cargos de nível de gerencial, 75% têm de ficar nas mãos de servidores de carreira. No Esporte, porém, eles são apenas 32%.  Para postos de assessoria, a regra é que 50% devem ser de servidores concursados. No Esporte, são 37%. Na pasta sob o comando do PC do B foram nomeados ex-presidentes e militantes da UNE (União Nacional dos Estudantes), como Wadson Ribeiro e Ricardo Capelli. Também ganharam cargos candidatos derrotados em eleições para deputado, como Andrea Alfama (AL), ou membros da direção partidária, como Maria Ivonete, secretária de formação no DF. O “desvio” do Esporte só não é proibido pela fiscalização porque é compensado por outros ministérios. Pastas como a Fazenda ou o Itamaraty têm 91% dos seus cargos de confiança ocupados por funcionários de carreira.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

Interesses eleitorais do PC do B são obstáculo para “faxina” no Esporte

Por Leandro Colon, no Estadão:
A “faxina” exigida pela presidente Dilma Rousseff no Ministério do Esporte obriga o novo titular da pasta, Aldo Rebelo, a mexer num “paredão” de comunistas, boa parte composta por ex-dirigentes da União Nacional dos Estudantes (UNE), alocados em áreas estratégicas e suspeitos de desvio de recursos públicos. Aldo vive um dilema. Recebeu a ordem da presidente para mudar o comando da pasta, mas sabe que as trocas em meio a um escândalo de corrupção respingam nas pretensões eleitorais do PC do B em 2012.

A tropa do partido dentro do ministério não é técnica, mas política e com objetivos concretos na disputa municipal do ano que vem. São dirigentes regionais e nacionais da legenda, homens de comando do PC do B nos Estados, que agora temem a exposição pública. Temem ainda ser demitidos a partir de amanhã, quando Aldo Rebelo toma posse, numa “faxina” semelhante à que ocorreu no Ministério dos Transportes em julho.

Por enquanto, Aldo Rebelo só confirmou a saída do secretário executivo, Waldemar Souza, do PC do B do Rio - uma espécie de número dois da pasta. Há pelo menos mais sete pessoas que podem entrar na forca após a queda de Orlando Silva: Wadson Ribeiro, Ricardo Capelli, Ricardo Gomyde, Alcino Reis Rocha, Fábio Hansen, Vicente José de Lima Neto e Antonio Fernando Máximo.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

GRATO PELA PREFERÊNCIA

O blog recebeu ontem 129.859 visitas. Quando eu era criança, um tio meu tinha uma venda — como a gente chamava o comércio de secos & molhados na periferia pobre. Num dos azulejos, a frase: “Gratos pela preferência”. É que havia a “Venda de Cima”, na parte mais alta da rua… Os moradores da vila se dividiam, sem chances de conciliação: ou se era cliente da “Venda de Cima” ou “Venda de Baixo”. E fim de papo! Corinthians ou Palmeiras? Flamengo ou Vasco?

A Internet tem mais do que duas opções. São milhares de páginas e blogs políticos. Se tantos vêm aqui, deve haver algo que os atrai. Os que gostam têm a generosidade de sempre. Os que detestam… Bem, estes conseguem ser ainda mais assíduos porque o ódio é sempre mais fiel do que o amor, hehe…

Aqui não se compra nem se vende nada. As opiniões, com alguma freqüência, são incômodas. Pessoas amigas me enviam mensagens reservadas às vezes: “Vale a pena comprar essa briga? Isso só serve para que aquela ‘gente’ o ataque”. Pois é! Eu não dou a menor bola para “aquela gente”! Descobri que existe até um nicho de blogueiros cuja tarefa é me detestar. Pode haver dependência maior do que essa, coitados?

Os milhares de leitores querem clareza — ainda que possam discordar radicalmente do quem lêem. Ofereço cá os meus verbos secos e, eventualmente, o solo molhado de alguma esperança (xiii, ficou cafona esse negócio…). Nada além. Não é o recorde, não. Em outubro de 2010, ano eleitoral, houve dias com mais de 200 mil visitas: 235.788 em 20 de outubro, o topo.

Há milhares de páginas por aí, e vocês estão aqui. Até os petralhas quase me comovem em seu amor não-correspondido…

“Grato pela preferência!”

Por Reinaldo Azevedo

Pelo estatuto do PCdoB, cargos devem estar a serviço do partido, mas Aldo diz que será ministro de Estado

Por Adriana Vasconcelos e Maria Lina, no Globo:
O aparelhamento do Ministério do Esporte, com o qual o novo ministro Aldo Rebelo promete acabar, é amparado pelo estatuto do seu partido, o PCdoB. No artigo 59, o documento deixa claro que qualquer de seus filiados que esteja no exercício de cargos públicos deve estar “a serviço do projeto político partidário” definido pelo Comitê Central. Aldo, que na véspera dissera que não tem obrigação de manter pessoas do PCdoB na pasta , reafirmou nesta sexta-feira sua disposição: disse que é ministro do Estado, acima do partido. Caso lhe seja exigido pelos companheiros o cumprimento estrito do estatuto partidário, ele poderá ter problemas. O artigo 59 é claro: “A atuação dos(as) comunistas no exercício de cargos públicos, eletivos ou comissionados indicados pelo partido, ou em funções de confiança do Legislativo ou do Executivo, em todas as instâncias de governo de que o partido participe, constitui importante frente de trabalho e está a serviço do projeto político partidário, segundo norma própria do Comitê Central”.

Cargos para difundir orientações políticas
Os preceitos estatutários do PCdoB determinam ainda que os ocupantes desses cargos devem obedecer às normas do órgão público e também às do partido: “Nestes postos, os comunistas devem pautar a atividade de acordo com as normas e deliberações dos entes que integram, bem como das instâncias partidárias a que estejam subordinados, não podendo se sobrepor a elas”.

Mais à frente, na alínea “a” do mesmo artigo, o estatuto reforça que seus filiados em funções públicas defendam e difundam “a orientação política e as deliberações do partido”. O PCdoB está à frente do Ministério do Esporte há quase nove anos e teve que entregar a cabeça do ex-ministro Orlando Silva após denúncias de desvio de recursos públicos para o partido .

Aldo minimizou as exigências e recomendações do estatuto do PCdoB. Assegurou que, ao aceitar o convite da presidente Dilma Rousseff, assumiu o compromisso de defender os interesses do país acima de tudo:”Todos os partidos e mesmo empresas têm seus estatutos. Mas meu compromisso, como ministro do Estado brasileiro, tem de levar em conta, antes de mais nada, os interesses do país e de sua população”.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

“Chefe de quadrilha” e deputado cassado por corrupção defende Fernando Haddad

A última pessoa que defendeu a permanência de Orlando Silva no Ministério do Esporte foi o “chefe de quadrilha” (segundo a Procuradoria Geral da República) e deputado cassado por corrupção José Dirceu.

Pois bem.

Ele arrumou agora uma nova causa: a defesa de Fernando Haddad. Segundo o preclaro, “o MEC e o ministro não podem e nem devem ser responsabilizados por fraudes ou tentativas de fraude”.

Claro, tudo culpa dos cearenses!

A qualidade do advogado revela a justeza da causa.

Por Reinaldo Azevedo
Da coluna Riscos e Oportunidades, de Lauro Jardim:

Mais Dilma, menos Lula

Dilma e Lula: ministério com novas feições

Aviso aos navegantes: o título acima e o texto que se segue nada têm a ver com o recém-descoberto câncer de Lula. De acordo com as primeiras manifestações dos médicos, Lula tem todas as chances de continuar a influenciar (e muito) a vida brasileira.

Referem-se, sim, à uma outra previsão, feita durante a transição entre o antigo e o atual governo. Tantos eram os ministros herdados de Lula por Dilma Rousseff, que Antonio Palocci sintetizou com perfeição aos mais próximos a discussão sobre a influência do ex no futuro governo: “No primeiro ano, será um governo Lula-Dilma. No segundo, um governo Dilma-Lula. No terceiro, será Dilma-Dilma”.

Palocci queria, obviamente, enfatizar que, a medida que o tempo caminhasse, Dilma moldaria o governo mais e mais às suas feições. Muito antes dos três anos previstos por Palocci, o governo começou a ficar com a cara de Dilma. Os escândalos apressaram as coisas – Palocci, aliás, que o diga.

Sob Dilma, a costumeira reforma ministerial feita um ano depois da posse, uma espécie de freio de arrumação que os governantes brasileiros fazem para sacar aqueles que não renderam o esperado, será uma segunda reforma. A primeira já foi feita nos últimos cinco meses, aos trancos e barrancos.

Tem se falado em seis ministros novos. Na verdade, as mexidas foram sete. A conta de meia dúzia subtrai outro ministro que não deu certo: Luiz Sérgio, que (alguém aí se lembra?) ocupou opacamente o cargo que hoje é de Ideli Salvatti e hoje navega num ministério de segunda classe, o da Pesca, com a mesma competência que demonstrou nas Relações Institucionais.

Ter um ministério com a cara de Dilma é importante porque, afinal, quem foi eleito deve nomear seus assessores. Mas não é necessariamente garantia de melhora na administração.

Em alguns casos, sim. Gastão Vieira é um político sob qualquer aspecto que se olhe superior a Pedro Novais – e tem se esforçado, neste primeiro mês como ministro do Turismo em tentar ficar livre do jugo das nomeações da bancada do PMDB na Câmara. Celso Amorim tem tentado entender a Defesa e estreitar relações com os militares. Também tem sido pragmático ao falar pouco – ao contrário do boquirroto antecessor e do que fazia como chanceler.

Outras mexidas de Dilma no tabuleiro não mostraram qualquer resultado. Gleisi Hoffmann é na visão quase unânime de quem trabalha no Palácio do Planalto e dos políticos em geral, tímida demais para a Casa Civil. Ou, como disse, recentemente um senador da base governista numa conversa com um interlocutor:

- Os pezinhos da Gleisi não tocam no chão quando ela senta naquela cadeira de ministra, já reparou? É que a cadeira é grande demais para ela.

Amanhã, assume Aldo Rebelo, com a missão de espanar Ongs e malfeitos que teve um primeiro tempo com Agnelo Queiroz e um segundo tempo com Orlando Silva. Embora, Aldo tenha sudo uma imposição do PCdoB, será mais uma tentativa de Dilma e não alguém, como Orlando Silva, herdado do govenro anterior.

Quando fevereiro vier (mas pode ser antes, se necessário), está previsto a tal reforma ministrerial. Devem sair uns cinco ministros. Os ministros-candidatos, como Fernando Haddad; e os ministros-paisagem, como Ana de Hollanda.

No mesmo instante em que Aldo Rebelo assume, Lula inicia o seu tratamento quimioterápico. Mesmo sob tratamento, Lula continuará a operar politicamente. Mas é inegável que, para o bem ou para o mal, o governo Dilma-Dilma começará muito antes do terceiro ano previsto por Palocci na transição do ano passado.

Por Lauro Jardim
Da coluna Direto ao Ponto, de Augusto Nunes:

O padroeiro dos pecadores, o chefe dos mensaleiros e o doutor em absolvição de culpados querem uma toga de confiança

Despejado da Casa Civil que aviltou, expulso de uma Câmara dos Deputados que absolve até Jaqueline Roriz, duas vezes denunciado pela Procuradoria Geral da República por chefiar o bando envolvido na roubalheira do mensalão, José Dirceu aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal por formação de quadrilha e corrupção ativa. Se as instituições fossem mais musculosas, o atropelador  compulsivo de códigos legais, valores morais e normas éticas estaria usando a voz exclusivamente para explicar-se em delegacias e tribunais. Como a idade política do Brasil recuou para perto do tempo das cavernas, Dirceu dá palpite em tudo. Sente-se tão à vontade que, sempre mirando nos próprios interesses, deu de socorrer colegas de bandidagens fantasiado de defensor do Estado de Direito. Haja cinismo.

“Considero corretíssima a posição da presidenta Dilma e de seu governo de não fazer pré-julgamento, linchamento, e respeitar rigorosamente a presunção da inocência do ministro Orlando Silva e que o ônus da prova é de responsabilidade exclusiva do acusador”, voltou a torturar a língua portuguesa nesta terça-feira. “Se não nos mantivermos nessa linha, estaremos quebrando os princípios mais elementares de um Estado Democrático de Direito”. De costas para a perplexidade da plateia, o canastrão caprichou na pose de inocente e foi em frente: “Infelizmente, existe no país uma corrente muito grande, particularmente na mídia, que tem insistido nesse caminho do pré-julgamento, do linchamento… Eu sou uma vítima e exemplo claro disso”.  Haja estômago.

O Estado Democrático de Direito e José Dirceu não nasceram um para o outro, berra o prontuário do declarante. Um celebra a liberdade irrestrita de imprensa. Outro sonha com o “controle social da mídia”. Um se subordina ao império da lei. Outro sonha com a condenação à perpétua impunidade. O Estado de Direito estabelece a separação e a independência dos Poderes. O guerrilheiro de festim, no momento, manobra para instalar uma toga de confiança na vaga aberta no Supremo Tribunal Federal com a aposentadoria da ministra Ellen Gracie. Foi esse, por sinal, o tema da reunião que no fim de setembro juntou em Paris os companheiros José Dirceu, Márcio Thomaz Bastos e Lula.

O encontro da trindade nada santa teria sido secreto se Dirceu não fosse uma usina de ideias de jerico: 43 anos depois de ter inventado o congresso clandestino com esconderijo conhecido, nosso Steve Jobs de chanchada resolveu inventar a conversa sigilosa agendada em público. O primeiro espanto ocorreu em outubro de 1968, quando juntou num sítio em Ibiúna, com menos de 10 mil habitantes, os mais de 1.200 participantes do congresso a UNE. Foram todos parar na cadeia. O segundo assombro consumou-se no meio da tarde de 27 de setembro, quando o padroeiro dos pecadores, o chefe dos mensaleiros e o doutor em absolvição de culpados se reuniram num apartamento do Hotel Lutetia. A trinca só não foi parar nas primeiras páginas porque os jornalistas andam meio distraídos.

A quebra de sigilo ocorreu na noite de 22 de setembro, durante uma palestra de Dirceu no auditório da Força Sindical, em São Paulo. Ao sentir a vibração do celular, o artista interrompeu o monólogo, identificou no visor a origem da chamada, abriu um sorriso de notícia boa, comunicou à plateia que a coisa era urgente, levantou-se da mesa e desapareceu nas coxias. Reapareceu quatro minutos depois ainda mais risonho e, antes de retomar o palavrório, resolveu matar de inveja os espectadores:

─ É que eu estou acertando a agenda com o nosso Luiz Inácio Lula da Silva ─ gabou-se. ─ Ele está viajando, está indo para a Europa, e eu vou encontrar com ele.

Sem saber da inconfidência, Lula decolou na noite seguinte, fez uma escala nos Estados Unidos e, em 25 de setembro, instalou-se no cenário da conversa que deveria ser sigilosa. A ideia do encontro na França nasceu quando o Instituto de Estudos Políticos marcou para 27 de setembro a cerimônia de entrega do título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente. Como o julgamento do mensalão vem aí, os três acharam que deveriam tratar com urgência do preenchimento da vaga no STF. Ficou combinado que os ex-ministros viajariam para França ─ em datas diferentes e por distintos motivos, para não dar na vista. Horas antes da festa, iriam ao encontro do chefe no hotel onde ficaria quatro dias hospedado.

Em 16 de setembro, depois de avisar no escritório que precisava descansar, o jurista que advoga até quando dorme embarcou com a mulher, num avião de carreira, “para duas semanas de férias”. O casal ficou alojado no Hotel George Sand (modestíssimo, se comparado ao Lutetia, que cobra diárias de até R$ 12 mil). Dirceu, que só lida com processos como réu, disse aos amigos que decolaria rumo a Paris “por causa de alguns compromissos como advogado”. Negou-se a revelar os nomes dos clientes e do hotel em que dormiria. Também não esclareceu se voaria em avião de carreira ou em jatinho fretado. Só conta que voltou ao Brasil no dia 28, quando Lula seguiu para a Polônia.

Durante a festa de doutorado, os três fingiram que era o primeiro encontro em Paris. Esqueceram de combinar com um jornalista que, à tarde, viu Márcio e Dirceu chegando ao Lutetia com a discrição de um espião paraguaio. Durante a conversa, Dirceu procurou convencer os parceiros de que a melhor candidata à toga momentaneamente sem dona é Maria Elizabeth Rocha, ministra do Superior Tribunal Militar. Amiga do ministro José Antonio Dias Toffoli, ex-advogado do PT e ex-chefe da Advocacia Geral da União, Maria Elizabeth trabalhou entre 2003 e 2007 na subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil.

Antes de ser indicada por Lula para o STM, portanto, passou cinco anos subordinada a José Dirceu e, depois, a Dilma Rousseff. Estava na Casa Civil quando explodiu o escândalo do mensalão. Essa anotação no currículo coloca sob suspeição a eventual julgadora de um caso cujo desfecho pode tirar o sossego de Dilma e o sono de Dirceu. A trinca da reunião em Paris luta para impedir que se faça justiça. Se Ellen Gracie for substituída pela candidata preferida dos mensaleiros, os conspiradores trapalhões terão conseguido desmoralizar de vez o Supremo Tribunal Federal.

(por Augusto Nunes)


Roberto Romano fala sobre O que sei de Lula, livro de José Nêumanne

Em “O que sei de Lula”, José Nêumanne Pinto oferece um precioso mapa da vida política brasileira. O culto votado a Lula não brota do nada, ele foi instaurado por alguém. A mística do lulismo nasce da propaganda. Ele esconde, sob a popularidade, a ruína das instituições nacionais. A propaganda já foi estigmatizada pelos mestres da ética como o método de enganar os tolos para vencer eleições políticas. Ela não é só palavra enganosa, mas gestos corporais. Muitas vezes uma piscadela demagógica engana multidões com eficácia maior do que muitos discursos. 

Lula, mostra com clareza Nêumanne, é mestre na arte dos gestos, exímio nos truques da retórica. Certo caso verdadeiro, narrado em “O que sei de Lula” é eloqüente. Quando iniciou uma greve de fome contra o regime autoritário, Luis Inácio da Silva, depois de certo tempo, não mui to, sem mastigar alimentos, adquiriu umas balinhas de goma, consumidas sem que seus colegas de cela e de greve soubessem. Um companheiro escutou o ruído do papel que encobria as ditas balinhas e, seguindo o barulho, chegou a Luis Inácio. A greve de fome se desmoralizou. Por má consciência, ou má fé, pouco se divulgou do episódio entre os formadores os intelectuais que deveriam manter a fé pública e a ética acima de todos os personalismos. 

O caso trazido por Nêumanne indica o perfil dos políticos que, no reino lulista, ou dele herdeiros, não prezam a ortodoxia ética. Luis Inácio abusou de outros truques, como o de proclamar nada saber sobre as estrepolias dos amigos ou subordinados. O truque principal é fingir fazer uma coisa e realizar o contrário. No escândalo do mensalão ele pediu desculpas ao povo brasileiro pelos malfeitos de sua grei. Depois abraçou os atores do mensalão, patrocinando o retorno de Delúbio Soares. Assassinado o prefeito de Campinas, o Toninho do PT, ele prometeu que providências seriam tomadas para investigar o atentado. Os familiares ainda esperam. Saga idêntica vivem os próximos de Celso Daniel, morto sem que medidas eficazes fossem tomadas pelo poder federal, que tem à sua disposição a polícia, o aparato administrativo e jurídico. Todos esses fatos são narrados por Nêumanne. Quem ler o seu livro, entenderá o que se passa no Ministério do Esporte. Ali se finge indignação, mas se adora colocar verbas públicas em mãos particulares. 

Toda propaganda do nossos supostos esquerdistas tem a marca da balinha de goma:  é o faz de conta, o não levar a sério o sofrimento da cidadania. Eles exigem adesão irrestrita da sociedade. Outra técnica dos antigos imaculados é atacar a imprensa. Sempre que surge um escândalo, o culpado maior são os jornalistas que estariam preparando um golpe para arrancá-los do poder. Nesta tarefa demagógica, recebem auxílio dos militant es profissionais, os que lucram com Ongs ou cargos e operam a sangria dos cofres públicos em proveito pessoal ou partidário.  Foi tal gente que inventou o termo PIG, o Partido da Imprensa Golpista. O truque retórico, aqui, consiste em juntar duas figuras, a do golpe político, rematada mentira, à imagem do porco (pig, em inglês).  

O truque é tiro que sai pela culatra. Golpe, dá quem se apropria de riquezas que deveriam servir para as políticas públicas, não para enriquecer companheiros. Porca é a tarefa de roubar do povo aqueles recursos, algo indigno de seres humanos. Orwell, crítico do regime totalitário e corrupto dos camaradas que mandavam no partido, tem texto chamado a “Revolução dos Bichos”. Nele, os camaradas dirigentes são os porcos. Eis a linhagem dos que, hoje, sujam palácios e partidos na tarefa indecente de vender gato por lebre, ou seja, corrupção como libertarismo esquerdista. Qual a moralidade desta fábula? Basta ab rir os jornais de hoje, caro ouvinte, para saber. Ou ler com calma o livro de Nêumanne. Com muita calma...

por Roberto Romano, professor de Ética da Unicamp


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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo

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