Café: Com perda de qualidade, produtores podem não conseguir cumprir contratos de entrega futura nesta safra

Publicado em 28/06/2016 15:55

As chuvas que caíram sobre o cinturão produtivo de café do Brasil nos últimos meses impactaram bastante a qualidade da safra 2016/17 do Brasil, que até então era vista como uma das melhores nos últimos anos. Com as precipitações, os frutos caíram no chão e fermentaram ou entraram em estágio de maturação muito rápido e secaram nos cafezais.

Segundo o pesquisador, Celso Vegro, do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, essa queda na qualidade dos grãos pode fazer com que os cafeicultores não consigam cumprir seus negócios a futuro, tendo que recorrer ao mercado, gerando um rally para cumprir seus compromissos já firmados.

"Grande parte dos produtores brasileiros fazem venda futura de café para entrega depois da safra, de setembro em diante, principalmente CPR (Cédula de Produto Rural). Com essa queda de qualidade, eles já temem não conseguir cumprir com esses negócios", afirma Vegro. Os exportadores do café brasileiro são rigorosos com a qualidade do grão.

De acordo com o pesquisador do IEA, apenas 20% da safra brasileira foi colhida antes das chuvas, o que representa uma parcela muito pequena de produtores com cafés de boa qualidade. "Os cafeicultores que tem contrato para cumprir, provavelmente, vão encontrar dificuldades. Eles devem ficar atentos à oferta de lotes de cafés finos para se garantir na liquidação desses contratos", ressalta.

Vegro ainda explica que apesar da perda de qualidade em alguns lotes, a escassez do robusta pode fazer com que os preços do café arábica de menor qualidade esbocem reação. "As torrefadores devem recorrer ao arábica para ajudar na composição de seus blends".

Em entrevista recente ao Notícias Agrícolas, o presidente do Sindicato Rural de Boa Esperança (MG), Manoel Joaquim da Costa, afirmou que a previsão é de que a produção do cereja descascado recue mais de 50% na região Sul de Minas neste ano. "O grão seco é muito mais fácil de cair do pé e se torna café de varrição. Isso afeta bastante a qualidade da bebida", explica.

Além disso, "com essa situação, o produtor não consegue mais comercializar o grão como cereja descascado [que tem maior valor de mercado]", ressalta. Sem a possibilidade de colher o cereja, os cafeicultores perdem mais de R$ 100 por saca. Na última segunda-feira ( 27), Poços de Caldas (MG) teve a saca de 60 kg do tipo cotada a R$ 521,00.

Em nota, a FAEMG (Federação de Agricultura de Minas Geais) afirmou que, até o momento, as perdas na produção de café de Minas Gerais neste ano se limitam a qualidade, sem registro de danos quantitativos e ressalta que "as chuvas fora de hora derrubaram entre 30% a 40% dos grãos, comprometendo a qualidade da safra".

De acordo com o engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, José Braz Matiello, as regiões Sul de Minas Gerais e Mogiana foram as mais afetadas pelas condições climáticas adversas nesta temporada. O especialista alerta ainda que os produtores devem ficar atentos com problemas também na próxima safra. "Ocorreu bastante desfolha dos cafezais, abortamento de florada e paralisação de crescimento do ramo, especialmente por conta do frio", diz. Para ele, essa situação pode gerar prejuízos quantitativos significativos.

Levantamento da Safras & Mercado aponta que até o dia 21 de junho 41% da safra brasileira tinha sido colhida. Tomando como base a última estimativa da consultoria para a produção da safra 2016/17, de 56,4 milhões de sacas de 60 kg, foram colhidas 23,24 milhões de sacas.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projeta a safra do Brasil em 49,67 milhões de sacas, um aumento de 14,9% em relação ao ano passado. A produção do arábica é estimada em 40,27 milhões de sacas, enquanto que a de robusta, que tem queda prevista de 16% em relação à safra 2015/16, deve ter colheita de 9,4 milhões de sacas.

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Por:
Jhonatas Simião
Fonte:
Notícias Agrícolas

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