Bloomberg: China aumenta produção e estoques de milho para atender demanda interna

Publicado em 08/04/2014 16:15 e atualizado em 08/04/2014 18:32

Mesmo após colher quarto safras recordes consecutivas de milho e acumular o maior estoque desde 2002, a China continua incentivando o aumento da produção interna do cereal para atender a crescente demanda, de acordo com matéria publicada pela Bloomberg. 

O governo chinês continua comprando milho acima do preço de mercado e criando estoques que seriam suficientes para abastecer 28 países da União Europeia por um ano. Os estoques governamentais são estratégicos para a China, o país mais populoso do mundo, onde o uso de milho para alimentar gado, aves e suínos cresceu 44% nos últimos cinco anos, com o aumento do consumo de carne.           

“Nada se compara ao milho para dar estabilidade e um bom retorno financeiro”, afirma Zhang Fengyou, produtor que cultiva em uma área de 11 hectares em Baiwu, na província de Heilongjiang. Em 2009, a maior parte de sua terra era ocupada com soja. 

Produção interna em alta
Aumento da produção de milho na China frustrou as previsões de que o crescimento econômico e o aumento da demanda de carne faria o maior importador do grão a elevar os preços globais. Em vez disso, a autossuficiência chinesa aliviou a pressão da escalada do consumo mundial. 

Desde que os subsídios governamentais começaram em 2008, ano em que os preços de alimentos acompanhados pelas Nações Unidas alcançaram os maiores patamares da história, os produtores chineses aumentaram sua produção em 43%, colhendo um volume recorde de 217,7 milhões de toneladas em 2013, de acordo com o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).                

Antes do início das colheitas em setembro, os estoques chineses deverão alcançar os 72,2 milhões de toneladas, quase o dobro dos estoques dos Estados Unidos, de 37 milhões de toneladas, e quase o volume total de milho utilizado em um ano pela União Europeia, estimado em 73,5 milhões de toneladas. 

Governo paga mais 
O governo chinês pagou aos produtores de Heilongjiang o valor de 2,220 yuan (US$ 9,08 o bushel) pela tonelada de milho em 2013. Em 2008, o mesmo volume era comprador pelo governo por 1,480 yuan. 

O produtor Zhang Fengyou conta que ganhou 10,950 yuan (US$ 1.763,00) pelo hectare plantado em milho no ano passado, o dobro que ele consegue ganhar com a produção de soja. Zhang diz que guarda 30% de seu milho para criar 50 suínos.

“A China está colhendo muito mais milho do que esperava, então o governo compra o excesso, por isso as importações não estão sendo muito necessárias”, explica Li Qiang, presidente da empresa de pesquisas Shanghai JC Intelligence Co., que tem estudado o mercado agrícola chinês por 30 anos. Ele estima que o país irá continuar aumentando seus estoques de milho por pelo menos mais dois anos. 

Consumo de carne
Para se prevenir contra climas extremos, pragas e desastres naturais, o governo chinês determinou a produção de amplos estoques de grãos para sustentar seus rebanhos, que alimentam sua população em crescimento. A China terá 1,356 bilhões de habitantes este ano, ou seja, 19% da população mundial, de acordo com o Censo dos Estados Unidos. 

O aumento da renda per capita está estimulando uma maior demanda por proteína animal no país que duplicou sua economia em cinco anos e desbancou o Japão como a segunda maior economia em 2010. 

Em torno de 72% do milho da China será usado como ração animal este ano e o restante será usado para a produção de etanol, amidos e adoçantes. 

Suínos
A China já é o maior consumidor de carne suína no mundo, com um rebanho de 475,9 milhões de animais, ou seja, 6 em cada 10 suínos do mundo. A demanda interna por esta carne já aumentou 11% desde 2011, de acordo com o USDA. 

O país é o quarto maior consumidor de carne bovina, tem o terceiro maior rebanho de gado e é o segundo maior produtor de leite. Já no consumo de frango, os Estados Unidos ainda estão na frente da China. 

Proteção aos produtores
A Administração Estatal de Grãos, em 2009, informou que os estoques governamentais protegem os interesses de produtores e estabilizam os preços do mercado, que no ano passado caíram durante a crise financeira global.

No relatório de 2010, a agência informou que estava “construindo uma infraestrutura agrícola, aumentando a tecnologia, investimentos e promovendo o milho de alta qualidade e alta produtividade” ao aumentar o tamanho dos estoques. O relatório também informa que os estoques serão vendidos, eventualmente, com o preço de mercado. 

Estabilidade social 
“O governo chinês sempre viu a estabilidade do preços dos grãos como a base da estabilidade social no país, o que inclui o arroz, trigo e milho”, afirmou Feng Lichen, gerente geral da consultoria Yigu Information Ltd., baseada em Dalian.         

As políticas de formação de estoques para o arroz foram introduzidas pelo governo chinês em 2004 e para o trigo, em 2006. 

Com ajuda dos subsídios, a produção de milho aumentou no ano passado aumentou para um volume equivalente ao total importado pela China nos últimos seis anos. O USDA prevê a importação de 5 milhões de toneladas nos 12 meses que terminam em 31 de agosto, mas o volume comprador deve ser ainda maior, diante dos cancelamentos de cargos dos EUA, de acordo com Feng. 

Soja 
O cenário é diferente para a soja, que é vista pela China como menos estratégica que o arroz, trigo e o milho. As importações da oleaginosa, usada para a produção de ração, alimentos e óleo de cozinha já dobraram em seis anos, já que os processadores chineses se aproveitam dos preços baixos da soja do Brasil e dos Estados Unidos.

“A China não é tão eficiente na produção de soja quanto outros países”, afirmou Chen Xiwen, chefe do Grupo de Trabalho de Agricultura do Comitê Central do Partido Comunista. “É melhor aumentar nossas importações do que usar nossa terra para plantar soja, ao invés de investir em outra cultura com mais rendimentos”.     

As remunerações mais altas que o milho proporciona aos produtores estão possibilitando o aumento de investimentos em maquinário agrícola, fertilizantes e sementes de melhor qualidade, de acordo com Feng. A produção de milho na China teve avanços sem o uso de sementes geneticamente modificadas, como nos Estados Unidos.   

Informações: Bloomberg

Tradução: Fernanda Bellei

Mesmo com os esforços para o aumento de sua produção doméstica, a China formalizou hoje (8) a importação de milho do Brasil. Clique abaixo para ler a matéria sobre o acordo:  

Bloomberg: China aumenta produção e estoques de milho para atender demanda interna

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Notícias Agrícolas

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