Barreira burocrática limita acesso de compradores em leilão de milho da Conab

Publicado em 15/09/2016 07:17

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Por Gustavo Bonato

SÃO PAULO (Reuters) - O leilão de 50 mil toneladas de milho de estoques públicos agendado para quinta-feira em Mato Grosso poderá sofrer novamente com baixo interesse por alguns lotes devido a um detalhe burocrático que deixa de fora uma boa parcela de possíveis compradores, disseram corretores envolvidos diretamente no certame.

As regras do próximo leilão repetem uma cláusula que constou também nas duas últimas ofertas, dando acesso às compras apenas para empresas e produtores que tenham a criação de aves ou de suínos como atividade principal em seus registros fiscais.

Segundo empresas que intermediam a participação nos leilões, isso acaba barrando diversos compradores que estejam ligados à produção de aves e suínos, mas com uma descrição diversa em seu CNPJ. Isso é um dos fatores que impede a venda total dos lotes apesar de preços, em geral, mais baixos do que os do mercado.

"Toda a área de confinamento de bovinos ficou de fora. Ficou de fora a criação de peixes e o fabricante de ração destinada a aves e suínos. São segmentos que usam muito milho e ficaram de fora. Isso é um grande entrave", disse o proprietário da corretora Rural Norte, de Sinop (MT), Luiz Anacleto, que atua nos leilões da Conab operacionalizando a compra de milho para clientes.

Segundo ele, nos dois últimos leilões, de agosto, houve apenas 30 por cento de clientes participando na comparação com certames realizados no primeiro semestre, quando não havia essa restrição.

"Não conseguimos participar em nenhum leilão dessa série", disse um analista de uma grande corretora do Sul do país, referindo-se aos leilões de agosto. "Tivemos interesse apenas no primeiro leilão, depois ninguém quis participar."

Segundo o corretor, que pediu para não ser identificado, ele teria clientes com demanda para compras, mas que são produtores de grãos que têm atividade de criação de animais em seu cadastro secundário.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ofertou 50 mil toneladas de milho em um leilão em 9 de agosto, mas 68 por cento do volume não foi vendido. Em nova oferta em 23 de agosto, 52,4 por cento das 50 mil toneladas de milho ofertadas em Mato Grosso não tiveram interessados.

Os leilões têm sido realizados pelo governo em uma tentativa de arrefecer os preços do milho no mercado doméstico, que bateu recordes nos últimos meses, após exportações históricas e uma quebra de safra, elevando fortemente os custos dos setores consumidores, primordialmente os produtores de carnes e laticínios.

"O mercado está travado", disse o diretor da Centromix Assessoria em Comercialização de Grãos, Leandro Rodrigues, de Cuiabá (MT).

Segundo ele, produtores que têm milho em estoque estão pedindo valores muito acima do que compradores estão dispostos a pagar. Nos últimos dias, por exemplo, ele recebeu oferta de uma trading disposta a pagar 24,5 reais por saca por milho com embarque imediato. Vendedores no interior do Estado, por outro lado, aceitam fechar negócio apenas acima de 30 reais por saca.

CONAB

A Conab disse à Reuters que segue uma resolução do Conselho Interministerial de Estoques Públicos de Alimentos (Ciep) determinando que os estoques públicos sejam destinados ao atendimento de criadores de aves e suínos e utiliza a regra para garantir que o grão chegue efetivamente aos que exercem essa atividade.

"A intenção da Conab, ao exigir a atividade como principal, é impedir que setores diversos do indicado na resolução do Ciep adquiram o milho para depois comercializá-lo ao setor que realmente necessita", disse a agência estatal, indicando que quer evitar a ação de atravessadores.

Os corretores ouvidos pela Reuters disseram que um pedido para flexibilização da regra de cadastro foi encaminhado à Conab por meio dos canais de comunicação destinados aos agentes cadastrados na entidade.

A Conab respondeu que "até o momento não recebeu nenhum pedido de flexibilização da referida regra por parte do setor interessado".

PREÇOS MAIS BAIXOS

Em linhas gerais, o governo federal decidiu reduzir os preços do milho ofertado no leilão da quinta-feira, na comparação com os valores praticados no último pregão.

Na atual oferta, os valores iniciais para os negócios giram entre 21,15 reais e 25,92 reais por saca.

No leilão de 23 de agosto, o valor mais baixo de abertura dos negócios ficou em 24,45 reais por saca.

Dentre os lotes que tiveram baixíssimo interesse no leilão do final de agosto, destacou-se milho da safra 2012/13 armazenado em Ipiranga do Norte (MT). Na atual oferta, a Conab ofereceu desconto de 13,5 por cento nos valores do produto.

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Fonte:
Reuters

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