Lula reconhece que governo errou na política de preços

Publicado em 01/04/2015 07:57
Após críticas da CUT, petista defende ajuste fiscal e afirma que Dilma precisava 'dar uma parada' nos gastos.. (na Folha de S. Paulo)

Lula reconhece que governo errou na política de preços

Em ato em defesa da Petrobras, ex-presidente diz haver uma conjuntura 'altamente desfavorável' no momento

 

Em resposta às críticas das centrais sindicais à condução da economia sob a gestão do ministro Joaquim Levy (Fazenda), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu nesta terça (31) que o governo petista cometeu "equívocos" na política de preços.

Ao discursar para uma plateia de representantes de movimento sociais em São Paulo, ele afirmou que o governo federal não reajustou antes o preço da gasolina por temer a pressão sobre a inflação.

Ainda segundo ele, ao ter reduzido a conta de luz em 2013, a presidente Dilma Rousseff não esperava que o país enfrentasse uma estiagem de chuva que impactasse o fornecimento de energia.

"Nós, e é importante eu também assumir e cada um de nós assumir, cometemos equívocos. Por que não se aumentou a gasolina desde 2012? Porque não queria que a inflação subisse", explicou.

Para os partidos de oposição, a demora no reajuste da gasolina afetou a Petrobras.

O petista observou que atualmente há uma "conjuntura altamente desfavorável" no país e que há fatores econômicos que não dependem apenas da presidente.

"Nós temos de ter certeza de que esse aumento da energia foi necessário por conta dessa situação. Não tenho dúvida de que, quando as coisas melhorarem, a presidente vai reajustar outra vez [o preço] favorável ao povo brasileiro", justificou.

Na avaliação do ex-presidente, o ajuste fiscal implementado pelo ministro da Fazenda é necessário. Segundo ele, no cenário econômico atual, a presidente precisava "dar uma parada" nos gastos.

"Fiz um ajuste mais forte do que esse em 2003. Fiz um ajuste necessário", lembrou.

O tom adotado pelo petista foi uma reação a discurso, feito anteriormente, pelo presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas. Segundo ele, o ajuste fiscal do governo não "vai levar o Brasil à frente".

"Há insatisfação na classe trabalhadora. Não vamos aceitar que o aumento da conta de luz e o 'tarifaço' recaiam na nossa conta", reclamou Freitas, acrescentando que, sem mudança na política econômica, o trabalhador ficará "bravo" e não defenderá o governo federal.

Os discursos foram feitos em ato em defesa da democracia e da Petrobras, alvo da Operação Lava Jato. O ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli participou e ganhou elogios públicos de Lula.

"Tenho orgulho de ter sido o presidente que te indicou tesoureiro e presidente da Petrobras", afirmou o petista dirigindo-se a Gabrielli, que é citado numa ação movida nos Estados Unidos.

"Quero saber se alguém terá coragem de dizer que esse moço aqui ou que o José Eduardo Dutra, que também foi presidente, está envolvido com corrupção", desafiou.

DELAÇÕES

O petista criticou ainda a credibilidade que se dá aos beneficiados no estatuto da delação premiada. Segundo ele, estão transformado "bandido" em "herói".

Ele disse ainda que Dilma é vítima de "uma luta de classe de cima para baixo"."Não temos problema com o andar de cima. Não queremos perturbar os do andar de cima, mas não perturbem a gente."

 

'Fracasso da Dilma é o meu fracasso', diz petista

DE SÃO PAULO

O ex-presidente Lula criticou na segunda (30) a atuação da presidente Dilma Rousseff frente à crise política enfrentada pelo governo.

Em encontro a portas fechadas com dirigentes petistas, na capital paulista, o ex-presidente comparou o momento atual com 2005, ano do escândalo do mensalão.

Segundo relatos de participantes, Lula afirmou que Dilma precisa reagir ao cenário de dificuldades e lembrou que ele, em resposta à crise do mensalão, não ficou "trancado no gabinete".

No início de seu discurso, o petista fez questão de frisar que nada abalará a sua relação com a presidente.

"O sucesso da Dilma é o meu sucesso. O fracasso da Dilma é o meu fracasso", afirmou, segundo presentes.

Na sequência, no entanto, lamentou que a presidente não invista em uma "pauta positiva" com inaugurações de obras e viagens pelo país, como ele fez em 2005.

Para exemplificar a necessidade de o governo federal reagir e não se intimidar diante da crise atual, Lula arrancou gargalhadas ao contar que, na época do mensalão, todo dia se olhava no espelho e dizia: "Eu sou o cara mais bonito que existe".

Em outro paralelo com 2005, lembrou que, mesmo sob críticas, recebeu líderes de movimentos sociais e sindicais, o que também sugeriu agora para a presidente.

Ainda segundo petistas, Lula criticou a política de comunicação do governo e reclamou que sugestões suas não foram levadas em conta pelo ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e pelo marqueteiro João Santana na elaboração do pronunciamento feito pela presidente no Dia da Mulher, em 8 de março.

A veiculação do discurso da presidente em cadeia nacional pela televisão foi recebida com vaias e panelaços em pelo menos 12 capitais.

"Não sei quem foi o infeliz que convenceu ela a falar", disse o ex-presidente.

O encontro teve a presença de representantes dos diretórios estaduais. Lula conclamou os dirigentes a "ir à luta" para diminuir os danos à imagem do PT.

 

VINICIUS TORRES FREIRE

A horrorosa conta de juros

Despesa de juros e a da dívida pública dão saltos de país quebrado; alta do dólar piora balanço do governo

O GASTO com os juros da dívida do governo federal zanzou em torno de 5,2% do PIB entre 2009 e 2013. A despesa pulou para 6,1% do PIB no final de 2014, quando então o setor público, todos os governos, gastou mais de R$ 311 bilhões com juros, 12 vezes a despesa com o Bolsa Família. Em fevereiro, a conta de juros deu um salto com vara, para 6,7% do PIB "velho" (no valor do PIB "novo", uns 6,2%).

Desde o trimestre final de 2014, o grosso dos aumentos da conta de juros se deve a perdas do Banco Central com as intervenções no mercado de câmbio. De dezembro para fevereiro, uns 60% do aumento da despesa pública com juros deveu-se a perdas com "swaps" cambiais, provocadas pela alta do dólar.

Trocando em miúdos grossos, um "swap" cambial é um contrato financeiro entre o BC e "investidores". Nesse contrato, o BC compromete-se a pagar, no futuro, a variação do dólar mais uma taxa de juros internacional; em troca ("swap" significa troca), recebe o rendimento da taxa básica de juros no mercado doméstico. Na prática, o investidor fez uma operação que o protege da variação do dólar (como se comprasse dólares). Em caso de alta duradoura do dólar, o BC perde.

O BC voltou a intervir no câmbio por meio de "swaps" em 2013, quando a finança mundial andava tumultuada devido a especulações sobre o início da alta de juros nos EUA, o que chutou o preço do dólar para cima. Um objetivo da intervenção é evitar variações violentas do preço da moeda americana (como para atenuar surtos de escassez de dólares, digamos). Por meio dos "swaps", o BC oferece também um seguro contra desvalorizações do real: se rápidas demais, podem arrebentar empresas e instituições financeiras, entre outros problemas.

Como qualquer seguro, o "swap" tem custo. Em última instância, também é uma socialização de riscos, a qual, no entanto, em tese proporciona benefícios gerais por atenuar instabilidades financeiras. Enfim, o swap reduz o custo de manter as reservas internacionais.

A conta de juros não aumenta, claro, apenas devido a perdas com "swaps". Aumenta porque a dívida pública federal cresce rápido. A dívida cresce porque o governo não consegue nem pagar suas despesas primárias (aquelas que não incluem o gasto com juros). As taxas de juros exigidas do governo aumentam por causa da própria alta da dívida, por causa da inflação e, enfim, por causa do descrédito do governo, devido à política econômica de Dilma 1. Como de resto a economia, o PIB, parou de crescer, a conta de juros e a dívida ficam ainda maiores como proporção do PIB.

Mas faz uns seis meses que os "swaps" têm feito "estrago" maior, devido à alta do dólar (mas note-se que, no caso ora improvável de alta do real, o "estrago" é revertido). "Estrago" entre aspas porque o assunto é controverso até na aritmética. O BC defende o saldo geral positivo dos "swaps" com unhas e dentes.

No entanto, as perdas com "swaps" aumentam a despesa com juros e, pois, a dívida bruta. Tanto que o programa é objeto de críticas mais ou menos veladas do Ministério da Fazenda, que se bate desesperadamente para reduzir o deficit e evitar o crescimento da dívida bruta (como nada da conta de juros foi pago em 2014, a dívida obviamente cresceu ainda mais).

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Só dólar e ouro batem inflação no trimestre

Alta da moeda, de 21%, é a maior desde o fim do câmbio fixo, em 1999; fundos que seguem divisa lideram aplicações

Caderneta de poupança tem ganho de 1,75%, enquanto o IPCA, apenas no primeiro bimestre, foi de 2,48%

DANIELLE BRANTTONI SCIARRETTADE SÃO PAULO

O ouro e os fundos cambiais lideraram o ranking de aplicações da Folha no primeiro trimestre, período em que poucos investimentos financeiros conseguiram superar a inflação no país.

O trimestre foi marcado pela escalada da moeda americana devido à instabilidade política --Operação Lava Jato, embates no Congresso, manifestações contra a presidente Dilma Rousseff, entre outros-- e por dúvidas sobre quando os EUA voltarão a subir os juros, movimento que tende a retirar dinheiro de países como o Brasil.

O dólar subiu 21% nos três primeiros meses de 2015. Foi a maior variação da moeda norte-americana vista em um primeiro trimestre desde 1999, após o fim do regime de câmbio fixo no Brasil.

RENDA FIXA

Apesar de os juros do governo (Selic) terem atingido 12,75% ao ano em março, maior patamar desde março de 2009, os fundos DI e os de renda fixa, que se beneficiam das taxas elevadas, perderam para a inflação.

No trimestre, os fundos de rende fixa tiveram valorização de 2,47%, enquanto os fundos DI tiveram ganho de 2,23% no período.

Em 12 meses, as altas foram de 9,93% e 9,41%, respectivamente. O levantamento considera o desempenho no período e desconta IR.

O IPCA (índice oficial de inflação do governo) chegou a 2,48% apenas de janeiro até fevereiro (dado mais recente). Para março, a projeção do mercado é de alta de 1,4%. Nos últimos 12 meses (até fevereiro), o IPCA já soma 7,7%.

A poupança teve valorização de apenas 1,75%. Em 12 meses, o ganho da caderneta somou 7,12%.

OURO E DÓLAR

No lado oposto, o ouro teve uma valorização de 21,1% no trimestre e de 30,64% em 12 meses. Os motivos foram a alta do dólar e instabilidades geopolíticas no Oriente Médio e na Ucrânia, mas principalmente as compras da commodity feitas no ano passado pelos bancos centrais.

Os fundos cambiais, que também seguem a moeda americana, subiram 17% no trimestre e 30,64% em 12 meses. O produto, que costuma ter custos elevados de taxa de administração, é uma alternativa para diversificação de investimentos e de proteção para pessoas com despesas em dólar. Quando adere ao dólar, o investidor abre mão do juro alto no Brasil.

A pior aplicação foi em fundos de ações livres, alternativa para o pequeno investidor que deseja aplicar em Bolsa. O ganho foi de 1,43% no trimestre e de 6,49% em 12 meses, já descontado o IR. A Bolsa acumulou alta de 2,3% no Ibovespa no trimestre, enquanto em 12 meses o avanço é de 1,46%.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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