No ESTADÃO: Falta de crédito preocupa agricultores. BB não libera pré-custeio

Publicado em 04/04/2015 08:15
Na edição deste sábado de O ESTADO DE S. PAULO

Banco do Brasil não liberou recursos de pré-custeio e alta do dólar pressiona custo

Produtores e entidades agrícolas do Centro-Oeste reclamam de dificuldades para a obtenção de crédito para o plantio da próxima safra. A oferta do chamado crédito pré-custeio, tradicionalmente utilizado para a compra antecipada de insumos em meados de fevereiro e março, está paralisada. Na contrapartida, o custo da produção, puxado pela alta do dólar, deve subir cerca de 14%, exigindo R$ 11 bilhões a mais do que na safra passada.

"As operações de pré-custeio, que normalmente já estariam sendo liberadas durante a colheita, para o planejamento da próxima safra e compra adiantada de insumos a preços melhores, não rodaram em Mato Grosso", diz Ricardo Tomczyk, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja). "Não temos notícia de nenhuma operação que tenha sido contratada."

Segundo ele, a resposta do Banco do Brasil, o principal financiador, aos produtores é de que não há recursos disponíveis. "Temos alguma sobra de insumos nas revendas de estoque do ano passado que ainda estão com o dólar antigo. Então, o produtor queria muito ter acesso ao pré-custeio agora para poder comprar esses insumos a um preço bem inferior aos que serão ofertados daqui a alguns dias", diz.

A escalada do dólar neste ano, apesar de compensar a queda do preço das commodities e segurar a rentabilidade ao produtor, deve encarecer de modo significativo os insumos para a safra 2015/16. A consultoria Agroconsult projeta alta de quase 14% no custo de produção. Os fertilizantes, por exemplo, devem ter alta de 29% no preço.

Corte. A paralisação na oferta de crédito antes da divulgação do novo Plano Safra, prevista para maio, se agrava no Estado de Goiás, que deve produzir R$ 4,7 milhões de toneladas a menos do que no ano passado. "A situação do Estado está crítica, pois enfrentamos o nosso segundo ano seguido de estiagem", diz Benjamin de Sousa Junior, diretor da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas (Andav) de Goiás. "Em reunião com o Banco do Brasil na semana passada, a resposta que tivemos foi de que não há autorização para o recebimento de propostas", diz. Segundo ele, há algumas linhas disponíveis no banco, mas a taxas inviáveis, como 16% ao ano.

"No ano passado, conseguimos o pré-custeio tranquilamente, sempre fomos muito bem atendidos, mas esse ano nada foi liberado para a compra de fertilizantes", diz o engenheiro agrônomo Leonardo Titoto, de 36 anos, que administra as lavouras de soja de seu pai Paulo Roberto Titoto, em Bom Jesus de Goiás, sul do Estado.

Apesar da produtividade média histórica da propriedade ser de 52 sacas por hectare, a seca ceifou a produtividade e rendeu nos últimos dois anos 38 e 43 sacas, respectivamente.

Na quarta-feira, o Banco do Brasil anunciou que disponibilizaria R$ 7 bilhões para capitalização dos produtores rurais. No entanto, a linha liberada não é equivalente ao pré-custeio, mas é direcionada aos custos com a comercialização dos produtos contemplados pela Política Geral de Preços Mínimos (PGPM).

O banco não atendeu aos pedidos de entrevista da reportagem. Em nota, afirmou: "O Banco do Brasil está atendendo normalmente às demandas de crédito rural do atual ciclo (Safra 2014/2015), relacionados aos financiamento de Custeio, Comercialização e Investimento Agropecuário. Os desembolsos alcançaram o volume de R$ 53 bilhões no período de julho/2014 a fevereiro/2015, crescimento de 13% em relação do mesmo período do ciclo anterior."

Segundo André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult, os produtores ouvidos pela consultoria no Rally da Safra - expedição de avaliação técnica de 97% da área de soja do País - que estavam conseguindo renovar os limites com os bancos estavam obtendo 20% de redução sobre os limites do ano passado.

De acordo com a consultoria, com uma diminuição de 20%, faltariam pelo menos R$ 10,7 bilhões para o plantio da safra 2015/16, uma vez que, apesar dos R$ 12,5 milhões previstos para reinvestimento, o custo da produção deve subir quase 14%. "Não há espaço para uma redução de crédito. Do ponto de vista do setor privado, temos observado redução da oferta. Aguardamos o anúncio de quanto será o crédito administrado pelo governo, porém teremos a pressão do ajuste fiscal - e 70% dos financiamentos são provenientes de fontes públicas", observa.

De acordo com Pessôa, três grandes questões preocupam o produtor: "o volume de crédito oferecido, a taxa de juros e o timing". O Plano Safra 2014/15, que terminará em 30 de junho, teve taxa média de 6,5% ao ano. A ministra da Agricultura Kátia Abreu, no entanto, já sinalizou aumento nos juros no próximo plano. O mercado aguarda alta de 2 a 3 pontos porcentuais.

 

Editorial: Uma economia sem músculos

O ESTADO DE S.PAULO (04 Abril 2015)

Longe de ser um sinal de vigor, o superávit comercial de março é um claro sintoma de recessão e de enfraquecimento da economia brasileira. O efeito da recessão é evidente no recuo das importações totais: o valor importado, de US$ 17,51 bilhões, foi 18,5% menor que o de um ano antes e refletiu a estagnação do mercado interno. O resultado geral só foi positivo porque o valor exportado, de US$ 17,63 bilhões, caiu um pouco menos e ficou 16,8% abaixo do contabilizado em março de 2014. Mas o indício mais grave de enfraquecimento foi o valor pífio das importações de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos. Os importadores gastaram US$ 3,63 bilhões, 16,3% menos que no mês correspondente do ano anterior. O ritmo da atividade, quando a economia voltar a crescer, dependerá do potencial produtivo do País, severamente reduzido, nos últimos anos, por causa do baixo nível de investimento.

Os números do comércio exterior têm confirmado a pouca disposição dos empresários de investir na ampliação da capacidade de suas companhias. Em 2014, a importação de bens de capital diminuiu 7,6% e ficou em US$ 47,71 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, o valor ficou em US$ 10,7 bilhões e foi 10,9% inferior ao do período de janeiro a março de 2014.

Foi uma redução parecida com a das compras de matérias-primas e bens intermediários (10%), mas os números indicam problemas diferentes nos dois casos. As compras de matérias-primas e bens intermediários normalmente refletem as condições da demanda no curto prazo. Os volumes comprados variam de acordo com a perspectiva de procura dos bens finais nos meses seguintes. Podem, portanto, voltar a crescer rapidamente, se as condições de mercado melhorarem. As compras de máquinas e equipamentos dependem de apostas de maior alcance e mais arriscadas. Não se amplia ou se troca o equipamento de uma fábrica sem a expectativa de firme crescimento das vendas por um prazo razoável.

Nos últimos dois ou três anos, a maior parte dos empresários teve poucos motivos, exceto em alguns segmentos industriais, para se arriscar em projetos de ampliação de capacidade. A baixa disposição para investir foi evidenciada, até de modo mais claro, no desempenho da indústria brasileira de bens de capital.

Os últimos números oficiais do setor, de fevereiro, foram divulgados há pouco pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em fevereiro, os fabricantes de máquinas e equipamentos produziram 25,7% menos que um ano antes. Em 12 meses, o total fabricado foi 13,5% menor que no período imediatamente anterior.

O mau desempenho do segmento refletiu, nos últimos anos, a estagnação da indústria geral e o baixo ritmo da atividade econômica. A indústria geral, pelos dados do IBGE, cresceu 0,4% em 2011, encolheu 2,3% no ano seguinte, expandiu-se 2,1% em 2013, recuou 3,2% em 2014 e diminuiu 7,1% nos 12 meses terminados em fevereiro deste ano. O segmento de bens de capital avançou 5% no primeiro ano do governo da presidente Dilma Rousseff. Recuou 11,2% em 2012, progrediu 12,2% em 2013 e fechou 2014 com um desempenho negativo de 9,6%. Nos 12 meses terminados em fevereiro deste ano, sua produção encolheu 21,1%.

A forte redução das compras de bens de capital, tanto nacionais quanto importados, é explicável pela perda de vigor de todos os segmentos da indústria - extrativa, de transformação, de construção e também de serviços de eletricidade, gás e água. Reflete, portanto, o fracasso das políticas mais alardeadas nos últimos quatro anos - de recuperação e ampliação da infraestrutura, de construção de habitações populares e de estímulo ao consumo e a indústrias selecionadas. Esse estímulo incluiu medidas protecionistas e de preferência a fornecedores nacionais.

A presidente já reconheceu a necessidade de ajuste das contas públicas. Falta reconhecer o fiasco da política e apoiar a definição de um novo rumo. A recuperação, neste ano, ainda será dificultada pelos efeitos da Operação Lava Jato. Mas será uma purgação política e economicamente muito saudável.

 

 

O que significa o socorro chinês

O ESTADO DE S.PAULO

 

Anunciado pela Petrobrás como "importante marco para dar continuidade à parceria estratégica" com seu credor e bem recebido pelos investidores do mercado acionário, o empréstimo de US$ 3,5 bilhões que a estatal brasileira acaba de contratar com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB) não mostra o encaminhamento adequado de soluções para os graves problemas financeiros da estatal, mas seu agravamento. Ela foi à China porque o mercado em que tradicionalmente buscava financiamentos parece estar lhe fechando as portas.

Centro do escândalo de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, a Petrobrás ainda não conseguiu aferir de maneira minimamente aceitável pelos auditores independentes e pelos órgãos reguladores do mercado acionário brasileiro e americano os prejuízos que os desvios de verba lhe causaram e, por isso, vem adiando a publicação do balanço financeiro e contábil relativo ao ano passado. Por causa de seus problemas, teve sua nota de risco de crédito rebaixada duas vezes no ano passado pela agência Standard&Poor's e há pouco foi colocada em perspectiva negativa - o próximo passo será a perda do grau de investimento.

O aumento do custo dos novos empréstimos - a estatal prevê a captação de US$ 12 bilhões por ano entre 2014 e 2018 - era a consequência mais onerosa prevista pelos analistas, em razão das desconfianças geradas pelas investigações da Operação Lava Jato. A busca de recursos na China indica que, mais do que caros, os créditos para a Petrobrás se tornaram escassos.

A curta nota com que a Petrobrás informou a conclusão da operação com o CDB - o maior banco de fomento do mundo, com ativos estimados em US$ 1,33 trilhão no final de 2013 - descreve-a como o primeiro contrato de "um acordo de cooperação a ser implementado ao longo de 2015 e 2016", anuncia a disposição das partes de "desenvolver novas operações no futuro" e justifica o empréstimo como a continuidade de uma parceria que fortalece "as sinergias entre as economias dos dois países". Mas não contém nenhuma informação sobre as condições do negócio nem, muito menos, sobre as contrapartidas de responsabilidade da Petrobrás.

Experiências de países latino-americanos produtores de petróleo e da própria Petrobrás com instituições financeiras chinesas não deixam dúvidas de que o governo de Pequim sempre está muito mais interessado em assegurar o suprimento do óleo de que a China necessita para manter seu crescimento acelerado do que nos interesses dos tomadores dos empréstimos. As condições financeiras dos credores só interessam aos dirigentes chineses se elas forem graves o suficiente para a imposição de condições muito favoráveis a Pequim.

A China vem fazendo isso há vários anos com a Venezuela chavista e fez com a Petrobrás em 2009 - quando o crédito ficou muito escasso. Naquele ano, para obter o empréstimo de US$ 10 bilhões do CDB, a Petrobrás aceitou como contrapartida o compromisso de compra de equipamentos chineses e ofereceu como garantia a oferta de petróleo para a China.

Quaisquer que tenham sido as condições do novo empréstimo acertado com o CDB, a operação representa pouco para as necessidades financeiras de curto prazo da Petrobrás. Para tentar equilibrar suas finanças, além dos empréstimos que ainda pretende captar no mercado - em condições agora desconhecidas, dada a desconfiança gerada pelo esquema de corrupção que se instalou nela -, a Petrobrás pretende desfazer-se de ativos avaliados em US$ 13 bilhões. Resta saber se, com a queda do preço do petróleo, o mercado mundial tem interesse em adquirir esses ativos. Além disso, a estatal programa o corte de seus investimentos em US$ 14 bilhões por ano.

Com tantos problemas, até as boas notícias são prenúncio de dificuldades futuras. A Petrobrás participa com 40% do capital total e é a operadora do consórcio que detém os direitos sobre a maior descoberta de petróleo da América Latina em 2014, que ocorreu em águas profundas no Caribe colombiano. A empresa não tem dinheiro para investir a parte que lhe cabe. É mais uma consequência de seu domínio político pelo PT.

 

 

Caixa e BB também dificultam crédito, dizem empreiteiras

 

Construtoras com falta de recursos por causa de atrasos em pagamentos do governo reclamam dos bancos oficiais

A lista de bancos que têm fechado as portas a empreiteiras à caça de empréstimos passou a incluir os estatais Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. A queixa parte de construtoras que, embora não sejam alvos das investigações da Operação Lava Jato, alegam enfrentar dificuldades financeiras por causa de atrasos em pagamentos de obras federais.

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Rodrigues, afirma que o atraso nos desembolsos da União tem provocado uma cascata de problemas, como a dificuldade de obtenção de crédito a falta de caixa das empresas para manterem suas operações em andamento.

"Vivemos uma situação estranha com relação ao financiamento público. A explicação é de que, o governo, ao ser o seu devedor, não poderia ser, por outro lado, sua fonte de financiamento", diz Rodrigues. "Esse atraso nos pagamentos amplia a crise e cria subprodutos. É uma situação que preocupa muito, porque as empresas simplesmente acabam sem ter opções a quem recorrer."

Como toda operação de financiamento, o princípio básico para autorizar o empréstimo é a instituição ter garantias e provas de que as companhias vão ter condição de quitar a operação. O Estado apurou que alguns financiamentos foram negados não porque os bancos públicos questionaram os futuros pagamentos que as empreiteiras têm a receber do governo federal, mas sim pela situação econômica em que elas se encontram. Pesa a situação econômica atual, o nível de endividamento dessas empresas e, sobretudo, o envolvimento delas na Operação Lava Jato.

"O Banco do Brasil informa que suas linhas de crédito permanecem disponíveis e as análises de operações são sempre realizadas caso a caso, de acordo com o perfil de cada cliente", respondeu o BB, por nota.

A Caixa declarou que "está operando normalmente a concessão de linhas de crédito para empresas da construção civil, observando o limite de capacidade de pagamento dos tomadores".

PAC. O atraso de pagamento nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem chegado a cerca de 75 dias. Na semana passada, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) fez os pagamentos que estavam em aberto até dezembro de 2014, mas as faturas de janeiro, que deveriam ser pagas no mês passado, permanecem em aberto, segundo a Cbic.

Os bancos argumentam que estão cumprindo exigências bancárias para liberar ou recusar os financiamentos, seja para empresas citadas ou não na Operação Lava Jato. De acordo com as instituições oficiais, não há impedimento para emprestar para as empresas do setor, mas é preciso cumprir as exigências que esse tipo de operação requer.

Para fornecer empréstimos às empreiteiras, os bancos utilizam um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) que respalda juridicamente as operação. O documento, com base em manifestação do Banco Central, afirma que a existência de investigação não constitui "óbice" à concessão de crédito.

Para os dois órgãos, fornecer crédito às empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato não constitui crime de gestão temerária, desde que os bancos redobrem as precauções contra possíveis calotes.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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