Dólar sobe 0,61% ante real após BC atuar no câmbio e indicar mais ações no futuro

Publicado em 01/07/2016 17:04

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Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta frente ao real nesta sexta-feira mas marcou a quinta semana consecutiva de perdas, após o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, indicar que a autoridade monetária deve continuar fazendo intervenções no mercado cambial.

Neste pregão, o BC atuou pela primeira vez sob a batuta de Ilan, por meio de leilão de swap cambial reverso --equivalente à compra futura de dólares-- anunciado após a moeda norte-americana cair fortemente nos últimos dias.

O dólar avançou 0,61 por cento, a 3,2328 reais na venda, após chegar a 3,1966 reais na mínima do pregão. Ainda assim, acumulou baixa de 4,35 por cento na semana e de 10,47 por cento em cinco semanas.

A moeda norte-americana havia despencado 11,05 por cento só em junho, a maior queda mensal em 13 anos, aproximando-se do patamar de 3,20 reais. O dólar futuro subia cerca de 0,60 por cento no fim desta tarde.

"Ilan veio a público para forçar o câmbio a corrigir exageros, deixar claro que está de olho", disse o operador da corretora Spinelli José Carlos Amado.

Em entrevista ao Valor PRO, Ilan diz que foram abertas as condições internacionais e domésticas para reduzir os estoques de swaps cambiais tradicionais --correspondentes à venda futura de dólares-- e que seu objetivo era manter o regime de câmbio flutuante. Disse ainda que, nas economias emergentes, as flutuações do câmbio não são "puras".

O BC realizou nesta sessão o primeiro leilão de swaps reversos desde 18 de maio, vendendo o lote total de até mil contratos. A ausência de até então gerou entre investidores a percepção de que Ilan estaria mais disposto a tolerar cotações do dólar mais baixas do que seu antecessor, Alexandre Tombini.

Alguns operadores cogitavam que o BC de Tombini poderia ter como objetivo proteger as exportações da queda do dólar.

Tombini fez uso intenso de swaps reversos para diminuir a exposição cambial do BC, com o estoque de swaps tradicionais caindo de mais de 100 bilhões de dólares no ano passado para pouco mais de 60 bilhões de dólares agora.

A operação desta sessão equivaleu a compra futura de 500 milhões de dólares.

"Ao que tudo indica, não se trata de defesa de nível ou sinalização de piso (para a cotação), mas apenas a cumprimento do que Illan tem sinalizado quanto ao desmonte gradual da exposição cambial... bem como ao natural controle de excessos no mercado cambial", escreveram analistas da corretora H. Commcor em nota a clientes.

Pela manhã, o dólar chegou a recuar com alguma força, embalado pela expectativas de estímulos monetários no resto do mundo. Esse movimento perdeu força ao longo do dia nos mercados externos, porém, com o dólar apresentando desempenho misto no fim desta tarde.

Os mercados norte-americanos não abrirão na segunda-feira devido ao feriado do Dia da Independência.

Real dispara, e Banco Central decide voltar a intervir no câmbio (FOLHA)

O Banco Central voltará a intervir no câmbio nesta sexta (1º), depois de mais de 40 dias. De 18 de maio, quando as operações do BC foram interrompidas, até esta quinta (30), a moeda brasileira foi a que mais se valorizou no mundo, consideradas as 16 principais divisas: 9,82%.

O rand sul-africano, que ficou em segundo lugar, subiu bem menos: 6,83%.

O BC anunciou que fará um leilão de "swap" cambial reverso de US$ 500 milhões. Esse instrumento equivale à compra de moeda no mercado futuro, ou seja, contribui para elevar a demanda por dólar e segurar a sua queda.

O dólar mais barato reduz a inflação, mas, por outro lado, prejudica exportações e afeta as contas externas.

Como o mercado de câmbio é muito volátil, consultores recomendam que quem vai precisa de dólar compre aos poucos ao longo de um período de tempo.

Moedas estrangeiras não são opções recomendadas a pequenos investidores.

JANELA OPORTUNA

Na terça (28), o novo presidente do BC, Ilan Goldfajn, havia reafirmado que o câmbio é flutuante e que autoridade monetária poderia utilizar todas as ferramentas cambiais de que dispõe, sempre com parcimônia.

Afirmou ainda que o plano do BC era encontrar uma janela de oportunidade para reduzir o estoque de swap cambial em ritmo compatível com o funcionamento do mercado, "quando e se possível".

O estoque de swaps está hoje em US$ 62,1 bilhões. Na prática, é como se o BC tivesse injetado moeda estrangeira nesse valor. Quando negocia o swap reverso, está na prática recomprando esses dólares e secando o estoque das mãos do mercado.

DISPARADA

Também no resultado do primeiro semestre, foi o real que mais se valorizou: 19,59%. Ou seja, o Brasil foi o país em que o dólar mais caiu.

No mercado à vista, referência para o sistema financeiro, a queda foi de 23,4% no período. No fechamento desta quinta, chegou a R$ 3,18, menor valor desde 21/7/ 2015 (R$ 3,1735). Somente em junho, o real avançou 11,46%, a maior alta percentual desde abril de 2003 (+13,23%).

Câmbio pode atrasar ajuste das contas do governo Temer (por GUSTAVO PATU)

O primeiro mandato da presidente afastada Dilma Rousseff deixou como herança uma combinação de três diferentes enfermidades econômicas, em que os remédios para uma agravam outra.

As moléstias, ainda em tratamento, são inflação elevada, deficit nas contas do governo e deficit nas transações de bens e serviços do país com o resto do mundo.

Para conter a escalada dos preços, foram elevados os juros, o que aumenta as despesas com a dívida pública e o deficit do governo; para conter o deficit do governo, foram cortados subsídios para a conta de luz e reajustado o preço da gasolina, o que faz subir a inflação.

O remédio para o deficit com o exterior é a alta das cotações do dólar, ou seja, a desvalorização do real: as importações ficam mais caras e encolhem, as exportações ficam mais baratas e se expandem, turistas brasileiros gastam menos em outros países.

Os efeitos colaterais da alta do dólar são mais inflação, mais juros e mais deficit do governo –e, frequentemente, mais impopularidade para o governante.

A moeda americana, a R$ 2,66 ao final de 2014, chegou aos R$ 4 no ano passado.

Não por acaso, o ajuste das contas externas é o mais bem-sucedido até aqui: o deficit, que passava dos US$ 100 bilhões, deve ficar na casa dos US$ 15 bilhões neste ano.

Já neste ano, o dólar está em queda, ainda que nem sempre contínua. A tendência, se mantida, ameaça comprometer a trajetória de reequilíbrio das contas do país.

Em contrapartida, os outros dois ajustes, da inflação e dos cofres públicos, ficam facilitados com a perspectiva de mais importações e menos juros nos próximos meses.

É difícil dizer se o saldo da alta do dólar é positivo ou negativo –afinal, as terapias econômicas estão sendo aplicadas simultaneamente.

O Banco Central indica que deixará o mercado definir a taxa de câmbio; no curto prazo, ao menos, um real mais forte é um alento político.

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Fonte:
Reuters + Folha

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