Trump inicia processo para aumentar tarifas sobre importações da China

Publicado em 11/05/2019 10:32

WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou nesta sexta-feira que o representante comercial do país inicie o processo de aumento de tarifas sobre todas as importações remanescentes da China, informou o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês) em comunicado.

O comunicado do representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, disse que o valor dos produtos sujeitos a nova rodada de tarifas é de aproximadamente 300 bilhões de dólares.

Segundo o texto, detalhes sobre o processo de um período de aviso público e comentários a respeito das tarifas serão publicados em breve no Registro Federal, e mais detalhes estarão disponíveis no site do USTR na segunda-feira.

China continua “cautelosamente otimista” em discussões com os EUA, apesar de novas tarifas

BEIJING/WASHINGTON (Reuters) - China e Estados Unidos concordaram em realizar mais reuniões sobre comércio em Pequim, disse o vice-premier Liu He, enquanto o presidente americano Donald Trump ordenou o começo do processo de impor tarifas a todas as importações restantes da China.

Liu expressou otimismo calculado sobre a possibilidade de chegar a um acordo, mas disse que havia “problemas de princípio” nos quais a China não recuaria.

“As negociações não foram interrompidas”, disse Liu, principal negociador da China nessas discussões, em Washington, na sexta-feira, de acordo com a televisão estatal, neste sábado. “Pelo contrário, eu acho que pequenos obstáculos são normais e inevitáveis durante negociações entre dois países. Olhando para a frente, ainda estamos cautelosamente otimistas”, disse Liu.

Mas o otimismo de Liu foi fragilizado pelo secretário de Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, que disse à CNBC na sexta-feira que não haveria mais conversas planejadas com a China “por enquanto”.

E no sábado, Trump publicou no Twitter: “Uma maneira fácil de evitar tarifas? Faça seus bens e produtos no bom e velho Estados Unidos. É muito simples!”.

Os Estados Unidos subiram o tom na escalada da guerra de tarifas com a China na sexta-feira ao elevar a tributação em US$ 200 bilhões dos produtos chineses em meio a conversas de última hora para resgatar um acordo comercial. Trump havia adiado o início das novas tarifas, enquanto as negociações entre Washington e Pequim progrediam.

Na sexta-feira, Trump emitiu ordens para aumentar as tarifas, dizendo que a China “quebrou o acordo” ao recuar em compromissos que havia prometido durante meses de negociações.

A China se opõe com veemência às últimas elevações de tarifas dos EUA e, como nação, precisa responder a isso, disse Liu a um pequeno grupo de repórteres chineses em um vídeo.

“No momento, os dois lados chegaram a um entendimento mútuo em muitas coisas, mas, francamente, também há diferenças. Acreditamos que essas diferenças são problemas significativos de princípio”, disse Liu. “Nós absolutamente não podemos fazer concessões em questões de princípio”.

Ele acrescentou que as discussões continuariam em Pequim, mas não deu detalhes. Mas, sublinhando a falta de progresso nas conversas, Trump ordenou a elevação de tarifas.

As medidas de Trump colocariam aproximadamente US$ 300 bilhões de importações chinesas sujeitas a tarifas punitivas, disse o representante comercial americano Robert Lightizer, em um comunicado na sexta-feira. Lightizer disse que uma decisão final não foi tomada sobre novas obrigações, que viriam depois de um aumento de tarifas no começo da sexta-feira, de 10% a 25%, em US$ 200 bilhões de importações chinesas.

Detalhes das diferenças com a China

Três diferenças permanecem entre os dois países, de acordo com a versão da China sobre as últimas conversas.

Uma é sobre tarifas, disse Liu, de acordo com a transcrição de uma entrevista publicada pelo Phoenix, uma emissora de televisão de Hong Kong próxima a Pequim. A China acredita que as tarifas foram a gênese da disputa comercial, e que, se os dois lados quiserem chegar a um acordo, todas as tarifas têm que ser eliminadas, disse Liu.

A segunda é sobre aprovisionamento, em que houve um consenso inicial entre os líderes dos dois países na Argentina, ano passado. Os dois lados agora têm visões diferentes em relação ao volume, disse Liu. O terceiro é sobre o quão equilibrado o texto do rascunho do acordo entre eles tem que ser, disse.

“Toda nação tem sua dignidade, então o texto precisa ser equilibrado”, disse Liu.

Fontes afirmaram à Reuters, esta semana, que a China apagou seus comprometimentos no rascunho do acordo que dizia que mudaria suas leis para resolver problemas essenciais dos Estados Unidos: roubo de propriedade intelectual dos EUA e segredos comerciais; transferências forçadas de tecnologia; políticas de concorrência; acesso a serviços financeiros; e manipulação de moeda.

Liu negou as acusações de que a China teria recuado nas promessas, dizendo que o país pensar ser normal fazer mudanças antes de um acordo final. Os dois lados têm visões diferentes sobre a maneira de articulá-lo, disse.

Liu afirmou que espera que esse problema seja resolvido, então seria desnecessário “exagerar” nesse ponto. Parecido com Liu, a imprensa estatal chinesa afirmou que o país não recuaria em seus interesses essenciais.

“A China claramente exige que os números do acordo comercial sejam realistas; o texto precisa ser equilibrado e expressar em termos que são aceitáveis para o povo chinês e não prejudiquem a soberania e a dignidade do país”, disse o jornal oficial do Partido Comunista, Diário do Povo, em um comentário, no sábado.

A guerra comercial tem sido um fardo para a economia chinesa.

No Twitter, Trump fala em compras de produtos agrícolas pelo governo para destinar a nações famintas

Donald Trump

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As tarifas mais altas dos EUA sobre produtos chineses já estão valendo e as negociações entre as delegações dos dois países continuam mesmo assim nesta sexta-feira (10). Ainda assim, Donald Trump voltou ao Twitter na manhã de hoje para justificar esse aumento, afirmando que está defendendo os interesses norte-americanos. 

Em seus tweets, Trump disse: 

"As negociações com a China continuam em um clima muito agradável, não há absolutamente nenhuma necessidade de correr, já que as tarifas estão agora sendo pagas aos EUA pela China em 25% sobre US$ 250 bilhões em produtos e bens. E estes pagamentos irão direto para o Tesouro Americano. 

Além disso, o processo para colocar tarifas de 25% em mais US$ 325 bilhões em produtos chineses já começou. Os EUA vendem à China aproximadamente US$ 100 bilhões em produtos e bens, um grande desequilíbrio. 

Com estes US$ 100 bilhões a mais em tarifas, nós iremos comprar produtos agrícolas dos nossos grandes produtores, em grandes volumes - volumes estes que a China nunca comprou - e embarcá-los para pobres e famintos países que precisam de assistência humanitária. 

Enquanto isso, as negociações com a China continuarão, com a esperança de que eles não tentem refazer o acordo!

As tarifas trarão MAIOR riqueza para o nosso país, mais até mesmo do que o tradicional e excelente acordo que estamos propondo. Além disso, muito mais fácil e mais rápido de fazer. Nossos agricultores farão melhor, mais rápido, e as nações famintas agora podem ser ajudadas. As renúncias a alguns produtos serão concedidas ou irão para uma nova fonte!

Tarifas farão nosso país MUITO MAIS FORTE, não mais fraco. Basta sentar e assistir! Enquanto isso, a China não deve renegociar acordos com os EUA no último minuto. Esta não é a administração de Obama, ou a administração de Sleepy Joe, que deixou a China se safar com "assassinato!"

O saldo médio de 401 (k) subiu desde a base do mercado - 466%. Uau!

Se comprássemos 15 bilhões de dólares de agricultura de nossos agricultores, muito mais do que a China compra agora, teríamos mais de 85 bilhões de dólares sobrando para infraestruturas, serviços de saúde ou qualquer outra coisa. A China desaceleraria muito e nós aceleraríamos automaticamente!

Produza seus produtos nos Estados Unidos e não há tarifas!

Seu presidente favorito de todos os tempos cansou de esperar que a China ajudasse e começasse a comprar de nossos agricultores, os maiores em qualquer lugar do mundo!". 

Tweets Trump

As declarações do presidente americano voltam a surpeender, uma vez que não condizem com a realidade tanto da produção norte-americana e a capacidade destes países pra onde iria esse excesso de produtos que seria adquirido pelo governo. Especialistas internacionais buscam entender qual o objetivo de Trump. 

"Não sei exatamente de quais produtos agrícolas ele está falando, mas nós temos um excesso de soja e estamos caminhando para o mesmo no milho. Nações pobres e famintas não possuem indústrias de alimento fortes o suficiente para processar esses grãos. Então, não tenho certeza como isso funcionaria. As pessoas não comem soja e milho diretamente", explica, em seu twitter, a especialista em agronegócios Karen Braun. 

E ela completa dizendo que "compras por parte do governo (americano) se parece bastante com uma ação típica da China". E lembra que quando isso foi feito inflacionou os preços na nação asiática artificialmente em relação ao restante do mundo, sem promover uma recuperação legítima das cotações. "Não funcionou efetivamente e a China desistiu", diz Karen. 

Para os diretores da ARC Mercosul, essa é mais uma "jogada para a torcida" de Trump. Afinal, trata-se de declarações sem detalhes, o que não provocou, inclusive, nenhuma reação nos preços dos grãos na Bolsa de Chicago. "É uma ideia com zero de planejamento", explica Tarso Veloso, diretor da consultoria internacional. 

E Karen Braun ainda ilustra suas colocações com números do U.S. Census Bureau mostrando a receita gerada pelas exportações do EUA para a China somente com produtos a granel: 2014 US$ 17,6 bi; 2015 US$ 14 bi; 2016 US$ 14,8 bi e US$ 2018 US$ 5 bilhões.

A disputa entre China e Estados Unidos já dura quase 15 meses. As delegações dos dois países entra em seu segundo dia de conversas da 11ª rodada de negociações nesta sexta-feira e há ainda muita nebulosidade sobre os resultados e os movimentos próximos tanto de chineses, quanto dos americanos. 

"Hoje precisamos passar por todo esse período de nebulosidade, ver os resltados desse encontro hoje, então, por enquanto não há decisão", diz Matheus Pereira, diretor da ARC Mercosul. Para Cristiano Palavro, analista de mercado da consultoria, "hoje é o dia D da agricultura mundial". 

Além disso, a China já afirmou que irá retaliar a última medida dos EUA, porém também ainda sem dar novos detalhes. Será preciso esperar por essa informações para entender quais serão as próximas reações do mercado. 

Trump diz que não tem pressa para assinar acordo com China 

WASHINGTON/PEQUIM (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta sexta-feira que não tem pressa em assinar um acordo comercial com a China, no momento em que Washington impôs um novo conjunto de tarifas sobre as importações chinesas e os negociadores encerraram o segundo dia de conversas na tentativa de alcançar um acordo.

Nesta sexta-feira, os Estados Unidos elevaram suas tarifas sobre 200 bilhões em produtos chineses para 25%, ante 10%, elevando as preocupações dos mercados financeiros sobre uma guerra comercial que já dura 10 meses entre as duas maiores economias do mundo. A China deve retaliar.

As tarifas entraram em vigor apenas algumas horas antes do representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer; do secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin; e do vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, realizarem um segundo dia de negociações em Washington. A reunião terminou após cerca de 90 minutos.

"Foram discussões construtivas. É tudo que posso dizer", disse Mnuchin a repórteres ao deixar o escritório de Lighthizer.

Pela manhã, Trump defendeu o aumento das tarifas e disse que estava "absolutamente sem pressa" para finalizar um acordo, acrescentando que a economia dos EUA ganhará mais com as tarifas do que com qualquer acordo.

"As tarifas trarão MUITO MAIS ganhos para o nosso país do que até mesmo um acordo tradicional fenomenal", disse Trump em uma das publicações no Twitter.

Apesar da insistência de Trump de que a China absorverá o custo das tarifas, as empresas dos EUA as pagarão e, provavelmente, as repassarão aos consumidores. Os gastos do consumidor respondem por mais de dois terços da atividade econômica dos EUA.

Trump, que adotou políticas protecionistas como parte de sua agenda "América Primeiro" e criticou a China por práticas comerciais que rotulou como injustas, disse que as negociações comerciais, que deveriam terminar nesta sexta-feira, podem ser prorrogadas para além desta semana.

"Continuaremos a negociar com a China na esperança de que eles não tentem novamente refazer o acordo!" disse Trump, que acusou Pequim de quebrar os compromissos assumidos durante meses de negociações.

Após o aumento da tarifa dos EUA, o Ministério do Comércio da China disse que retaliará, mas não deu mais detalhes.

A China respondeu às tarifas de Trump no ano passado com impostos sobre uma série de produtos norte-americanos, incluindo soja e carne de porco, que prejudicaram os agricultores dos EUA em um momento em que sua dívida atingiu o mais alto nível em décadas.

O secretário de Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, disse nesta sexta-feira que Trump pediu a ele que criasse um plano para apoiar os agricultores. O Departamento de Agricultura dos EUA já liberou até 12 bilhões de dólares para ajudar a compensar as perdas relacionadas à China.

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Fonte:
Reuters

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