China x EUA: "Nada mudou e mercado ainda está bastante desconfiado com este acordo", diz consultor

Publicado em 15/10/2019 17:05

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"Nada mudou. O mercado está bastante desconfiado com esse acordo", resumiu o consultor em agronegócio Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta terça-feira (15). Segundo ele, as informações ainda desconhecidas sobre o que foi firmado entre China e Estados Unidos na última sexta-feira (11), em Washigton, mantém o mercado e seus participantes ainda às cegas sobre as relações comerciais dos dois países. 

O agronegócio segue no centro das discussões, embora não entre as disputas mais duras, e segundo informações da agência internacional Bloomberg, o governo chinês quer uma revisão nas tarifas americanas sobre seus produtos antes de concordar - e efetivar - mais compras de produtos agrícolas dos EUA daqui em diante. 

Na última semana, o presidente americano Donald Trump afirmou, afinal, que a nação asiática teria se comprometido em comprar algo entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões em produtos agrícolas norte-americanos, o que gerou ainda mais questionamentos entre os especialistas. É preciso saber de que forma esse montante será diluído e até mesmo se será. 

"Eu não acredito que se chegue a este volume", diz Fernandes. "O mais alto que a China já comprou foi algo perto de US$ 29 bilhões". E chegar a este volume anunciado por Trump pode ficar ainda mais difícil diante dessa posição de Pequim. 

Nos últimos meses, a China tem feito algumas compras nos Estados Unidos focando, principalmente soja e carne suína, aproveitando, no caso da oleaginosa, cotas dispostas pelo governo chinês de volumes isentos das tarifas de 25%. Até agora, em 2019, já foram cerca de 20 milhões de toneladas e 700 mil toneladas de carne porco. 

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E segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, os chineses irão intensificar suas compras no mercado norte-americano. Ainda assim, reforçou que ambos os países precisam estar na "mesma página" e ter o mesmo entendimento da situação para que ao menos a primeira fase do acordo se concretize. 

De acordo com as agências internacionais, o secretário do Tesouro Americano, Steve Mnuchin, afirma que embora os dois lados estejam atuando para que o acordo seja preparado, costurado e assinado nas próximas semanas, caso não aconteça, novas taxas serão impostas pelos EUA sobre produtos da China a partir de 15 de dezembro. 

Fontes ouvidas pela Bloomberg apontam para a possibilidade de o país asiático ainda ampliar suas importações para outros itens como cereais, algodão, etanol, fertilizantes, suco, café e carne, além de retirar as tarifas sobre o DDG e ainda remover um embargo sobre o frango americano. Maquinário, madeira e pesticidas podem também entrar no pacote. 

A China, porém, já informou que espera por mais negociações antes de assinar a fase um deste acordo, e acredita que isso possa acontecer ainda no final deste mês. O objetivo seria a assinatura de tal documento na cúpula da Cooperação Ásia-Pacífico, em novembro, no Chile. 

“China e EUA estão na mesma página e não têm diferença na posição sobre alcançar um acordo comercial. Este acordo comercial terá um significado muito importante para a China, os EUA e o mundo, será benéfico para o comércio mundial e a paz mundial", disse ainda o porta-voz Geng Shuang. 

A DISPUTA, PORÉM, CONTINUA

E embora as negociações tenham apresentando um progresso considerável na última semana, o mercado também especula quais podem ser os movimentos tanto dos EUA, quanto da China antes de o acordo ser efetivamente assinado e começarem a valer novas regras para as duas maiores economias do mundo. 

"O custo para Trump de não assinar um acordo aumenta à medida que sua corrida pela reeleição se aproxima. Mas é claro que não podemos ignorar o fato de Trump ter sido inconsistente antes, e ele pode fazer seus truques e adicionar partes e partes a serem incluídas [no acordo da primeira fase]. Trump está enfrentando a pressão do impeachment e reeleição, enquanto a China está enfrentando a pressão de sua própria economia", disse ao South China Morning Post, publicação chinesa, o pesquisador do Instituto de Estudos Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Liu Weidong. 

E completou dizendo que "não há muitas mudanças esperadas nesse cenário até novembro e, portanto, suas respectivas posições pró-ativas e positivas nas negociações comerciais devem permanecer basicamente as mesmas".

Para Ênio Fernandes, neste momento, as duas situações de as compras de US$ 50 bilhões se efetivarem nos EUA são favoráveis a Trump. "Se os chineses de fato fizerem isso ele vai usar o feito para provar sua eficiência como governante, se os chineses não assinarem mais uma vez os chamará de inconstantes e afirmará que não cumprem com o que se comprometem", explicou. "A disputa é extremamente favorável para Trump e eu acredito que ele está reeleito".

Com informações da Bloomberg e do South China Morning Post.

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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