China x EUA: O que significam mais seis anos de indefinições e declarações vazias?

Publicado em 05/04/2019 15:52
Nesta quinta-feira (4), a agência internacional Bloomberg noticiou que um possível acordo entre China e EUA teria um prazo até 2025 para ser efetivado. Entenda quais serão algumas das consequências para o Brasil neste cenário. Por Carla Mendes

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A guerra comercial entre China e Estados Unidos tomou proporções que nenhum dos dois países imaginava que poderia alcançar. O tempo gasto, menos ainda. Publicações do mundo todo têm tido de dar espaço à declarações cada vez mais vagas - embora obrigatórias - de ambos os lados e as redes sociais, mais especificamente o Twitter, é a fonte mais fiel dos jornalistas de todas as nacionalidades. 

Afinal, a rede social se tornou o maior palanque de Donald Trump que, a cada novo pronunciamento, muda o direcionamento de fluxos financeiros, ações, investimentos, commodities, índices, moedas e negócios. E os últimos 13 meses têm sido assim quando o assunto é o mais complexo embate comercial da história recente. 

Nesta quinta-feira, 4 de abril, a agência de notícias Bloomberg publicou uma notícia dando conta, segundo fontes familiarizadas com o assunto, que Pequim teria até 2025 para colocar em prática um possível acordo que fosse firmado com Washigton. O período daria, ao menos, mais seis anos de nebulosidades para o mercado mundial... Seis anos!!!. 

O governo americano estabeleceria esse prazo para que Xi Jinping e seu time pudessem alinhar suas ações e, de fato, cumprir com os termos estabelecidos no contrato. Entretanto, Trump se recusa a levantar todas as tarifas impostas sobre os produtos chineses que atualmente vigoram. Os chineses, do mesmo modo, não aceitam a situação e tudo volta ao impasse inicial. Há ainda outras questões de alta complexidade - principalmente as que envolvem propriedade intelectual e tecnologia - que também ameniza o ritmo de avanço das negociações. 

Ainda assim, depois de sua reunião com o vice premier chinês Liu He, Trump fez uma nova declaração dizendo que embora ainda não terminado, "China e EUA deverão fazer um aocrdo jamais visto na história". O mesmo foi dito há um mês. 

Leia mais:

>> Possível acordo entre China e EUA teria prazo até 2025 para ser efetivado

Com um acordo firmado contemplando esse prazo, mais seis anos de indefinições para os preços da soja e mais uma série de outras commodities que são penalizadas pelo conflito. Sem acordo, os EUA continuam sentindo o efeito da demanda chinesa ausente e a pressão sobre as cotações será inevitável. Do mesmo modo, a formação dos preços no Brasil também pode ficar comprometida. 

Cansado, o mercado deu de ombros e seguiu mais um dia na defensiva, evitando movimentos agressivos que pudessem resultar em perdas ainda mais severas. Em um relatório divulgado na última quarta-feira (3), o FMI (Fundo Monetário Internacional) informou que a intensificação da disputa pode afetar os empregos não só na agricultura, mas também na indústria. 

O setor agropecuário está no coração do conflito e mesmo com tantas indefinições e incertezas já foi capaz de provocar mudanças profundas e complexas na dinâmica do comércio - e isso inclui os planejamentos de novas safras - de uma centena de produtos, além de ter alterado também muito profundamente a vida de produtores rurais em várias partes do globo.

Os profissionais americanos e chineses são os mais afetados? Sem qualquer dúvida. No entanto, a vida nunca mais foi a mesma para agricultores e cadeias produtivas inteiras que também estão na rota China-EUA. Entre eles, o Brasil talvez lidere parte deste time, já que a sombra da incerteza da demanda chinesa sobre uma série de produtos norte-americanos reflete positivamente por aqui, no entanto, não se sabe até quando. 

"Os setores de eletrônicos e outros de manufatura na China serão fortemente afetados, e o setor agrícola dos EUA verá uma contração significativa se a guerra comercial se intensificar. Há a possibilidade de um cenário "em que grandes setores em ambos os países cortam número significativo de empregos", diz o relatório da instituição.

De acordo com o levantamento, cerca de 1% da força de trabalho nos setores agrícola e de equipamento de transportes dos EUA e 5% da manufata chinesa seriam diretamente afetados. 

E para o Brasil?

Segundo o diretor do SIMConsult, Liones Severo, o mercado mundial da soja passa por seu pior momento desde meados dos anos 1990. "Isso tudo é uma grande ameaça e o mercado da soja está bastante comprometido. A China apertou os cintos e um dia sem consumo é um dia perdido", diz. 

A nação asiática têm, de fato, comprado menos desde o início de todo o imbróglio e somente as importações de soja deverão cair para algo próximo de 91,5 milhões de toneladas. A China não somente parou de comprar soja dos EUA, como reduziu suas compras deste produto - entre outros - de uma forma geral. Há, claro, outros fatores que ajudam a construir esta cena, mas a guerra comercial permanece como atriz principal da novela. 

Ainda assim, o especialista afirma que o "fator guerra comercial foi vencido à exaustão". Embora as notícias sobre o assunto sejam diárias, as reações dos mercado já não caminham na mesma velocidade, como acontecia no início da disputa.  

A maior preocupação agora é entender quais serão os resultados e em que impacta esse menor consumo de soja na China, em especial para o Brasil. Hoje, ainda como explicou Severo, a velocidade da oferta é maior do que a demanda e preços mais baixos, portanto, são inevitáveis e a pressão deverá continuar grande.

A perspectiva é de que o Brasil se mantenha como principal fornecedor de soja - e outros produtos - da China neste período em que vigora a guerra, do mesmo modo no intervalo dos próximos seis anos previstos para que o possível acordo seja efetivado. 

"E eu acho que o negócio da China (com os EUA) não sai. Não é verdadeiro dizer, inclusive, que os chineses já estão comprando mais soja americana", diz Severo. A alíquota de 25% da nação asiática sobre esse produto, afinal, permanece", completa. 

Assim, o Brasil terá que prospectar melhores prêmios quando o assunto é mercado da soja. Nesta temporada, o saldo exportável é menor depois da quebra da safra, a demanda interna é mais intensa - também por conta da China, que precisa comprar mais proteína animal brasileira, principalmente carne de porco dados os surtos de peste suína - e o país já embarcou um volume recorde do grão no primeiro trimestre. 

Foram 5 milhões de toneladas a mais se comparado com o mesmo período de 2018, ano em que o foram exportadas 84 milhões de toneladas de soja. Um recorde. O total deste ano terá de ser menor, a demanda deverá ser racionada ou faltará produto no Brasil, alertam, analistas e consultores de mercado. Os mesmos acreditam que o segundo semestre de 2019 pode trazer boas oportunidades de negócios para o sojicultor brasileiro. 

Mesmo com essas contas simples que mostram resultdos importantes, o diretor do SIMConsult orienta. "Não se pode vender a qualquer preço". Os prêmios no Brasil, afinal, seguem sem força para uma recuperação mesmo diante de tal força da demanda e mesmo enfraquecida, a guerra comercial continua assombrando as cotações internacionais. 

É necessário se proteger.

Hedge, mercado de opções, trava no câmbio, as alternativas de proteção para o produtor brasileiro são inúmeras e só a proteção irá lhe garantir resultados que sejam, ao menos, satisfatórios. eficiência da comercialização e a gestão de risco nunca andaram tão juntas como neste momento. E essas sim deverão firmar um belo acordo para passar por essa tormenta que ainda vai mostrar os estragos causados a médio e longo prazos. 

Dessa forma, as únicas notícias que se confirmam, portanto, até este momento, são as de que não há acordo algum selado e firmado entre chineses e americanos, a novela continua, e enquanto isso se discute e enquanto as informações circulam, o crescimento da economia mundial está bastante ameaçado.

Negociação entre EUA e China "teve progresso", mas há trabalho à frente, diz Casa Branca

WASHINGTON (Reuters) - A Casa Branca informou nesta sexta-feira que depois de três dias de negociações comerciais com autoridades chinesas em Washington houve "progresso em numerosas questões importantes" mas "ainda há trabalho significativo" a ser feito.

O comentário foi feito pela secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, que também afirmou que negociadores norte-americanos e chineses "vão manter contínuo contato para resolver questões pendentes".

Discussões comerciais entre EUA e China continuarão na próxima semana por videoconferência, diz Kudlow

WASHINGTON (Reuters) - Negociadores comerciais dos Estados Unidos e da China darão continuidade às negociações na próxima semana por videoconferência conforme tentam alcançar um acordo para acabar com os nove meses de guerra comercial, afirmou nesta sexta-feira o assessor da Casa Branca, Larry Kudlow.

O vice-premiê chinês, Liu He, reuniu-se com o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, e com o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, nesta sexta-feira pelo terceiro dia depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, assinalou progresso nas negociações e disse que um acordo pode ser anunciado nas próximas quatro semanas.

Kudlow, falando na Bloomberg Television, disse que Liu voltará a Pequim após as discussões desta sexta-feira mas os dois lados avançarão para resolver as diferenças remanescentes por videoconferência.

"Não há pausa aqui, esse é um processo contínuo", disse Kudlow.

Os EUA buscam reformas nas práticas chinesas que dizem resultar no roubo de propriedade intelectual dos EUA e na transferência forçada de tecnologia de empresas norte-americanas para as chinesas.

Washington também tem exigido que Pequim corte os subsídios industriais e abra mais sua economia para empresas dos EUA e que aumente as compras de bens norte-americanos para reduzir o déficit comercial que os EUA tem com a China.

Neste sábado, novo comunicado: "Avanços significativos" continuam com fim de nova rodada de negociações entre EUA e China

WASHINGTON (Reuters) - Norte-americanos e chineses encerraram nova rodada de negociações comerciais e devem retomar as discussões na semana que vem para tentar assegurar um acordo que termine a batalha de tarifas que agitou os mercados globais.

Os dois lados ofereceram poucos detalhes do progresso enquanto o vice-premiê chinês, Liu He, concluiu três dias de reuniões com o representante comercial dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, e o Secretário de Tesouro, Steven Mnuchin, em Washington. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na quinta-feira que um acordo poderia ser anunciado nas próximas quatro semanas.

No ano passado, Washington e Pequim aumentaram tarifas de importações sobre seus produtos que custaram às duas maiores economias do mundo bilhões de dólares e interromperam suas cadeias produtivas. Os EUA buscam reformas para o que chamam de práticas chinesas que resultam no roubo de propriedade intelectual norte-americana e na transferência forçada de tecnologia de empresas dos EUA para companhias chinesas.

"Avanços significativos continuam, e os diretores, ministros, e membros da delegação estarão em contato permanente para resolver as questões remanescentes", disse o gabinete do representante comercial dos Estados Unidos em nota.

A imprensa estatal chinesa disse no sábado que os dois lados haviam "progredido" nas conversas.

As negociações abordaram propriedade intelectual, transferência forçada de tecnologia, barreiras não-tarifárias, agricultura, serviços, compras e proteção da lei, disse a nota da representação comercial dos EUA.

O assessor da Casa Branca Larry Kudlow, que falou ao canal de televisão Bloomberg mais cedo, disse que Liu voltaria para Pequim após as conversas de sexta-feira, mas que os dois lados continuarão trabalhando para resolver as questões remanescentes por videoconferência.

"Ainda não acabou aqui, esse é um processo em andamento", disse Kudlow.

Washington também exige que Pequim diminua seus subsídios industriais e abra mais sua economia para empresas norte-americanas, aumentando as compras de bens norte-americanos incluindo commodities agrícolas e energéticas para diminuir o déficit comercial com a China.

 
Representante comercial dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, ouve vice-premiê chinês, Liu He, em reunião em Pequim em março
Representante comercial dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, ouve vice-premiê chinês, Liu He, em reunião em Pequim em março (REUTERS).
 

China é parceiro estratégico do Brasil, não ameaça, diz Mourão à Folha

ÃO PAULO (Reuters) - A China é um parceiro estratégico para o Brasil e não uma ameaça, afirmou neste sábado o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

O vice-presidente viajou aos Estados Unidos, onde participa do evento Brazil Conference, organizado pela Universidade de Harvard.

"A China quer nossos produtos, nós precisamos de ferrovias, portos e rodovias que facilitem o transporte destes produtos em melhores condições. Essa é a grande troca que nós temos que fazer com eles", disse Mourão ao jornal.

Na entrevista, Mourão afirmou que o governo não vai vetar investimentos da gigante chinesa de equipamentos para telecomunicações Huawei, apesar de acusações dos Estados Unidos de que produtos da empresa podem estar sendo usados por Pequim para espionagem.

Para Mourão, segundo o jornal, as acusações contra a Huawei decorrem da guerra comercial iniciada por Washington contra Pequim. "A segurança é argumento da guerra comercial", disse.

O vice-presidente afirmou ainda que o governo segue com estudos para flexibilizar o Mercosul para que o Brasil possa fazer acordos bilaterais.

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Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas/Reuters

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1 comentário

  • Vilson Ambrozi Chapadinha - MA

    Acredito no mercado, então quando artificialmente criam-se embaraços ele se distorce mas no médio prazo cobra a conta. O que está acontecendo agora é um desestímulo via briga comercial e não por excesso de oferta. Com isso os preços ficaram baixos além do necessário. O oposto disso é explosão de preços . Quem sobreviver verá.

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    • Carla Mendes Campinas - SP

      Sr. Vilson, é bem isso. Quem sobreviver, verá.

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    • Arlindo Pontremolez Varalta Ibirarema - SP

      Sr Vilson......O que parece é que o agricultor brasileiro, nao sei por falta de formacao ou informacao, quer que a dinamica do mercado de commodities agricolas hoje seja o mesmo de 20 anos atras ....me explico...seguem pensando assim...:- hoje abaixou amanha vai subir!!!

      Essa analise simploria de mercado tempo ja passou e faz bastante tempo !!so que muitos ainda nao viram!!!

      Vejo um varios comentarios onde dizem ou tratan de inexplicar o naturalmente facil e explicavel!!!

      Existe EXCESSO de oferta de soja !!!!!

      Um so grande comprador !!

      Resumo da novela ; ...de nao haver uma catastrofe na producao de soja no brasil ou nos EUA ou um acordo para diminuir a area mundial plantada em soja o presente futuro sera assim " PRECOS BAIXOS POR VARIOS ANOS!!!

      Quem sobreviver vera.....Deus queira sejam muitos os sobreviventes!!!

      Economia e oferta e demanda , tudo o que inventarem fora disso e piadinha de mal gosto!!!

      Abracos dos felizes chineses que alimentam a sua imensa nacao com soja brasileira a preco de banana!!

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