Explosão da crise ruma para “calote branco” e inflação a 20%, apontam analistas economicos

Publicado em 24/02/2016 17:49

Atrasar o ajuste nas contas públicas brasileiras tem tornado mais próximo e provável um cenário de ruptura que resultará em inflação superior a 20% e impressão de moeda para pagar a dívida pública. Economistas consultados por O Financista acreditam que, caso a equipe econômica não arrume a casa, essa realidade virá a partir de 2018.

A deterioração das contas públicas irá, de acordo com os economistas, levar a uma mudança no perfil da dívida. Ou seja, os investidores ficarão relutantes em aceitar papéis prefixados, de longo prazo, e passarão a exigir juros mais elevados e vencimentos mais curtos. “O governo já está encurtando a dívida”, avalia Daniel Weeks, economista da Garde Asset Management.

“Estamos em uma situação onde a dívida pública é grande demais para permitir juros de primeiro mundo”, analisa Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos. O mercado não fala em um calote propriamente dito e isso tem uma razão bastante convincente: a maior parte da dívida brasileira, 95%, está em reais.

Leia a reportagem completa no site do Terra

 

Acarajé e o pão velho da crise (por VINICIUS TORRES FREIRE,  da FOLHA)

 

A Operação Acarajé repôs Dilma na fritura quando o risco de deposição da presidente parecia diminuir, se diz por aí. Já se ouviu essa conversa umas três ou quatro vezes desde 2015. O óleo voltou a queimar.

Não parece razoável, portanto, pensar a crise como um ioiô em que as chances de sobrevida da presidente subam a cada aparente resfriamento dos escândalos ou a cada vez que Dilma "vença" uma disputa no Congresso como cabo eleitoral de alguma facção rastaquera.

Não importa se a gordura seja dendê, banha ou petróleo. O governo de Dilma Rousseff é torrado por incêndios sem controle.

LAVA JATO. A operação não terá fim, afora um golpe ou acordão políticos ou erro, dada a extensão da pirataria contra o Estado. Deve queimar até que tudo se consuma:

1) Puxa-se uma pena, vem uma galinha. A Lava Jato se ramifica sem limite;

2) A Lava Jato tem ramos antigos que ainda vão dar brotos. Estão para começar as delações da Andrade Gutierrez. Há brasas dormidas no setor elétrico. Há a Zelotes (compra de decisões tributárias e de medidas provisórias). Etc.;

3) Há o processo contra quatro dezenas de parlamentares, que podem dar em muitas flores do pântano;

4) O processo pode ser dosado politicamente. Está morno? Puxe-se aquela pena. Vem um peru gordo e sujo.

OPOSIÇÃO, RUAS, PMDB. Dado o vexame do ano passado, nas férias o PSDB levou um pito "das bases" (grandes financiadores) por ter ajudado a explodir o resto das contas públicas. Voltou dizendo, de modo confuso, que não vai apelar ao "quanto pior, melhor". Porém:

1) O PSDB vai tentar tocar fogo "nas ruas" pelo impeachment;

2) Os tucanos já fazem lobby para que o Supremo desembarace os procedimentos do impeachment. Acabam de colocar um acarajé na bandeja do processo de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE;

3) Apesar da "vitória" do governo na semana passada, o PMDB-Câmara está tão dividido quanto no final do ano passado. Uns 40% dos deputados são de "oposição".

CRISE. Pioras e incertezas:

1) O ritmo de aumento do desemprego e queda dos salários se acelera. A inflação tornou-se persistente: vai demorar mais a cair, se tanto, grande fator de desânimo do consumidor, o cidadão comum;

2) O plano de obras que poderia ajudar a tirar o país do atoleiro, o de 2015, não sai do lugar. O de 2012 vai atolando. O efeito positivo maior das contas externas aparece só em 2017;

3) As reformas que o governo promete são ainda vagas e poucas. São dinamitadas pelo PT. Outros partidos teriam má vontade de votar medida impopular em qualquer situação, menos ainda em ano eleitoral, com os petistas dando o fora;

4) Fala-se que o governo vai cortar tantos bilhões do Orçamento. É tudo conversa meio mole. A gente não sabe nem qual vai ser a receita (se vai ser mais derrubada pela recessão). Dilma está pedindo aos "partidos da base", pelo amor de deus, pessoalmente, que votem aumento de imposto. Tem ouvido nãos;

5) Não há, à vista, ação coordenada do establishment econômico por um "pacto" pela mudança econômica, se isso ainda é possível em um país complexo como o Brasil.

Todas as bocas do fogão da crise estão acesas.

 

São Tomé

Por ANTONIO DELFIM NETTO

Todos os que já sofreram as agruras de administrar a escassez na administração pública devem ter um olhar benigno para os esforços dos ministros da Fazenda e do Planejamento, que tentam mitigar o desastre fiscal de 2014, com bem definidos limites nominais de gastos a partir de 2016.

Eles são importantes, mas insuficiente para nos levarem à perspectiva de um equilíbrio estrutural num prazo de três ou quatro anos, condição necessária (e talvez suficiente) para acordar o "espírito animal" de nossos empresários, que restabelecerá a sua disposição de investir. Sem ela, o país não retomará o crescimento, a única forma de reconstruir as esperanças dos trabalhadores.

Isso ficou visível nas cuidadosas colocações dos ministros em 19/2. Nelson Barbosa reconheceu claramente a precariedade do programa quando disse que "é preciso evoluir do ajuste fiscal para a reforma fiscal", e Valdir Simão indicou seu caráter emergencial ao afirmar que a proposta poupará "projetos de investimento estruturantes e em fase de conclusão com cortes não lineares".

O corte total foi de R$ 23,4 bilhões, dos quais pouco mais de um terço incidirá sobre as emendas parlamentares. É preciso lembrar que o excelente trabalho feito pelo relator geral do orçamento, o deputado Ricardo Barros, já havia enxugado a proposta original, que supunha uma queda do PIB menor do que a estimativa atual (-2,9%), que pode estar subestimada e, portanto, superestimando a receita tributária.

Sem uma firme retomada do seu protagonismo ainda no primeiro semestre de 2016, capaz de mudar as perspectivas dos agentes econômicos e criar um ambiente favorável aos investimentos privados, o poder Executivo não terá condições de cooptar firmemente a parte rebelde da sua base e a oposição civilizada para aprovar as reformas. O grande problema de Dilma é controlar a contradição insanável que parasita o seu governo: um corporativismo reacionário fantasiado de "esquerda" que defende ferozmente as vantagens que extraiu da maioria anestesiada. Sem o apoio de uma robusta maioria do PT, a sua capacidade de cooptação da oposição será nula.

Se tiver sucesso, é muito possível que o programa agora apresentado, seja bem sucedido. Mas é preciso o firme compromisso com os três gatilhos para vigiar mensalmente a necessária cointegração entre a receita e a despesa correntes. Talvez seja melhor reconhecer, de uma vez, que o deficit primário será mesmo de 1% do PIB (ele é, potencialmente, maior) e aplicar, sem tergiversação, preventivamente, com coragem e inteligência, a sucessão crescente de medidas para obtê-lo.

O Brasil, como são Tomé, não se impressiona mais com promessas...

 

Agravamento da crise mantém Dilma no córner, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Estava entendido que o governo seria outro depois que o STF jogou água fria na fervura do impeachment. Isso foi há dois meses. Nesse período, Dilma reagiu às crises que a rodeiam em três ritmos. Revelou-se intelectualmente lenta, moralmente ligeira e politicamente estagnada. Qualquer dessas velocidades é incompatível com a atmosfera de urgência.

A lentidão intelectual de Dilma é evidenciada pelo receituário do seu governo. Para estancar o derretimento da economia, a presidente sugere recriar a CPMF e reformar a previdência. A volta do tributo é rejeitada até pelos aliados. A reformulação do sistema previdenciário só existe no gogó. Diz-se que virá à luz em abril. O PT, partido de Dilma, não leu e não gostou. Informa que votará contra.

A ligeireza moral de Dilma se expressa nas suas reações à marcha da Lava Jato. “Não respeito delator”, já havia declarado a presidente, num dos atentados que promoveu contra a lei anticorrupção, que ela própria havia sancionado. Ao defender-se na ação que pede a cassação do seu mandato no TSE, a presidente revelou ter pouco respeito também pela lógica.

Por meio dos seus advogados, Dilma insinuou que não pode ser punida pela eventual perverão de seus benfeitores. “Se o doador obteve recursos de forma ilícita, […] essa ilicitude não se projeta sobre o donatário [beneficiário da doação], tornando-o partícipe confesso, até porque […] as empreiteiras doaram recursos para quase todas as campanhas mais importantes e de forma substancial para a campanha dos autores [o PSDB].” Por esse raciocínio, Dilma não tem nada a ver também com eventuais ilicitudes praticadas por seu marqueteiro João Santana.

A estagnação política de Dilma está escancarada no desânimo de sua tropa. Em reuniões sequenciais com líderes governistas, a presidente passa a sensação de que algo está se movendo, quando nada sai do lugar —exceto a nota do Brasil nas agências de classificação de risco, que cai; o PIB, que despenca; a dívida pública, que sobe; e a inflação, que foge ao controle. No Congresso, os cleptoaliados do Planalto, liderados por Eduardo Cunha, dedicam-se a preparar emboscadas que mantenham Dilma no córner, agarrada às cordas. Trava-se uma espécie de luta de boxe em que o país entra com a cara.

 

 

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Terra + Folha

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Que acho Delfim Neto um sujeito desprezivel não há a menor dúvida, mas inteligente ele é..., com aquele jeitão canhestro, puro fingimento, vai mandando os recados... Leiam aqui uma parte de seu artigo: "Sem uma firme retomada do seu protagonismo ainda no primeiro semestre de 2016, capaz de mudar as perspectivas dos agentes econômicos e criar um ambiente favorável aos investimentos privados, o poder Executivo não terá condições de cooptar firmemente a parte rebelde da sua base e a oposição civilizada para aprovar as reformas. O grande problema de Dilma é controlar a contradição insanável que parasita o seu governo: um corporativismo reacionário fantasiado de "esquerda" que defende ferozmente as vantagens que extraiu da maioria anestesiada. Sem o apoio de uma robusta maioria do PT, a sua capacidade de cooptação da oposição será nula". Aqui ele explica em um parágrafo a politica nacional ao mesmo tempo que exprime não o seu pensamento mas o do establishment... Ele diz, o protagonismo politico mudar as perspectivas e criar um ambiente favorável aos negócios, ou seja, se o ambiente voltar a ser favorável aos negócios a máfia se reorganiza e tudo volta a ser como sempre foi. Depois ele faz a defesa dos esquerdistas dizendo que o corporatismo existente no governo e nos negócios não é de esquerda, são "reacionarios" disfarçados. Reacionário no Brasil é sinônimo de direita. Ou seja, o funcionalismo público, a burocracia, não abrem mão de seus altos salários injustificados, nem de seus privilégios e mordomias por que a direita não quer, não por que a esquerda lhes fez todas as vontades e lhes garantiu todos os "direitos". No final cruamente ele diz que o governo deve cooptar, isso mesmo cooptar os deputados. Delfim vai para o lado que o vento levar.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. Rodrigo, veja o caminho trilhado pelo petismo... http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/a-marca-invisivel-59i252wkv46kesxd9upc2mgla

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      " O grande problema de Dilma é controlar a contradição insanável que parasita o seu governo: um corporativismo reacionário fantasiado de "esquerda" que defende ferozmente as vantagens que extraiu da maioria anestesiada". Sr. Rensi, o que será que significa "controlar uma contradição insanável de um corporativismo reacionário"? Não sei na India, mas aqui o corporativismo é apresentado não como uma politica de cunho unicamente esquerdista, onde temos irredutibilidade de salários, estabilidade no emprego, e tantos outros direitos que somente as castas públicas possuem, e que, é de pasmar, seus efeitos deletérios e a própria impossibilidade moral de defesa de tal sistema, faz com que os próprios corporativistas joguem todas as mazelas no colo de uma direita sem voz e que praticamente não existe, somos nós os poucos gatos pingados que tem a coragem de falar das castas de produtores que também se arrogam direitos e privilégios especiais, inclusive legais, ou haveria muitos "reizinhos" na cadeia por uma das coisas consideradas mais despreziveis pela população brasileira, o roubo. Por isso essa gente investe tanto na confusão. Cabe a nós o trabalho de tentar esclarecer tudo, dentro de nossas possibilidades. Aos outros que lerem esse comentário, recomento o artigo postado aqui pelo nosso amigo Sr. Rensi.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      He! He! (risos). Acho que seria de grande valia, trazer a baila, o assunto da Lei Antiterror, só este artigo dá uma ideia do que está sendo aprovado: "[a imputação de terrorismo] não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais ou sindicais movidos por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender ou buscar direitos, garantias e liberdades constitucionais".

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Esse é o texto que tipifica o ato de terrorismo:

      O CONGRESSO NACIONAL decreta: Art. 1º Esta Lei regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal, disciplinando o terrorismo, tratando de disposições investigatórias e processuais e reformulando o conceito de organização terrorista. Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública. § 1º São atos de terrorismo: I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa; II - incendiar, depredar, saquear, destruir ou explodir meios de transporte ou qualquer bem público ou privado; III - interferir, sabotar ou danificar sistemas de informática ou bancos de dados; IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento; V ? atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa. ...MAS, EM SEGUIDA APRESENTA O QUE ESTÁ ESCRITO NA MENSAGEM ANTERIOR...OU SEJA, HAJA CONTRADIÇÃO INSANÁVEL !!!

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Exatamente Sr. Rensi, e esse lixo aí, se não foi aprovado, vai ser, com a ajuda da bancada ruralista. E quando chamo essa gente de cretinos incompetentes e desonestos, uma parte dos produtores impregnados de marxismo, mesmo sem saber, defende os cretinos. Não sei se é uma busca de pertencer a um grupo para obtenção de privilégios ou burrice mesmo. Falando de outra maneira, o que faz com que proprietários de terras que tem como atividade principal a politica, que é a que rende mais, ou outros tantos que se dizem ruralistas, tendam a tornar impunes os crimes do MST? Não são ideólogos, são canalhas que colaboram com o crime para enriquecer.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Ela já foi aprovada pela Câmara neste dia 24 e, seguiu para a dilma sancionar.

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