Proibir o cultivo da soja safrinha ou investir em tecnologia para viabilizá-lo? Por Valdir Fries

Publicado em 23/05/2014 11:54 e atualizado em 09/03/2020 10:15

Diante das incertezas de mercado e das questões técnicas (quanto a proliferação das pragas e doenças), ainda no decorrer de 2013, os produtores já se questionavam em relação ao que plantar na safrinha de 2014, conforme publicado em artigo aqui: (https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/agronegocio/132608-safrinha-de-2014–milho-ou-soja–qual-a-melhor-opcaorrr–por-valdir-edmar-fries.html#.U349MvldVyU )

Pois bem, o texto é longo, mas necessário. Seguindo, quando janeiro de 2014 chegou, os preços do milho pago aos produtores Paranaenses ainda beiravam o preço minimo, acilando de preço na casa dos R$ 17,00 a saca, e o soja num patamar de R$ 60,00 por saca.

Por uma questão de mercado, muitos produtores de diversas regiões produtoras optaram pelo plantio da soja em parte da área cultivada, no entanto, poucos produtores se aventuraram a cultivar apenas a soja na safrinha.

Lavouras de soja e milho - Valdir Fries

Em muitas áreas, a cultura do milho e da soja safrinha foram cultivados lado a lado. Neste caso das imagens acima, dos 130 ha cultivados, 124 hectares foram plantados com safrinha de MILHO, com inicio de plantio no dia 29 de janeiro/14, já a área cultivada com a soja é de apenas 6 hectares, plantada no dia 28 de janeiro/14 com o propósito de observar não somente o potencial produtivo, mas principalmente os custos de produção da soja cultivada na safrinha…

Devemos lembrar que no final dos anos 80 e inicio dos anos 90 com a crise da triticultura, sem opção econômica de cultivo de inverno, além do cultivo de milho safrinha, muitos produtores do Paraná passaram a cultivar soja safrinha, porém o cultivo da soja não prosperou porque as variedades eram de ciclo mais longo,  e não houve na época uminvestimentos em pesquisa para buscar novos materiais de cultivares de soja que se adequasse a um segundo plantio, o que levou os produtores a abandonar a alternativa do cultivo da soja safrinha no noroeste do Paraná, ao contrário do que aconteceu com o cultivo do milho safrinha…

A cultura do milho, de menor custo de cultivo na época, despertou o interesse da iniciativa privada em investir e desenvolver cultivares de milho mais resistente ao acamamento das plantas e principalmente cultivares mais precoces com maior potencial produtivo, o que possibilitou a longo dos anos a viabilidade econômica do segundo plantio do milho, hoje sendo considerado por muitos como “safrona”.

Neste ano de 2014 o produtor voltou a buscar novas alternativas, e uma das opções foi cultivar lavoura de soja sobre soja, ou seja, em área que foi colhida a lavoura de soja verão, o produtor planta uma nova lavoura de soja na sequencia.

Esta pratica requer atenção redobrada por parte do produtor, uma vez que os riscos de incidência de pragas e doenças podem se proliferar já no estágios de desenvolvimentoinicial das plantas, o que obriga o produtor a realizar os tratos culturais a qualquer sinal de incidência (tratamento quase que preventivo), para que se tenha um controle efetivo, do contrário os gastos com os defensivos podem aumentar significativamente os custos da produção, além de comprometer a produtividade com a proliferação das doenças.

Pé de Soja - Valdir Fries

Com muitas lavouras de soja em fase de maturação e até áreas de soja já colhidas, o debate em relação a restrição da liberdade de se cultivar a soja na safrinha, ou de até se proibir o plantio da soja safrinha veio a público, devido a questão de segurança da sanidade vegetal da cultura.

No caso desta lavoura de soja (das imagens acima), instalada e já colhida no noroeste do Paraná, o controle de pragas e doenças ficou dentro do normal que acontece com as lavouras da primeira safra, tanto é que foi possível controlar as pragas com quatro aplicações de inseticidas, sendo que a praga que mais preocupou inicialmente foi a proliferação da mosca branca, já em relação as doenças, o controle feito na forma preventiva, foram realizadas três aplicações de fungicidas, uma para doenças de final de ciclo, e duas com produto mais especifico para a ferrugem…

Os custos foram compatíveis, e as perdas se deram não por pragas e doenças, mas sim pela estiagem e a alta temperatura que aconteceu no decorrer do mês de fevereiro, que acabou comprometendo o desenvolvimento vegetativo, no entanto a frutificação/granação foi de excelente qualidade… O que leva a crer que ao menos no Estado do Paraná, a simples posição de se proibir ocultivo de soja na segunda safra não deve ser medida a ser tomada, até porque o sudoeste do Estado tem por tradição o cultivo da soja na segunda safra destinada a produção de sementes, com bons resultados ao longo dos anos.

O Estado do Mato Grosso tem tomado posições, e segundo acompanhamento técnico do MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO o plantio pode até ser proibido a partir do final de dezembro de cada ano. Não acompanhei de perto a questão do Mato Grosso, mas acredito que a simples proibição não seria a melhor das alternativas, uma vez que o produtor precisa de uma cobertura vegetal sobre o solo, e analisando em termos de ataque de pragas, a mesma lagarta que ataca a soja, ataca também o milheto e outras culturas… Restando no caso do cultivo da soja safrinha a preocupação com a proliferação da ferrugem, e neste caso o LEI já determina um calendário especifico em que o produtor rural deve realizar o VAZIO SANITÁRIO por um determinado período.

Ao que se sabe, tanto os produtores de Mato Grosso, Goias e do sul do país, mesmo cultivando soja safrinha, conseguem respeitar o calendário, até porque hoje a tecnologia desenvolveu cultivares de soja mais precoces, o que permite realizar a colheita da segunda safra de soja antes do inicio do período do vazio sanitário. No caso no noroeste do Paraná, este período do vazio sanitário é de 15 de junho a 15 de setembro de cada ano.

Muito vem se falando e debatendo em termos de sanidade vegetal da soja na segunda safra, o que não deixa de ser prioridade,  mas deixo um ALERTA… O mais importante nestas alturas do debate não deve ser a simples proibição do cultivo, mas sim despertar o interesse do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento…

Ou melhor dizendo, devemos fazer com que nossas lideranças passem a COBRAR DO GOVERNO FEDERAL maiores investimentos junto a EMBRAPA para realização de pesquisa na melhoria genética das sementes de soja, desenvolvendo plantas mais resistentes a determinadas doenças… Novas moléculas de defensivos a serem liberadas e adequar o manejo a uma tecnologia poderemos viabilizar o cultivo da soja safrinha, como foi possível viabilizar o cultivo do milho, onde pudemos observar um grande investimento por parte da iniciativa privada para se obter excelentes materiais de cultivares que hoje estão no mercado.

Folhas e espigas de milho - Valdir Fries

A pesquisa genética deve ser uma constante para se obter plantas cada vez mais produtivas e sadias… a imagem acima demonstra o potencial produtivo e a sanidade das folhas de duas variedades de milho distintas, plantadas em um mesmo dia, com a mesma tecnologia de adubação e tratos culturais, isto prova que com a realização de investimentos em pesquisa é possível desenvolver materiais genético cada vez mais resistentes às doenças fúngicas e bacterianas.

Seja na safrinha de soja ou no cultivo da safrinha de milho, o produtor rural deve ter é CONSCIÊNCIA DOS RISCOS e RESPONSABILIDADE NO CONTROLE DAS PRAGAS E DAS DOENÇAS que venham a atacar suas lavouras, para que não comprometa o seu empreendimento… Do mais o que precisamos é cobrar investimentos do GOVERNO FEDERAL para a EMBRAPA desenvolver suas pesquisas. 

No Notícias Agrícolas

O link abaixo traz uma entrevista com o pesquisar da Embrapa Soja, Fernando Adegas, sobre as preocupações técnica do plantio da safrinha. A seguir, o produtor rural de Campina da Lagoa/PR, Marcelo Favarão, sobre as condições das lavouras desse cultivo em sua região. Confira as entrevistas na íntegra:

>> Fernando Adegas - Embrapa Soja

>> Marcelo Favarão - Campina da Lagoa/PR

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Fonte:
Valdir Edemar Fries

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7 comentários

  • Valdir Edemar Fries Itambé - PR

    Sempre é bom debater determinados assuntos, graças a democracia isto é possível...Já em uma possível ditadura comunista, com certeza a liberdade de imprensa, que o MERCADO & COMPANHIA nos proporciona através do Canal Rural e do site NOTICIAS AGRÍCOLAS certamente sofria o retalhamento de censura...

    Pudemos observar aqui que o DEBATE é melhor... E já podemos concluir que PROIBIR PURA E SIMPLESMENTE NÃO É O MELHOR CAMINHO... E nesta linha de pensamento, quero aqui esclarecer que o cultivo de SOJA sobre SOJA..."Cultivo de soja safrinha" não quer dizer e não tem nada a ver com "PLANTA SE SOJA GUAXO"... Cultivo de soja safrinha exige atenção redobrada no manejo da cultura... Cultivo da soja safrinha é uma alternativa excelente na composição de um CALENDÁRIO DE ROTAÇÃO DE CULTURA para os produtores do ESTADO DO PARANÁ... Tecnicamente falando, quem cultivou o soja safrinha, tem pela frente uma excelente oportunidade de cultivar o TRIGO, que segundo a própria EMBRAPA é uma das culturas que mais proporciona cobertura de solo e consequentemente mais fornece matéria orgânica contribuindo de forma significativa no controle de nematóides...

    Num calendário de rotação de cultura o produtor que planta soja sobre soja, tem a oportunidade de voltar a plantar o soja após a colheita do trigo...

    No caso de quebrar a sequencia soja verão, milho inverno sem perder a época de plantio e sem deixar a terra em pousio por muito tempo(sem cultivo econômico), a soja sobre soja é uma das únicas opções na composição do calendário que segue:

    CALENDÁRIO DE ROTAÇÃO DE CULTURA: Plantio de soja de 15 a 20 de setembro,colhido e seguido do Plantio de Soja segunda safra entre os dias 25 a 30 de janeiro, colheita com colheita em final de maio. O pousio em junho e julho é tempo suficiente para realização da correção do solo e outras praticas conservação e manejo de solo e água além de controle de ervas resistentes à certos herbicidas.

    O novo ciclo de plantio já com MILHO no VERÃO em agosto como forma de rotação, tendo a colheita de milho na primeira quinzena de janeiro, seguido do plantio de SOJA SEGUNDA SAFRA, com colheita em maio a tempo de plantar TRIGO ou AVEIA para no próximo ciclo, voltar com o plantio de SOJA na primeira safra e retornar com o MILHO SAFRINHA...

    Portanto, sabemos dos riscos e da atenção que devemos ter ao plantar SOJA SAFRINHA, no entanto a PROIBIÇÃO NÃO DEVE SER O CAMINHO, do contrário não teremos a poção de formular um calendário de rotação de cultura conforme descrito, nem mesmo produzirmos as sementes de soja em uma segunda safra que tem apresentado viabilidade em todo sudoeste do Paraná e até mesmo em Mato Grosso... Ficamos felizes da DELEGACIA ESTADUAL DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA DO MATO GROSSO, através do Doutor Wanderlei Guerra, ao contrário de simplesmente recomendar a proibição do plantio a partir de 31 de dezembro, buscar agora, uma solução através de um debate em audiência pública o melhor recomendação para o cultivo da soja safrinha para o Estado do Mato Grosso...(ENTREVISTA http://www.noticiasagricolas.com.br/videos/entrevistas/139853-entrevista-com-aido-mattjie-e-wanderlei-dias-guerra-produtor-rural-mapa-cuiaba.html#.U4OZZ_ldVyU.

    _______________________________________________

    Esperamos que o avanço do plantio da soja na segunda safra seja como opção para viabilizar um calendário de rotação, ou seja por motivo de mercado de grão ou produção de sementes, o que precisamos é buscar investimentos em PESQUISA, e que a EMBRAPA possa nos acompanhar a nível de campo e levar para os laboratórios os melhores resultados para o melhoramento genético de novas cultivares mais resistentes à doenças fúngicas e bacterianas.

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  • Joel Carlos Hendges Balsas - MA

    E A ROTAÇÃO DE CULTURA FICA ONDE ESPERTO ?

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  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. Liones Severo, já é de domínio público sua sabedoria, sinto-me constrangido em “emendar” um comentário do senhor, mas acho que pode ser positivo àqueles que estão no sistema produtivo.

    Existem no Brasil empresas que produzem em laboratório um parasitoide de ovos de lepidópteros, no caso ele parasita 150 espécies, como a lagarta da soja, lagarta do cartucho do milho. Controla com eficiência a lagarta da espiga do milho, que é do gênero Helicoverpa, seu nome cientifico é Helicoverpa zea, e mais 147 espécies. Segundo informações é também um exímio parasita dos ovos da Helicoverpa armigera, a nova praga que amedronta 11 de cada 10 produtores rurais.

    Ah! O nome do parasitoide é: Trichogramma pretosium e o responsável pela sua aplicação no Brasil é o Professor Doutor José Roberto Postali Parra, ESALQ-USP, que merece todos os méritos, pois a décadas que trabalha para melhorar as técnicas de soltura nas áreas cultivadas.

    ESPERO TER CONTRIBUÍDO!

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  • João Alves da Fonseca Paracatu - MG

    O tempo e os resultados obtidos servirão de baliza para a decisão de continuar ou não semeando soja safrinha,o que já está estabelecido é que,com as variedades super precoce é possível fazer 2 safras seguidas e ainda colocar uma gramínea (milheto ou brachiária)sem intervir no vazio sanitário,hoje estabelecido.O mercado é e será rei e senhor da toda atividade econômica.

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  • Liones Severo Porto Alegre - RS

    Caro Leandro Fabiani, jogo no seu time. Os produtores são completamente enganados pelos agroquímicos (leia-se helicoverpa). Façamos nós, nossa própria experiência, ou vão continuar assim mesmo. abraços

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  • FRANÇOIS HEINECK nova mutum - MT

    vocês pararam para pensar que o problema não é tão simples pois com soja sobre soja, principalmente no MT o agricultor utiliza muito mais vezes os mesmos principios ativos dos venenos, oque acaba selecionando pragas e doenças resistentes muito mais rapidamente,nos fungicidas temos apenas os triazois e estrubilurinas que se aparecer resistencia vamos controlar ferrugem com ok?

    já se usa em alguns casos até 6 aplicasões e agora mais a safrinha, isso vai para 12 aplicações de principios ativos iguais,facilitando muito o aparecimento de pragas e doenças resistentes como aconteceu no milho bt.

    se vcs querem isso é só continuar plantando soja sobre soja.

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  • leandro fabiani São José dos Campos - SP

    O tema da safrinha de soja (ou não) é um tanto desafiador. Mas concordo que somente proibir demonstraria um único caminho e isso não condiz com a necessidade de seguir avançando tanto em pesquisas como em novas estratégias para diluir investimentos fixos do agro negócio.

    Entre agricultores a unanimidade não está próxima mas são estes desafios que "alimentam" a fome da evolução e pelo que conheço dessa turma, logo teremos soja de setembro a junho nos campos brasileiros. Acho isso ótimo.

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