Mercado de Açúcar: CALEIDOSCÓPIO

Publicado em 05/08/2012 18:08
por Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting

CALEIDOSCÓPIO

O mercado de açúcar fechou a semana com baixa de 52 pontos no vencimento outubro/2012 que encerrou o pregão de sexta-feira cotado a 22 centavos de dólar por libra-peso. A queda atingiu os outros meses da tela com variações negativas entre 0 e 48 pontos. O spread outubro/março alargou 6 pontos na semana, ou 1,32 dólares por tonelada. Desde o início de junho, quando mercado atingiu sua baixa, a recuperação dos preços já é de 14%.

O mercado parece ter encontrado um novo e aborrecido intervalo de preços, entre 22 e 24 centavos de dólar por libra-peso. Em julho ficou entre 21 e 24. Poucos corajosos se atrevem a sair vendendo a descoberto abaixo dos 22 centavos de dólar por libra-peso e muitas usinas coçam as mãos e preparam seus hedges ao longo da curva até maio/julho de 2013 aproveitando a boa liquidação que esses valores mostram se combinados com os hedges cambiais (via NDF, principalmente). A demanda externa - reclamam alguns experimentados traders - é pequena ainda. A queda de braço dos preços tem por um lado a melhora das condições climáticas no Centro Sul que aponta para a recuperação da moagem e pressiona os preços, e por outro, a perspectiva de queda nas previsões de safra indiana e de outros países da região asiática.

Uma trading de açúcar baseada em Londres reduziu em 27% sua estimativa de superávit global da safra 2012/2013 para 4,5 milhões de toneladas (era 6,2 milhões). Ao mesmo tempo, um banco de investimento americano prevê que os preços do açúcar na presente safra vão retomar a queda e buscar os 19 centavos de dólar por libra-peso. O mercado apresenta tantas facetas, tantas alternativas que se a cada momento apresenta combinações variadas e interessantes, assemelhando-se um caleidoscópio.

Na maior seca dos últimos 56 anos, os Estados Unidos debatem se faz sentido usar milho para produzir etanol. Produtores de carnes e aves daquele país pediram para a Agência de Proteção Ambiental afrouxar o programa de etanol de milho para este ano, argumentando que o uso do milho para esse fim, neste momento difícil, impulsiona ainda mais os preços dos alimentos. Milho e soja continuam sua escalada de alta e este ano já subiram 22% e 34%, respectivamente. Um projeto de lei tramita no congresso americano para reduzir a utilização de etanol em 50% do volume quando a oferta do produto for baixa. 

O governo brasileiro jura de pé junto que em 2012 não sai aumento da gasolina na bomba. Isso quer dizer que o setor vai continuar amargando com prejuízos enormes na comercialização de etanol hidratado que hoje, considerando o índice da ESALQ, a R$ 1,0592 por litro, liquida o equivalente em açúcar a 17,09 centavos de dólar por libra-peso, comparando com o custo de produção apurado pelo modelo da Archer Consulting que aponta 17,94 centavos de dólar por libra-peso FOB. Ou seja, vende-se hidratado com prejuízo de pelo menos 5,50 % sem considerar o custo financeiro. Como vender etanol é a maneira mais rápida de se fazer dinheiro no começo de safra para as usinas, o prejuízo deve ser muito maior dependendo da necessidade de caixa.

A situação para o governo vai piorar, e muito. Na sexta-feira, a estatal do petróleo divulgou seu resultado do segundo trimestre: o primeiro prejuizo desde 1999: R$ 1,346 bilhões. Com o crescimento médio do consumo de combustível em torno de 2.5-3.0 bilhões de litros para 2013, aonde é que eles vão buscar esse volume? Importando gasolina, importando etanol de milho, que como vimos acima, não vai ocorrer ou comprando etanol de cana? O volume de cana precisaria crescer para 580 milhões de toneladas em 2013/2014 para atender essa demanda potencial. 

A ICE, proprietária da bolsa de açúcar de NY, anunciou que fechará o pregão de viva voz das opções até meados de outubro (os futuros já são negociados por plataforma eletrônica desde 2008). Uma pena. Vamos de vez para o pregão eletrônico que tira o glamour dos mercados futuros e, principalmente, pasteuriza a matéria prima principal das commodities: a informação rápida que corre nos pregões. Enquanto isso, na semana que passou, após erros operacionais de algoritmos, uma corretora americana no mercado acionário anunciou um prejuízo de US$ 440 milhões, depois que o tal software começou a passar ordens para o pregão que não eram de ninguém. Impressionante.

“Os computadores estão apenas processando os erros de modo mais rápido”, disse-me um cético analista. Em março de 1994, uma empresa estatal de cobre do Chile incorreu em perdas de US$ 200 milhões (na época, 0,5% do PIB chileno). A perda originou-se porque o trader responsável pelas operações de hedge colocara em sua planilha os hedges de venda com sinal invertido, ou seja, enquanto o mercado internacional de cobre subia e ia contra a posição original, sua planilha mostrava lucro já que ele lançara com sinal oposto. Quando percebeu tardiamente o erro, que já resultava naquele momento em US$ 30 milhões, e tentou reverter a situação, incorreu no prejuízo total acima mencionado. Aqui, sabemos quem é o culpado. Hoje, a culpa é do software.

Desde a recente posição em aberto de 780.000 lotes em NY, ocorrida em junho, NY agora apresenta 670.000 contratos. Uma queda significativa. A posição em aberto dos contratos caiu enquanto o preço subiu.

O contrato de etanol na BM&F Bovespa está com uma posição em aberto de 5.023 lotes em futuros mais 681 lotes em opções. Uma queda de 10% em relação ao mês passado.

A volatilidade do mercado nos últimos 20 dias subiu para 27,58% comparativamente aos 25,87% do mês passado; volatilidade de 50 dias subiu para 31,74% (há um mês era 24,16%) e a de 100 e 200 dias 28,98% e 28,13% (há um mês 24,21% e 29,65%), respectivamente. 

Uma boa alternativa especulativa pode ser a venda de puts (opções de venda) de preço de exercício 22 centavos de dólar por libra-peso para os próximos dois vencimentos. Justificativa: preços dificilmente caem abaixo de 22 centavos de dólar por libra-peso e a volatilidade parece estar muito alta. A conferir.

Tenham todos uma excelente semana com muitos negócios.

Arnaldo Luiz Corrêa

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Fonte:
Archer Consulting

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