Venezuela: cresce o número de mortos em barricadas em Caracas e no interior
Nesta sexta-feira, a capital venezuelana e outras cidades do interior do país foram cenário de uma nova jornada de protestos, com avenidas sendo bloqueadas por dezenas de manifestantes. Pelo segundo dia seguido, algumas das principais vias do leste da capital Caracas foram interrompidas com barricadas de detritos e troncos de árvores instaladas por manifestantes, em protesto contra a administração de Nicolás Maduro.
Embora as atividades públicas e comerciais tenham sido suspensas desde ontem por decisão do governo, que aumentou de quatro para seis dias o feriado oficial de Carnaval, em alguns pontos da cidade eram vistas longas filas de veículos devido a bloqueios de vias. As barricadas também forçaram dezenas de pessoas a andar vários quilômetros para chegar às suas casas e a algumas lojas que abriram na sexta-feira.
No meio da manhã, pelo menos quatro aeronaves militares sobrevoaram Caracas, o que chamou a atenção da população. As autoridades não informaram os motivos da ação.
Em outras cidades venezuelanas, como Valência, Mérida e San Cristóbal também foram registrados bloqueios de vias, de acordo com a imprensa local.
Um dos principais focos dos protestos contra Maduro, Chacao voltou a registrar enfrentamentos entre manifestantes e forças de segurança na noite de sexta-feira. Policiais dispararam várias bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Confrontos também ocorreram em El Rosal, no leste da capital, onde centenas de pessoas bloquearam ruas e jogaram pedras na polícia. Bombas de gás foram lançadas contra os manifestantes. Serviços de saúde locais informaram pelo menos vinte feridos no protesto, entre eles pessoas intoxicadas pelo gás.
POLICIA DE MADURO PRENDE JORNALISTAS
Pelo menos 41 manifestantes da oposição, entre eles oito estrangeiros, foram detidos nesta sexta-feira, depois de enfrentarem com pedradas e coquetéis molotov os militares da Guarda Nacional que tentavam dispersá-los com gás lacrimogêneo em uma avenida do leste de Caracas, informou a TV oficial."A operação especial da Guarda Nacional em Altamira permitiu a detenção de 41 manifestantes, dos quais oito são estrangeiros e são procurados por terrorismo internacional", informou o canal oficial VTV.
Segundo o Sindicato da Imprensa (SNTP, na sigla em espanhol), a fotógrafa italiana Francesca Commi, do jornal local El Nacional, está entre os detidos. O jornalista americano Andrew Rosati, colaborador do Miami Herald, foi preso e solto cerca de meia hora depois. O jornalista foi atingido no rosto e no abdômen pela GNB, algemado, ficou sem seu equipamento e foi preso por 1/2 hora", informou o sindicato, em sua conta no microblog Twitter.
As autoridades não confirmaram as detenções, nem divulgaram detalhes sobre os estrangeiros detidos na Praça Altamira. O prefeito de Chacao, Ramón Muchacho, disse no Twitter que "foram atendidos três pacientes provenientes de Altamira, dois por tiros e um com contusões".
As forças da ordem usaram jatos d'água e gás lacrimogêneo nos manifestantes, jovens em sua maioria e muitos deles encapuzados. Os ativistas instalaram dezenas de barricadas nos arredores da Praça Altarmira, principal palco dos protestos contra o governo em Caracas.
Os manifestantes lançaram uma chuva de bombas incendiárias nos militares em Altamira, no município de Chacao. "Houve atuação com gás dos corpos de segurança", disse o prefeito de Chacao à emissora Globovisión. Em Altamira, esse tipo de confronto tem sido registrado quase que diariamente no final do dia, desde 12 de fevereiro, quando houve uma grande marcha da oposição no centro de Caracas.
Desde o início dos protestos, o serviço de saúde de Chacao atendeu mais de 100 manifestantes por ferimentos a bala, golpes, ou por problemas respiratórios causados pela inalação de gás lacrimogêneo.
MADURO DIZ QUE UM MILITAR FOI MORTO NOS PROTESTOS
Um militar venezuelano morreu nesta sexta, após ter sido ferido com uma arma de fogo, e duas pessoas ficaram feridas em uma localidade do centro do país, elevando para 18 o número de mortos nos protestos iniciados há três semanas, informou o presidente Nicolás Maduro.
"Há dois feridos, e acaba de morrer um Guarda Nacional, Geovany Pantoja, que foi ferido a bala no olho", disse Maduro, em uma entrevista coletiva no Palácio presidencial de Miraflores, na presença de representantes de vários setores políticos e sociais.
Um militar sofreu "dois disparos na perna", e outra pessoa se encontra em situação "estável", acrescentou Maduro no ato transmitido pela televisão oficial. Sem dar detalhes, Maduro disse que um grupo da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) foi "emboscado" a tiros, quando "removia escombros" em ruas de El Trigal, em Valencia, a terceira cidade mais importante do país.
"Todas essas coisas estão sendo feitas para buscar uma reação violenta da força pública", denunciou Maduro, advertindo que "a Justiça deve cair implacável sobre os assassinos e os que preparam grupos paramilitares (...) para se proteger em supostos protestos e buscar a guerra civil no país".
Mais cedo, a procuradora geral da Venezuela, Luisa Ortega, informou que o saldo dos protestos até o momento é de pelo menos 17 mortos e 261 feridos.
As manifestações começaram em 4 de fevereiro, em San Cristóbal (oeste), quando universitários foram às ruas reivindicar medidas contra a insegurança, após a tentativa de estupro e roubo de uma estudante.
Barricadas impedem a distribuição de alimentos
A Associação de Comerciantes do estado venezuelano de Táchira (Aceta), a sudoeste de Caracas, denunciou nesta sexta-feira que mais de 6 mil lojas registram falta de estoques devido às barricadas que impedem a distribuição de produtos, alguns de primeira necessidade.
A denúncia foi feita pelo vice-presidente da entidade, Prieto Ceniccola, que explicou que há quase duas semanas os proprietários têm dificuldades em abrir portas, "não só pela insegurança, mas pela falta de alimentos".
A deputada Zoraida Parra, do Partido Socialista Unido da Venezuela, denunciou que setores da oposição estiveram em vários estabelecimentos, alertando os proprietários que, ou as portas ficam fechadas, ou os estabelecimentos seriam destruídos.
Situado a 850 quilômetros de Caracas, o estado de Táchira faz fronteira com a Colômbia e tem registrado um número significativo de cidadãos portugueses.
Em 19 de fevereiro, o governador de Táchira, José Gregório Vielma Mora, denunciou que 120 paramilitares estavam no estado e provocaram várias situações de instabilidade.
Há 16 dias, são registrados protestos em várias localidades da Venezuela. Atos de violência deixaram pelo menos 14 mortos, dezenas de feridos e mais de 500 pessoas detidas.
Os protestos começaram em 12 de fevereiro, com uma marcha pacífica de estudantes contra a insegurança, mas intensificaram-se no mesmo dia, quando confrontos entre manifestantes, forças da ordem e grupos armados, provocaram a morte de três pessoas.
Na quarta-feira, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, atribuiu a morte de mais de 50 cidadãos à violência e às barricadas que impedem, por exemplo, a chegada de assistência médica.
(*Com informações da Agência Lusa).
Venezuelanos mantêm protestos durante o Carnaval
O carnaval se converteu em um teatro de operações do conflito venezuelano. O governo decretou como feriado a quinta e a sexta-feira, quando se comemoram 25 anos dos protestos populares conhecidos como o “Caracazo”. Analistas interpretam a medida como uma ação para antecipar o feriado, prolongá-lo e uma forma de desmobilizar as agitações nas ruas do país.
O lema dos adversários de Maduro tem sido “o que se cansa, perde”. Dirigentes da oposição e do movimento estudantil fizeram uma agenda de atividades para manter seus seguidores nas ruas. Hoje, por exemplo, haverá uma caravana em Caracas em apoio a Leopoldo López, líder do Partido da Vontade Popular, que está preso após de entregar às autoridades que o culpou por instigar a violência, associada à delinquência, incêndios e danos ao país. Maduro acusou López de ser líder de um possível golpe de Estado.
O opositor defende sua inocência e diz que exerceu um direito constitucional ao chamar protestos nas ruas pacificamente, apesar de alguns manifestantes não tenham realizado atos desta maneira.
Dezoito pessoas morreram nos protestos do país desde o dia 12 de fevereiro. Na sexta-feira, um militar da Guarda Nacional foi assassinado com um tiro no rosto em confronto na cidade de El Trigal, no estado de Carabobo. A morte do militar foi centro de discussões e controvérsias com denuncias de manifestantes que acusaram os membros do corpo militar por abusos de força, torturas e homicídios durante as repressões. Maduro tem pedido pela instalação de uma conferencia nacional de paz.
Luisa Ortega Díaz, da Procuradoria Geral da República, disse nesta sexta-feira que seu escritório iniciou 27 investigações contra funcionários por supostas violações de direitos humanos. Díaz aponta que a maior parte dos mais de mil manifestantes que foram presos já recuperou a liberdade, acusados de desestabilizar o país. Os manifestantes detidos negam a culpa, alegando ter o direito de protestar em busca de proteção.
As imagens que estão sendo propagadas nas redes sociais parecem cartões postais de balneários ou clubes de praia: crianças brincando em piscinas infláveis, adultos em trajes de banho sentados embaixo de guarda-sol. Poderiam ser turistas ou viajantes, mas a realidade é que são manifestantes venezuelanos que participam de bloqueios nas ruas – principalmente de bairros de classes média e alta do país.
Os protestos são contra o governo de Nicolás Maduro e contra o agravamento da situação econômica da Venezuela que se mantêm desde 12 de fevereiro. Muitos cidadãos decidiram não parar os protestos nos dias do carnaval, embora outras milhares de pessoas usem estes dias para descansar com suas famílias viajando para praias venezuelanas. 
Há vários avisos pela cidade que retratam as zonas residenciais como balneários. “Praia Cumbres” – diz um cartaz nas redondezas de Cumbres. María Buroz, uma moradora local, considera este tipo de manifestação não-violenta como irrelevante diante à negativa do governo em escutar os pedidos que a oposição tem levantado. “É bizarro, piscinas de plástico e guarda-sóis, lado a lado às barricadas, é algo tão cínico quanto convocarmos o Carnaval quando passamos por três semanas de protestos em todo o país, com um saldo de gente morta, ferida, detida e torturada”, diz.

Os fechamentos de rua, chamados de "guarimbas" na Venezuela, têm causado controvérsia mesmo entre adversários do governo que discutem se essa é a melhor maneira de ser ouvido pelo governo. Os bloqueios, em muitos casos, têm sido fortemente reprimidos pela Guarda Nacional, corpo militar responsável em manter a paz no país. O formato do "protesto praieiro" também tem dividido opiniões entre os que apoiam e os que consideram que representa uma banalização da luta política.
NA FOLHA:
Brasil abandona venezuelanos, diz Capriles
Opositor critica posição de Dilma e Cristina, que mostraram apoio a Nicolás Maduro
SYLVIA COLOMBODE SÃO PAULO
"O governo brasileiro está dando as costas para o povo venezuelano", disse em entrevista à Folha, por telefone, Henrique Capriles Radonski, 42, líder da oposição e segundo colocado nas eleições de 2012.
Para Capriles, "poucos líderes latino-americanos estão mandando mensagens positivas ao país neste momento", e citou como exemplos o uruguaio José Pepe Mujica, que se ofereceu para mediar um diálogo entre chavistas e antichavistas, o chileno Sebastián Piñera e o colombiano Juan Manuel Santos, que pediram uma solução conciliatória para a crise.
"Os governos da Argentina e do Brasil estão dizendo não à Venezuela ao apoiar [Nicolás] Maduro. As duas presidentes não parecem ter atravessado ditaduras no passado, ou ter conhecido a tortura e as desaparições. Sei que estão conscientes do que é o autoritarismo deste governo e é inaceitável que agora apoiem Maduro, ignorando o que estão vendo nas ruas de Caracas", completou.
O também governador do Estado de Miranda disse que está em contato constante com os apoiadores do líder oposicionsta Leopoldo López, que se encontra preso enquanto se investiga sua participação nos protestos que tomaram a capital venezuelana nas últimas três semanas e causaram mais de 10 mortes.
"Estou solidário com ele e tentando estabelecer um diálogo de construção e de união, apesar de nossas diferenças."
Enquanto López defende que a população force Maduro a renunciar por meio de manifestações, Capriles considera que há outras formas constitucionais de pedir a saída do chavista do governo.
"Minhas bandeiras e as de López num primeiro momento são as mesmas, é preciso soltar os presos políticos e desarmar os coletivos' (milícia paramilitar financiada pelo governo)."
Num segundo momento, defende Capriles, "é preciso buscar o apoio dos pobres do país, reunir assinaturas e apoios não apenas dos favorecidos de Caracas.
Minha proposta obteve mais de 44% dos votos, há muito mais gente descontente do que a que está efetivamente nas ruas. É preciso reunir todos", completa.
CRISE
Capriles considera que os principais problemas venezuelanos hoje são a inflação, que é a maior da América Latina (56%) e a insegurança, potencializada pela existência dos grupos paramilitares. As milícias têm dado apoio à Polícia na repressão às mobilizações estudantis.
"Com esses índices, vamos ter a maior crise econômica da história da Venezuela muito rapidamente. Isso significa que a tensão social aumentará e uma crise política é inevitável. O governo tem como mudar isso e sabe", afirma.
"É preciso adotar medidas imediatas para conter a inflação. Parar com os anúncios e a propaganda televisiva de inaugurações e atos. E chamar os oposicionistas ao diálogo, não armar uma guerra contra eles."
Sobre as milícias, Capriles pensa que começaram como grupos de apoio comunitários, mas que hoje se configuram como uma verdadeira guerrilha, que pode inclusive sair do controle.
"Hoje o governo sabe onde estão, que armas possui, e controla suas ações. Mas como prever o que podem se tornar? A população está assustada e as instituições, seriamente ameaçadas enquanto esses grupos continuarem nas ruas."
O governador ainda lembrou que, nesta semana, completaram-se 25 anos do "Caracazo", série de protestos que ocorreram em 1989, durante o governo de Carlos Andrés Perez (Ação Democrática), que foi duramente reprimida, deixando um saldo de mais de 300 mortos, segundo estimativas oficiais.
"Os chavistas se dizem filhos do Caracazo', por terem estado do lado dos que protestavam e foram reprimidos. Agora estão criando condições para provocar algo similar ou mesmo pior", completou Capriles.
Oposicionista pede a Dilma posição sobre a Venezuela
Brasil deve abordar violações, diz o prefeito metropolitano de Caracas
Antonio Ledezma, que teve funções esvaziadas pelo chavismo, diz apoiar protestos para 'retificar' governo atual
FABIANO MAISONNAVEDE SÃO PAULO
Em carta à presidente Dilma Rousseff, o prefeito metropolitano de Caracas, o oposicionista Antonio Ledezma, cobrou uma posição do Brasil sobre a atuação do presidente Nicolás Maduro durante as recentes manifestações na Venezuela, que deixaram 17 mortos e 216 feridos.
"Enviei uma comunicação à presidente do Brasil na qual recordo que ela foi prisioneira de um governo militarista e peço que não deixe de dar sua opinião sobre a situação de repressão na Venezuela", disse Ledezma em entrevista por telefone à Folha.
Na carta, o oposicionista menciona o depoimento que deu ao Senado brasileiro em 2009, semanas antes da votação que aprovaria a entrada da Venezuela no Mercosul. Na ocasião, Ledezma apoiou o ingresso desde que Caracas respeitasse a cláusula democrática do bloco.
"É por isso que me dirijo muito respeitosamente à senhora para solicitar que seu governo, apegado à democracia e aos direitos humanos, se pronuncie (...) para condenar essas práticas de violação ao pluralismo", escreveu.
A carta foi entregue na Embaixada do Brasil em Caracas na quarta, mas não havia chegado ao Planalto até ontem.
Ledezma, 58, é um dos oposicionistas mais experientes. Na crise atual, tentou mediar a divisão na oposição.
O racha está entre os radicais, liderados por Leopoldo López, preso desde o último dia 18 e que prega manifestações de rua para pressionar Maduro a renunciar, e o ex-candidato Henrique Capriles, que defende a via eleitoral.
À Folha, Ledezma disse que não apoia manifestações para derrubar Maduro, mas para que seu governo "retifique" problemas econômicos e os altos índices de violência e respeite a oposição.
Apesar de ser prefeito metropolitano, Ledezma praticamente não tem atribuições.
Após a eleição do oposicionista, em 2008, o então presidente, Hugo Chávez, esvaziou seu governo distrital, retirando de sua gestão escolas, bombeiros e até o Palácio de Governo. "Perdi 99% do repasse orçamentário constitucional", disse Ledezma, que chama a manobra de "golpe de Estado".
UNASUL
Após encontro com o colega brasileiro Luiz Alberto Figueiredo, o chanceler venezuelano, Elías Jaua, afirmou ontem em Brasília que teve "boa receptividade" para a proposta de reunir a Unasul (União dos Estados Sul-Americanos) para analisar a crise.
Mas o Itamaraty emitiu uma nota protocolar, sem dar apoio à cúpula.
Leia a íntegra da carta
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