Bolsa se recupera com possibilidade de Marina assumir campanha (Veja.com)

Publicado em 13/08/2014 16:52 e atualizado em 14/08/2014 02:45
A hipótese da entrada da vice na disputa eleitoral reduziu as incertezas do mercado sobre uma possível vitória de Dilma já no primeiro turno (em veja.com.br)

Após recuar quase 2% na abertura do pregão desta quarta-feira, a BM&FBovespa reduziu perdas e operava em queda de 0,33% às 14h30 (horário de Brasília). Investidores se mostraram apreensivos em meio a rumores — depois confirmados — de que o candidato à presidência Eduardo Campos (PSD-PE) estava na aeronave que caiu durante a manhã em Santos. A possibilidade de sua vice, Marina Silva, também estar a bordo fez com que as perdas se aprofundassem no início do pregão. "A possibilidade de não haver um terceiro candidato fez os investidores se assustarem, acreditando na possível vitória de Dilma logo no primeiro turno. Ao saberem que Marina não estava no voo, o medo se dissipou de certa forma", afirma o economista André Perfeito, da Gradual Corretora.

Desde abril deste ano, a Bolsa de Valores tem oscilado ao sabor das pesquisas eleitorais. O Ibovespa sobe quando o desempenho da candidata Dilma Rousseff piora nas pesquisas, e cai quando há melhora nos números da petista. A hipótese de não haver um terceiro candidato fez com que o mercado temesse a vitória de Dilma já no primeiro turno, contra o tucano Aécio Neves. Naúltima pesquisa Ibope, Dilma apresentava 38% de intenções de voto, contra 23% de Aécio e 9% de Campos. "Ainda é muito difícil entender o movimento desta manhã. Mas o mercado não gosta de incerteza. E, se a Marina sair forte, as chances de uma oposição à Dilma são maiores. O mercado nunca foi tão avesso à ideia de Marina", afirma Felipe Miranda, da Empiricus.

Em relatório enviado a clientes, o analista Tony Volpon, do banco Nomura, afirmou que há uma grande expectativa de que a possível candidatura de Marina receba um impulso extra devido à comoção com a morte de Campos. "Não sabemos se isso será grande e duradouro o suficiente para torná-la forte na competição, mas não é possível desconsiderar Marina como uma candidata ao segundo turno", afirma Volpon. O economista disse, contudo, que o acontecimento desta quarta-feira ainda não altera suas perspectivas para o resultado eleitoral: uma vitória acirrada de Aécio Neves. Volpon citou as eleições de 2010, em que 50% dos votos de Marina foram para José Serra no segundo turno, como argumento para reafirmar suas projeções. "As notícias tristes de hoje tornam nossas estimativas ainda mais prováveis", afirma.

Visão econômica — O governo de Campos no estado de Pernambuco se beneficiou de muitas das políticas sociais da era Lula, sobretudo devido ao alinhamento político entre o peessedebista e o ex-presidente. Campos foi ministro de Ciência e Tecnologia entre 2004 e 2005. No setor empresarial, era visto como gestor pragmático e pró-mercado, além de defensor de uma política de regras claras para empresas. Em entrevista ao Jornal Nacional na noite de terça-feira, Campos afirmou que, caso fosse eleito presidente, a manutenção das regras seria uma de suas prioridades. Dizia Campos que o governo não podia interferir no setor privado de forma a romper com regras e promover a instabilidade. "A coisa mais importante que o próximo presidente deve fazer é recuperar a confiança do mercado e da comunidade empresarial", afirmou.

Morte de Campos faz corrida eleitoral recomeçar do zero

PSB tem 10 dias para indicar um substituto na disputa – inclusive Marina. Mudança no cenário também força Dilma e Aécio a rever seus planos

Eduardo Campos e Marina Silva visitam a comunidade Vila Olavo Costa na cidade de Juiz de Fora (MG)

Eduardo Campos e Marina Silva visitam a comunidade Vila Olavo Costa na cidade de Juiz de Fora (MG)(Divulgação/VEJA)

A classe política brasileira viverá dias de luto com a morte do ex-governador Eduardo Campos, candidato à Presidência da República pelo PSB. Mas, passado esse período, a lacuna deixada por Campos no cenário eleitoral poderá ser preenchida por um nome indicado pelo PSB ou por uma das siglas coligadas – PPS, PHS , PRP, PPL e PSL. Um dos caminhos prováveis é que a candidata à vice, Marina Silva, assuma a cabeça da chapa. Com capital político de 20 milhões de votos nas eleições presidenciais de 2010, Marina filiou-se ao PSB no limite do prazo para não ficar fora das eleições deste ano depois que sua Rede Sustentabilidade não conseguiu o registro na Justiça Eleitoral. Desde então, tentava emplacar o discurso de que juntos formavam uma chapa com dois candidatos, cujo propósito era tentar romper a polarização entre PT e PSDB. É fato que sua eventual entrada na corrida eleitoral como candidata mudará o atual cenário registrado em pesquisas. Segundo as regras eleitorais, a indicação de um novo candidato deve ser feita em até dez dias – para isso, é necessária a realização de uma nova convenção do PSB.

Politicamente, muitas questões ainda terão de ser equacionadas: a principal delas envolve as disputas frequentes entre militantes do PSB e da Rede, que nunca se entenderam na montagem das chapas estaduais nem na divisão de forças da campanha presidencial. Mais: se Marina assumir a candidatura, terá de ter o respaldo de dirigentes do PSB em uma nova convenção. Além disso, é ainda provável que o PPS também cobre lugar na chapa. A operação também envolveria marqueteiros e a manutenção ou não de material de campanha já produzido.

Terceiro colocado nas pesquisas de intenções de voto, e o mais desconhecido pelo eleitorado entre os principais candidatos, Campos fez sua primeira grande aparição na televisão na noite desta terça, em entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo. A propaganda eleitoral em cadeia nacional de TV e rádio começará na próxima terça-feira. Ainda era cedo para estimar qual seria o efeito da maior exposição em sua trajetória eleitoral. 

Uma coisa, porém, é certa: com ou sem Marina no páreo, o roteiro que parecia traçado nas eleições de 2014 foi rasgado – Dilma e Aécio também terão de refazer seus planos. A própria figura de Marina na campanha também provocaria mudanças na relação entre os candidatos e nas estratégias da propaganda na TV: Campos mantinha uma relação mais amistosa com Aécio e com setores do próprio PT do que Marina.

A disputa presidencial, cujo cenário pouco havia se alterado nas últimas pesquisas, começará do zero.

Reinaldo Azevedo: A realização de um segundo turno sempre foi mais provável com Marina como candidata do PSB do que com Campos. E esse será certamente um fator muito forte a pesar em favor do seu nome. Mas a solução não é nada simples.

A morte de Eduardo Campos e o futuro

Eduardo Campos, candidato do PSB à Presidência da República, ex-governador de Pernambuco e ex-ministro, está morto. Tinha 49 anos. Um acidente aéreo, em circunstâncias ainda desconhecidas, pôs fim a uma trajetória exitosa. Há exatos nove anos, morria Miguel Arraes, seu avô, de quem era o herdeiro político. Querem saber? Pior para o país. O que vai acontecer agora? O resto é escuro.

Por mais que seja desagradável entrar neste tipo de conjectura, ela precisa ser feita.  Vamos ao que não pode ser feito: o PSB não pode, por exemplo, se coligar a uma nova frente partidária. Fica com uma de duas escolhas: ou lança uma candidatura ou não lança ninguém. Nessa segunda hipótese, mesmo sem coligação formal, seu tempo na TV não pode nem ser usado em defesa de outra candidatura.

A saída que parece natural — desprezados os fatores contrários, dos quais tratarei — é Marina Silva, que veio da Rede, mas está filiada ao PSB, se transformar na candidata do partido. Não custa lembrar que, na última pesquisa Datafolha em que seu nome foi testado, em abril, ela apareceu com 27% dos votos, contra apenas 14% de Campos. Isso não quer dizer que os números se repetiriam hoje. O tucano Aécio Neves, então, tinha apenas 18%; no mais recente Datafolha, está 20%. O ex-governador de Pernambuco havia caído na preferência do eleitorado e marcou apenas 8%. Se e quando o nome de Marina voltar a frequentar as pesquisas, o que vai acontecer?

A realização de um segundo turno sempre foi mais provável com Marina como candidata do PSB do que com Campos. E esse será certamente um fator muito forte a pesar em favor do seu nome. Mas a solução não é nada simples.

Campos e a líder da Rede conseguiram firmar um entendimento que transitava muito mais no terreno afetivo do que no das afinidades eletivas. A relação de Marina com o PSB chega a ser, em muitos casos, explosiva. Há mais divergências de ponto de vista do que convergências. O tempo na TV, destaque-se, é do partido. Com Campos vivo, sempre se apostava que os dois conversariam e que se chegaria a um consenso ao menos afetivo. Sem ele…

Não é só uma questão de agenda, não. Também há dificuldades nos Estados. Marina tentou implodir uma série de alianças feitas pelo PSB — e São Paulo é um exemplo claro disso. A dificuldade, em suma, está em o PSB ungir a candidatura de alguém que sabe não pertencer ao partido. Daqui a pouco, não é segredo para ninguém, ela ruma para a sua própria sigla e leva junto os membros da Rede que conseguirem se eleger.

Não há perspectiva de futuro que consiga, no entanto, nos tirar da perplexidade.

Por Reinaldo Azevedo

No mercado, tristeza, choque e dúvida

Num dia desgraçado para a política brasileira, as pessoas que fazem o mercado financeiro reagiram com tristeza, desânimo e até revolta à morte de Eduardo Campos, aos 49 anos e no auge de uma carreira política que poderia levá-lo à Presidência.

Além do choque com a morte prematura, prevaleceram as análises sobre as implicações de sua morte para o segundo turno das eleições.

Seguem trechos de conversas ao longo do dia:

“Impressionante como só morrem os políticos capazes de fazer a diferença e mudar um pouco as coisas: o Tancredo, o Luis Eduardo Magalhães, e agora esse cara.”Eduardo Campos

“Ele era o único no PSB que conseguia domar esses políticos rudimentares: Ciro Gomes, Erundina…. Ele ia conseguir ter maioria no Congresso porque ia conseguir trazer esses caras, mas teria uma agenda reformista.”

“A incerteza que tenho é se Marina vai se candidatar ou não, porque talvez ela não queira se lançar pelo PSB. A segunda dúvida é se ela apoiaria Aécio no segundo turno, como o Eduardo claramente planejava fazer.”

“A Marina tem um recall muito mais próximo do Aécio, então eles devem aparecer mais empatados nas pesquisas. Ela rouba votos da Dilma.”

“O maior risco hoje é [Marina] não concorrer, o que aumentaria a probabilidade da Dilma ganhar no primeiro turno.”

“Começa agora uma batalha de 10 dias de pressão popular sobre uma pessoa que tem 20 milhões de votos, a Marina. De um lado, vai haver a pressão dos atores do PSB, que só serão protagonistas da política se ela se candidatar. Do outro, haverá um grande leilão. Para o PT, se o PSB botar um camarada qualquer na cabeça de chapa, só para não ficar evidente que ele foi cooptado pela Dilma… esses caras podem cobrar essencialmente o que quiserem, porque eles entregam a eleição para a Dilma no primeiro turno. Haverá uma pressão insuportável do PT sobre o PSB.”

“Não importa a forma como você analisa isso, o Aécio é quem mais perdeu com essa tragédia. Ou a probabilidade de segundo turno, que já era de uns 90%, vai para 100% mas ele não chega lá, ou a Marina não concorre e ele perde a eleição agora.”

“Imagino que a Marina é uma candidata até mais forte que o Eduardo, e até mais forte que o Aécio. O problema agora é o segundo turno ser entre Dilma e Marina, o que seria um desastre para o País. (…) O Eduardo tinha muito mais punch que o Aécio, entusiasmava mais.. O caso do Jornal Nacional foi típico… Para quem está simbolizando mudança, o Aécio não diz muita coisa. Aliás, o Jornal Nacional tem sido não uma entrevista, mas quase um inquérito policial: as pessoas têm que ficar na defensiva e com isso perdem muito a oportunidade de dizer o que querem fazer.”

“Os três melhores governadores jovens do Brasil eram Sérgio Cabral, o Eduardo e o Aécio. O Cabral implodiu, o Eduardo morreu, só sobrou o Aécio. A perda é muito grande olhando pra frente. Você não tem nenhuma liderança nova, com qualidade, para as próximas eleições. Eu fiquei triste.”

“O cara era pai de cinco filhos. Como pai de três, isso é uma tragédia que me atinge profundamente, independentemente de qualquer ramificação, e obviamente haverá muitas. É uma tragédia muito grande e muito cedo pra dizer qualquer coisa.”

Por Geraldo Samor

1 minuto com Augusto Nunes: Cinco meses depois de ter comparado Eduardo Campos a Collor, Lula finge chorar a morte do ‘homem público de rara e extraordinária qualidade’

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