Produção de soja na região do SEALBA (Sergipe, Alagoas e Bahia) - Oportunidades e desafios

Publicado em 27/12/2016 09:39
*Sergio de Oliveira Procópio, Hélio Wilson Lemos de Carvalho, Antonio Dias Santiago

A partir de estudos da Embrapa Tabuleiros Costeiros foi identificada uma região com significativo potencial agrícola, que engloba municípios de Sergipe, Alagoas e Bahia. A região foi denominada SEALBA, um acrônimo formado pelas siglas dos estados componentes, de forma semelhante à região do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), um dos mais pujantes polos de produção de grãos no país atualmente. A união desses três estados gera um fortalecimento territorial que pode facilitar a atração de investimentos públicos e privados, voltados ao desenvolvimento agrícola da região.

Ensaios em campo demonstram a potencialidade da soja na região da SEALBA

Ensaios em campo demonstram a potencialidade da soja na região - Foto: Saulo Coelho

 

A soja é a cultura agrícola de maior importância nacional, ocupando uma área de aproximadamente 34 milhões de hectares, representando mais de 50% de toda a produção brasileira de grãos. Algumas oportunidades do ponto de vista técnico, mas principalmente estratégico, em relação à produção de soja no SEALBA foram vislumbradas pela equipe técnica da Embrapa, as quais serão elencadas a seguir.

Época de plantio e colheita diferenciada em relação às demais regiões produtoras de soja do Brasil

A região do SEALBA apresenta seu principal período chuvoso no outono-inverno, enquanto as demais regiões produtoras de soja do Brasil têm seu período chuvoso na primavera-verão. Isso resulta em benefícios fundamentais, como:

colheita em época diferenciada do restante do Brasil (possibilidade de obtenção de melhores preços);
possibilidade de aquisição de sementes de melhor qualidade fisiológica (sementes colhidas na região Centro-Sul e MATOPIBA em março e abril, quando o plantio no SEALBA é de abril a junho);
oportunidade de terceirização de máquinas agrícolas provenientes do Centro-Sul e MATOPIBA (desencontro das operações agrícolas entre essas regiões e o SEALBA);
desenvolvimento da soja em temperaturas mais favoráveis (como o cultivo é realizado no outono/inverno, a temperaturas, principalmente a noturna, são mais favoráveis às necessidades da planta);
oportunidade do SEALBA se tornar uma região produtora de sementes de soja de alta qualidade, voltada ao abastecimento de regiões como o Norte do Mato Grosso, o Pará e o MATOPIBA (as sementes são colhidas entre agosto e outubro, se encaixando perfeitamente nas necessidades dessas regiões, onde o plantio de soja ocorre entre outubro e o início de dezembro);
maior teor de proteína nos grãos de soja (estudos iniciais apontam teores de proteína chegando a 41% nos grãos da soja produzida no agreste sergipano – isto resulta em uma maior qualidade do farelo produzido a partir da soja produzida na região).

Proximidade de terminais portuários

A localização estratégica desse recorte territorial, próxima a terminais portuários nos três estados, garante uma redução no custo de frete para a entrega da soja voltada à exportação.

Proximidade de grandes bacias leiteiras

Importantes polos de produção leiteira do Nordeste, como Nossa Senhora da Glória-SE, Batalha-AL e Garanhuns-PE, e de regiões avícolas, geram uma forte demanda para a produção de farelo de soja como a principal fonte de proteína para a alimentação animal. O incremento da produção do grão na região ajudaria a suprir essa demanda com redução significativa de custos.

Proximidade das usinas produtoras de biodiesel

A soja é a principal fonte oleaginosa para a produção nacional de biodiesel, e a região do SEALBA tem potencial para fornecer o grão para unidades de processamento de todo o Nordeste, principalmente a usina localizada no município de Candeias-BA.

Experiência dos produtores sergipanos com milho

Experientes produtores de milho do Agreste Sergipano, uma das regiões de mais alta produtividade do país, possuem alto potencial para o aprendizado e a assimilação das práticas culturais utilizadas na produção de soja.

Oportunidade para a diversificação de cultivos

A soja pode ser introduzida e consolidada na região do SEALBA como uma grande alternativa para a diversificação de culturas, aumentando a sustentabilidade ambiental – com maior conservação de solo, recursos naturais e biodiversidade - e econômica – trazendo alternativas para a quebra das monoculturas da cana-de-açúcar e do milho e diminuindo a vulnerabilidade a crises sistêmicas inerentes ao monocultivo tradicional.

Além destas vantagens estratégicas da produção de soja no SEALBA, destaca-se também a publicação oficial da portaria do Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a produção de soja em todos os municípios do SEALBA, garantindo aos produtores a possibilidade de acesso a financiamento e seguro agrícola junto aos bancos.

Mas para que o cultivo da soja se torne uma realidade na região do SEALBA, um programa de pesquisa vem sendo conduzido pela Embrapa nos últimos quatro anos. Esse programa vem atuando na avaliação de cultivares (adaptabilidade e estabilidade); ajuste de espaçamento entre linhas; definição das melhores épocas de plantio; avaliação da população de plantas; adaptações nos sistemas de produção (plantio direto e rotação de culturas); avaliação da inoculação de sementes de soja; monitoramento de pragas e doenças; e levantamento dos custos de produção.

A assistência técnica é ponto fundamental para o crescimento da soja na região. Nos últimos quatro anos foram realizados quatro dias de campo sobre a produção de soja (Frei Paulo-SE, Umbaúba-SE, São Miguel dos Campos-AL e Porto Calvo-AL) e um curso de formação de multiplicadores (Maceió-AL). A parceria com os governos e as organizações estaduais de assistência tem sido fundamental para ajudar a apresentar os resultados de pesquisa e fazer o conhecimento sobre a cultura chegar aos produtores.

É importante frisar que para o estabelecimento da cultura da soja na região do SEALBA alguns desafios foram identificados. Entre eles estão:

a existência de poucas unidades de armazenamento e secagem de grãos (Umidade do grão para comercialização é de no máximo 14%);
poucas cooperativas de produtores rurais; 
limitação de políticas agrícolas para o chamado "Nordeste Úmido", onde está localizada a maior parte do SEALBA (a grande maioria das políticas agrícolas do Nordeste está voltada para a região semiárida, com foco na convivência com a seca); 
capacitação da assistência técnica agropecuária; 
revendas agropecuárias locais com falta de estoque e tradição com insumos direcionados à cultura da soja; 
inexistência de inoculantes com validade compatível com a época de plantio de soja no SEALBA; 
predomínio do preparo convencional do solo nas áreas de produção de grãos (conservação da água no solo); 
presença de camada adensada de solo (coeso) nos argissolos dos Tabuleiros Costeiros (risco de encharcamento, nocivo ao desenvolvimento da planta);
residual de herbicidas no solo em áreas de reforma de cana-de-açúcar, podendo causar prejuízos para a soja cultivada em sucessão; 
e variabilidade pluviométrica entre os anos.

As áreas de produção comerciais de soja vêm aumentando nos últimos dois anos no SEALBA, e o cenário deve continuar nessa crescente na safra 2017. Desse modo, a região pode se transformar, em médio prazo, em um importante polo brasileiro de produção de soja, auxiliando no desenvolvimento econômico e social do Nordeste e do Brasil. 

 

* Sergio de Oliveira Procópio, Hélio Wilson Lemos de Carvalho e Antonio Dias Santiago são pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros 

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Fonte:
Embrapa Tabuleiros Costeiros

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