EUA x China: Setembro se aproxima com possibilidade de mais tarifas; agro no foco

Publicado em 30/08/2019 10:57

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O mês de agosto vai terminando com o mercado financeiro do mundo todo de olho nas novas tarifas entre China e Estados Unidos que podem começar a vigorar já a partir do início de setembro. As especulações são de que os times dos dois países consigam se alinhar nos próximos dias, pelo menos, para evitar que essa nova onda de taxações não seja efetivada. No entanto, são apenas especulações até o momento, assim como a maioria das notícias em torno da guerra comercial. 

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Nestes últimos dias, a China tem pedido calma e mais negociações aos EUA. Enquanto isso, Donald Trump afirma que o plano das tarifas adicionais sobre bens e produtos chineses continua. E afirma que seu movimento está mantido mesmo diante do pleito de uma série de líderes e associações norte-americanos pedindo, ao menos, um cessar fogo com a nação asiática. 

"Acho que o fato de tantas organizações comerciais estarem se manifestando neste momento nos diz que estão questionando a abordagem do governo", disse Ker Gibbs, presidente da Câmara de Comércio Americana em Xangai ao South China Morning Post.

Sobre um encontro presencial entre delegações de Washington e Pequim agora no próximos mês, os dois países estariam discutindo a possibilidade, de acordo com o site chinês South China Morning Post."A maioria de nós é bastante cética em relação ao uso de tarifas, mas apoiamos a abordagem mais determinada do governo em relação à China", completa. 

A informação foi dada pelo porta-voz do Ministério do Comércio da China, Gao Feng, e vem na sequência de declarações do secretário do Tesouro Americano, Steve Mnuchin se recusando a confirmar a continuidade das negociações previstas para acontecerem em setembro. Mais do que isso, o representante chinês afirmou ainda que desde a última reunião pessoal que as delegações tiveram em Xangai, no final de julho, foram mantidas "comunicações efetivas" entre as duas. 

Do lado de Trump, as afirmações que chegam ainda dão conta de que a guerra comercial segue. Nem mesmo os apelos de senadores republicanos para que a estratégia do presidente norte-americano seja revista diante dos crescentes temores de que o conflito possam promover uma recessão econômica global. O presidente, porém, não cede e segue afirmando que a China precisa aceitar o acordo. 

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GUERRA COMERCIAL X PRODUTORES NORTE-AMERICANOS

Enquanto a guerra comercial segue ferindo muito profundamente o agronegócio norte-americano, a relação entre os produtores rurais e o presidente dos Estados Unidos é bastante interessante de ser observada. Uma pesquisa feita pelo site local Farm Futures entre 21 de julho e 3 de agosto, portanto bastante recente, mostrou que 67% dos agricultores apoiariam a reeleição de Trump em 2020. 

Pesquisa Farm Futures Trump

Fonte: Farm Futures

Apesar da ausência da demanda chinesa no mercado dos EUA, os produtores locais que seguem apoiando o presidente republicano afirmam que o voto para sua reeleição é justificado por terem, enfim, um presidente que vem buscado garantir melhores relações para o comércio dos EUA e que parou com os laços desleais que prejudicavam a economia americana, como alguns firmados com os chineses. 

De outro lado, há quem acredite que Trump estaria, como mostraram os dados apurados pela Farm Futures, "comprando os votos da agricultura" com os recentes pacotes de ajuda anunciados por Washington ao setor. Foram US$ 12 bilhões em 2018 e US$ 16 bilhões já anunciados neste ano. 

Ainda assim, muitos representantes de diversos elos da cadeia produtiva norte-americana afirmaram ainda conhecer uma estratégia "pós China" do presidente Trump e sua equipe. 

"Não gosto, mas entendo a necessidade de conseguir um acordo melhor para os EUA", disse Brad Nelson, produtor rural em Minnesota, em entrevista durante a última semana feita pela equipe do Pro Farmer Midwest Crop Tour e divulgada pela Bloomberg. “Os chineses estão sempre inventando desculpas para não importar milho, DDGs e etanol nos EUA. Quando eles fazem isso conosco, entendo a necessidade de trabalhar nas mudanças”, completa. 

O agronegócio norte-americano passa por uma de suas piores crises desde a década de 1980 e pode ver a dívida agrícola norte-americana crescer cerca de 3,9% este ano para US$ 427 bilhões, ainda de acordo com a agência internacional de notícias. No ano passado, a dívida registrou seu mais elevado patamar desde 1984. 

O discurso de Trump, porém, está sempre pronto e na ponta da língua. Nesta semana, durante a Farm Progress Show, a maior feira de máquinas e implementos agrícolas do mundo, realizada em Decatur, Illinois, o presidente ligou para o seu Secretaário de Agricultura, Sonny Perdue, durante seu discurso e surpreendeu a audiência. 

"A China alvejou nossos agricultores pensando que eles podem chegar até mim porque sabia que eu os amo", disse. Além disso, citou ainda o importante acordo comercial que está sendo costurado com o Japão, um dos maiores importantes de produtos agrícolas dos EUA. 

"Deve ser concluído e assinado", disse Trump por telefone na ligação a Perdue. “Eu tenho um bom relacionamento com o primeiro-ministro (japonês). Não acho que algo ruim pode acontecer, mas se acontecer, eles sabem que terão que pagar o preço se desistirem". E conclui dizendo que segue buscando mais acordos que possam beneficiar os agricultores e para que permaneçam ao seu lado. 

ENQUANTO ISSO, NO BRASIL

Enquanto isso, no Brasil, os produtores e o agronegócio seguem sendo beneficiados pelas oportunidades que continuam a surgir, com a soja no coração do bom momento, além do mercado de proteínas animais. A demanda da nação asiática segue muito concentrada no mercado brasileiro e promovendo uma intensa melhora no ritmo de negócios e na formação de preços. 

E a tendência é de que este seja o comportamento dos compradores ainda por um bom período de tempo, até que China e EUA cheguem, enfim, a um acordo, como explica Mário Mariano, da Novo Rumo Corretora. 

Como relata o analista, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta quinta-feira (29), essas oportunidades refletiram em, nos últimos 10 a 12 dias, 25 a 26 navios de soja vendidos do Brasil à nação asiática, o que serviu de importante combustível para os prêmios. 

"Já teríamos algo entre 1,3 a 1,4 milhão de toneladas de registros de novas vendas e isso mostra que as conversas não muito amigáveis entre China e EUA acabaram por migrar uma demanda para cá. Se é uma especulação ou o registro de uma venda futura não vem ao caso, a tendência mostrou que seria mais demandado o produto da América do Sul e foi", diz Mariano. 

A alta dos prêmios para a soja da safra nova no embarque março de 30 para 40 cents de dólar, fevereiro perto de 50 cents e abril e maio chegando aos 40 também é um sinalizador de que a demanda chinesa para o produto 2019/20 também está se aquecendo e criando momentos mais oportunos de comercialização para o produtor brasileiro. 

"Há um sentimento de que a demanda pela safra futura brasileira ganhou um pouco mais de força com essa dificuldade de leitura de acordo, em um curto prazo, entre americanos e chineses", conclui. 

Veja mais:

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Com informações do South China Morning Post, Bloomberg e Farm Futures

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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