Dívida americana: Negociações nos Estados Unidos voltam à estaca zero

Publicado em 22/07/2011 22:19 e atualizado em 24/07/2011 21:46
O deputado republicano John Boehner, que vinha discutindo um acordo com o presidente Obama, desistiu das conversas.
Um diálogo promissor que corria nos bastidores do governo americano acabou em "lavagem de roupa suja". Até então, Boehner era tido como o político mais próximo de fechar um pacto com o governo em que se esperava ser aceito tanto pelo Senado, de maioria democrata, quanto pela Câmara, majoritariamente republicana. O deputado e o presidente Barack Obama vinham discutindo uma proposta que envolvia cortes de 1 trilhão de dólares.


O deputado republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes, divulgou nesta sexta-feira uma carta em que critica a postura da Casa Branca nas negociações, e afirma que um acordo nunca esteve sequer próximo de ser alcançado. "Ficou evidente que a Casa Branca simplesmente não é séria quanto a cortar gastos", esbravejou.

O portal do jornal The New York Times, nesta quinta-feira, havia relatado que as conversas tinham avançado e chegou a levantar a esperança de que um acordo poderia ser fechado. A publicação, no entanto, não escondeu que ainda havia muito descontentamento. De um lado, as pressões por cortes nos gastos sociais eram um ponto em que Obama custava a aceitar. Por outro, a exigência democrata por aumentos de imposto pesavam sobre o líder republicano. Justamente a dificuldade de ceder nestes postos explica a decadência da aproximação entre ambos.

Nesta sexta-feira, assessores de Boehner pararam de atender os telefonemas da Casa Branca, em um recado de que não aceitariam mais negociar, segundo informações do The New York Times. A crítica do parlamentar é que Obama queria aumentar impostos demais, sem mudanças significativas em programas de benefícios sociais de seu governo. Obama defendeu-se dizendo que havia oferecido um ‘acordo extraordinariamente justo’ que era ainda mais generoso que o proposto pelo Grupo dos Seis – formado por um comitê de senadores republicanos e democratas.

Irritado, o presidente americano convocou uma reunião com os líderes da Câmara dos Representantes para este sábado, às 11h00 da manhã (10h00 de Brasília). Ele quer que os políticos da oposição expliquem como pretendem evitar o calote da dívida se não concordam com proposta alguma. Já o deputado Boehner pretende tentar negociar a partir de agora com líderes do Senado.

Veto aos republicanos – Algumas horas antes da saída de Boehner das negociações, o Senado, como já era esperado, rejeitou a proposta deputados republicanos chamada de “cut, cup and balance” (cortar, limitar e equilibrar). O projeto previa um limite do endividamento público equivalente a 18% do PIB (atualmente o endividamento corrresponde à 95% do PIB). A única surpresa da reprovação do projeto é que estava previsto para acontecer neste sábado, mas os trabalhos foram antecipados. O Senado, aliás, declarou que trabalhará todos os dias, inclusive em finais de semana, até que um acordo para o aumento do teto da dívida seja aprovado.

Precaução – Ninguém quer ser o responsável pela crise que seria causada com o estouro do teto da dívida americana. Poucos, aliás, acreditam que o Congresso e a Casa Branca permitiriam que isso ocorresse. Mesmo assim, alguns dos líderes das principais entidades financeiras americanas resolveram se reunir nesta sexta-feira para discutir o que aconteceria caso o acordo não saia. O secretário do Tesouro Timothy Geithner; o presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke; e o presidente do Fed de Nova York, William Dudley; encontraram para avaliar o que estaria ao alcance de suas instituições caso o sistema político do país não encontre uma solução harmoniosa até 2 de agosto.

Obama confirma: 

Fracassa negociação sobre teto da dívida

O presidente americano, Barack Obama, informou nesta sexta-feira que fracassaram as negociações de última hora com os republicanos para ampliar o limite da dívida e evitar um default.

Obama criticou os republicanos por não aceitar um "pacto extraordinariamente justo" e convocou os líderes do Congresso a novas negociações neste sábado, às 11H00 local (12H00 de Brasília).

O presidente americano falou em uma coletiva de imprensa improvisada após o presidente da Câmara de Representantes, o republicano John Boehner, anunciar que seu partido se retirava do diálogo com a Casa Branca para buscar uma saída para o problema da dívida, e que mais à frente trabalhará com o Senado para alcançar um acordo.

"Decidi pôr fim às negociações com a Casa Branca e começar as negociações com os líderes do Senado em um esforço para encontrar uma saída", disse Boehner em uma carta aos membros da Câmara.

Boehner destacou que o governo Obama insistiu em 400 bilhões a mais em receita adicional, o que significaria aumentar impostos".

O republicano se disse ainda "convencido" de que o país evitará o default, e culpou a Casa Branca pelo fracasso das negociações: "Quero ser muito claro, ninguém deseja a falta de pagamento dos compromissos do governo dos Estados Unidos. Estou convencido de que isto não ocorrerá".

O anúncio alimenta as dúvidas sobre o destino dos esforços para aumentar o limite da dívida dos Estados Unidos, de 14,3 trilhões de dólares, antes de 2 de agosto, quando o governo da nação mais rica do mundo ficará sem dinheiro para pagar suas contas.

"Basicamente o que havíamos oferecido ao presidente da Câmara Boehner foi mais de um trilhão de dólares em cortes ao gasto discrecional, tanto interno quanto de defesa", disse Obama a jornalistas.

"É difícil entender porque o presidente da Câmara Boehner rejeitaria este tipo de acordo e, francamente, há um monte de republicanos que perguntam porquê não poderia ser implementado".

Obama acrescentou que o povo americano está "farto" das posturas políticas, e disse que pretende "assinar uma extensão do limite da dívida até 2013". "Estou disposto a assumir esta responsabilidade".

Apesar do fracasso das negociações, o presidente destacou que está "certo" de que os EUA não descumprirão seus compromissos de dívida.

Washington chegou ao teto legal da dívida federal no dia 16 de maio, mas utilizou ajustes de contabilidade, assim como a arrecadação tributária maior que o esperado, para pagar suas dívidas e continuar operando até a data limite.

Desde meados de maio, a dívida federal americana, de 14,3 trilhões de dólares, alcançou o limite máximo autorizado.

O Tesouro americano advertiu que após 2 de agosto, a menos que o Congresso vote um aumento do teto legal da dívida, os Estados Unidos não poderão cumprir com seus compromissos e deverão cortar 40% de seus gastos de um dia para outro, uma situação perigosamente próxima à inadimplência.

Líderes financeiros e de negócios advertiram que o fracasso em elevar o teto da dívida americana pode ter repercussões negativas na economia mundial, enquanto Obama previu que um default poderia dar lugar a um "Armageddon" econômico.

Boehner e Obama discordaram em uma série de questões, mas um ponto chave no fracasso das negociações foi a pressão da Casa Branca para aumentar os impostos às grandes corporações e aos setores ricos, questão a qual os republicanos se opõem ferozmente.

"O acordo não foi alcançado, e nunca realmente esteve perto de ser fechado. Enfim, não pudemos conectar. Não por diferentes personalidades, mas devido às diferentes visões de nosso país", disse Boehner em sua carta à Câmara.

"O presidente é enfático de que os impostos precisam ser aumentados. Como antigo pequeno empresário, sei que aumentar os impostos destrói postos de trabalho", acrescentou o líder da Câmara.

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Veja.com.br

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