Mercado de café:CHEGA A CHUVA, MAS DE CANIVETE...

Publicado em 26/09/2011 08:03
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting


A chuva no cafezal brasileiro não chegou, como esperado, e está prevista para começar em outubro, entretanto uma enxurrada de vendas de ativos de risco provocou uma baixa generalizada ao redor do mundo.

A firmeza do dólar americano, como alternativa de porto seguro, não poupou nem mesmo o ouro que desmoronou 9.64%. O contrato que mais caiu nos últimos cinco dias foi o da prata, 26.31%, seguido pelo cobre -16.53%, níquel -15.06% e o café na ICE -12.28%.

As bolsas de ações na Europa perderam entre 5% e 7%, as americanas ao redor de 6.5% e a brasileira 7.96%. O índice do dólar subiu 2.46%, enquanto o real brasileiro escorregou 5.69% - embora tenha tido uma baixa maior antes da intervenção do Banco Central.

Entre os culpados para o banho de sangue estão: a diminuição da nota de risco da Itália pela agência S&P; revisão negativa do crédito de outros bancos (incluindo agora alguns americanos); queda da confiança do consumidor americano; e principalmente as palavras do FED mencionando “que as perspectivas econômicas estão com riscos significantemente negativos”. Pronto, foi o prato cheio para a porta de saída ficar estreita. Os títulos da dívida americana de 10 anos negociaram em recorde históricos de alta, em outras palavras o juro foi o mais baixo já visto para este bond.

As commodities não ficaram de fora da carnificina já que os investidores se preocupam com uma diminuição de demanda caso uma nova recessão aconteça (o famoso “double-dip”).

O café em Nova Iorque fechou a semana no menor nível desde o dia 25 de janeiro (para a segunda posição), com destaque de venda por parte dos fundos que provavelmente na última sexta-feira devem ter reduzido sua posição comprada para algo em torno de 500 lotes apenas. As perdas para o “C” foram de US$ 28.95 por saca, enquanto na BM&F a queda foi de US$ 34.45 por saca. Londres sofreu menos, caindo US$ 11.52 por saca.

A volatilidade da moeda brasileira permitiu que em alguns momentos os exportadores locais pudessem pagar os mesmos preços em reais pelo produto dos fazendeiros, entretanto com a venda de dólares feita pelo governo os R$ 550.00 a saca ficaram distantes do interesse de compra. Com isso a reposição, em teoria, fica neste momento em território positivo em termos de diferenciais. 

Torradores que ainda buscam cobertura de físico ficaram contentes ao menos em ter a bolsa como uma alternativa de proteção, e aproveitaram a queda para fazerem compras. Cafés suaves de algumas origens que estão colhendo vieram para o mercado a preços mais atrativos, mas não se ouviu negócios volumosos acontecendo ainda. 

Para o robusta a situação parece confortável, mais em função dos estoques visíveis e da aproximação da safra grande do Vietnã do que necessariamente um livro recheado pela indústria – vamos acompanhar o comportamento dos que estão carregando este tipo de café.

Os estoques no Japão divulgados na semana mostram um incremento em julho em comparação a junho, totalizando 2.42 milhões de sacas. Nos Estados Unidos e na Europa não há problema de quantidade de café estocada, mas sim de qualidade, principalmente de café do Brasil que é o que todos mais usam e o que serviu de substituto para os suaves. Com isto a relutância de alguns torradores de pagar preço alto para os suaves diminuiu, movimentando alguns lotes no “spot”.

A correlação do café com o que ocorre no ambiente macroeconômico continuará impactando a análise fundamentalista, portanto temos que ficar de olho em alguma “solução mágica” que possa ser anunciada em conjunto pelos principais bancos centrais do mundo. Embora muitos analistas digam que não há mais munição para ser usada pelos governos, tivemos uma demonstração com a decisão do FOMC de que alguns instrumentos podem sim ter um efeito similar como os outros planos nomeados de QE (quantitative easing).

A história do café não mudou nada, o corrente ano-safra é deficitário e mesmo que as chuvas sejam perfeitas no Brasil não é possível torrar o grão que nem chegou a maturar na árvore.

Para quem pode bancar margem de bolsa e dormir a noite sem ajuda de remédios o terminal está dando uma boa oportunidade de compra.

Uma ótima semana e muito bons negócios para todos,
Rodrigo Costa* 

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Fonte:
Archer Consulting

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