O PT impede a renúncia de Marco Feliciano porque não abre mão de seus criminosos na CCJ

Publicado em 01/04/2013 21:02 e atualizado em 07/03/2020 11:39
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br
Se a imprensa, boa parte dela ao menos, que cobre o caso Marco Feliciano (PSC-SP) estivesse empenhada em reportar os fatos aos que estão do outro lado da tela, em vez de tentar convertê-los ao progressismo, só um título — ou variantes com tal conteúdo — seria possível para deixar claro o que se deu nesta terça na reunião de líderes com o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara: é o que está aí no alto. Sim, foi isto mesmo: o PT impediu a renúncia de Feliciano à presidência da comissão. Ou, se quiserem, o PT mantém Feliciano.

Por quê? O deputado aceitou renunciar à presidência da comissão. Ele só impôs uma condição: que os petistas José Genoino e João Paulo Cunha renunciassem à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). É claro que acho uma boa proposta, até porque ela surgiu primeiro neste blog. E olhem, observei então e observo agora, que Feliciano não é oficialmente um criminoso; os outros dois são.  O que é um criminoso? O Houaiss explica: “que ou aquele que infringiu por ação ou omissão o código penal, cometendo crime; delinquente, réu”.

Vamos ver como a imprensa vai noticiar a coisa. Nos sites dos grandes jornais, já vi que a informação foi parar no pé. As TVs, pelo cheiro da brilhantina, tendem a omitir a condição que ele impôs, rejeitada pelo PT. Assim, os nobres coleguinhas vão esconder dos telespectadores pela segunda vez que os petistas são os responsáveis pela manutenção de Feliciano na comissão:
a) quando a recusaram para pegar postos mais importantes, deixando-a para O PSC;
b) quando recusaram a renúncia de dois deputados criminosos.

E por que vão esconder? Ah, porque não é “progressista”. Como estão em campanha em favor do casamento gay — e podem estar, tudo certo! —, todas as notícias passarão por esse filtro. Eu sempre defendi que os veículos de comunicação tenham agenda. Só os tiranos querem impedir que tenham. Mas distorcer os fatos não é parte do jogo.

Proposta excelente
A proposta de Feliciano era excelente porque se aumentava a moralidade média da CCJ, ainda que muito pudesse ser feito por ali. Notem que Feliciano não exigiu, por exemplo, a renúncia de José Guimarães (PT-CE), irmão de Genoino, líder do PT na Câmara e chefe daquele pobre coitado encontrado com a cueca recheada de reais e dólares. Até os semoventes sabem que o dinheiro não era dele. O sujeito mal falava; tartamudeava. E olhem que Feliciano não pediu a renúncia de Ricardo Berzoini (PT), presidente do PT quando estourou o caso dos aloprados. Que ele conhecesse parte da operação ao menos, isso está comprovado pelos fatos. E olhem que Feliciano não pediu, atenção!, a renúncia de Paulo Maluf (PP-SP). Sim, ele mesmo: Maluf, acreditem, é titular de uma comissão chamada de “Constituição e Justiça”.

Que eu saiba, só mesmo os líderes do PT, PSOL, PDT, PCdoB e PPS insistiram na renúncia. Os demais acabaram concordando com a permanência.  O PSDB nem mesmo participou da reunião porque considerou que não havia dispositivo regimental que a justificasse. E não há mesmo. Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara — imaginem se Feliciano tivesse proposto a renúncia de todo mundo que está enrolado com a Justiça… — cobrou que as reuniões da comissão voltem a ser abertas. Voltarão. Quero saber se o homem que responde pela segurança dos trabalhos na Casa Legislativa garantirá também as condições necessárias para a sua realização.

Se não garantir, Feliciano pode recorrer ao Artigo 272 do Regimento Interno e fechar de novo. E o artigo diz o seguinte:
Art. 272. Será permitido a qualquer pessoa, convenientemente trajada e portando crachá de identificação, ingressar e permanecer no edifício principal da Câmara e seus anexos durante o expediente e assistir das galerias às sessões do Plenário e às reuniões das Comissões.
Parágrafo único. Os espectadores ou visitantes que se comportarem de forma inconveniente, a juízo do Presidente da Câmara ou de Comissão, bem como qualquer pessoa que perturbar a ordem em recinto da Casa, serão compelidos a sair, imediatamente, dos edifícios da Câmara.

Para encerrar
Feliciano, certamente, não representa um monte de gente. Também diz tolices e inconveniências sobre a morte de Jesus Cristo. Ooops, errei, ele falou besteira sobre a morte daquele outro mais famoso, né?, o tal John Lennon, acho… Mas representa outros tantos, como se vê na foto abaixo, de André Borges, da Folhapress. Aqueles dois que estão ali não devem ter entendido, inclusive, que o deputado seja racista.


Aos inconformados, inclusive os do jornalismo, coma liberdade de expressão, resta-me repetir a fala do economista Walter Williams:
“É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.

Por Reinaldo Azevedo

HÁ DEPUTADOS NA CÂMARA QUERENDO PÔR FIM À IMUNIDADE PARLAMENTAR PARA DELITOS DE OPINIÃO! SERIA A VOLTA DA DITADURA! SERIA O AI-5 DO PARLAMENTO!

É o fim da picada e seria o fim da linha! É nisto que dá flertar com saídas autoritárias; é nisto que dá ignorar os princípios da democracia; é nisto que dá a baixa cultura democrática! Se a informação publicada na Folha Online por Márcio Falcão estiver certa — e acredito que esteja —, há algumas bestas ao quadrado da Câmara (com a devida vênia às excelências com os dois pés do chão e as duas mãos também, para lembrar Ivan Lessa) dispostas a pôr fim à imunidade parlamentar para delitos de opinião. Seria a volta aos tempos da ditadura — que precisou do AI-5 para punir parlamentares por causa de suas opiniões.

Leiam o que informa Falcão:
“Após a discussão, os líderes avaliam que a única saída para retirar Feliciano seria a cassação por quebra de decoro parlamentar. Alguns levantaram a possibilidade de apresentar um projeto para alterar o regimento prevendo que o presidente de uma comissão pode ser destituído também por falas polêmicas, já que ao assumir o cargo, ele passa a representar a Casa. A medida não valeria para o caso de Feliciano, pois não poderia retroagir.”

Voltei
Há deputados querendo instalar na Câmara, então, a ditadura de opinião. Notem bem: já existe a possibilidade de cassação de mandato por quebra de decoro. Há outros crimes que suscitam igual pena desde que o parlamentar seja condenado em última instância. Mas não existe — e essa é a essência da imunidade parlamentar — a possibilidade de punir alguém por delito de opinião.

Ora, o que é uma “fala polêmica”? Depende! Se eu disser que a Sol gira em torno da Terra, isso não é “polêmico”, é apenas burro e mentiroso. A palavra “polêmica” deriva da ideia de luta, de combate. Só pode haver uma polêmica quando, ao menos, existem dois lados e não se está diante de uma evidência.

As polêmicas no campo das ciências exatas ou das ciências da natureza existem, sim, às pencas, mas costumam mobilizar a paixão de poucos porque, para delas participar, são necessários certos pré-requisitos. Já no universo da pura e simples opinião, relativas à moral, à ética, aos costumes, aos valores (e o direito costuma ser o desaguadouro dessas contendas), aí a coisa pega fogo. Todo mundo, naturalmente, tem o que dizer — e é bom que tenha mesmo, ué.

Mas há uma hierarquia, claro!, e é preciso que se ouçam primeiro as vozes de Caetano Veloso e do Wagner Moura. Se o Chico Buarque decidir falar, ele tem primazia. Se a Preta Gil estiver junto, aí é chegamos ao “magistra dixit”.  Se for para dar destaque à voz do povo (desde que ele esteja pensando “a coisa certa”), aí é o caso de ouvir algum sorridente de uma “comunidade pacificada” do Rio. “Comunidade pacificada” é como se chama “favela” no neojornalismo carioquês-adesista-pra-frente-Brasil-salve-a-Seleção. De vez em quando aparece uma van no meio do caminho…  É obrigatório abrir reportagem com uma pipa voando em céu azul (“pipa, entenderam? Criança feliz, futuro da nação!), o mar ao fundo, o asfalto no meio e o morro por princípio…

Mas volto ao ponto. Há áreas em que não há “opinião certa”, mas escolhas. Imaginar que se possa destituir o presidente de uma comissão por causa de uma “opinião polêmica” — e nem mesmo se fala em Regimento Interno —, sem nem mesmo um processo, é um escândalo. O Regimento da Câmara pode, sim, arbitrar sobre o que bem entender no que respeita a seu funcionamento. Mas não pode estabelecer um procedimento que afronte a Constituição.

Isso que alguns querem fazer corresponde a golpear a Artigo V da Constituição, que é cláusula pétrea e não pode ter seu conteúdo revogado nem por emenda constitucional. Quero lembrar aos deputados que a Constituição tem validade na rua, na chuva, na fazenda, numa casinha de sapé ou na Câmara dos Deputados.

Trata-se de um debate vergonhoso. Mais asqueroso ainda é ver a imprensa adotar o delito de opinião como uma espécie de norte ético.  Raramente os “inteligentes” foram tão burros.
Por Reinaldo Azevedo

Os novos e absurdos tribunais, a fala destemperada de Joaquim Barbosa, a reação desmedida dos magistrados… Que grande comédia de erros! Ou: Oportunistas aproveitam para defender mensaleiros

Sabem aquela máxima segundo a qual, “em casa que não tem pão, todo mundo grita, e ninguém razão”? Pois é… Precisa ser adaptada à mais recente Guerra de Itararé no Brasil, a do Poder Judiciário, que ora opõe o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo, a associações de magistrados. A diferença é que, nesse caso, pode ser o excesso de pão… Vamos ver.

A criação de quatro novos Tribunais Regionais Federais, se querem saber, é mesmo um despropósito. E é um despropósito porque não vai desafogar a Justiça porcaria nenhuma — basta esperar para constatar o óbvio — e ainda vai custar uma fábula. Não sei se chega aos R$ 8 bilhões de que fala Joaquim Barbosa — os atuais custam R$ 7 bilhões. Mas barato não será.

Dada a loucura que toma conta do Brasil, que padece de uma lamentável falta de líderes — haver ícones do populismo  rasteiro, como Lula, amado até pelo Bono Vox, não resolve… —, a emenda passa sem resistência, inclusive com o apoio do PSDB, o que só é uma vergonha adicional para o partido. É que um dos novos TRFs será instalado em Belo Horizonte. Então tá!

Num país sem líderes conscientes de seu papel, quem vai se opor a um troço que interessa, sim, a juízes, promotores, advogados e políticos? Ninguém! A sociedade que se dane e arque com o custo dos novos elefantes brancos e o séquito de eunucos necessário para mantê-los. No mérito, na resistência à criação dos novos tribunais, Barbosa está certíssimo. E também acerta quando diz que o tema não foi suficientemente debatido com a sociedade. O fato de a emenda ser de 2002 não quer dizer nada.

Ora vejam… Um Congresso que hoje quer se orgulhar de manter comissões permanentes sob o escrutínio de hordas que chegam a ser fascitoides aprova uma emenda que cria um gasto novo escandaloso, que, lamento, vai é punir os brasileiros. Barbosa acerta de novo: isso pode interessar às corporações de ofício e aos políticos, mas não interessa à população. Ocorre que esse assunto é mais difícil de ser compreendido, né? Satanizar um pastor é coisa mais tranquila.

Assim não, Barbosa!
Barbosa tem todo o direito de dizer o que pensa, e os juízes não têm por que se abespinhar. Mas há o que se diz e a forma como se diz. E é evidente que o ministro ultrapassou a linha do aceitável na sua reunião com os representantes dos magistrados.

Poderia ter deixado clara a sua crítica à criação do tribunal sem, no entanto, a evidente agressividade com que se manifestou, sabendo que a imprensa estava presente, já que ele mesmo assim determinara. Nem acho que fez só para se mostrar porque o seu temperamento mercurial é famoso haja ou não câmeras presentes. Havendo, então, ele tem um motivo adicional para se conter.

É aconselhável que Barbosa se encontre com os representantes de juízes, mas não é uma obrigação. Ele não é forçado a se reunir com representantes sindicais. Ao dizer as coisas certas — embora pecando no estilo e nas metáforas, um pouco demagógicos —, porém no tom imperial, de quem não aceita nem mesmo as objeções normais de uma conversa, desloca a atenção do público do “quê” para o “como”; torna vítimas os que vítimas não são; surge mais como vilão da história do que como guardião do cofre.

O ministrou chegou mesmo a dar um pito em um dos presentes. Ao afirmar que a criação dos novos tribunais fora “sorrateira”, o vice-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Ivanir César Ireno, objetou: “Sorrateira, não!”. Pronto! Foi o que bastou. O presidente do STF não economizou: “O senhor abaixe a voz porque o senhor está na presidência do Supremo Tribunal Federal. Só me dirija a palavra quando eu lhe pedir”.

Definitivamente, não é assim que deve agir mesmo quem está certo — especialmente porque está certo (no mérito). Constrangidos diante da imprensa, os representantes sindicais dos juízes emitiram nesta terça uma nota, que também peca pelo exagero e pelo destempero. Vale dizer: acabaram legitimando a fala agressiva de Barbosa, devolvendo na mesma moeda. Leiam a nota. Volto em seguida.

A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), entidades de classe de âmbito nacional da magistratura, considerando o ocorrido ontem (8) no gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), vêm a público manifestar-se nos seguintes termos:

1. O presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, agiu de forma desrespeitosa, premeditadamente agressiva, grosseira e inadequada para o cargo que ocupa.

2. Ao permitir, de forma inédita, que jornalistas acompanhassem a reunião com os dirigentes associativos, demonstrou a intenção de dirigir-se aos jornalistas, e não aos presidentes das associações, com quem pouco dialogou, pois os interrompia sempre que se manifestavam.

3. Ao discutir com dirigentes associativos, Sua Excelência mostrou sua enorme dificuldade em conviver com quem pensa de modo diferente do seu, pois acredita que somente suas ideias sejam as corretas.

4. O modo como tratou as associações de classe da magistratura não encontra precedente na história do Supremo Tribunal Federal, instituição que merece o respeito da magistratura.

5. Esse respeito foi manifestado pela forma educada e firme com que os dirigentes associativos portaram-se durante a reunião, mas não receberam do ministro reciprocidade.

6. A falta de respeito institucional não se limitou às associações de classe, mas também ao Congresso Nacional e à Advocacia, que foram atacados injustificadamente.

7. Dizer que os senadores e deputados teriam sido induzidos a erro por terem aprovado a PEC 544, de 2002, que tramita há mais de dez anos na Câmara dos Deputados ofende não só a inteligência dos parlamentares, mas também a sua liberdade de decidir, segundo as regras democráticas da Constituição da República.

8. É absolutamente lamentável quando aquele que ocupa o mais alto cargo do Poder Judiciário brasileiro manifeste-se com tal desprezo ao Poder Legislativo, aos advogados e às associações de classe da magistratura, que representam cerca de 20.000 magistrados de todo o país.

9. Os ataques e as palavras desrespeitosas dirigidas às Associações de Classe, especialmente à Ajufe, não se coadunam com a democracia, pois ultrapassam a liberdade de expressão do pensamento.

10. Como tudo na vida, as pessoas passam e as instituições permanecem. A história do Supremo Tribunal Federal contempla grandes presidentes e o futuro há de corrigir os erros presentes.

Brasília, 9 de abril de 2013.
NELSON CALANDRA
Presidente da AMB

NINO OLIVEIRA TOLDO
Presidente da Ajufe

JOÃO BOSCO DE BARCELOS COURA
Presidente em exercício da Anamatra

Voltei
Reprovo, de maneira inequívoca, o modo como Barbosa se comportou, mas resta evidente a nota das associações de juízes está muitos tons acima do desejável. Arvora-se até em porta-voz do Congresso Nacional, o que é descabido.

Mais uma omissão do governo
Que fique claro: a emenda só foi aprovada em razão da omissão do Planalto. Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Câmara, foi contra, sim, mas não muito! A exemplo do que aconteceu com o royalties do petróleo, Dilma deixou a coisa rolar. “Ah, é problema do Judiciário!” Não! Nesse caso, é um problema do Brasil, e quem zela pelo Tesouro é o Executivo.

Carona dos oportunistas
Conforme o esperado, os oportunistas decidiram pegar carona na crise. Os petistas — advogando, em última instância, em nome dos mensaleiros — já saíram a campo: “Estão vendo? Olhem só como é Joaquim Barbosa! Vejam como ele é um homem mau; briga com tudo mundo”. Daqui a pouco aparece um mais descarado: “Não falei que o Zé Dirceu é inocente?”

O relator da emenda no senado foi o petista Jorge Viana (PT-AC), que faz o que Dilma quer. Se encaminhou a favor da criação dos tribunais, o resto se deduz. Ele ficou bravo com Barbosa. Leiam trecho de reportagem de Gabriela Guerreiro, na Folha, que traz a fala de Viana:
“Tenho muita admiração pelos ministros que compõem o STF. Não posso crer que essas pessoas queiram nos decepcionar a todos. É a mais alta Corte de Justiça do país. Mas aquela audiência de ontem [com os magistrados] deseduca, para falar o mínimo. Eu não fui pressionado por ninguém, não fui chamado por ninguém para fazer parecer sorrateiro. Estou pondo a carapuça. Será que o Senado tem que aceitar isso?”, questionou o senador.
Em um recado direto a Barbosa, Viana disse que o “poder revela”. “Espero que ele não esteja sendo revelado agora”,
(…)

Retomo
Viram? Os magistrados saíram em defesa do Congresso, e o senador relator, em defesa dos magistrados. O vilão comum? Barbosa! Viana é apontado como membro da “ala pensante” do PT — há quem a considere mais perigosa do que a dos  não-pensantes… É claro que não se atendo ao fato, mas tentando pôr em dúvida a sensatez de Joaquim Barbosa em qualquer caso que atue. E, para os petistas, só um interessa: o mensalão.

Também o subjornalismo a soldo, financiado por estatais — sua missão é atacar a oposição, a imprensa independente, a Procuradoria-Geral da República e o STF — saiu chutando a canela de Barbosa. Depois do mensalão, a canalha faz isso até quando não há pretexto. Nesse caso, o próprio ministro o ofereceu de bandeja.

Contraproducente
Encerro assim: o destempero de Barbosa foi contraproducente — isto é, tem um efeito contrário ao pretendido. O país deveria estar debatendo o custo absurdo da medida, que contou com o apoio também do principal partido de oposição. Em vez disso, estamos debatendo o temperamento de Joaquim Barbosa, o pito que ele deu em não sei quem, a reação dos juízes…

Ou por outra: estamos debatendo o irrelevante sobre um buraco de alguns bilhões de reais.
Por Reinaldo Azevedo

TSE aprova mudanças no tamanho das bancadas de 13 estados

Por Jean-Philip Struck, na VEJA.com:

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) redefiniu na noite desta terça-feira o tamanho das bancadas estaduais na Câmara Federal. O novo critério leva em consideração os dados do censo do IBGE de 2010, e, segundo o tribunal, vai fazer com que oito estados percam deputados federais, enquanto outros cinco vão ganhar novos representantes. As mudanças não vão trazer mudanças para a atual legislatura, e só vão passar a valer a partir das eleições de 2014.

Ainda segundo o TSE, os estados que não concordarem podem questionar o novo critério no Supremo Tribunal Federal. Até a mudança decidida nesta noite, o número de deputados das bancadas da Câmara considerava dados da população de 1998. A divisão é feita levando em conta o número de cadeiras existentes na Câmara: 513, que são repartidas entre os 26 estados e o Distrito Federal.

Pelo novo critério, os estados de Alagoas, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Sul vão perder um deputado cada um. Já a Paraíba e o Piauí perderão dois deputados

No caso dos estados que vão ganhar novos representantes estão Amazonas e Santa Catarina, que vão ganhar um deputado cada. Ceará e Minas Gerais vão ter mais dois deputados. Já o Pará é quem ganhou mais com as mudanças: vai ganhar quatro deputados, passando de 17 cadeiras para 21 na Câmara.


O TSE não prevê mudanças em outros estados, como São Paulo. A reavaliação do tamanho das bancadas foi feito a partir de um pedido do Estado de Amazonas, que com a decisão acabou ganhando um deputado.

Em maio de 2012, deputados amazonenses afirmaram que o estado deveria ter mais do que oito parlamentares na Câmara. Eles observaram que o Estado tem uma população maior do que Alagoas e Piauí, que tinham nove e dez deputados, respectivamente.

A decisão de mudar o critério foi decidida por cinco votos a dois. Entre os que votaram contra a mudança, o ministro Marco Aurélio afirmou que não cabe ao TSE fixar as representações dos Estados para as eleições. A presidente do tribunal, Carmen Lúcia Antunes Rocha, também discordou, e disse que a Constituição não faz nenhuma referência à possibilidade de o TSE determinar a redistribuição das cadeiras na Câmara.

Já o ministro Henrique Neves disse que a mudança acompanha as transformações na população, que cresceu 14% entre 1998 e 2010. A opinião foi compartilhada por Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Henrique Neves, Luciana Lossio e José Antonio Dias Toffoli.
Por Reinaldo Azevedo

Cai a reforma política – PT queria enfiar as mãos nos cofres públicos para se perpetuar no poder

A reforma política naufragou. Os partidos decidiram obstruir a sessão da Câmara que começaria a debater a proposta do relator, o petista Henrique Fontana (PT-RS). Não se conseguiu chegar a um consenso mínimo nem mesmo sobre o primeiro item da agenda: a unificação das eleições municipais com as estaduais e federais. Dificilmente se conseguirá votar qualquer coisa a tempo para as eleições de 2014. Que bom!

O PT não tinha uma reforma política, mas um projeto para se eternizar no poder. Como julga que já engoliu seus adversários, pensou numa forma de começar a engolir também os aliados. É impressionante! O principal item da reforma pretendida pelo partido era o financiamento público de campanha, uma das teses mais escandalosamente falaciosas do país.

Já escrevi dezenas de textos contra a reforma proposta pelo PT. No dia 17 de setembro de 2011, demonstrei por que o partido buscava uma maneira de tornar as eleições um mero ritual homologatório de seu poder. A proposta de Fontana era uma espécie de chavismo exercido por outros meios. Depois de permanecer 12 anos no poder (ao fim de 2014), o partido tentou impor regras que lhe garantissem outros 12, 16, 20, 24… a eternidade! E não vai desistir.

A primeira versão do relatório de Fontana conciliava financiamento público com financiamento privado. Era mesmo um troço estranho. Até os petistas disseram lá entre si: “Se a gente defende o financiamento público porque considera que o outro predispõe à corrupção [NR — isso é papo furado], como é que a gente vai insistir na sua manutenção, conciliando com o público?” Há certas contradições que nem eles conseguem explicar.

Pois bem: escolheu-se o caminho do financiamento público. O Tesouro arcaria com o custo da eleição. Atenção, sagazes leitores! JÁ EXISTE DINHEIRO PÚBLICO EM EXCESSO NAS ELEIÇÕES! No ano passado, o Tesouro repassou aos partidos, por meio do Fundo Partidário, a fábula de R$ 286,2 milhões. Há eleições a cada dois anos, com propaganda eleitoral gratuita. O processo é gratuito para os partidos, não para os brasileiros. As emissoras pagam menos impostos para compensar o tempo cedido. Segundo o site Contas Abertas, em oito anos, a renúncia fiscal chega a R$ 8 bilhões!!! Assim, já existe dinheiro público nas eleições. Mas os petistas queriam mais.

E como o dinheiro do Tesouro seria distribuído aos partidos? Mais ou menos segundo as regras que regem o Fundo Partidário e o tempo na TV, rateados segundo o tamanho da bancada na Câmara. Fontana inovou um pouco e resolveu estabelecer como critério o número de votos obtidos pelos partidos. Adivinhem quem sairia ganhando… Sim, o PT!

Por isso chamei de chavismo light. Os petistas aproveitam um momento em que são maioria para propor um sistema de financiamento de campanha que privilegia justamente essa maioria. Alguém dirá: “É justo!” Uma ova! Imaginem se alguém do PSDB ou do então PFL propusesse algo parecido até o ano de 2002… Os tontons-maCUTs sairiam às ruas.

Falácia
“Se continuar essa lógica [financiamento privado de campanha], quem é que vai poder concorrer a um cargo legislativo? Ou pessoas muito ricas ou pessoas que tenham facilidade muito grande de encontrar financiadores privados. E isso quebra o critério de igualdade na democracia”. É assim que Fontana defendia a sua proposta.

É uma das maiores falácias jamais ditas sobre o assunto. Não há um só argumento lógico que explique por que, mesmo com financiamento público, não haveria financiamento privado, por baixo dos panos. É questão de lógica elementar, que talvez Fontana — pelo jeitão — realmente não esteja equipado para entender. Atenção: se, com o financiamento privado permitido, já há caixa dois e dinheiro oculto, o que vocês acham que aconteceria quando ele fosse proibido? Será preciso desenhar?

Há mais: o PT tem hoje a maior bancada da Câmara. Estaria o deputado Fontana confessando que só se chegou a tanto porque ela é composta “de pessoas ricas” e de pessoas “com facilidade muito grande para encontrar financiadores privados”, o que inclui, naturalmente, o Fontana?

Voto distrital
A única — ÚNICA!!! — maneira de baratear a eleição e, de fato, diminuir o peso do dinheiro (e, pois, as chances de corrupção) é o voto distrital. Por quê? Cada partido escolheria UM ÚNICO candidato em cada distrito. O país tem 513 deputados e, creio, terá em 2014 uns 127 milhões de eleitores. Grosso modo, cada distrito teria pouco mais de 247 mil eleitores. Em vez de ter de disputar eleição no estado inteiro, o candidato se concentraria naquela que é a sua área. A campanha ficaria mais barata, necessariamente — corrupção a menos. Não só isso: ele faria uma espécie de campanha majoritária; teria de convencer os eleitores e de ter efetiva representação numa determinada área. Cai a chance de um mero porta-voz de uma corporação ou de um lobby sair vencedor.

A proposta de Fontana já foi para o ralo. Dos males, o menor. Mas é bom ficar atento. Os petistas querem fazer uma reforma política porque pretendem inviabilizar, agora na lei, a chance de haver alternância de poder no Brasil.
Por Reinaldo Azevedo

Aloysio Nunes se opôs aos novos Tribunais Regionais Federais. Ou: Quero um em Dois Córregos! Ou: No Brasil, para torrar dinheiro público, não tem essa de Montesquieu!

Critiquei aqui ontem duramente o PSDB por ter apoiado a criação de novos Tribunais Regionais Federais  — no caso, em Minas, Paraná, Amazonas e Bahia. É preciso fazer justiça: o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) se opôs à proposta quando ainda era analisada na CCJ do Senado. Mas foi voto vencido. Assim, não houve apoio unânime dos tucanos — Aloysio, mais uma vez, fez um voto divergente e corajoso. Foi assim também no caso da absurda lei das cotas, enfiada goela abaixo das universidades federais.

A criação dos novos tribunais vai custar uma fábula e não vai resolver os problemas da Justiça. Há ainda uma questão, digamos, filosófica: se cada estado tiver a ambição de ter a sua própria Justiça Federal, ela deixará, vejam vocês!, de ser federal para assumir contornos estaduais, o que é ruim.

Ainda ontem, acreditem, o Senado teve de driblar proposta para criar mais quatro!!! Daqui a pouco, cada unidade da federação vai querer o seu. Até que surja alguém para sugerir que um estado tenha, sei lá, dois tribunais por causa do volume de trabalho…

Se é assim, acabo de lançar a campanha por um tribunal em Dois Córregos, a minha cidade natal. Pode até ter nome próprio: “Tribunal Regional Federal Mocoembu”. Ai a gente organiza torneios de futebol com o de Mineiros do Tietê, o de Barra Bonita, o de Brotas, o de Torrinha… Algum senador topa patrocinar a minha causa?

Dia desses, numa palestra, o ex-governador José Serra afirmou que, no Brasil, direita e esquerda costumam se unir contra o erário. Na mosca! E também os Poderes da República. Quanto é para torrar dinheiro público, não tem Montesquieu que segure a tigrada.
Por Reinaldo Azevedo

O Brasil dos bebês chorões à espera do estado-babá

No dia 1º de abril de 2011, escrevi aqui um texto cujo título é o que vê ali no alto. Eu o reproduzo abaixo, com algumas alterações, para dar conta da situação presente. O curioso é que o deputado Marco Feliciano, cujo nome nem cito, já é personagem do artigo. Leiam.
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Há uma igreja no Kansas, nos Estados Unidos, chamada Westboro Baptist Church. É composta por um bando de malucos liderados por um tal Fred Phelps. Ele teria recebido uma mensagem divina informando que Deus está castigando as tropas americanas no Iraque e no Afeganistão por causa da… tolerância com o homossexualismo!!! A missão de sua igreja seria anunciar isso ao país. E o que faz Phelps e seu bando de lunáticos, boa parte gente de sua própria família? Cruza o país de norte a sul, de costa a costa e, onde houver o funeral de um soldado, lá estão eles brandindo cartazes como o que se vê acima: “Obrigado, Deus, pelos soldados mortos”, “Obrigado, Deus, pelo 11 de Setembro” e “Você vai para o inferno”.

Fiéis da Westboro Baptist Church num protesto em frente à Suprema Corte no dia 6 de outubro do ano passado: ali está o cartaz infame

Eles são asquerosos? Não tenho a menor dúvida. A direita americana os despreza. Os liberais (a esquerda de lá) não menos. Albert Snyder, pai de um fuzileiro naval processou a Westboro. Numa primeira instância, a Justiça lhe concedeu uma indenização de US$ 11 milhões, reduzida depois a U$ 5 milhões. O caso foi parar na Suprema Corte. Atenção! Por 8 votos a 1, os juízes decidiram que a Primeira Emenda garante à canalhada o direito de dizer o que diz (leia reportagem na Time). Se bem se lembram, a Primeira Emenda é aquela que proíbe o Congresso até de legislar sobre matéria que diga respeito à liberdade de expressão e à liberdade religiosa.

Em entrevista à VEJA, o economista Walter Williams, que é negro, professor de economia na Universidade George Mason, na Virgínia. sintetizou muito bem:
“É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.

Williams, um negro que se negou a servir no Exército num tempo em que havia discriminação racial nos EUA, é contra leis que proíbem a discriminação. Contradição? Ele explica:
“Sou um defensor radical da liberdade individual. A discriminação é indesejável nas instituições financiadas pelo dinheiro do contribuinte. A Universidade George Mason tem dinheiro público. Portanto, não pode discriminar. Uma biblioteca pública, que recebe dinheiro dos impostos pagos pelos cidadãos, não pode discriminar. Mas o resto pode. Um clube campestre, uma escola privada, seja o que for, tem o direito de discriminar. Acredito na liberdade de associação radical. As pessoas devem ser livres para se associar como quiserem.”

Williams, admito, é um desafio e tanto para a cultura dos chorões autoritários que se está formando no Brasil. Então fiquemos com a Suprema Corte, insuspeita de ser composta por libertários radicais. Pode haver coisa mais desprezível do que faz aquela igreja? Estou certo de que vocês, como eu, ficaram um tanto nauseados ao ler a história. Fico imaginando como é o tal pastor, seu universo mental. Notem que o pai do soldado não recorreu a Justiça para mandar a turma para a cadeia ou impedi-la de se manifestar — isso seria impensável. O que a Suprema Corte decidiu é que o grupo pode dizer suas maluquices SEM SER MOLESTADO PELO ESTADO.

Será que a cultura da liberdade acabará nos Estados Unidos antes que possa chegar aqui? A pressão pelo politicamente correto é grande por lá também — aliás, é a pátria desse tipo de abordagem. Mas é algo que se resolve entre os indivíduos, entre os cidadãos. Aqui, já há gente apelando quase às Forças Armadas! Caetano Veloso, inconformado com um vídeo na Internet — visivelmente uma dessas bobagens sem consequência —, botou pra fora  o lado carcará-pega-mata-e-come e chegou a perguntar onde estava a Abin que não tomava providências.

(…)

Ontem [no dia 31 de março de 2011], um deputado tuitou uma mensagem relacionando o sofrimento na África a castigos divinos etc. Ganhou destaque na imprensa. Tenta-se fazer um deus-nos-acuda do que falou. Cria-se a impressão de que há um grande e gigantesco movimento homofóbico, de que a intolerância está em todo canto, de que marchamos para o esmagamento das minorias etc. Poderia haver melhor propaganda para a aprovação da tal lei que pune a homofobia — junto com a liberdade de expressão?

Esse suposto clima de discriminação é absolutamente falso. O que há no país, aí sim, é um bando de gente em busca do Estado patrão, do Estado juiz, do Estado polícia, do Estado babá — para usar a expressão do jornalista americano David Harsanyi, que lançou livro recentemente no Instituto Millenium — mesmo em matérias que devem ser resolvidas pelo confronto de ideias.

Brincando com fogo
Os tolerantes intolerantes estão brincando com fogo! Já há hoje no Supremo quem considere que “moralidade” pode ser incompatível com “segurança jurídica”. No dia em que isso triunfar, coleguinha, os donos da moralidade da hora, sejam quais forem, poderão suspender os seus direitos alegando a defesa da… moral! Já há hoje, no Supremo, quem ache que os direitos individuais estão esvaziando os coletivos — e seria, preciso, pois, dar menos importância ao indivíduo. Se isso triunfar um dia, coleguinha, é você que poderá ser esvaziado de seus direitos constitucionais em nome do que as maiorias da hora ou as minorias influentes acharem que compõem o bem comum.

A democracia é um troço difícil mesmo! Ela também existe para as pessoas que detestamos, capazes de erguer cartazes infames no momento de nossa maior dor. A questão é saber se os pilares da sociedade democrática estão sustentados no princípio da liberdade da palavra ou no princípio da censura. Lembro que uma associação em Pernambuco, num termo de ajustamento com o Ministério Público, foi obrigada a divulgar outdoors afirmando sobre o MST o exato contrário do que  pensa. “Que se dane aquela associação! Eu gosto do MST!” Pois é… Se você delega a um ente estatal o poder de operar essa transformação, está se oferecendo para ser coelho do mágico.Os militantes das chamadas “minorias” poderiam parar de se comportar como bebês chorões, que apelam à mão forte do estado diante da primeira contrariedade. E nada disso, rigorosamente nada!, nem no mérito nem no resultado de sua militância, torna certas as ideias de Marco Feliciano.

A questão é saber se ele tem ou não o direito de dizer as coisas consideradas erradas.
Por Reinaldo Azevedo

Mensalão – Aconteceu! MP não se intimida, e Lula é agora um investigado

O PT ameaçou até botar as tropas na rua para que isto não acontecesse, mas aconteceu. Lula passou à condição de investigado no caso do mensalão. A Al Qaeda Eletrônica até ensaiou aquela conversa mole de “Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo” para intimidar o Ministério Público, mas não adiantou. Agora o ex-presidente da República é, oficialmente, um investigado.

“Mas a Polícia Federal pode se negar?” Claro que não! O que ela pode é fazer o inquérito e concluir que ele não cometeu nenhum crime. Vamos ver. Mas vai ter de investigar. Se o MP pediu que o faça, é porque viu, quando menos, indícios de prática criminosa.

Leiam o que informa Gabriel Castro, na VEJA.com:
A Procuradoria da República no Distrito Federal pediu à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar denúncias feitas pelo operador do mensalão, o publicitário Marcos Valério de Souza, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Antonio Palocci Filho. Valério acusou Lula de ter intermediado um repasse de 7 milhões de reais da Portugal Telecom ao PT.

A decisão foi tomada nesta quinta-feira pelo Ministério Público e significa que a investigação sobre o papel de Lula no esquema do mensalão avançou mais um passo – será o primeiro inquérito aberto contra o ex-presidente da República. Até agora, apenas um procedimento de investigação para checar os indícios fornecidos por Valério em seus depoimentos contra o ex-presidente havia sido instaurado.

Nos depoimentos, Valério afirmou que Lula teve participação direta na montagem do esquema de desvio de recursos e compra de apoio político no Congresso Nacional. As acusações de Valério levaram o MPF a abrir outras cinco apurações preliminares. Dessas, uma já foi encaminhada à Procuradoria Eleitoral do Distrito Federal porque envolve denúncia de caixa dois; as outras investigações ainda estão sob análise de procuradores e também podem se transformar em inquéritos.

Portugal Telecom
O novo inquérito vai apurar a participação de Lula na intermediação de um empréstimo de 7 milhões de reais da Portugal Telecom para o PT. De acordo com depoimento prestado por Marcos Valério à Procuradoria Geral da República no ano passado, uma fornecedora da Portugal Telecom, sediada em Macau, repassou o dinheiro ao PT para quitar dívidas de campanha. Os recursos teriam entrado no país por meio das contas de publicitários que trabalharam para o partido.

Segundo a denúncia, Lula teria se reunido com Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom, para negociar o repasse. A transação estaria ligada a uma viagem feita por Valério a Portugal, em 2005. O episódio foi usado, no julgamento do mensalão, como uma prova da influência do publicitário em negociações financeiras envolvendo o PT.
Por Reinaldo Azevedo

A era dos boçais – Quem matou John Lennon? Eu acho que foi Mark Chapman. Quem matou o bom senso? Ah, aí já foi uma legião!

Ontem à tarde e à noite, infelizmente, tive alguns problemas relacionados à saúde de familiares (não creio que tenha sido castigo divino) e acabei escrevendo menos do que o habitual — é bem verdade que há quem reclame que o meu “menos” já é muito, hehe… Quando tive de me ausentar, a grande questão que mobilizava as consciências mais atiladas do Brasil não era o risco de uma eventual guerra na península coreana; se acontecesse, o mundo estaria em perigo. Que nada! Isso é pouco para nós. Em Banânia, temos assuntos mais graves, mais sérios, mais urgentes. Por exemplo: será verdade que Deus é o verdadeiro assassino de John Lennon, não o perturbado Mark Chapman?

Segundo o PASTOR — não o deputado — Marco Feliciano, as três balas disparadas pelo assassino tinham o dedo de Deus. Seria uma punição pela ousadia do ex-Beatle, que declarara certa feita que o grupo era “mais famoso do que Jesus Cristo”. O Senhor, então, zangado por ter perdido a capa da revista “Caras” do Universo Celeste, teria dado um jeitinho. Num vídeo que circula na Internet, diz Feliciano:
“A minha Bíblia diz que Deus não recebe uma afronta e fica impune. Passou um tempo dessas declarações, alguém chama (Johyn Lennon) pelo nome, ele vira e é alvejado com três tiros no peito. Eu queria está lá no dia em que descobriram o corpo, eu ia tirar o pano de cima e ia dizer: “Me perdoe, mas esse primeiro tiro foi em nome do Pai, esse é em nome do Filho, e esse é em nome do Espírito Santo. Ninguém afronta Deus e sobrevive para debochar”.

Também o acidente aéreo que vitimou a banda Mamonas Assassinas, em 1996, teria sido uma vingança divina. Diz Feliciano:
“O avião estava no céu, região do ministro do juízo de Deus, lá na serra da Cantareira. Ao invés de virar para um lado, o manche tocou para o outro. O anjo pôs o dedo no manche, e Deus fulminou aqueles que tentaram colocar palavras torpes na boca das nossas crianças (…) Quem era o Dinho? Era da igreja Assembleia de Deus em Guarulhos. Vendeu a comunhão dele (…). Se vendeu ao Diabo pelo vil dinheiro”.

Boçalidades!
É claro que se trata de duas boçalidades. Ainda bem que Feliciano advertiu: “Na minha Bíblia…” Essa Bíblia que escolhe um delinquente para anjo vingador ou que faz o piloto errar um comando do avião não poderia ser mais pessoal. É a “bíblia feliciana”, mais do que minúscula. Se Deus operasse as coisas desse modo, o pastor poderia explicar por que o Altíssimo se incomodaria com um cantor e com uma banda de Guarulhos, mas permite que o ditador do Sudão continue a matar livremente seus adversários. Ou por que não pune os assassinos da Síria. Ou não se vinga dos que põem drogas na mão de crianças. Essa noção da intervenção punitiva de Deus, do modo vai acima, se realmente convicta, é só estúpida. Mas tenho cá pra mim que ele próprio não se leva a sério quando diz essas porcarias.

A “bíblia de Feliciano” pode até conceder com assassinos fazendo a vontade de Deus. Lamento pelos que acreditam nas suas palavras. Mas nada pode ser feito a respeito. Muito pior seria um país com uma legislação que estabelecesse o que pode e o que não pode ser falado nas igrejas. Os chineses criaram até um catolicismo à moda da casa…

O aspecto mais difícil da democracia
Eis o aspecto mais difícil da democracia. Ela existe também para os tolos, para os que dizem cretinismos, para os idiotas. Todas as formas até agora tentadas para reduzir o regime democrático à esfera dos bons resultaram em ditaduras asquerosas, de esquerda e de direita.

Agora a parte ainda mais chocante. “Um sujeito que diz essas coisas sobre John Lennon ou sobre os Mamonas Assassinas pode presidir uma comissão da Câmara, ainda mais de Direitos Humanos e Minorias?” Pois é. Pode! Até porque ele falou essa bobajada num culto religioso, numa ambiente apenas relativamente público — já que privado dos fiéis que lá estavam.

Se e quando o deputado Feliciano afirmar, na Câmara, que Deus escolhe assassinos para fazer justiça, eu mesmo me encarregarei de redigir uma petição pedindo a sua cassação. Porque, aí sim, teremos um homem público atribuindo a um homicídio a intervenção divina.

Eu já escrevi aqui umas 300 vezes que jamais votaria em Feliciano — para deputado ou para presidir a Comissão de Festinhas de Aniversário da Câmara; imaginem, então, para a de Direitos Humanos. Ele só está lá em razão da cupidez do PT e do PMDB, que p´referiram ficar com o filé-mignon das comissões, largando a carne de pescoço para os partidos menores.

O fato de as declarações do “Feliciano pastor” revirarem o meu estômago — e reviram! — não me autoriza a meter o pé na porta de uma comissão da Câmara. Imaginem se filmarem as reuniões de petistas e botarem no Youtube. Pensemos em nós mesmos: tudo o que falamos privadamente, mesmo tomando um chope com os amigos, pode ir para a rede? Quem não se lembra deste vídeo, por exemplo?

“Ah, Lula estava brincando!” Claro que sim! Mas e essa fala na boca de Jair Bolsonaro ou do próprio Feliciano?

O economista americano Walter Williams, que é negro, sintetizou muito bem a questão numa entrevista à VEJA:
“É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.

Bingo!

Por Reinaldo Azevedo

PC do B, PT, PSB, CUT e UNE fazem o que nem a China faz: dão irrestrito apoio à Coreia do Norte e acusam a do Sul e os EUA de “belicistas” Não veremos modelos bonitinhas dando beijinho na boca? Ah…

A Coreia do Norte tem só um aliado importante: a China. Pois o presidente chinês, Xi Jinping, ficou com o saco cheio de Kim Jong-un, o anão taradinho norte-coreano que quer brincar de jogos de guerra. E mandou um recado: “Nenhum país tem permissão para jogar uma região, e o mundo inteiro, no caos para ganho próprio, por egoísmo”. Os chineses, como se sabe, votaram a favor de sanções contra a Coreia do Norte por causa de um teste nuclear. Kim Jong-un passou, então, a ameaçar com um ataque nuclear a Coreia do Sul, o Japão e os próprios EUA. Especula-se que eles tenham mísseis que podem alcançar a base americana na ilha de Guam, no Pacífico. Então ficamos assim: a China, que é a China, reconhece a Coreia do Norte como o agente provocador.

Mas vocês sabem, né? Os chineses já são impuros. Não são mais comunistas como antigamente. Pensam demais em negócios. Quem quiser comunismo de verdade, autêntico, ortodoxo, tem é de procurar no Brasil. É bem verdade que os nossos comunas gostam mesmo é de emprego público, dinheiro desviado de ONG, de ficar de papo pro ar e, de vez em quando, vaiar o Marcos Feliciano lá na Câmara… Mas eles conservam a pureza revolucionária.

Vejam bem! Até Fidel Castro, o Coma Andante, lá das catacumbas, emitiu um sinal de preocupação com a tensão na península coreana. E nem atacou os EUA. Pediu calma! Mas Fidel também não é mais o mesmo. Sabem como é… Na situação em que está, deve ter começado a fazer um hedge com o Altíssimo, né? Vai que Deus exista e que as almas tenham de responder pelas misérias que fizeram cá na terra. Fidel tem pelo menos 100 mil mortos nas costas. Não deve ser fácil se despedir desse mundo com essa consciência íntima. Então preferiu, desta feita, apenas pedir a paz.

Como Chávez acabou de chegar ao Céu Bolivariano, quem haveria de sair em defesa da Coreia do Norte, atacando os EUA e a Coreia do Sul? Ora, o PC do B, o mesmo partido que, em dezembro do ano passado, quando Kim-Jong-Il (pai de Kim Jong-un) morreu, publicou um texto exaltando a “prosperidade” da Coreia do Norte — que conheceu casos de canibalismo na área rural em razão da fome. Lembro um trechinho:
“Durante toda a sua vida de destacado revolucionário, o camarada Kim Jong Il manteve bem altas as bandeiras da independência da República Popular Democrática da Coreia, da luta anti-imperialista, da construção de um Estado e de uma economia prósperos e socialistas, e baseados nos interesses e necessidades das massas populares.”

Publiquei, então, uma foto de satélite que evidencia a prosperidade norte coreana. Vejam aqui.


Acima, vocês veem as duas Coreias à noite. A parte iluminada é a do Sul; aquele negrume noturno é a do Norte. Coisa linda! É um país que escolheu a economia de baixo carbono!!! Os nossos ecologistas iriam a-mar!!! O avô, o pai e o neto fizeram, por meio da ditadura, o que Marina adoraria fazer no Brasil por meio da democracia, hehe (ao menos isso…).

O manifesto
Pois bem… No dia 2 — desculpem o atraso em relação às ações promovidas pela vanguarda revolucionária brasileira —, o PC do B resolveu lançar um manifesto em defesa da Coreia do Norte, tratado como um país pacífico, e contra os EUA e seu “fantoche”, a Coreia do Sul. Acho que até os comunas norte-coreanos ficariam corados e diriam: “Também não precisa exagerar…” Atenção! Solidarizam-se com o texto e o assinam também o PT, o PSB, a CUT e o UNE. Leiam:

A escalada da tensão na Península Coreana, com a participação direta dos Estados Unidos, tem aumentado a pressão e a preocupação com um possível conflito internacional, apesar dos pedidos reiterados por diálogo enquanto a Coreia do Sul, apoiada pelos EUA, toma medidas belicistas.

Neste contexto, movimentos e partidos brasileiros que lutam contra o imperialismo belicista e pela manutenção da paz e da soberania das nações enviaram a seguinte declaração à embaixada da Coreia Popular:

Senhor Embaixador da República Popular e Democrática da Coreia;

A campanha de uma guerra nuclear desenvolvida pelos Estados Unidos contra a República Democrática Popular da Coreia passou dos limites e chegou à perigosa fase de combate real.

Apesar de repetidos avisos da RDP da Coréia, os Estados Unidos tem enviado para a Coréia do Sul os bombardeios nucleares estratégicos B-52 e, em seguida, outros meios sofisticados como aeronaves Stealth B-2, dentre outras armas.

Os exercícios com esses bombardeios contra a RDP da Coréia são ações que servem para desafiar e provocar uma reação nunca antes vista e torna a situação intolerável.

As atuais situações criadas na península coreana e as maquinações de guerra nuclear dos EUA e sua fantoche aliada Coréia do Sul além de seus parceiros que ameaçam a paz no mundo e da região, nos levam a afirmar:

1. Nosso total, irrestrito e absoluto apoio e solidariedade à luta do povo coreano para defender a soberania e a dignidade nacional do país;

2. Lutaremos para que o mundo se mobilize para que os Estados Unidos e Coréia do Sul devem cessar imediatamente os exercícios de guerra nuclear contra a RDP da Coréia;

3. Incentivaremos a humanidade e os povos progressistas de todo o mundo e que se opõem a guerra, que se manifestem com o objetivo de manter a Paz contra a coerção e as arbitrariedades do terrorismo dos EUA.

Conscientes de estarmos contribuindo e promovendo um ato de fé revolucionária pela paz mundial, as entidades abaixo manifestam esse apoio e solidariedade.

Brasília, 02 de abril de 2013.
PCdoB, PT, PSB, Cebrapaz, CUT, MST, MDD, UJS, UNE, Unegro, Unipop, CDRI, CDR/DF, MPS, CMP, CPB, Telesur, TV Comunitária de Brasília, Jornal Revolução Socialista.

Encerro
Kim Jong-un precisava de alguém que o compreendesse. Encontrou os esquerdistas brasileiros que mamam nas tetas do estado, mas conservam intacta a alma revolucionária.

Por Reinaldo Azevedo

A principal obra de Thatcher foi ter enterrado o “socialismo” do Partido Trabalhista. Ou: Grã-Bretanha está sob seu governo há 34 anos!

Sem Margaret Thatcher, a Inglaterra estaria no buraco. Como eu sei? Era o mais estatista e estatizado dos países europeus, decorrência das “conquistas” do Partido Trabalhista, uma agremiação surgida em 1900, criada por socialistas dos mais diversos matizes, por sindicalistas e por intelectuais marxistas. Era socialista, mas não revolucionário. O PT, 80 anos depois, apareceu em terras brasileiras com discurso semelhante — já explico por que isso tem lá a sua ironia. Em 1918, os trabalhistas incorporaram a seu programa a chamada Cláusula IV, que estabelece como norte a propriedade coletiva dos meios de produção. Atenção! O texto só foi mudado na convenção nacional de 1992, 74 anos depois! Se você clicar aqui, terá acesso às duas versões da cláusula, a anterior e a que está em curso, que defende a colaboração entre o capital privado e o estado.

A maior obra da conservadora Thatcher foi mudar o Partido Trabalhista, pondo um ponto final à ilusão, ao menos nas democracias europeias, de que o estado-empresário é o melhor indutor do desenvolvimento. Ela chegou ao poder em 1979 e deu início a um processo de desestatização da economia que tirou a Grã-Bretanha do impasse, refém que era do sindicalismo barra-pesada e da ineficiência. É vista como a precursora do que pode ser considerado mais uma invenção da esquerda do que da direita: o tal “neoliberalismo”, que encontraria em Ronald Reagan, que assumiu a Presidência dos EUA em 1981, o outro protagonista.

Não havia nada de “novo” no liberalismo de Thatcher e de Reagan, sempre lembrando que atuaram em ambientes bastante distintos no que respeita à presença do Estado na economia; ela teve muito mais trabalho. A novidade ficou por conta, talvez, da revalorização das forças de mercado, tidas, então, pelas esquerdas intelectuais como uma fase superada da civilização.

Thatcher comprou todas as brigas contra o sindicalismo brucutu e não cedeu. Foi primeira-ministra por mais de 11 anos (de maio de 1979 a novembro de 1990; seu sucessor, o também conservador John Major, ficou no poder até maio de 1997. As mudanças que ela operou na economia garantiram aos conservadores 18 anos de poder.

E agora voltamos aos trabalhistas. Em 1992, o partido decidiu mudar o conteúdo da Cláusula IV. A ideia de uma Grã-Bretanha socialista, organizada segundo a propriedade coletiva dos meios de produção, se parecia, vá lá, utópica no papel, havia se tornado ridícula quando confrontada com a realidade. Em 1997, um Partido Trabalhista, se me permitem a brincadeira, “thatcherista” vence a eleição e conduz Tony Blair ao poder por 10 anos — mais três de seu correligionário Gordon Brown. Nos 13 anos de trabalhismo pós-Thatcher, os marcos da economia continuaram rigorosamente os mesmos. Houve uma inflexão ou outra mais “social” na saúde e na educação e só.

Não é nenhum exagero afirmar que a Grã-Bretanha está há 34 anos sob os fundamentos que Thatcher reintroduziu na economia. E não há recuo possível. A sua última grande — enorme contribuição! — ao país foi dizer um sonoro “não” à Zona do Euro, que antevia como uma usina de crises, que teria de ficar sob a permanente regência da Alemanha. Como um único Banco Central haveria de arbitrar demandas de economias tão distintas? O presente, é evidente, lhe dá razão.

Fora do tempo
Thatcher se torna primeira-ministra em 1979, quando se ensaiava por aqui a formação do PT, fundado um ano depois. Em 1981, Reagan se elege nos EUA. Em 1982, Lula disputa o governo de São Paulo com uma plataforma socialista, discurso repetido em 1989, na eleição presidencial. Estávamos, obviamente, na contramão da história. A Constituição de 1988 vem à luz pautada, em muitos aspectos, por um estatismo xucro, com aversão clara ao capital. A Grã-Bretanha estava no 10º ano de suas reformas.

O Plano Real nos salvou do abismo, e não só pela virtude em si de ter posto a inflação sob controle. É que esse bem teve um desdobramento político importante: a eleição de FHC em 1994, com a reeleição em 1998.  Atenção! Dezesseis anos depois da chegada de Thacher ao poder e 14 depois da chegada de Reagan, o Brasil optou por umas poucas privatizações — enfrentando a tropa de choque sindical e o lulo-petismo — que fizeram do Brasil, apesar de tudo, um país contemporâneo, ainda que sempre na rabeira, como hoje.

As reformas que o Brasil empreendeu na década de 1990 só foram possíveis porque Thatcher e Reagan haviam recuperado, muito antes, o prestígio das leis de mercado e demonstrado, na prática, que o Estado, quando refém de corporações de ofício, produz mesmo é atraso orgulhoso.

Aqui e ali vocês lerão que a crise de 2008 ainda é desdobramento da desregulação da economia promovida pela dupla e coisa e tal. Bobagem! Isso é só ideologia chinfrim. Aos respectivos governos de ambos se sucederam gestões ditas “progressistas”, com inflexões à esquerda — a possível em cada país. Por que não se operaram, então, mudanças de rumo? De resto, a bolha imobiliária americana não se formou porque se seguiram as leis de mercado; ela só se tornou gigantesca porque essas leis não foram seguidas.

Começo a encerrar com mais umas considerações sobre o Brasil,. Também o PT, no poder, abandonou o seu credo socialista de antes, a exemplo do Partido Trabalhista inglês. Só que aquele teve a decência de mudar seus estatutos, não é? O PT continua com a sua cantilena dita socialista, o que é mera propaganda. Socialista não é, mas autoritário sim! O país opera segundo as leis de mercado, mas o sindical-estatismo tem peso crescente não exatamente na economia, mas no custo Brasil.

As esquerdas, especialmente em nosso país, foram hábeis na campanha de demonização do chamado “neoliberalismo”, especialmente depois da crise de 2008. Querem o Estado como patrão da sociedade. É claro que o modelo não vai dar certo. Já não está dando, diga-se. País que cresce menos de 1% com inflação renitente e baixo investimento está encalacrado. Mas, por enquanto, fica ancorado no consumo e na criação de empregos de baixa qualidade. Popular, o governo dá Bolsa Família de um lado e Bolsa Empresário de outro. Aloizio Mercadante, candidato a pensador desse novo momento brasileiro, filosofou em entrevista ao Estadão que, para o povo, PIB se traduz por emprego e consumo. O crescimento não tem tanta importância. Se o país cresce 1% e se o que importa, como quer o mestre, é emprego e consumo, esse desajuste se alimenta de alguma seiva. No caso, alimenta-se do nosso futuro.

Uma Margaret Thatcher no Brasil parece coisa impossível. Há alguns dias, Dilma anunciou a criação de uma estatal das águas, “Hidrobras” ou coisa assim. O Estado gerenciando a sociedade, em vez de a sociedade gerenciando o estado, está se tornando nossa segunda natureza.

Morreu uma grande mulher. Foi uma das principais personagens de uma mudança na economia de efeitos planetários.

Margaret Thacher morreu pobre.
Por Reinaldo Azevedo

Quando um pastor defende a plena liberdade de imprensa e o jornalismo flerta abertamente com a censura e o delito de opinião, há algo de errado… com o jornalismo!

No dia 18 de setembro de 2010, durante um comício em Campinas, com as presenças de Dilma Rousseff e Aloizio Mercadante — candidatos, respectivamente, à Presidência da República e ao governo de São Paulo —, o então supremo mandatário da nação, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou o seguinte: “Tem dias em que alguns setores da imprensa são uma vergonha. Os donos de jornais deviam ter vergonha. Nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partidos políticos. Nós não precisamos de formadores de opinião. Nós somos a opinião pública”. Lula vinha numa impressionante escalada retórica contra a imprensa livre. Quando as notícias eram favoráveis a seu governo, ele as considerava apenas justas; se negativas, ele acusava sabotagem. Lula e o PT nunca desistiram do tal controle da mídia. Em sua última resolução, há poucos dias, o Diretório Nacional do PT pregou abertamente o controle de conteúdo do jornalismo. Pois bem: seis dias depois de mais uma investida contra a liberdade de imprensa, um líder evangélico fez publicar nos principais jornais do país um anúncio pago em que rechaçava qualquer forma de censura promovida pelo estado ou de controle da mídia. Lia-se naquela peça: “Nem o presidente da República, partidos políticos, líderes religiosos, qualquer segmento da sociedade ou mesmo a imprensa são, isoladamente, os donos da opinião pública”. Já voltarei a este anúncio — até porque publicarei a imagem aqui. Antes, algumas considerações.

Crítico da imprensa
Outro dia um desses bobalhões que confundem alhos com bugalhos e joio com trigo enviou um comentário para este blog mais ou menos assim: “Pô, ultimamente, você critica tanto a imprensa que até parece Fulano de Tal…” E citou um anão moral que anda a soldo por aí, a pedir o “controle da mídia”. Pois é. Dentre tantas outras, uma diferença fundamental se destaca entre mim e aquela coisa triste que foi citada: ele quer uma imprensa controlada pelo estado; eu quero uma imprensa livre, que não se deixe controlar nem pelo estado nem por corporações, qualquer que seja a sua natureza: ofício, crença, ideologia, valores. Aquele bobo do oficialismo sonha censurar o que os outros escrevem; eu aposto numa imprensa que não tem receio da censura — nem a das vozes eventualmente influentes e das maiorias de ocasião. Aquele cretino critica a imprensa porque a quer com ainda menos liberdade; eu a critico porque a quero mais livre. Aquele governista convicto, pouco importa o governo de turno, quer o jornalismo a serviço do poder; eu quero o jornalismo vigiando o poder.

Assim, sou crítico, sim, da imprensa, especialmente nestes tempos em que ela é tão cegamente liberticida; em que põe, voluntariamente, a cabeça no cutelo. A Constituição nos garante a liberdade, e o Estado (não o governo!) a tem assegurado — ainda que não seja pequeno o risco de censura pela via judicial. Mas atenção! Só é verdadeiramente livre o que exerce a liberdade. Uma imprensa que ou se deixa assombrar pela patrulha ou a ela adere, em nome da legitimidade, atropelando as garantias fundamentais da Constituição, está SE DEGRADANDO.

É evidente que uma imprensa que estivesse submetida a isso que chamam “controle social” já não seria livre, especialmente no tempo em que uma força política assegura ser ela mesma “a opinião pública”. Mas o controle do estado não é o único que pode tolher a liberdade. Se admitirmos que policiais informais do pensamento — por mais que tentem falar em nome do bem — imponham a sua vontade na base do berro, da intimidação e da satanização, expomo-nos nós mesmos à hordas do amanhã. Quais serão elas? Falarão em nome de quais valores?

Trata-se, então, de saber em nome de qual ideal de sociedade agimos; trata-se, então, de saber que modelo abstrato perseguimos com nossas práticas e escolhas cotidianas. Ainda que eu repudie as ideias do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, cumpre indagar se uma sociedade em que um parlamentar eleito, escolhido para uma função segundo as regras do Regimento Interno, fosse deposto por delito de opinião seria mais saudável do que outra em que o protesto é, sim, livre — porque a praça é do povo, como o céu é do condor —, mas sem agressão aos fundamentos de um regime democrático e de direito. Feliciano não é um usurpador. O surrealismo alcança tal dimensão que o deputado Jean Schopenhauer Wyllys, numa passeata, chega a INDICAR o nome do PSC que ele quer presidindo a comissão. Sim, o deputado do PSOL se considera no direito de escolher o nome do outro partido que gostaria de ver no cargo. E o jornalismo o trata como a voz da ponderação e do bom senso.

Esses que agora estão em marcha se consideram, a exemplo de Lula, “a” opinião pública. E se preparam, podem escrever aí, para um embate que virá: e ele versará justamente sobre o controle dos meios de comunicação. Alguns estrategistas mancos — espero não ser processado pela Associação da Inclusão dos Claudicantes Ofendidos — escolheram um caminho estupidamente errado. Imaginam que, se cederem às patrulhas politicamente corretas, estarão a salvo da sanha dos censores. Não estarão porque já fizeram uma opção cujo dano é maior do que o perigo, como escreveu Camões. O perigo que se corre — e existe, sim! — é haver formas oblíquas de controle estatal da imprensa. Mas o dano, que já é visível, é esse controle nem ser assim tão necessário porque já exercido na base da sujeição voluntária.

Aposta na liberdade de imprensa
Seis dias depois de Lula ter regurgitado impropérios contra a imprensa livre num palanque, num ambiente, então, de franca hostilidade à liberdade de opinião, um líder evangélico fez publicar este anúncio pago nos maiores jornais brasileiros. Trata-se de uma resposta clara a Lula.


A assinatura está ali. Trata-se do “polêmico”, como querem alguns, Silas Malafaia. Temos, e ambos sabemos disso, enormes discordâncias, inclusive religiosas. Jamais estivemos juntos, mas ele sabe o que penso e sei o que ele pensa. E daí? Eu estou preparado para enfrentar a divergência. O que não aceito, e não aceito, é que tentem me calar — ou calar a outros — ao arrepio dos fundamentos constitucionais; o que rechaço é a tentativa de criar leis que criem categorias superiores de homens, infensos à crítica.

Quantos partidos de esquerda assinariam esse anúncio posto nos jornais por Malafaia? O PT? O PC do B? O PSOL de Jean Wyllys, Chico Alencar e Marcelo Freixo? Nunca!!! E olhem que, como ele próprio lembra, não se trata de uma pessoa exatamente paparicada pela imprensa cuja liberdade defende. Ao contrário: costuma ser alvo das piores vilanias; preferem transformar o que ele diz numa caricatura para que fique fácil, então, combatê-lo. Eu preferiria estar aqui a discordar do pastor, numa ambiente de civilidade democrática, a ter de defender uma questão de princípio: o direito à liberdade de opinião e de expressão.

“Ah, mesmo na democracia, nem tudo pode ser dito, não é, Reinaldo?” É, nem tudo — sempre destacando que, ainda assim, existe uma diferença importante entre dizer e fazer. Mas admito, como princípio, que a democracia não aceita todo e qualquer desaforo, mesmo se apenas falado. Mas fiquemos, então, no caso em espécie, com o que deu à luz o inimigo público nº 1 do Brasil: será mesmo que Feliciano foi além do que pode tolerar o regime democrático? A resposta, obviamente, é “não”. E nem por isso preciso concordar com ele.

Malafaia, ele próprio nota, não fala em nome de todos os evangélicos. Mas professa um valor que, creio, expressa o pensamento da maioria: a aposta na liberdade de imprensa, a aposta da liberdade de opinião, o repúdio a qualquer forma de controle estatal da informação.

Infelizmente — e já digo a razão desse advérbio —, o credo que Malafaia anuncia está muito acima, em termos qualitativos, do entendimento médio hoje vigente nas redações sobre liberdade de imprensa e liberdade de opinião. Já houve coleguinha pregando, abertamente, que eu fosse censurado, por exemplo. Por quê? Ora, porque discorda de mim. Não se dá conta de que, ao fazê-lo, expõe-se ele próprio a uma eventual censura.

No país em que um líder evangélico consegue ser mais desassombrado na defesa da liberdade de expressão do que boa parte dos jornalistas, ousaria dizer que esse pastor agregou a seus valores religiosos os valores inegociáveis da democracia e do estado de direito. Mas também é preciso dizer que os jornalistas renunciaram à sua missão para se comportar como membros de uma seita de fanáticos e linchadores.
Por Reinaldo Azevedo

A expressão “não me representa” é uma tolice autoritária, de viés ditatorial, e um emblema da era da ignorância mimada e saliente. Ou: “Dilma não me representa. E daí?”

Vejam estas imagens que estão nas redes sociais.


 


Já tá bom, né? Vamos ver.

Houve protestos ontem no Rio e em São Paulo contra a permanência legal e democrática — se gostam ou não dele, aí é outra conversa — do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Na Cidade Maravilhosa, os organizadores do evento afirmaram que 1.500 manifestantes  saíram às ruas. Não há outras estimativas. Na Cidade da Garoa, os promotores da passeata falaram em 4 mil, a CET em 500, e a Polícia Militar, que costuma ter números mais precisos porque tem de se preparar para garantir a segurança, em apenas 150. Essa gente está cutucando evangélico com vara curta.

Na hora em que eles decidirem botar o bloco na rua, aí então se vai saber o que é massa. Atenção! Eu não acho que a quantidade define quem está certo ou quem está errado. Apenas chamo a atenção para o fato de que aquele que promove um ato público está procurando demonstrar musculatura popular — ou bastaria fazer os protestos virtuais; estes, sim, rendem milhares de radicais do teclado. Ou postar uma foto nas redes sociais. Os evangélicos respondem pelas maiores manifestações públicas do país. Digamos que tenham ido mesmo 1.500 ao protesto do Rio… E se, por hipótese, os que querem que Feliciano fique na comissão reunirem, sei lá, 30 mil, 50 mil? Se a intolerância de uma maioria é fascismo, a de uma minoria é ditadura. Um evangélico chegou à presidência da comissão por mecanismos garantidos pela democracia e não pode ser deposto por métodos ditatoriais. É simples assim. Anima essas manifestações essa máxima que se vê nas fotos acima: “Não me representa” — com a variante “não nos representa”. Certo!

A frase não passa de uma tolice autoritária, típica de gente que não entende o que é o processo democrático e pretende vencer no berro, e é um emblema desses tempos de minorais mimadas pela imprensa e pelos Poderes constituídos. É claro que Feliciano não representa esses gatos-pingados que vão às ruas ou os milhares de radicais do teclado. Os representantes dessa turma são outros — Jean Wyllys, por exemplo, que chegou à Câmara sobre uma montanha de 13 mil votos. Feliciano não os representa, é certo, mas tem a representação, em primeiríssimo lugar, de 212 mil pessoas que votaram nele — voto a voto, vale por mais de 16 Jeans Wyllys, ora essa!

Então, que se diga de saída: Feliciano não representa os que protestam, mas representa outros grupos, que também podem decidir se manifestar e ir às ruas, não é mesmo? Mas essa é ainda uma visão pobre, reduzida, mesquinha mesmo, do processo democrático.

Wyllys não representa apenas os seus 13 mil eleitores — em 2014, ele lava a égua porque raros políticos tiveram tanta propaganda gratuita nos últimos tempos —, já que sua militância expressa pensamentos e anseios de milhares, quem sabe de alguns poucos milhões, Feliciano também não vale só por seus 212 mil votos. Ele é a expressão de muito mais gente — e estes não são poucos milhões; são muitos.

Assim, quando um tolinho — lamento ter de escrever assim —  levanta o cartaz “não me representa/não nos representa”, está supondo que o regime democrático deve servir só aos propósitos do seu umbigo; existe para satisfazer as suas vontades; compraz-se em cumprir a sua pauta. Ou é assim, ou eles decidem ir lá na Câmara e pegar o parlamentar pelo colarinho; ou é assim, ou eles resolvem que é chegada a hora de cassar o mandato do eleito — “afinal, ele não nos representa”.

Pergunta até tola de tão óbvia: se os evangélicos saírem em marcha bradando cartazes de Jean Wyllys com a frase “não nos representa”, isso seria expressão de homofobia? “Ah, só porque ele é gay…” E Feliciano? Só porque é evangélico??? “Não, Reinaldo! É porque ele é homofóbico e racista.” Lamento de novo! As duas acusações são improcedentes. No fim das contas, E É ESTE O JOGO QUE SE PRATICA, EMBORA NÃO SE QUEIRA DIZER O NOME, essa celeuma toda existe porque ele é evangélico e tem uma pauta que não coincide com as dos militantes. Sim, ele não os representa, mas representa outros brasileiros, em número estupidamente maior.

“Então ficamos com o critério da maioria e pronto?” Não! Ficamos com o critério da razoabilidade e da convivência entre os diferentes.

A outra dimensão
Tratei até agora de duas dimensões da representação: a dos eleitores reais e a do eleitorado potencial. Há uma terceira: a da representação de um dos Poderes da República — no caso, o mais importante deles, aquele em que a democracia tem de ser mais viva.

Feliciano é um deputado do Parlamento brasileiro. Tem prerrogativas. A menos que cometa um dos crimes que resultam em cassação de mandato — e isso não está configurado —, seu mandato é intocável! Apelando à metáfora religiosa (só metáfora, viram, policiais de consciências?!), sua investidura é sagrada no que concerne ao estado de direito. Tentar diminuí-la ou agredi-la significa desconsiderar os fundamentos da própria democracia.

“Ah, mas a gente não gosta dele!” Paciência! Dado o jogo democrático, terão de engoli-lo — caso ele se mostre mesmo disposto a resistir ao maior massacre de que tenho memória na imprensa para quem não cometeu crime nennhum. Há muito o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara, deveria ter posto um fim àquela pantomima. Caso se forme um grupo de 50 que decida impedir as sessões da Câmara exigindo que Alves responda politicamente pelos crimes de que é acusado, ele faz o quê?
a) Renuncia ao posto?;
b) estimula a baderna;
c) chama a Polícia Legislativa

Alguém tem alguma dúvida sobre qual alternativa ele escolheria? Ora… Alves decidiu aderir à pauta da imprensa e das celebridades para ver se os jornalistas esquecem, como esqueceram, a sua biografia. Está usando o caso Feliciano como lavanderia da própria reputação. É só mais uma feiura que se junta a essa comédia de erros.

Tolice
Vamos parar com essa tolice de “não me representa”. O Parlamento, queridas minorias mimadas e celebridades, não existe com o fito exclusivo de representá-las. Também representa os outros, muito especialmente as… maiorias. A questão é saber se se vai buscar o diálogo ou o confronto.

Feliciano só é presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara porque os petistas deram de ombros pra ela, não a quiseram. O PSC pleiteava outra, mas os “cúpidos do bem” — desesperados para abarcar áreas mais influentes — não quiseram negociar. Foi o que restou aos aliados. Antes mesmo que Feliciano dissesse um “a”, começou a gritaria nas redes sociais, com Jean Wyllys à frente e a adesão quase unânime da imprensa ao linchamento.

Li no Globo, acho, que Wyllys admitiu que Feliciano ocupa a presidência da comissão de maneira legal — e também legítima, acrescento; ou se demonstre o contrário. É mesmo, é? Se é assim, por que este senhor não toma seu assento e faz os debates necessários no âmbito da comissão? Venham cá: os descontentes com Dilma podem tentar inviabilizar seu trabalho no berro? Não! Quem o fizer vai em cana.

O que quer dizer “não me representa”? Que o sujeito discorda das ideias do outro? E daí? Nesse particular, a Dilma não me representa. O Lula nunca me representou. Mas jamais propus que fossem depostos por isso (o Apedeuta deveria ter caído, mas por causa do mensalão de Genoino e João Paulo, os dois condenados que estão na CCJ). A governanta não ME representa, já que não votei nela, mas representa um Poder. Igualzinho ao Feliciano! A ignorância supostamente ilustrada do que seja democracia, especialmente das celebridades, é de lascar! Vão se instruir um pouquinho! Tentem saber como funciona o regime democrático.

Ah, sim, quase me esqueço: o Feliciano também não me representa. Como sou um democrata, acho que ele tem de cumprir seu mandato. É possível discordar de alguém sem aderir a uma campanha de linchamento. É possível fazer-se ouvir no Congresso sem agredir os fundamentos da democracia.

A propósito: as celebridades que estão emprestando a sua fama à causa representam quem mesmo?

Texto publicado originalmente às 5h38
Por Reinaldo Azevedo

Imprensa – A mistura nefasta de patrulha e ignorância

Setores da imprensa brasileira decidiram inaugurar uma nova era de caça às bruxas. Ou as pessoas professam valores, crenças e ideologias consideradas corretas pelas esquerdas que estão no poder (inclusive nas redações) ou são tratadas como criminosas. Dedicarei parte da minha madrugada a pensar essa questão. Quando se disputarem as eleições de 2014, o golpe militar de 1964 (ou o “Regime Militar de 1964; ou o “Movimento Militar de 1964”; ou a “Revolução de 1964”) estará completando 50 anos. Um bando de vigaristas intelectuais e de oportunistas, interessados apenas nas verbas publicitárias de estatais e do governo federal, quer usar o passado para cuidar de seus interesses presentes. Incentivam e liberam a patrulha promovida por idiotas a serviço dos espertalhões.

Imaginem se, em 1987, em vez de cuidar da abertura política e da democratização, estivéssemos revirando os cadáveres do Estado Novo, instituído em 1937. Imaginem se, em 1995, ano da posse de FHC, o país estivesse ocupado em punir os remanescentes da ditadura getulista, encerrada em 1945.

Há uma mistura, nefasta para o nosso futuro, de militância, ignorância e autoritarismo de que não tenho memória nos meus 36 anos de leitor regular do que produz a imprensa brasileira.

Voltarei ao tema com absoluta certeza. Até para indagar onde estava, em 1964 ou em 1968, a imprensa patrulheira de agora. Parece que há gente querendo lavar a reputação passada — e as suas culpas — malhando alguns inocentes do presente.

Fica para mais tarde.
Por Reinaldo Azevedo

Julgamento no Pará: você tem o direito de saber o que a imprensa militante está escondendo. Ou: Cadáveres com e sem pedigree. Ou ainda: A inefável Maria do Rosário

Os chamados “líderes extrativistas” José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher, Maria do Espírito Santo, foram assassinados no dia 24 de maio de 2011. O crime ocorreu em Nova Ipixuna, no sudeste do estado. O governo federal e os movimentos sociais denunciaram, então, uma suposta onda de extermínio de lideranças camponesas. Organizou-se até uma força-tarefa com cinco ministérios para cuidar do assunto. Observei, então, que 50 mil pessoas são assassinadas por ano no Brasil. Em vez de força-tarefa, o governo federal corta verbas da Secretaria Nacional de Segurança Pública… Há mortos com pedigree e sem pedigree. Para os que não têm distintivo de militante, os “companheiros” não dão a menor bola.

Os acusados pelas duas mortes estão sendo julgados no Pará: o agricultor José Rodrigues Moreira, apontado como mandante; seu irmão Lindonjonson Silva Rocha, suposto executor, e Alberto Lopes do Nascimento, acusado de coautoria. Todos se dizem inocentes. Os chamados movimentos de defesa dos direitos humanos estão lá em peso. A imprensa também dá grande destaque ao evento. Trata-se as duas mortes como parte de uma política de extermínio de lideranças camponesas. Será mesmo? Vamos aos fatos.

FATO UM – Rodrigues, o acusado pela morte, não é um plutocrata da terra ou um madeireiro. Ao contrário: era também um assentado da região, como José Cláudio e sua mulher. Se for um dos culpados pelas mortes, que seja exemplarmente punido, mas inexiste, no caso, o componente de natureza política que tentam lhe emprestar.

FATO DOIS – Rodrigues comprou efetivamente um lote. José Cláudio e sua mulher diziam que era uma compra irregular. ESTAMOS FALANDO DE UMA BRIGA ENTRE ASSENTADOS, NÃO DE UMA LUTA ENTRE LATIFUNDIÁRIOS E SEM-TERRA. Se os três acusados forem culpados pelo crime, que paguem. Mas que paguem pelos crimes cometidos, que já são bárbaros o bastante. O problema é que estão querem usar o episódio para alimentar uma outra narrativa.

FATO TRÊS – O fato dois conduz ao fato três, que diz respeito a Ipixuna e a centenas de outros assentamentos Brasil afora. Existe um frenético comércio de lotes de assentamento. A reforma agrária, da forma como é feita no Brasil, sob o comando do MST — essa é a verdade —, estimula o mercado clandestino de venda de terras. É mel da sopa. O sujeito recebe a área, vende a terceiros e invade um novo local. A demanda não acabará nunca. Isso é apenas um fato. No caso, parece que o acusado teria comprado o lote de uma dona de cartório ou algo assim. Pouco importa: ele pagou por uma terra que tinha, originalmente, a chancela oficial.

FATO QUATRO – O fato três conduz ao fato quatro. O Brasil conhece pouco o que se passa nos subterrâneos do mercado clandestino da reforma agrária e das “leis” que vigoram em assentamentos. São uma verdadeira terra de ninguém. Brasil afora, os “assentados”, conduzidos por organizações políticas, criam as suas próprias regras. Mata-se e morre-se muito mais do que se imagina e se sabe. Quem me contou conhece profundamente os bastidores do movimento. É um cara “do lado de lá” e ainda hoje figurão de uma dos maiores partidos do Brasil. Hoje, não fala mais comigo. Mas sabe o que me disse. Existem, sim, mortes encomendadas por madeireiros clandestinos e grileiros. Mas a maioria dos casos, como o de Ipixuna, está relacionada a rixas locais e brigas entre assentados. Esse episódio chegou ao conhecimento da polícia. A maioria não chega.

FATO CINCO – É preciso levar à cadeia mandantes e executores do casal, sim. Fim de papo. Mas isso não muda a biografia de ninguém. José Cláudio, como informei aqui no dia 20 de julho de 2011, não era exatamente uma pomba da paz. Mereceria morrer por isso? Ora, deixemos de estupidez! É claro que não! Mas também não podia, até onde alcanço, matar ou participar de ações que resultassem em morte. E isso aconteceu.

Em agosto de 2009, José Cláudio e um irmão chamado Claudemir foram, armados, tomar satisfações com um outro assentado, apelidado de “Pelado”. Motivo: este não aceitava a liderança de José Cláudio, do irmão e da mulher. Resultado da conversa: Claudemir matou Pelado a tiros. O pacífico extrativista que aparece nas cândidas reportagens da imprensa brasileira resolvia suas diferenças de arma na mão. O Pará estava sob o governo da graça de Ana Júlia Carepa, do PT. ATENÇÃO! O INQUÉRITO SÓ FOI ABERTO EM DEZEMBRO DE 2010, um ano e quatro meses depois. E, obviamente, ninguém ficou nem sabendo que houve um dia um homem apelidado de “Pelado”, morto a tiros por “extrativistas progressistas”.

FATO SEIS – Noticia-se na imprensa como se fosse regular, correto e decente que o governo federal, por meio da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, emitiu uma nota, assinada pela inefável Maria do Rosário, pedindo a punição dos réus:“A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República espera que os jurados tenham a sensibilidade e a firmeza em defender os direitos humanos e tornar esse caso um exemplo na consolidação da Justiça e um marco na proteção dos defensores de direitos humanos”.

Eu também, a exemplo de toda gente decente, espero que se faça justiça nesse caso e nos outros 50 mil homicídios dolosos que acontecem todo ano no Brasil. Mas lembro que é um despropósito que o Poder Executivo emita uma nota cobrando a condenação de quem está em julgamento, por mais odientos que sejam os réus e por mais evidente que seja a sua culpa. Isso é coisa de ditadura, não de democracia. O Poder Executivo não tem de dizer qual é a sua expectativa em casos que estão sob o escrutínio do Poder Judiciário. É que Maria do Rosário não resiste à tentação de fazer baixo proselitismo. Eu garanto que a ministra não sabe que rumo tomou a investigação da morte de Pelado. Afinal, Pelado é um cadáver que estava do lado errado da luta…

Concluo
1) Cana para os ainda acusados se forem considerados culpados.
2) Estamos diante de um caso de briga entre assentados por causa do comércio clandestino de terras oriundas de assentamentos feitos pelo governo federal.
3) Grupos políticos que atuam no campo fazem as suas próprias leis e têm a sua própria “justiça”; nessas áreas, vigora a pena de morte. O governo federal faz de conta que não sabe.
4) Militantes políticos e ONGs estão tentando encobrir o que de fato se deu em Ipixuna, simulando um falso confronto entre assentados e grandes proprietários.
5) Maria do Rosário, que denunciou, há dois anos, uma suposta escalada de assassinatos contra líderes rurais, volta a falsear a realidade com a sua nota, além de, obviamente, ir além de suas sandálias ao tentar pressionar o Poder Judiciário.
6) É um escândalo moral inventar uma narrativa política para as mortes para só então declarar a sua fealdade. Fica parecendo que os casos não seriam graves o bastante se os mortos não tivessem, como tinham, vínculos com movimentos militantes. O problema, meus caros, é que essa gente que está aí protestando — incluindo Maria do Rosário — realmente não estaria dando a menor pelota se os mortos não fossem “da turma”. Ou alguém se importou quando o irmão de José Cláudio, na companhia deste, mandou “Pelado” desta para a pior? Tanto Pelado como José Cláudio eram seres humanos. Essa era apenas a vulgaridade que os igualava. O que torna José Cláudio especial é seu pedigree militante. Nessa marcha, ainda acabará constando do Código Penal, que, no casos de assassinato, se a vítima for de esquerda, a pena do condenado deverá ser acrescida em um terço. Será considerada uma circunstância agravante. Se for de direita, isso servirá como atenuante. Eu, reacionário que sou, acho que gente tem mais é de viver: de direita, de esquerda ou de coisa nenhuma. E acho também que lugar de assassinos e seus cúmplices é a cadeia, sejam de direita, de esquerda ou de coisa nenhuma.
Por Reinaldo Azevedo

Julgamento no Pará: o absolvido, os condenados e os autoritários disfarçados de anjos vingadores. Ou: A grande mentira

Informa Jean Philip Struck na Veja.com o que segue. Volto em seguida.

O agricultor José Rodrigues Moreira, acusado de ser o mandante da morte de um casal de extrativistas no município de Nova Ipixuna, em maio de 2011, foi absolvido pelo júri nesta quinta-feira. Outros dois acusados, um deles apontado como o executor e o outro denunciado como coautor, foram condenados a penas de 45 e 42 anos de prisão, respectivamente.

A absolvição de José Rodrigues Moreira provocou revolta de manifestantes que compareceram ao fórum de Marabá, onde ocorreu o julgamento. Alguns deles chegaram a atirar pedras contra o prédio e quebraram janelas. A polícia foi acionada e teve que intervir para conter a multidão. A promotoria anunciou que vai recorrer da decisão que absolveu o agricultor.
(…)

Voltei
Não estou lá, não acompanhei os detalhes do processo e do julgamento nem tenho as evidências apontadas pela acusação. Suponho — é só um exercício de lógica elementar — que os jurados entenderam que as provas contra os condenados (um deles irmão daquele era considerado mandante) eram contundentes; já as que foram apresentadas contra o que foi absolvido talvez não fossem.

O promotor Danyllo Pompeu, leio na Folha, especulou: “A sociedade em si tem um pouco de receio de condenar mandantes. Se criou um mito de que todos têm poder econômico e influência política”.

Que frase estupenda! Ela revela algo que evidenciei no post que escrevi há pouco sobre o caso. Aquele que era acusado de ser o mandante, José Rodrigues Moreira, também é um pobre-diabo — refiro-me à sua condição econômica.

Os militantes que estão lá no tribunal, com a ajuda do governo federal e da inefável Maria do Rosário, fingem que ele é um Senhor de Terras, um latifundiário, um plutocrata. Mentira! É só um dos assentados pobres da região, que comprou um lote, no frenético comércio clandestino de terra — e o principal responsável pela bagunça é o governo federal.

Eu não sei se os jurados decidiram contra as provas ou não. À diferença do jornalismo “isento” destes dias, não tenho como julgar — e, pois, não vou me alinhar por preguiça intelectual com o lado considerado “bom”. O que sei é que não haveria motivo “político” para o júri absolver Rodrigues, mas condenar seu irmão e um terceiro acusado. Ele é tão ferrado na vida quanto os outros. Aliás, se os jurados estivessem fazendo média e temessem a reação de Rodrigues, talvez o mais prudente fosse trancafiar os três.

Passa, ainda que remotamente, pela cabeça dos jornalistas engajados que as provas apresentadas contra Rodrigues possam ter sido fracas? Ou, na nova ordem, no novo estado de direito de Maria do Rosário, Brasília diz quem deve e quem não deve ser condenado, independentemente dos autos?

A promotoria certamente vai recorrer. Haverá a chance de se apresentarem novas provas. Vamos ver os desdobramentos. Algumas coisas, no entanto, têm de ser consideradas:
a) Rodrigues não é um senhor de terras lutando contra a bondade;
b) os ditos movimentos sociais e ONGs não substituem a Justiça;
c) julgamentos se fazem nos tribunais, não em praça pública;
d) o governo federal não tem de se meter e dizer à Justiça qual é a sua vontade;
e) A Justiça continua a ser Justiça mesmo quando decide contra a nossa vontade. Quem acha que a única decisão aceitável é aquela que é do seu agrado está pronto para viver numa ditadura, não numa democracia. Mas tem de ser uma ditadura em que o dito-cujo seja o ditador.
Por Reinaldo Azevedo

Ministro admite que corintianos presos ilegalmente na Bolívia correm o risco de morrer; o silêncio do governo petista é escandaloso! Cadê o Lula para falar com o seu “querido Evo”?

Lula é amigão de Evo. Já exibiu um colar de folha de coca numa solenidade naquele país. A substância que sai dessas folhas responde pela morte de milhares de brasileiros ano após ano. Mas os petistas seguem Chico Buarque e falam fino com La Paz. Só aceitam desaforo de país pobre…

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Pariota, admitiu em audiência no Senado, nesta quinta, que os 12 torcedores do Corinthians presos na Bolívia, na cidade de Oruro,  correm o risco de morrer. Os brasileiros estão encarcerados há 42 dias. Naquele país, a prisão preventiva pode se estender por até três anos… É um escândalo o que está em curso. O autor do disparo do sinalizador que matou um jovem torcedor naquele país já foi identificado. Não existem provas contra os 12 detidos. Pior: o governo de Evo Morales está tentando usar os torcedores como moeda de troca, inconformado com o fato de o senador oposicionista Roger Pinto Molina estar refugiado na embaixada brasileira, em La Paz desde maio de 2012. Evo quer que a embaixada brasileira se comporte como polícia política do seu regime.

Estamos diante de uma óbvia arbitrariedade. Evo faz gato e sapato do Brasil: toma refinaria, cria campo de cultivo de coca na fronteira com o país, legaliza carros roubados, faz chantagem com o gasoduto… Mas sabem como é… O “companheiro Evo” é um bolivariano “pogreçista”, amigo de Lula, e o Itamaraty segue a máxima recomendada por Chico Jabuti Buarque: falar fino com La Paz e grosso com Washington. Houvesse 12 brasileiros presos em situação irregular nos EUA, já teríamos ouvido uma gritaria anti-imperialista. É uma vergonha. Quem não se lembra da gritaria promovida por aqui quando uma brasileira que morava na Suíça disse ter sido vítima de neonazistas, que lhe teriam ferido o corpo com um objeto cortante? Este blogueiro foi o único da imprensa a escrever: “a história é suspeita”! Pois é. Era tudo mentira! Autoridades e imprensa, no entanto, trataram a questão em clima de “pátria ofendida”. Havia algo assim: “Quem o Primeiro Mundo pensa que é?” Os nossos esquerdistas começaram a fazer digressões sobre o avanço a extrema direita na Europa. Autoridades do governo Lula exigiam um pedido formal de desculpas do governo suíço… O Brasil não aceita que país rico maltrate brasileiros. Só aceitamos desaforo e ilegalidade de país pobre. Foi o Chico Buarque que mandou.

Lula tentou negociar até um acordo nuclear internacional com o Irã. Já apresentou uma “solução” para o conflito israelo-palestino, se ofereceu para dar uma resposta à crise econômica europeia e chegou mesmo a especular sobre as vantagens de a Terra ser quadrada em vez de redonda. Poderia ir lá bater um papo com o seu “querido” (como ele o chama) Evo Morales. Até um colar de folha de coca ele já exibiu em público. Como se diz, ademais, corintiano, que tente libertar os brasileiros da prisão ilegal. É claro quer será uma solução extra-institucional. Mas também a prisão dos 12 não obedece a lei nenhuma. Ao menos se preservam as vidas de brasileiros.

Segue texto de Laryssa Borges, na VEJA.com, sobre a audiência.

O ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, indicou nesta quinta-feira, durante audiência no Senado, acreditar na inocência dos doze torcedores do Corinthians presos desde o dia 20 de fevereiro na Bolívia e afirmou que “não há afrouxamento” do Itamaraty nas negociações para acelerar o desfecho do caso. Os brasileiros foram indiciados por participação na morte do garoto Kevin Espada, de 14 anos, durante uma partida da Copa Libertadores da América.

“A firmeza do governo brasileiro é a mais completa. Não há afrouxamento, o que pode haver é uma certa reserva em compartilhar publicamente, porque isso em nada contribuiria para proteger os brasileiros ou para acelerar o desenlace que todos nós desejamos”, disse o chanceler à Comissão de Relações Exteriores do Senado. “Uma vez comprovada a inocência, que acreditamos que pode ser o desenlace, esperamos a liberação o mais breve possível dos nossos concidadãos.”

Patriota se reuniu no início do mês de março com o presidente boliviano Evo Morales para discutir o caso envolvendo os brasileiros presos no país vizinho. Nesta quarta, o presidente do Corinthians, Mário Gobbi, desembarcou em Brasília para negociar com representantes do governo a libertação ou pelo menos a prisão domiciliar dos acusados. Os torcedores estão encarcerados há 42 dias em prisão preventiva, que, segundo as leis bolivianas, pode se estender por até três anos.

Nos bastidores, interlocutores que acompanham as negociações sobre a libertação dos corintianos dizem que o Brasil não pode atacar publicamente o sistema judicial boliviano. Uma sinalização nesse sentido poderia ampliar o mal estar causado pela morte do menino Kevin Espada, além de ser interpretada como uma ingerência do governo brasileiro na gestão de Evo Morales. “Transmiti [ao presidente Evo Morales] com muita firmeza o propósito e a intenção do governo brasileiro de exigir tratamento digno e respeito aos nossos compatriotas e encaminhamento judicial mais célere”, disse nesta quinta-feira o ministro.

Viés político

Autoridades e parlamentares que acompanham a situação dos corintianos avaliam que o governo de Evo Morales tem promovido uma retaliação a Brasília por causa do asilo ofertado pela embaixada do Brasil em La Paz ao senador oposicionista Roger Pinto Molina. Molina está na embaixada do Brasil desde maio de 2012 após alegar ser perseguido pelo governo boliviano.

“[Defendo um] Certo cuidado em não associar a situação do senador ao qual foi concedido asilo ao [episódios dos] detentos. Considero que é desejável continuarmos a tratar os assuntos por canais separados, ainda que se possam comunicar de alguma maneira”, disse o ministro Antonio Patriota nesta quinta no Senado.

Para o chanceler brasileiro, no entanto, a situação de impasse envolvendo o senador Pinto Molina não será tratada como uma “moeda de troca” para a liberdade dos corintianos. “Nenhum cidadão brasileiro pode ser moeda de troca de coisa alguma. Temos todo interesse de manter os canais separados”, afirmou. “Não ganharemos nada em termos de equacionamento desse assunto aproximando os debates entre os dois temas.”
Por Reinaldo Azevedo

Quem manda – Empreiteiras levam reclamação a Lula, e Dilma muda taxa de lucro para grandes obras

Por Valdo Cruz e Dimmi Amora, na Folha:
Pressionado pelas empresas, o governo Dilma Rousseff cedeu e não vai mais limitar a 5,5% ao ano a taxa interna de retorno dos investimentos nos projetos de concessão de rodovias ao setor privado. “A taxa de retorno de 5,5% nos projetos de rodovias não existe mais, foi calculada com base em estudos ultrapassados”, disse à Folha o ministro Guido Mantega (Fazenda) por meio de sua assessoria.

Segundo a Folha apurou, a expectativa, agora, é que haja uma taxa de retorno específica para cada projeto de concessão, mas sempre superior a 5,5%. Os empresários defendem pelo menos 8%. Nos últimos dias, pelo menos três empreiteiras avisaram o Palácio do Planalto que não iriam participar dos leilões, previstos para julho, caso a taxa interna de retorno continuasse em 5,5%.

A principal reclamação dos empresários, repassada ao ex-presidente Lula e com quem a presidente Dilma se reuniu ontem em São Paulo, é que o governo queria tabelar a taxa de retorno, o que iria afugentar os investidores das licitações. Os estudos dos sete trechos de rodovias, com previsão de leilão em julho, foram feitos com base na taxa de retorno de 5,5% fixada pelo Tesouro. Ou seja, essa seria a taxa usada nos parâmetros do edital de licitação e que foi alvo de protestos dos empresários.
(…)
Por Reinaldo Azevedo

Ineficiência com método – Dilma prepara a sua quinta estatal, a “Hidrobrás”, para portos e hidrovias

No Estadão:
O governo Dilma Rousseff prepara a criação de mais uma estatal, que terá a tarefa de cuidar dos portos fluviais, hidrovias e eclusas do País. Projeto dos ministérios do Planejamento e dos Transportes prevê a formação de uma nova empresa, que assumirá as funções, nessa área, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Caberá a ela projetar, construir, operar, manter e restaurar a estrutura de navegação em rios, hoje muito abaixo de suas possibilidades e do potencial do País.

Se levada adiante, a nova estatal será a quinta de Dilma em menos de três anos de governo – seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, também criou cinco, mas em oito anos. A presidente já incorporou à administração federal a Infraero Serviços, a Amazônia Azul Tecnologias de Defesa e a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias, além da Empresa Brasileira de Planejamento e Logística (EPL), esta última para planejar e articular ações na área de Transportes. As companhias se somam a dois ministérios – a Secretaria de Aviação Civil e a Secretaria da Micro e Pequena Empresa -, adicionados por Dilma às 37 pastas herdadas de Lula.

Ainda em gestação, a “Hidrobrás” teria dupla vinculação, reportando-se tanto ao Ministério dos Transportes quanto à Secretaria de Portos da Presidência (SEP), responsável hoje pelos terminais marítimos. A principal justificativa para a criação é que, sob o guarda-chuva do Dnit, os portos fluviais e hidrovias ficam em segundo plano, pois a autarquia concentra suas atividades na gestão da imensa malha rodoviária.

“Países com as dimensões do Brasil não têm órgãos multimodais (para gestão de mais de um tipo de transporte), como o Dnit”, argumenta autoridade do governo envolvida no projeto, explicando que o Brasil não usa um terço de sua capacidade hidroviária. “Para você potencializar isso, precisa de alguma especialização”, sustenta.
Por Reinaldo Azevedo

Gays estão sendo usados como massa de manobra para projeto que busca solapar a democracia representativa; esta é apenas uma etapa da “luta”; no fim do túnel, está o “controle da mídia”. Então vamos ver

Preparados para um texto longo, que tenta colocar no seu devido lugar essa história da Comissão de Direitos Humanos e Minorias? Cansei da conversa mole sobre esse assunto. É hora de botar os pontos nos is.

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Se o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) renunciar à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara ou se for destituído por um golpe, como querem alguns, as comissões do Congresso, doravante, ficarão à mercê dos grupos que conseguirem fazer mais barulho. E o objetivo é mesmo esse, como deixarei claro neste texto. É só de se lamentar que um partido como o PPS esteja fazendo o jogo do golpismo militante e não perceba o que está em curso. De certo modo, isso explica a pobreza do debate político no Brasil e a penúria em que vive a oposição: política, intelectual e ideológica. Tenho insistido aqui, desde que começou essa pantomima, que as declarações de Feliciano — nem homofóbicas nem racistas, apenas infelizes — estão sendo usadas como mero pretexto para que “a luta” das esquerdas contra a democracia representativa alcance um novo patamar, passe para um novo estágio. Não! Nem elas estão conspirando nas sombras nem eu estou desenvolvendo uma teoria da conspiração para capturar o momento.

A ação é clara, explícita e já conta até com uma confissão, como se verá adiante. O mais inocente nessa narrativa bufa, se querem saber, é o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), uma celebridade mais ou menos articulada, que descobriu as vantagens, desde o BBB, de ser um gay profissional, uma vítima triunfante, ora convertida em deputado temático. Viu um mar de votos e resolveu se jogar de cabeça. É inteligente o suficiente para perceber que o espírito do tempo lhe é favorável. Mas lhe faltam profundidade teórica e formação política para entender que também ele está sendo instrumentalizado.

Neste exato momento, a causa dos gays é usada como instrumento para tentar solapar a democracia representativa. Wyllys, no seu mergulho cego em busca de eleitores, torna-se, assim, uma espécie de inocente útil dos golpistas. É bem verdade que ele próprio, ressalte-se, não é um exemplo de amor à democracia e de tolerância. Basta ler o que escreve, ouvir o que diz e ver como reage quando contraditado — se preciso, tacha um adversário intelectual de bicha velha sem pestanejar, mas não porque seja homofóbico, claro! — para constatar que qualquer que seja o regime ideal que tenha em mente, democrático não é. Nesse particular, está no lugar certo, o PSOL. E nem preciso lembrar que esse partido tem entre seus criadores um terrorista homicida. Wyllys nem devia saber disso direito. Agora que sabe, deve considerar irrelevante.

O que está em jogo é coisa bem maior do que ser contra o casamento gay ou a favor — até porque isso é causa vencida. A minoria ganhou. O que está em jogo é bem maior do que saber se Feliciano, filho de mãe negra, foi ou não racista ao mal citar uma passagem bíblica. Até porque não foi. O que está em jogo é a preservação ou o solapamento de regras institucionais. E isso tem um propósito.

Paranoico
Em momentos assim, os adesistas, os preguiçosos e os oportunistas, para evitar o debate — e também porque lhes faltam argumentos —, tendem a tachar de paranoicos os que se atrevem a denunciar a natureza do jogo. Isso vale especialmente para o jornalismo nacional, que faz, nesse particular, com as exceções de rigor, um dos trabalhos mais porcos de sua história. Quando o controle da mídia for a bola da vez — e, cedo ou tarde, será —, então esses estrategistas do arreglo vão se dar conta da besteira que fizeram ao tentar cair nas graças da turba. Terão perdido os aliados de antes sem ganhar aqueles que jamais terão. Farão jornalismo patrulhados pela Polícia dos Bons Costumes Ideológicos… Em muitos aspectos, já é assim hoje. De resto, quem condescende com o ataque à pluralidade e com a agressão institucional se torna alvo potencial dessas práticas. Paranoico? Não! Apenas objetivo.

Um pensador
A estratégia a que me refiro aqui já tem um texto de referência. Seu autor é Vladimir Safatle, professor do Departamento de Filosofia da USP, candidato a sósia de Lênin (não é ironia, não), articulista da Folha e, como direi?, um verdadeiro quebrador de paradigmas. Num artigo publicado na terça-feira, ele não resistiu e entregou o serviço. Safatle é um velho conhecido deste blog. Já escrevi alguns posts sobre o seu pensamento e sua prática política. Refiro-me a seu ineditismo porque se deve a este senhor, até onde sei, a autoria do primeiro texto publicado na grande imprensa brasileira que faz a defesa e a justificativa teórica do terrorismo. O artigo saiu no Estadão no dia 11 de janeiro de 2009. No Estadão!!! No dia 13 daquele mês, comentei aqui as barbaridades que ele escreveu. Não faz tempo, ao defender a legalização do aborto, este pensador refinado chamou os fetos humanos de “parasitas”. Isso quer dizer que ele jamais tomaria uma lombriga por um nascituro, mas que certamente tomaria um nascituro por uma lombriga…

Ele não vai muito com a minha cara, e posso compreender os motivos. Naqueles tempos da febre de “occupy” isso e aquilo, Safatle saiu por aí a defender ocupações ilegais, inclusive na USP. Atacou grotescamente a Reitoria da universidade porque pedira na Justiça a reintegração de posse da área invadida. Gostava de ficar filosofando em praça pública contra os interesses dos reacionários e do capital e coisa e tal… Um esquerdista nato! Pois é. Escrevi aqui um post informando que a fazenda de sua família, em Catalão, em Goiás, tinha sido invadida por sem-terra. E o que fez o seu papai? Recorreu à Justiça e à Polícia. E olhem que as terras estavam enroladas com o Banco do Brasil. Alguns ensaiaram um protesto: “Ah, a fazenda era do pai, não dele”. Bem, em primeiro lugar, um dia será. Em segundo lugar, em ritmo de “occupy”, cabia a pergunta: por que não a fazenda do papai? Porque não foi lá defender a permanência dos sem-terra na área invadida? Safatle ficou bravo comigo e escreveu um artigo a respeito. Eu respondi. Está tudo aqui para quem se interessar.

Ao texto!
Na terça, o homem que poderia tratar feto humano como Ascaris lumbricoidesresolveu deitar suas luzes, em artigo publicado na Folha, sobre os embates que opõem a militância gay ao comando da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Seu artigo segue em vermelho. Comento em azul.

O primeiro embate
O título já é revelador. Safatle está anunciando que se trata de uma guerra de duração mais longa, e que as escaramuças de agora são apenas o “primeiro embate”. Nesse particular, está certo.

Os embates em torno da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara talvez sejam o primeiro capítulo de um novo eixo na política brasileira.
Aqui ele anuncia “um novo eixo”. Para o autor, a confusão a que se assiste cotidianamente tem um alcance maior do que parece à primeira vista. Faz sentido.

A maneira aguerrida com que o deputado Marco Feliciano e seus correligionários ocupam espaço em uma comissão criada exatamente para nos defender de pessoas como eles mostra a importância que dão para a possibilidade de bloquear os debates a respeito da modernização dos costumes na sociedade brasileira. Pois, tal como seus congêneres norte-americanos, apoiados pelo mesmo círculo de igrejas pentecostais, eles apostam na transformação dos conflitos sobre costumes na pauta política central. Uma aposta assumida como missão.
Pela ordem:
1) é mentira que haja essa “ocupação deliberada de espaço”. PT e PMDB, como primeiro e segundo partidos da Câmara, respectivamente, fazem o que bem entendem e tomam a comissão que lhes der na telha. Preferiram, desta feita, as que lidam, vamos dizer, com mais riquezas. A Comissão de Direitos Humanos foi a que restou para o PSC, um partido da base de apoio de Dilma.
2) Safatle se coloca — “nos” — entre aqueles que seriam defendidos pela comissão? A que minoria ele pertence? Nem mesmo à dos que falam besteira, que isso o faz maioria. Mas notem que, para ele, existe mesmo uma guerra:  de um lado, o “mal”; de outro, o “bem”; de um lado, os que atacam; do outro, os que se defendem. Mas fundamentalista é… Feliciano.
3) Com a devida vênia, só vigaristas intelectuais e tiranos falam em “modernização de costumes”. A Revolução Cultural chinesa, por exemplo, queria “modernizar os costumes tradicionais”, considerados hostis ao comunismo (além de eliminar qualquer desvio burguês, claro). Para Satafle, quem não defende os valores que ele defende não é o “outro”, com direito a ser o “outro”. É alguém atrasado. É por isso que a esquerda matou tanto, e mata ainda, quando no poder. Quem não está com elas é um sabotador do futuro.
4) O “inteliquitual” Safatle conta uma mentira quando diz que há um esforço deliberado do PSC em transformar os costumes numa pauta central e coisa e tal. Trata-se de um bobajol sem sentido. Começa que o partido é pequeno e não tem força pra isso. Nas eleições presidenciais, aliou-se à presidente Dilma Rousseff e teve papel importante para diminuir as resistências que ela enfrentava entre evangélicos. O PT foi buscar o PSC. Quem lê a tolice que escreve fica com a impressão que essa legenda minúscula tem um projeto próprio de poder.
5) A referência encoberta que faz ao Partido Republicano nos EUA é notavelmente falsa, além de ignorante. A religião teve peso pequeno nas duas eleições de Bush e nas duas eleições de Obama. Partidos, não obstante, têm valores também para a área de costumes. Ou não os terão também os democratas? Safatle não deixa de tocar na coisa certa, mas pelo avesso (como de hábito): forças políticas que não estiverem ancoradas também em valores não chegarão a lugar nenhum, como sabem as oposições no Brasil.

Durante os últimos anos, o conservadorismo nacional organizou-se politicamente sob a égide do consórcio PSDB-DEM. Havia, no entanto, um problema de base. O eleitor tucano orgânico é alguém conservador na economia, conservador na política, mas que gosta de se ver como liberal nos costumes. Quando o consórcio tentou absorver a pauta do conservadorismo dos costumes (por meio das campanhas de José Serra), a quantidade de curtos-circuitos foi tão grande que o projeto foi abortado. Mesmo lideranças como FHC se mostraram desconfortáveis nesse cenário.
Também pela ordem:
1) A única verdade contida aí é que os tucanos gostam de se ver como liberais nos costumes. Aliás, em muitos aspectos, mais do que o próprio Lula, que faz a linha família-conservador — ao menos para o consumo dos ingleses, né, Rosemary? Safatle poderia dizer quais são as evidências do conservadorismo tucano em economia e política… Quais são os grandes avanços “progressistas” do PT nessas duas áreas que o PSDB não aprovaria? Ora, os tucanos andam meio sem rumo porque os petistas lhes roubaram a agenda, eis a verdade. O PT se juntou a “conservadores” em economia e política que jamais perfilaram com o PSDB.
2) Afirmar que a campanha de Serra tentou absolver a pauta do conservadorismo de costumes é evidência de desonestidade intelectual. Por que Safatle não aponta os exemplos? Porque não existem. Talvez a campanha de Serra devesse, sim, tê-lo feito para valer, mas não o fez. E, de novo, em 2014, os tucanos não o farão. Associar Serra, talvez o tucano mais à esquerda de quantos há por aí, ao conservadorismo é delinquência intelectual e teórica. Esse cara tem alunos. Deveria respeitar um pouco mais a inteligência da moçada. Mas o professor de filosofia já perdeu faz tempo para o doutrinador. Sim, se os tucanos insistirem na mesma “pauta de costumes” — eu chamo de “valores” — das esquerdas, ficarão onde têm estado nos últimos 10 anos.

Porém ficava claro, desde então, que havia espaço para uma agremiação triplamente conservadora na política brasileira. Ela teria como alicerce os setores mais reacionários das igrejas, com suas bases populares, podendo se aliar aos interesses do agronegócio, contrariados pelo discurso ecológico das “elites liberais”. Tal agremiação irá se formar, cedo ou tarde.
Huuummm… Safatle parece ter nojinho das igrejas e dos “interesses do agronegócio” (e os sem-terra do papai, hein?). Eu até diria que, para os não esquerdistas, a possibilidade de surgir um partido com essas características soaria animadora, mas não está no horizonte. Os parlamentares evangélicos estão nas mais diversas agremiações, incluindo o PT. O mesmo se dá com aqueles ligados à produção agropecuária. Infelizmente, não será assim.

Safatle já demonstrou ser um mau pensador. Como historiador, coitado!, falta-lhe uma biblioteca. Essa nova clivagem não acontecerá porque o tamanho que tem o Estado no Brasil não o permite. O governo tem tal força que as convicções mais arraigadas acabam sendo cooptadas. As principais lideranças evangélicas do Congresso pertencem à base de apoio de Dilma. Não fosse a gritaria de Jean Wyllys, com o apoio da imprensa, Feliciano estaria lá cumprindo a pauta do oficialismo.

Nesse sentido, o conflito em torno dos direitos dos homossexuais deixou, há muito, de ser algo de interesse restrito. Ele se tornou a ponta de lança de uma profunda discussão a respeito do modelo de sociedade que queremos.
Huuummm… Quem é esse sujeito oculto, este “nós” do “queremos”? Quem quer o quê? Essa “discussão profunda”, suspeito, supõe ao menos a existência de dois lados. Por que, então, o esforço para banir os evangélicos, para destituir Feliciano, para lhe cassar o mandato? Certo! Safatle está com os que “querem” alguma coisa. Mas e os outros quereres? Eles não contam? Não! Agora vem a melhor pior parte do artigo. Agora vem a confissão.

A luta dos homossexuais por respeito e reconhecimento institucional pleno é, atualmente, o setor mais avançado da defesa por uma sociedade radicalmente igualitária e livre da colonização teológica de suas estruturas sociais. Por isso, ela tem a capacidade de recolocar em cena as clivagens que sempre foram o motor dos embates políticos.
“Colonização teológica de suas estruturas sociais” é uma dessas bobagens pomposas que não querem dizer absolutamente nada, mas que nos fazem suspeitar que aí existe um pensador. Quando foi, senhor Safatle, que as sociedades se organizaram sem a religião, sem “a colonização teológica”? O homem que toma um feto por uma tênia acredita que o pressuposto da “sociedade radicalmente igualitária” é, então, o fim da religião. No reino da liberdade de Safatle, todos são livres para pensar a mesma coisa — é a “igualdade radical”. Ele é Vladimir Safatle, mas até se veste como Vlaldimir Lênin… Notem bem: ele deixa claro que a balbúrdia de agora é parte de uma luta maior e que o objetivo é limpar as “estruturas sociais” da tal “colonização teológica”. Trata-se, ele escancara, de uma luta contra as religiões e os valores religiosos.

A história tem um peculiar jogo por meio do qual ela encarna os processos de transformação global em lutas que, aparentemente, visam apenas a defesa de interesses particulares.
Ao exigir respeito e reconhecimento, os homossexuais fazem mais do que defender seus interesses. Eles confrontam a sociedade com seu núcleo duro de desigualdade e exclusão. Por isso, sua luta pode ter um forte poder indutor de transformações globais.
Eis aí. A luta dos homossexuais — na verdade, ele se refere aos militantes do sindicalismo gay; são grupos distintos — é uma espécie de ponta de lança de um movimento, de um jeito de fazer política, que passa pelo assalto ao Congresso. Ela não vale pela coisa em si, mas por aquilo que representa. Se conseguirem tirar Feliciano, um novo marco, sem trocadilho, se terá estabelecido para as demandas no Parlamento. Todas as comissões ficarão sujeitas à mesma abordagem. Um grupo de 20 ou 30 pessoas se imporá pelo berro. Os parlamentares eleitos pelo povo se tornarão reféns de militantes de dois ou três partidos políticos.

Cedo ou tarde, chegará a hora de “regulamentar a mídia”. O assunto terá de passar pelo Congresso. Os assaltantes da legalidade e da institucionalidade aparecerão para gritar, espernear, apitar. Falarão, como falam hoje, em nome da liberdade, mas estarão mesmo é fazendo a defesa da censura, que chamam “controle social”. Por que um deputado não pode ter a liberdade de pensar, ainda que coisas erradas, mas a imprensa haveria de ser livre?

Ninguém tem mais o direito de se enganar. A confissão está feita.

Por Reinaldo Azevedo

A loucura no poder – de Kim Il-sung a Nicolás Maduro. Ou: Chávez vira um passarinho e canta para seu herdeiro político! É uma coisa, assim, “ornito-místico-afetiva”. Piu, piu, piu!!!

O mundo assiste um tanto perplexo às ameaças feitas por um hospício chamado Coreia do Norte. Numa eventual guerra, as forças norte-coreanas, embora gigantescas, não dariam nem para o cheiro. Ocorre que o país tem artefatos nucleares. E sempre há o risco de a China querer defender o aliado, embora eu duvide. Os celerados que mantêm aquele país debaixo do chicote deveriam ter sido contidos antes — militarmente, sim. A China teria protestado, mas enfiado o rabo entre as pernas. Tinha outras prioridades. E agora? Pois é… Deixe essa gente demencial ter armas atômicas para ver o que acontece.

Falei da Coreia do Norte porque, no país, difunde-se a crença oficial de que Kim Il-sung, avô do atual ditador, Kim Jong-un, ainda vela pelo povo lá do Reino dos Mortos. É uma espécie, assim, de zen-ateísmo-macumbismo. Todo norte-coreano tem de acreditar que, quando Il-sung nasceu, surgiu no céu uma estrela reluzente, e dois arco-íris tomaram a Terra. Também Kim Jong-Il, filho do outro e pai do atual dirigente — o gordoto taradinho que diz querer a guerra — teria sido bafejado por forças sobrenaturais.

Pois é… Agora volto à Venezuela. A retórica do tirano Hugo Chávez sempre apelou a certo messianismo. O dito “socialismo do século 21” não era mesmo coisa deste mundo. Mas o Beiçola de Caracas não tinha a ousadia de se comunicar com espíritos. O único ser das trevas com o qual conversava regularmente era Fidel Castro — que, segundo o empirismo, ainda vive. A morte do ditador deflagrou uma nova etapa na loucura que toma conta dos “bolivarianos”.

Está em curso um processo de santificação de Chávez. Agora Nicolás Maduro diz que o tiranete, como se fosse Zeus, veio falar com ele na forma de um passarinho. Não! Maduro não estava apelando a uma metáfora. Não, Maduro não estava usando uma figuração. Ele falou para que a população realmente acredite que isso é possível.

Quando o Colégio de Cardeais fez do argentino Jorge Bergoglio o papa Francisco, Maduro se manifestou. Afirmou que o líder bolivariano intercedera pessoalmente junto a Deus — nada menos — para que fosse escolhido um latino-americano para o Trono de Pedro. Observei, então, que sua expressão tentava ser referencial, como quem estivesse relatando um evento objetivo, um fato.

Uma semana depois da morte de Chávez, as TVs venezuelanas divulgavam um vídeo, feito por João Santana, o marqueteiro do PT, em que se declara a sua imortalidade. Também se tomaram providências para embalsamar o corpo, o que não se mostrou possível.

Há alguns dias, outro vídeo — um desenho animado tosco, com menos de um minuto — mostrava a chegada de Chávez ao Céu, onde se encontra com uma de suas vovozinhas e com nove outros “heróis” latino-americanos. O filme foi produzido por uma TV estatal e divulgado em todas as emissoras oficiais, às quais a oposição não tem acesso. Maduro, a exemplo do antecessor, fica horas no ar perorando em defesa do chavismo e de sua própria candidatura.

Passarinhos
A transformação de Chávez num ente místico prossegue, sem conhecer o limite do ridículo. Nesta terça, ontem, Maduro revelou ao mundo que o ditador lhe apareceu na forma de um passarinho, quando fazia suas orações: “Eu o senti aqui, como uma bênção, nos dizendo: ‘Hoje começa a batalha. Rumo à vitória. Vocês têm nossa benção’. Eu o senti na minha alma”.

Maduro se encontrava na casa em que Chávez nasceu, em Sabaneta, no estado de Barinas, e se fazia acompanhar por seus irmãos. E ele contou, segundo se lê no G1: “De repente entrou um passarinho, pequenininho, e me deu três voltas aqui em cima”, fazendo um gesto sobre a própria cabeça. E continuou: “[o passarinho] parou em uma viga de madeira e começou a cantar, um assobio lindo. Fiquei vendo-o e também cantei para ele, então. ‘Se você canta, eu canto’, e cantei. O passarinho me estranhou? Não. Cantou um pouquinho, deu uma volta e foi embora, e eu senti o espírito de Hugo Chávez”.

Eis aí. Esse é o candidato para o qual Lula gravou um vídeo. Esse é o candidato que, segundo o PT, conduzirá a Venezuela à redenção. Maduro é agora o São Francisco de Caracas.

Só para lembrar: A Venezuela tem um acordo de cooperação nuclear com o Irã. E seu futuro presidente fala com passarinhos e se comunica com os mortos. Ponto.
Por Reinaldo Azevedo

A guerra de imagens da Coreia do Norte

Na VEJA.com:
Na tentativa de intimidar inimigos externos e demonstrar poder para o público interno, a Coreia do Norte parece ter se inspirado no realismo socialista dos anos 1930 – a arte “patrocinada” (ou antes imposta) pelo regime soviético, que invariavelmente mostrava trabalhadores e soldados construindo unidos a sociedade do futuro. A retórica belicista norte-coreana, inflada desde as novas sanções aprovadas pela ONU contra o país, em resposta a um teste nuclear realizado em fevereiro, vem acompanhada por várias dessas imagens “realistas”.

As fotos divulgadas pela agência estatal norte-coreana e distribuídas pelas agências internacionais têm como temática constante as inspeções feitas pelo ditador Kim Jong-un a fabricas e quartéis, militares em treinamentos e equipamentos de guerra. Todas as imagens mostram o contrario do que pretendiam – ou seja, que o poderio da Coreia do Norte não é tão ameaçador quanto Pyongyang tenta fazer crer.

Um artigo publicado pelo jornal The Washington Post chamou a atenção para a foto de uma visita de Kim Jong-un a uma unidade do Exército que estaria desenvolvendo tecnologia militar. “É possível que este computador – colocado em uma caixa de metal gigante bem retrô – faça algo extraordinário. Mas preste atenção à cadeira de sala de jantar, ao teclado e ao mouse Logitech. Nada disso grita ‘tecnologia militar avançada’”, diz o texto (leia a íntegra, em inglês).

Além disso, algumas fotos não passam de montagens. Como a que mostra a chegada de embarcações e soldados em local não identificado do Norte. Um editor de fotografia da agência France-Presse disse ao jornal britânico The Telegraph que os barcos foram copiados e colados na imagem para dar a impressão de que são muitos. “Geralmente, um simples exame com nosso software descarta as fotos da (agência estatal) KCNA, mas eles estão ficando melhores com o Photoshop”, disse Eric Baradat.

Internamente, destacou a agência Associated Press, os norte-coreanos têm acesso a uma imagem mais leve do ditador, que é retratado como um jovem líder enérgico, do povo, um homem de família – ao lado da sorridente mulher, Ri Sol Ju. Vale lembrar que depois da morte de Kim Jong-il, anunciada em dezembro de 2011, rodaram o mundo imagens igualmente ensaiadas da população chorando, desconsolada, a perda do “amado líder”. A escola norte-coreana de propaganda tem longa tradição.

Vídeos
Além das fotos, a guerra propagandística do governo de Kim Jong-un usa vídeos para indicar o que poderia fazer contra adversários. Na última montagem, o Exército do Norte invade Seul com milhares de paraquedistas e toma milhares de americano como reféns no sul a península. Nos vídeos anteriores, a ofensiva foi contra a Casa Branca e Capitólio , ambos destruídos por mísseis, e Nova York, que aparece em chamas.

Se depender dos efeitos especiais dos vídeos, o vizinho do Sul e os Estados Unidos não têm com o quê se preocupar. A guerra de palavras reforça as versões alucinadas da realidade, ao mirar alvos estratégicos nos EUA que a Coreia do Norte esta longe de poder alcançar.

Como sempre, ao longo das últimas décadas, os rugidos de rato de Pyongyang têm o objetivo de arrancar da comunidade internacional os recursos básicos – a começar por alimentos – de que o regime precisa para se sustentar. O realismo socialista das fotos e vídeos da Coreia do Norte é tao somente um motivo de piadas. O motivo de preocupação se encontra, infelizmente, no eventual irrealismo socialista de Kim Jong-un e seus generais, que podem, sim, causar danos reais à Coreia do Sul e talvez ao Japão – sem falar no dano profundo que continuam a causar à sua própria população.

Por Reinaldo Azevedo

Exército da Coreia do Norte diz estar pronto para um ataque nuclear aos EUA

Na VEJA.com:
Depois de os Estados Unidos anunciarem a ampliação de sua defesa antimísseis no Pacífico, a Coreia do Norte voltou a mostrar os dentes. Dando continuidade à guerra de palavras, a ditadura asiática mencionou um possível ataque com eventual uso de armas nucleares.

“O momento da explosão está se aproximando de forma rápida”, disse um porta-voz do Exército em comunicado divulgado pela agência estatal de notícias KCNA. O comunicado adverte que não é possível saber se uma guerra na península coreana pode começar “hoje ou amanhã”. “A responsabilidade por essa grave situação é inteiramente dos Estados Unidos e de militares belicistas interessados em usurpar a soberania da Coreia do Norte”.

“Informamos formalmente à Casa Branca e ao Pentágono que a política hostil dos Estados Unidos em relação à Coreia do Norte e sua imprudente ameaça nuclear serão esmagadas pela firme vontade das tropas e do povo por meio de ferramentas nucleares de vanguarda mais leves e diversificadas”, acrescenta o comunicado.

As novas ameaças foram divulgadas já na manhã de quinta-feira na Coreia do Norte, depois de o Pentágono ter anunciado o envio de novas defesas antimísseis para a ilha americana de Guam, no Oceano Pacífico. No final de março, a Coreia do Norte anunciou ter ordenado que seus mísseis e peças de artilharia fossem colocados em “posição de combate” para atacar a qualquer momento alvos americanos no Havaí, em Guam e até na área continental dos Estados Unidos.

Os americanos informaram que os norte-coreanos não conseguiriam atingir os Estados Unidos com suas bombas. O motivo de preocupação se encontra na possibilidade de Kim Jong-un e seus generais causarem danos à Coreia do Sul e talvez ao Japão. O governo americano afirmou que vai se proteger e proteger seus aliados na Ásia.

O secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, alertou para um perigo “real e claro”. “Algumas ações das últimas semanas apresentam um perigo real e claro”, afirmou Hagel nesta quarta, em um evento em Washington.

“Estamos fazendo tudo que podemos, trabalhando com os chineses e outros para acalmar a situação na península”, acrescentou o chefe do Pentágono. Guam está a mais de 3.000 km de distância de Coreia do Norte, o que a inclui no raio de alcance dos mísseis de Pyongyang. A ilha abriga uma das mais importantes bases militares dos Estados Unidos no Pacífico.

Ainda nesta quarta, a Coreia do Norte impediu que os operários sul-coreanos do complexo industrial de Kaesong, que simboliza a única iniciativa de cooperação entre os dois países, cruzassem a fronteira para trabalhar. Em reposta, o ministro de Defesa da Coreia do Sul, Kim Kwan-jin, afirmou que o governo do país está preparado para uma ação militar caso a segurança dos mais de 800 sul-coreanos que estão no complexo industrial seja colocada em risco.
Por Reinaldo Azevedo

Supremo, agora para adiar publicação do acórdão.

Ai, ai… Este texto poderia começar assim: “José Dirceu, o insaciável, tenta, mais uma vez, adiar o desfecho do mensalão…” Ocorre que não é bem isso o que se passa. Leiam o que informa a VEJA.com.

Condenado a dez anos e dez meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu recorreu novamente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ele quer ampliar o prazo que a defesa dos condenados tem para apresentar recursos. Por isso, ele pede o adiamento da publicação do acórdão enquanto o tribunal não aprecia o seu pedido para ter acesso à integra dos votos revisados de cada ministro.

Embora o presidente da corte, ministro Joaquim Barbosa, já tenha negado mais prazo para as defesas apresentarem recursos – é de cinco dias após a publicação do acórdão (quando houver) –, Dirceu contesta a interpretação de que a íntegra dos votos dos ministros já é amplamente conhecida.

A defesa do petista argumenta que a transmissão das sessões de julgamento do mensalão pela TV Justiça por quatro meses não é garantia de que os detalhes de cada voto sejam conhecidos. “Cada ministro apresentou sua decisão de maneira diferente, em sentidos diversos, provocando as mais variadas discussões. Muitos ministros improvisaram seus votos, outros mudaram de posicionamento ao longo das sessões”, diz o advogado José Luís de Oliveira Lima.

O pedido será analisado individualmente por Joaquim Barbosa, e a tendência é que seja negado.

Voltei
Dirceu e seu advogado sabem que a chance de que tal pleito seja atendido é pequena. Se não havia antes motivo para tanto, não há agora. O que mudou? Então por que a iniciativa?

É mera chicana jurídica para tentar colar no STF, pela enésima vez, a pecha de “tribunal de exceção”, que sempre diz “não” aos pobres réus e que cria obstáculos à defesa. Os votos revisados — E NÃO REVISTOS — dos ministros podem conter novidades estilísticas, mas são sobejamente conhecidos, especialmente pela defesa. Trata-se apenas de uma tentativa de procrastinação.
Por Reinaldo Azevedo

É preciso encerrar o capítulo do mensalão, diz Mendes

Na VEJA.com:
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, afirmou nesta terça-feira esperar que a publicação do acórdão do julgamento do mensalão, que dá início à acolhida de recursos, seja feita nos próximos dias. “É importante que o tribunal vire essa página. O tribunal tem de se reinventar e encerrar esse capítulo do mensalão, caso contrário seremos reféns dessa questão”, disse, em rápida entrevista em uma faculdade privada em Brasília.

Mendes disse que os embargos declaratórios que os advogados dos condenados preparam não devem modificar o julgamento do processo.O ministro Celso de Mello é o único magistrado que ainda não liberou seus votos revisados. A etapa é fundamental para a publicação do acórdão do julgamento. Após a publicação, começará a ser contado prazo para que os mensaleiros condenados apresentem recursos.
Por Reinaldo Azevedo

Paulo Bernardo admite: há militantes do PT que querem controlar também a imprensa escrita

Por Sérgio Roxo, no Globo. Mais tarde volto ao assunto:

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, defendeu nesta terça-feira a regulação da mídia e disse que o projeto sobre o tema pode ser apresentado até o final do governo da presidente Dilma Rousseff no próximo ano. Admitiu também usar elementos da proposta que estava sendo formulada no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva pelo ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Franklin Martins. “(Vou) dizer o que sempre disse: sou favorável à regulação da mídia. Como qualquer outro segmento, tem que ser regulado.De acordo com o ministro, Dilma não se contrapôs à regulação. “Acredito que se tivermos um projeto ela vai avaliar.” Bernardo, que entrou em polêmica com militantes do PT por causa do assunto, afirmou que sempre defendeu a regulação, mas reconheceu que alguns petistas querem censurar os meios de comunicação.

“O que às vezes me faz contrapor com meus companheiros, alguns militantes que discutem esse tema, é que algumas pessoas veem a capa da revista e não gostam e querem que eu faça um marco regulatório. Isso não é possível porque a Constituição não prevê esse tipo de regulação para mídia escrita.”

O ministro acredita que deve haver uma lei que garanta o direito de reposta e citou como exemplo a lei recentemente implantada na Inglaterra. “Tem que ter uma lei regulando o direito de resposta. Se a pessoa se sente ferida na honra ou acha que uma determinada matéria contém inverdades, não foi correta, tem que ter um direito de resposta.”

Para rádio e televisão, o ministro se disse favorável às discussões sobre propriedade. Paulo Bernardo não sabe ainda quando o tema será tratado no governo. “Pode ser prioridade. Mas a primeira prioridade vai ser fazer um grande plano de investimento de infraestrutura de telecomunicações”.
Por Reinaldo Azevedo

Deputado evangélico consegue aprovar moção de repúdio a ditador da Venezuela por homofobia. Ou? Cadê Jean Wyllys? Cadê os outros esquerdistas da comissão? Por que nunca protestaram contra os homofóbicos islâmicos ou de esquerda?

O deputado João Campos (PSDB-GO), que é evangélico, propôs uma moção de repúdio, informa Gabriel Castro na VEJA.com, ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro (sim, ele é um ditador!) por conta de declarações escancaradamente homofóbicas. Maduro passou a espalhar que seu adversário na eleição presidencial, Henrique Caprilles, é gay. Num de seus comícios, ao lado da mulher, mandou bala: “Eu, sim, tenho mulher, escutaram? Eu gosto de mulheres”.

Alguém se opor ao casamento gay é mero exercício de opinião, especialmente quando, como é o caso do deputado Marco Feliciano (PSC-S), nada pode fazer a respeito. O Supremo já tomou uma decisão. O casamento é um jeito que a sociedade encontrou de organizar a família. Há quem entenda — é a maioria da sociedade brasileira — que deva ser constituído de homem e mulher. Há os que divergem. Mesmo sendo minoria, os divergentes venceram o embate. Agora, o que resta é só intolerância com quem não concorda com eles.

Muito bem! Os direitos essenciais da cidadania política têm um status superior. Afirmar que alguém não pode disputar um cargo público porque é gay caracteriza, sim, homofobia. Há mais: as leis, também as venezuelanas, não preveem essa restrição. Quando Maduro afirma que Caprilles não pode ser presidente porque não tem mulher — sugerindo que o adversário é homossexual —, está alimentando uma forma odienta de discriminação.

E o que as nossas valorosas esquerdas fizeram a respeito? Nada! Toda aquela gente que passou a promover baderna na Câmara — muitos deles funcionários de deputados do PT e do PSOL, pagos com dinheiro público — não deu a menor pelota para o assunto. Ao contrário: está com o chavismo e não abre! Se é para combater “a direita”, os nossos “progressistas” podem se juntar, eventualmente, a homofóbicos. O marqueteiro de Maduro é João Santana, homem do PT. Em 2008, na disputa de Marta Suplicy com Gilberto Kassab, ele levou ao ar a pergunta: “Kassab é casado? Tem filhos?” Sabem o que fez o sindicalismo gay? Ficou de boca fechada.

“Ah, a moção proposta por um deputado evangélico é apenas uma provocação”, poderia dizer alguém. Ainda que fosse. Por que ela não foi proposta por petistas e psolistas? Sim, meus caros, há sete petistas lá: Érika Kokay, Domingos Dutra, Nilmário Miranda, Padre Ton, Janete Rocha Pietá, Luiz Couto e Vicentinho. Há ainda dois representantes do PSOL: além de Jean Wyllys, Chico Alencar.

Uau! Nove “progressistas” reunidos não tiveram o bom senso, já que tão amantes da causa, de propor ao menos uma moção de repúdio? Não! Por que não? Porque são todos filobolivarianos, ora essa!  Nenhum país latino-americano, diga-se, perseguiu tanto os gays como Cuba. Vejam, a título de ilustração, o bom filme “Antes que Anoiteça”, de Julian Schnabel, que conta a história do escritor Reinaldo Arenas, implacavelmente perseguido na ilha porque era… gay! Ainda hoje os homossexuais são tratados como lixo em Cuba.

Quando é que se ouviu uma palavra desses “progressistas” que querem rasgar a Constituição e o Regimento da Câmara para tirar de lá, n o grito, o deputado Feliciano? Nunca! Entrei no site Jean Wyllys para ver se ele havia se manifestado sobre as declarações de Maduro. Nada! Não há uma vírgula.

“Os brasileiros não têm de se meter em assuntos externos; basta que tratem dos assuntos internos”, poder-se-ia objetar. Uma ova! Os petistas que estão na comissão — e, por meio do silêncio, também os psolistas — assistiram inermes aos abraços calorosos de Lula com Mahmoud Ahmadinejad, aquele que já declarou que não há homossexuais no Irã porque isso é coisa da decadência ocidental. Talvez pudesse mesmo haver mais sem o regime dos aiatolás: muitos gays foram condenados à morte, pendurados em guindastes, em praças públicas.

Há uma gigantesca diferença entre se opor ao casamento gay porque se tem uma concepção de família incompatível com essa conformação ou combater o tal PLC 122 (eivado de absurdos) e promover a perseguição aberta, escancarada, metódica aos gays. Os esquerdistas que estão na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara são coniventes, por seu aplauso ou por seu silêncio, com regimes que perseguem e matam homossexuais — ou que anunciam, em palanque, que eles não podem exercer cargos públicos em razão de sua condição.

É convicção?
Então resta a pergunta? É a convicção que move a gritaria e o linchamento no Brasil? Não! É o oportunismo. Na madrugada, escreverei um texto demonstrando que algo mais está em jogo nesse embate — e até esquerdistas admitem que a questão de gênero é, no fundo, mero pretexto para uma outra batalha.
Por Reinaldo Azevedo

Comissão veta a entrada de baderneiros. É isso! Democracia se faz com tolerância e respeito à lei. Ou: O baguncismo permitido por Henrique Eduardo Alves

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara tomou a decisão correta: seguindo a lei, impediu a entrada dos baderneiros na sala.  A única coisa errada com a medida é que deveria ter sido adotada mais cedo. “Ah, olhem o Reinaldo querendo impedir a entrada do povo…” Povo uma pinoia!!!. Até porque, na tarde de uma quarta-feira gorda, o povo está trabalhando. Quem tem tempo para rasgar a Constituição e o Regimento da Câmara não é povo, mas baderna organizada. Alguém paga as contas dessa gente? Qual é a fonte pagadora?

É bom que as pessoas se interessem pelo trabalho dos parlamentares. A democracia deve lhes franquear o acesso. Mas a democracia que permite que seus próprios fundamentos sejam solapados democracia não é.

Reportagem da  VEJA.com já provou que funcionários lotados em gabinetes da Câmara, especialmente do PT e do PSOL, participam das manifestações. Vale dizer: o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Casa, tolera o baguncismo; permite que o trabalho de pessoas legitimamente eleitas por milhares de brasileiros seja obstado por funcionários pagos com dinheiro público. Para impedir uma comissão de funcionar, bastam 10 pessoas berrando. Alves quer ser visto como um “progressista”; está interessado em lavar a sua reputação na lavanderia das patrulhas ideológicas, de minorias e do jornalismo. Se, amanhã, os bacanas decidirem promover o sacrifício de virgens, ele vai aderir à prática de maneira entusiasmada.

Tiago Oliveira, assessor da liderança do PV, e Rodrigo Cademartori, assessor de Érica Kokay, em protesto contra o deputado Marco Feliciano (Fotos: Gabriel Castro)

Leiam o que informam Gabriel Castro e Marcela Mattos, na VEJA.com:

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira um requerimento para que os manifestantes continuem impedidos de entrar no local das próximas reuniões. O acesso será restrito a funcionários da Casa e jornalistas. Como contrapartida, as sessões serão transmitidas em telões em outros pontos da Câmara. Além disso, os manifestantes serão procurados para decidir se aceitam enviar ao menos um representante às reuniões.

A decisão foi tomada por iniciativa do presidente da comissão, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), e teve o consentimento de todos os presentes. “Não há ninguém que lamente mais do que eu. Falo isso com o coração sangrando. Mas eu preciso trabalhar. A Casa tem cobrado dessa comissão trabalho”, disse Feliciano, que tem sido alvo de protestos por declarações consideradas discriminatórias contra homossexuais e negros.

O deputado João Campos (PSDB-GO), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, classificou os manifestantes de “baderneiros, anarquistas, desrespeitosos, intolerantes e preconceituosos”. Ele também pediu que a Comissão solicitasse à Polícia Legislativa a identificação dos manifestantes, por causa da informação de que muitos funcionários da Câmara participam dos atos quando deveriam estar trabalhando.

Marco Feliciano disse que o levantamento já foi requerido e que alguns assessores já foram identificados. Na semana passada, VEJA mostrou como funcionários ligados ao PT, ao PSOL e ao PV fazem parte das manifestações.

Nas semanas anteriores, quando a presença dos militantes foi tolerada no plenário, a fala de parlamentares acabou interrompida diversas vezes pelos protestos. Nesta quarta-feira, pela primeira vez, os manifestantes foram barrados desde o início da sessão. Eles permaneceram do lado de fora, gritando palavras de ordem. Alguns evangélicos também compareceram, e o clima entre os dois grupos se acirrou por diversas vezes. Um apoiador de Feliciano chegou a ser detido pela Polícia Legislativa após tentar agredir um militante contrário ao deputado.
(…)
Por Reinaldo Azevedo

Cuidado! A liberdade, inclusive a do humor, pode ter de sair pela porta dos fundos! Os nossos doces fascistas do bem!

Os meios de comunicação, os jornalistas, muitos artistas e alguns “pensadores” estão brincando com fogo. O país está flertando abertamente com a censura e com o delito de opinião, com as quais acabamos a duras penas. Tenho orgulho de ter participado dessas duas lutas, entre outras. Fui “fichado” por isso aos 16 anos. Como a bola da vez é um deputado, que também é pastor evangélico, os arreganhos estupidamente autoritários contra Marco Feliciano (PSC-SP) simulam uma guerra entre os civilizados e os primitivos, entre os progressistas e os reacionários, entre os bons e os maus. Trata-se de uma guerra falsa, mentirosa, manipulada por oportunistas. A verdadeira é outra. Como não existe — não ainda — maneira de impor ao deputado a censura e a sanção do Estado, pretende-se puni-lo por meio do tribunal das minorais militantes e dos chamados “formadores de opinião”. O espetáculo de intolerância é explicito. Corre contra ele no STF um processo por estelionato. Mas não querem destituí-lo e mesmo cassar o seu mandato por isso. Outros em situação muito pior integram comissões ainda mais importantes. É o caso dos deputados petistas José Genoino e João Paulo Cunha, já condenados pelo tribunal. O PT os indicou para a Comissão de Constituição e Justiça. Contra eles, não há nem protestos nem beijos na boca. O sacerdote da hora da cruzada para recriar no país o delito de opinião, por incrível que pareça, é o deputado Jean Wyllys (RJ), um ex-BBB convertido à causa do socialismo à moda PSOL. É… Socialismo e liberdade são palavras que só andam juntas nessa sigla. E só na sigla. Voltarei a este particular mais adiante. Dou início agora a uma digressão que, não obstante, aproxima-nos ainda mais do tema.

Porta dos Fundos, a outra
Há alguns dias, a VEJA Rio publicou uma reportagem de capa com a moçada do “Porta dos Fundos”, que faz um sucesso estrondoso na Internet. Sucesso, entendo eu, justo. São talentosos, engraçados, iconoclastas, donos de um texto quase sempre interessante. Há entre eles, ademais, alguns excelentes atores. Como a produção é profissional, o produto acaba se distinguindo da tosquedade da rede.

Fábio Porchat, um dos membros do grupo — também é contratado da TV  Globo e roteirista de cinema — concedeu uma longa entrevista a Sônia Racy no Estadão de segunda. Reproduzo (em vermelho) e comento alguns trechos. Vocês verão por quê.

Vocês usam muitas referências bíblicas. Qual dos roteiristas tem esse conhecimento?
Eu. Talvez porque seja ateu… Eu escrevi agora um com Noé, um com Abraão e um com José e Maria. E olha que eu só li alguns trechos, mas leio a Bíblia com muita curiosidade.
Sua família é religiosa?
Não, nem um pouco. Acho muito curioso uma pessoa ser religiosa, fico muito impressionado. Mas acho que o comediante tem de estar antenado em tudo. Tudo é material para uma piada.

Comento
Publiquei aqui outro dia vídeo do Porta dos Fundos, justamente um em que Porchat encarna o publicitário “moderno” que resolve editar a Bíblia porque acha o livro grande e confuso. Alguns leitores reclamaram. Não acho — nem Porchat, como se verá — que “tudo é material para uma piada”. MAS ENTENDO QUE TUDO DEVE SER SUBMETIDO AO LIVRE EXAME. Porchat se impressiona que existam pessoas religiosas. Eu já me impressiono é com a matemática de Descartes e Pascal — que eram religiosos… Mais um trecho de sua entrevista.

Qual é, na sua opinião, o limite do humor?
Acho que o Porta dos Fundos, por exemplo, é a resposta a esta pergunta.
Mas vocês, quando escrevem, pensam que algumas piadas podem pegar mal?
Não. Já falamos da Ku Klux Klan, da Bíblia, de racismo, de Moisés. Ou seja, assuntos que poderiam ser polêmicos. O Bruno Mazzeo disse que o Porta dos Fundos veio para botar uma pedra nesse assunto. Qual o limite do humor? Porta dos Fundos fala de temas superpolêmicos e nunca ninguém processou, brigou, nunca saiu…
Por quê? Acha que o limite é não ter graça?
Acho que, no nosso caso, somos cinco cabeças pensando. Cinco sócios. Então, é difícil uma coisa passar despercebida. A gente tem batido em coisas que, na verdade, merecem apanhar. No idiota que inventou a Ku Klux Klan, no padre pedófilo. Eu, por exemplo, não faço piada com Alá e Maomé, porque não quero morrer! Não quero que explodam a minha casa só por isso (risos). Mas, de um modo geral, a gente vai fazendo, vai falando.
Não houve uma situação em que vocês falaram “isso não”?
Já. E a gente não fez.

Comento
Como se vê, há alguns limites, não é? Como os judeus e os cristãos, felizmente, não saem por aí explodindo pessoas, por mais sectários que sejam, não há por que os humoristas temê-los. Mas Porchat não brinca com “O Profeta”. A resposta, ao menos, é mais honesta do que a dada por Mark Thompson, ex-chefão da BBC (hoje no New York Times). No ano passado, ele tentou explicar por que era permitido, na empresa que chefiava, zombar de Cristo, mas não do fundador do islamismo: “A questão é que, para um muçulmano, uma representação teatral, especialmente se for cômica ou humilhante, do profeta Maomé tem o preso emocional de uma grotesca peça de pornografia infantil”.

E daí? O nosso humorista deixa claro: ele tem é medo mesmo! É compreensível e justo. O humorista involuntário que hoje dirige o NYT tentou emprestar legitimidade à censura universal (!!!) imposta por uma religião. O jornal americano, diga-se, estampou em suas páginas, no ano passado, um anúncio pago que conclamava os católicos a abandonar a sua religião, apontando as suas mazelas. Uma mulher tentou publicar um anúncio idêntico, mas conclamando os islâmicos a deixar a sua crença. O jornal o recusou.

Sem limites, como se vê, o humor não é, mas Porchat deixa claro que, para a turma, quase não existem temas interditados. Afirma: “A gente tem batido em coisas que merecem apanhar”. Sei. O humor, portanto, também se orienta por valores, por escolhas, por, lá vai a palavra-papão, “ideologias” — como tudo o que diz respeito à sociedade.

“Ridendo castigat mores” é o lema do Arlequim. “Rindo, castigam-se (moralizam-se) os costumes”. Todo humor tem, portanto, uma face também séria, sisuda, de crítica a valores que circulam na sociedade. É por isso que não existe peça humorística, a não ser as involuntárias, “a favor”. Se o humor não desconstrói o que está firmado, vira mero discurso de justificação do que há. Qual a graça? É por isso que não havia, e não há, humoristas nos países comunistas. Kim Jong-un é pateticamente engraçado, mas não sabe disso.

Politicamente correto
Vamos pensar. Se o humor não pode ter limites e se ele traduz, queira ou não, um ponto de vista, por que um parlamentar tem de ser punido por delito de opinião? A ser assim, que se feche o Parlamento como instância máxima da representação democrática e se escolham, como nossos representantes, os humoristas. Talvez fosse melhor para o Brasil, mas, infelizmente, não pode ser feito.

“Ah, acontece que Feliciano foi homofóbico!” Não! Ele apenas se opõe ao casamento gay — sem que possa mover uma palha a respeito porque a comissão que preside não tem como mudar uma decisão do Supremo. O Porta dos Fundos, diga-se, já fez um quadro sobre o que alguns chamam “ditadura gay”. Está aqui. Caso se transformasse a graça em discurso político, os militantes certamente iriam protestar. Na área de comentários do vídeo, há acusações de homofobia. “Ah, mas Feliciano foi racista”. A acusação é ridícula! Os humoristas de que falo também já brincaram com a patrulha racialista (e outras patrulhas) num vídeo divertidíssimo sobre atores que fazem teste para ser Saci Pererê no teatro (aqui). Sim, também já sacanearam padres pedófilos. Pouco importa se esses pervertidos são uma minoria em meio a 400 mil sacerdotes. Convenham: os abnegados que vão a missões quase suicidas no Congo não rendem muita graça…

Meu queridíssimo amigo Bruno Tolentino, poeta gigantesco, dizia que a “arte não tem escrúpulos, tem apenas medida”. O mesmo vale para o pensamento, para o humor, para a política… É preciso pensar sem receios, mas com parâmetros.

Os que hoje se divertem caçando Feliciano por aí — e tentando cassar o seu mandato, ao arrepio das regras do estado de direito — estão pondo uma corda à volta do próprio pescoço. Ninguém precisa gostar, reitero, do que ele pensa. Eu, por exemplo, não gosto. Mas acho que a liberdade existe também para aqueles de quem discordo. A menos que tentem dar um golpe na democracia. Aí acredito que devam ser contidos.

Fim da digressão
Como noticiei ontem aqui, Jean Wyllys e dois deputados petistas — Érika Kokay (DF) e Domingos Dutra (MA) — recorreram à Procuradoria-Geral da República para acusar Feliciano e alguns outros desafetos de uma penca de crimes. Entre os alvos, está o pastor Silas Malafaia. A íntegra da peça acusatória está aqui.  Alguém que não tenha perdido os referenciais do que é uma democracia vai ficar espantado. A peça acusatória chama de “incitamento ao ódio” o que é nada mais do que a expressão de uma opinião, ainda que se possa discordar dela. Como exemplos do suposto ódio, exibem-se estas mensagens de Twitter.

Digam-me aqui: se Wyllys pode sair por aí acusando os que dele discordam de racistas e homofóbicos, por que os que discordam dele não podem acusá-lo de preconceito contra os cristãos? Por que, num caso, só se estaria exercendo a democracia e, no outro, incitando, como ele acusa, o ódio? Quer dizer que, na sociedade que Wyllys tem em mente, expressões como as que vão acima passariam ser criminosas? E esse o rapaz que hoje pauta boa parte da imprensa brasileira?

Lamento! Este senhor não sabe ainda — e espero que aprenda — o que é uma sociedade democrática. No dia 19 de maio de 2011, publiquei aqui um vídeo em que esse deputado diz que a questão do casamento gay não pode ser tema de um plebiscito porque a sociedade é desinformada e ignorante para tratar do assunto.  Eis o vídeo.

Como Jean Wyllys respondeu à minha crítica? Ele me chamou de “homofóbico”. Em novembro daquele ano, ele reagiu a um outro post que publiquei com críticas ao PLC 122 — que teria poderes, na forma de então, para, por exemplo, censurar quadros de humor do Porta dos Fundos… E como Wyllys decidiu me atacar? Chamou-me de “homossexual da melhor idade”. Escrevi a respeito. Sim, o militante gay Jean Wyllys achou que uma boa maneira de desqualificar quem divergia dele me acusando-o de ser gay e velho… Evidentemente, eu não teria como processá-lo por homofobia, ainda que já existisse a tal lei…

Há dias, Frei David, presidente de uma ONG chamada Educafro, acusou um estilista e um cabeleireiro de racismo, com ampla cobertura da imprensa. Num desfile de moda, os dois usaram palha de aço para simbolizar o cabelo dos negros — era, na verdade, uma tentativa, nem discuto se bem ou malsucedida, de lidar com clichês do racismo. Ou por outra: tratava-se do exato oposto do que entendera o buliçoso frei. Numa entrevista, ele disse o inimaginável: reconhecia que os dois rapazes não tinham praticado racismo, mas exigia que fossem à sua entidade para se desculpar… Nem na China de Mao Tse-Tung era assim…

Partindo para a conclusão
A perseguição a Feliciano — por mais que se possa discordar do que ele diz — não é o fim de um processo. Trata-se apenas do começo. E quem o confessa é um dos ditos “intelectuais” de esquerda (nesta quarta, falarei a respeito). Não pensem os jornalistas, os humoristas e os demais artistas que estarão infensos à patrulha.

O Brasil jamais será uma ditadura religiosa, fundamentalista. Mas pode, sim, involuir para uma democracia tutelada pelos “sindicatos” das minorias, que têm a ambição de, CONTRARIANDO O QUE DIZ O TEXTO CONSTITUCIONAL, decidir o que pode e o que não pode ser dito, o que pode e o que não pode ser pensado, o que pode e o que não pode despertar o nosso riso.

Leiam, reitero, a peça acusatória de Jean Wyllys e dos dois deputados petistas. Lá se encontra um verdadeiro libelo contra a liberdade de expressão, inclusive nas redes sociais. Se a sua tese prevalecer, a liberdade de pensamento sairá correndo pela porta dos fundos.
Por Reinaldo Azevedo

Produção industrial registra maior recuo mensal desde 2008

Na VEJA.com:
A produção industrial brasileira registrou recuo de 2,5% em fevereiro ante janeiro, informou nesta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se do maior recuo mensal desde dezembro de 2008 quando, no auge da crise financeira internacional, a indústria do país recuou 12,2%. O número praticamente anula o avanço de 2,6% registrado em janeiro ante dezembro. Na comparação com fevereiro do ano passado, a queda é ainda maior, de 3,2%.

O resultado mostra que o setor industrial, um dos mais importantes componentes do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, não está reagindo aos estímulos do governo, que fez uma série de desonerações no ano passado e optou, na semana passada, por manter a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos.

No primeiro bimestre do ano, a indústria teve alta de 1,1% em relação a mesmo período de 2012, mas, em 12 meses findos em fevereiro, o indicador aponta queda de 1,9%. Um ponto positivo desta última leitura é que a queda de fevereiro (em 12 meses) foi menos acentuada do que as de janeiro (-2,6%) e dezembro (-2,0%), de acordo com o IBGE.

A produção em baixa na indústria e na agropecuária, os investimentos no campo negativo e as dificuldades enfrentadas pela indústria fizeram com que o Brasil apresentasse, em 2012, o pior resultado anual do PIB desde 2009, quando o país ainda sofria os impactos imediatos da crise econômica mundial – que foi difundida a partir da crise imobiliária nos Estados Unidos.

Dos 27 ramos de atividade avaliados pelo IBGE, quinze tiveram queda, com destaque para o setor de veículos automotores, que recuou 9,1% em fevereiro, eliminando o avanço de 6,2% verificado em janeiro. Outros pesos negativos relevantes sobre o total da indústria vieram do segmento farmacêutico (-10,8%), refino de petróleo e produção de álcool (-5,8%), bebidas (-5,2%), alimentos (-1,3%), mobiliário (-9,9%), celulose, papel e produtos de papel (-2%) e indústrias extrativas (-1,9%).

Já na comparação anual (com fevereiro de 2012), a produção caiu em dezoito das 27 atividades pesquisadas, com destaque para a indústria farmacêutica (-14,6%), extrativa (-9,9%), de edição, impressão e reprodução de gravações (-13%) e de metalurgia básica (-8,9%).

Outras contribuições negativas importantes vieram de alimentos (-3,7%), outros produtos químicos (-3,6%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (-16,0%), produtos têxteis (-11,1%), celulose, papel e produtos de papel (-4,9%) e equipamentos de instrumentação médico-hospitalar, ópticos e outros (-13,9%). Entre as nove atividades que ampliaram a produção, os principais impactos ocorreram em veículos automotores (6,4%), outros equipamentos de transportes (9,6%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (7,8%).
Por Reinaldo Azevedo

Aguardo que entusiastas da elevação de juros expliquem por que a elevação de 0,25 ponto na Selic baixaria a inflação. Tenham ousadia teórica, senhores!

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, participou de uma audiência pública no Senado e demonstrou grande preocupação com a inflação. Deu a entender — e não falava aos senadores, mas ao “merrrcado” — que o BC vai elevar a taxa de juros para combater a escalada de preços. Tentava corrigir, assim, a bobagem dita por Dilma Rousseff na reunião dos Brics na semana passada. Segundo a presidente — depois ela tentou culpar a imprensa por uma síntese supostamente errada de sua fala —, ela não prejudicaria o crescimento econômico em nome do combate à inflação. Como esses termos não são permutáveis, ninguém entendeu direito o que quis dizer a soberana. Restou apenas a impressão de… tolerância com a inflação. No Senado, Tombini tentou demonstrar o contrário. Hoje, já se deva como certo nos mercados (pronuncia-se “merrrcadoshshsh”) que, em maio, o BC elevará a Selic em 0,25 ponto percentual, fixando a taxa em 7,5% ao ano.

Quando um governo não sabe direito para onde e vai e quando perde o pé da situação, a medida proposta pelos lobbies mais influentes se confunde com a melhor saída. No caso da inflação, os “merrrcadoshshsh” têm papel relevante. Como se diz por lá, o governo tem de saber regular as “expectativas” (pronuncia-se “eshshshshpectativas”).

No post anterior, reproduzo um post da VEJA.com informando que a produção industrial brasileira teve a maior queda de um mês para outro (fevereiro em relação a janeiro) desde dezembro de 2008, no auge da crise financeira internacional: 2,5%. O número praticamente anula o avanço de 2,6% registrado em janeiro ante dezembro. Na comparação com fevereiro do ano passado, a queda é de 3,2%.

Não sou economista, como é sabido. Não me apresento nem mesmo como um estudioso da área — dedico parte do meu tempo à leitura de teoria política, gostem ou não do que escrevo. Mas tenho certo apreço pela lógica. Se esta começa a ser estranha às escolhas feitas por políticos e também por economistas, então estamos com problema.

Se alguém conseguir escrever um texto explicando por que um aumento de 0,25 ponto na taxa de juros contribuirá para baixar a inflação renitente, sairemos todos ganhando:
a) porque será, certamente, uma inovação na teoria econômica;
b) porque demonstrará que a economia é infensa à lógica.

Países que crescem acima de sua capacidade geram pressão inflacionária. É uma síntese brevíssima de uma operação complexa. Pergunto: é o caso do Brasil? A inflação foi se insinuando na economia ao longo do ano passado, e o país cresceu 1%, abaixo de países ricos que entraram em crise. Ah, não! Na minha ignorância específica, não estou afirmando que juros são irrelevantes para baixar a inflação. De jeito nenhum! Mas não é nunca será com 0,25 ponto.  Deem logo uma porrada de 3 ou 4 pontos, mandem o paciente para o UTI, e se vai conseguir baixar a temperatura.

Ainda que os juros cheguem a 8,5% no fim do ano, como defendem alguns, não há a menor razão, tudo o mais constante, para a inflação recuar. E INSISTO QUE GOSTARIA DE LER UM TEXTO DEMONSTRANDO POR QUE ELA RECUARIA. A elevação da taxa só atende, reitero, ao lobby mais influente. Como o governo não tem resposta nenhuma e não pode passar a impressão de que é tolerante com a inflação, então escolhe a resposta mais fácil. Bom para quem negocia com títulos públicos. Só.

“Pô, o Reinaldo se diz liberal, mas não gosta da receita clássica dos liberais.” Eu cansei é desse tipo de bobagem. A elevação de juros não é “receita de liberais”. É uma resposta adequada quando um país precisa desacelerar o crescimento, conter a febre de consumo, adequar a produção à real capacidade do país. Nada disso está em curso no Brasil. Ou está? Elevar juros, no atual quadro, não é resposta “de liberais”. É resposta dos espertos — ou dos “eshshshperrrtos” influentes.

“Se a inflação recuar, quero ver o que você vai dizer.” Se acontecer, continuarei a esperar um texto teórico explicando por que terá sido em razão da elevação dos juros. Alguma explicação certamente haverá, mas não essa. Fica aqui o desafio.
Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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1 comentário

  • Fernando Evenor de Brito Almeida Fortaleza - CE

    Reinaldo, veja que delicia de artigo:Como ser Dilma Rousseff - em 13 passos

    por Leandro Roque, quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

    Primeiro passo: mantenha no Ministério da Fazenda um indivíduo que não sabe a diferença entre câmbio fixo e câmbio flutuante, que acha que a "carestia" se combate manipulando alíquotas de imposto, e que passou toda a sua vida pública defendendo explicitamente a ideia de que "mais inflação gera mais crescimento".

    Segundo passo: dê a este cidadão o controle total da economia, transformando-o em um genuíno czar.

    Terceiro passo: coloque na presidência do Banco Central um sujeito completamente submisso, inócuo e apagado, sem nenhum histórico fora da burocracia estatal, sem voz própria e sem nenhuma presença impositiva. Para garantir que este cidadão não passará aos mercados a "perigosa impressão" de ser um sujeito vigoroso e durão no trato dos juros, escolha um indivíduo de aparência cômica, de rosto rotundo, fala mansa e com uma vultosa protuberância ventral (não, isso não é um ad hominem; pode parecer besteira, mas em um ramo que denota extrema autoridade, como o de estar no controle da moeda do país, a aparência e a postura são fundamentais para se transmitir confiança. Compare o grandalhão e charuteiro Paul Volcker, de voz firme e gestos decididos, ao delicado e vacilante Ben Bernanke, de voz macia e gestos hesitantes, e veja a diferença entre o respeito que cada um deles impõe. Ou compare Henrique Meirelles e Gustavo Franco a Alexandre Tombini).

    Quarto passo: ordene a este desmoralizado cidadão que ele seja totalmente submisso às ordens expedidas pelo bufão que ocupa o Ministério da Fazenda, desta forma transformando aquele ministro no real presidente do Banco Central, e o presidente do Banco Central em uma mera marionete que está ali apenas para passar a impressão de que o Banco Central possui alguma independência.

    Quinto passo: com grande frequência, coloque esta dupla para dizer aos jornais que o governo não medirá esforços para derrubar os juros bancários, estimular o crédito (leia-se: o endividamento e o consumismo) e desvalorizar o real em relação ao dólar.

    Sexto passo: feche os portos aumentando as alíquotas de importação de praticamente todos os produtos estrangeiros: de automóveis a produtos têxteis; de calçados e brinquedos a artefatos de madeira, de palha e de cortiça; de lâmpadas e sapatos chineses a pneus, batata, tijolos, vidros e vários tipos de máquinas; de reatores para lâmpadas a vagões de carga; de triciclos, patinetes, bonecos, trens elétricos e quebra-cabeças a produtos lácteos (leite integral, leite parcialmente desnatado e queijo muçarela) e pêssegos. (Sério, está tudo aqui e aqui).

    Sétimo passo: diga a todas as grandes empresas do país que elas são obrigadas a produzir utilizando uma determinada porcentagem de insumos fabricados no Brasil.

    Oitavo passo: peça encarecidamente aos privilegiados fabricantes destes insumos que não se aproveitem deste monopólio para aumentar seus preços (eles obviamente não atendem ao seu pedido).

    Nono passo: para ajudar as grandes empresas a adquirir estes agora mais caros insumos, e simultaneamente para ajudá-las em seus projetos de investimento, libere o BNDES para lhes emprestar dinheiro público a rodo, tudo a juros subsidiados. E como o BNDES não tem todo esse dinheiro, peça ao Tesouro para arrecadar mais dinheiro emitindo títulos da dívida, fazendo com que a dívida bruta do país chegue a R$ 2,823 trilhões em dezembro de 2012.

    Décimo passo: para comprar estes títulos emitidos pelo Tesouro, o sistema bancário cria dinheiro do nada, pois opera com reservas fracionárias. Essa inflação monetária, somada a toda a expansão do crédito já feita para estimular o consumismo (expansão essa que também é feita por meio da criação de dinheiro pelos bancos), aumenta enormemente a quantidade de dinheiro na economia, aditivando o aumento generalizado dos preços.

    Décimo primeiro passo: para conter toda a escalada de preços gerada por estas medidas intervencionistas, pela expansão monetária e pela desvalorização cambial, comece a mexer nas alíquotas de impostos que incidem sobre vários produtos na esperança de mascarar seu encarecimento. Peça para as empresas de energia elétrica reduzirem suas tarifas e ordene à estatal petrolífera que não suba seus preços (embora ela também seja obrigada a utilizar insumos nacionais mais caros em suas plataformas).

    Décimo segundo passo: consiga a façanha de fazer com que essa petrolífera estatal, que detém as melhores jazidas de petróleo do país, produza menos petróleo do que no ano anterior. E que ela perca 40% do seu valor em três anos.

    Décimo terceiro passo: faça cara de paisagem (mas com muito laquê) para o fato de que, em apenas 2 anos de governo, o índice de preços oficial — cuja metodologia é pra lá de branda — já acumulou um aumento de 14%. (A título de comparação, a economia suíça precisa de 14 anos para acumular este mesmo aumento inflacionário).

    Após tudo isso, diga que tudo de ruim é culpa da crise europeia (ou, quando possível, daquele cidadão que saiu da presidência no final de 2002), e que tudo de bom que continua funcionando é mérito exclusivamente seu. Desfrute de mais de 80% de aprovação de um povo incapaz de estabelecer uma relação de causa e efeito.

    Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

    postado por Leandro Roque | 07/02/2013

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