Rolezinhos: Se Dilma manda sua turma se calar, que então resolva, ora! Ou ainda: PT perde o pelo, mas não o vício

Publicado em 17/01/2014 20:15 e atualizado em 18/03/2014 14:50
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Shoppings querem atuação federal contra rolezinhos. Ou: Se Dilma manda sua turma se calar, que então resolva, ora! Ou ainda: PT perde o pelo, mas não o vício

Lojistas de Shopping pedem a atuação da Dilma do

Lojistas de shopping pedem a atuação da Dilma do “coraçãozinho”. Seus ministros não param de falar bobagem

A associação que reúne os lojistas de todos os shoppings do país, a Alshop, decidiu cobrar ajuda federal para que os tais “rolezinhos” sejam coibidos. Não há exagero nenhum nisso.  Ao contrário: a Alshop está, sim, se dirigindo à pessoa certa. Até porque, em parceria com setores da imprensa, o PT é responsável pela politização do que não não passava de um “movimento em favor do beijo na boca”. Ocorre que em um dos shoppings, o evento chegou a reunir seis mil pessoas. Não é possível.

E por que a presidente Dilma é a pessoa certa? Ora, porque ela chegou a convocar uma reunião com ministros para tratar do assunto, emprestando ao caso uma gravidade que não tinha. A partir dali, passou a ser assunto federal.

Ministros seus, como Gilberto Carvalho, que é secretário-geral da Presidência, e Maria do Rosário, a equivocada permanente que comanda a Secretaria de Direitos Humanos, vieram a público para criticar, direta ou indiretamente, a polícia, os shoppings e a Justiça. Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad, também petista, pediu a seu secretário da Igualdade Racial que iniciasse conversações com supostos líderes de rolezinhos. Ao fazê-lo, passou a emprestar à coisa um caráter que nunca teve: discriminação da cor da pele. Isso é uma fantasia.

As Polícias Militares estão, como vimos, mais ou menos de mãos atadas. Caso se mexam, lá vem pancadaria da imprensa. Vão intervir, sim, sempre que eventuais manifestações se transformarem em vandalismo e coisa e tal, mas já perceberam que a máquina das esquerdas para desqualificar a ordem e exaltar a bagunça opera com força total. O que restou aos lojistas?

Eu mesmo já sugeri aqui que Dilma deveria dar uma ordem a seus ministros: que calassem a boca a respeito do assunto. Como se percebe, ela não fez isso.

Neste fim de semana, militantes políticos — e não jovens da periferia — decidiram promover protestos, e não rolezinhos, em shoppings ditos de luxo de São Paulo, Rio e Porto Alegre. Esses eventos já não guardam nenhuma relação com as manifestações originais. São, reitero, promovidos por entidades de esquerda e extrema esquerda que confundem seu próprio rancor e, acima de tudo, a sua ignorância com a causa popular.

A coisa é tão patética que, no Shopping Leblon, no Rio, que estava fechado — enquanto alguns bananas promoviam gritaria do lado de fora —, um grupo de cinco moradores da Rocinha apareceu para fazer seu rolezinho — aquele outro, o passeio… Eram dois maiores e três menores. Ricardo Israel, de 22 anos, comentou, informa a Folha“Eu vim para dar um rolé com a minha gata no shopping, conhecer gente nova, mas pelo visto é manifestação. Vou dar rolé na praia de skate mesmo”. Ele se mandou, e os esquerdistas da Zona Sul que, em tese, falam em nome de Israel ficaram lá se esgoelando.

Olhem que o Brasil, em matéria de bobagem, parece ser um manancial inesgotável. Como essa, acho que nunca vi. E não estou me referindo aos rolezinhos originais, não, que tinham, sim, de ser coibidos porque põem em risco a segurança de milhares de pessoas — inclusive a dos próprios rolezeiros.

Eu me refiro é ao rolezinho ideológico de grupelhos de extrema esquerda, de subintelectuais do miolo mole, de setores da imprensa e, agora dos petistas, que resolveram adotar o movimento. Como alertei aqui, esses irresponsáveis acharam que a coisa ficaria restrita a São Paulo — e toda a bagunça que puderem fazer no estado lhes parece boa porque estão de olho nas urnas. Pois é… Nunca é assim! A petezada resolveu apoiar o quebra-quebra do Passe Livre, e a gente viu aonde a coisa foi dar.

Mas não tem jeito. Como os lobos, os petistas podem até perder o pelo, mas não perdem o vício.

Por Reinaldo Azevedo

 

Juízos atordoados sobre rolezinho, manifestações de junho, a sociedade democrática e o estado de direito

Suzana Singer, ombudsman da Folha, escreveu neste domingo sobre a cobertura que o jornal dispensa aos rolezinhos, elogiando-o por ter condenado a ação da polícia e do Judiciário ao tentar coibir as manifestações. Não é, com sabem os leitores deste blog e da Folha, a minha opinião. Os centros comerciais têm compromissos legais firmados com os frequentadores e com os lojistas, e a atividade requer precondições para que possa ser exercida — a exemplo de qualquer outra, inclusive o jornalismo. Com rolezinhos, na forma como se deram, é impossível. Quando um grupo agrava direitos de terceiros, a Justiça tem de ser acionada. É assim que funciona nas democracias. Mas seu erro mais feio está relacionado às manifestações de junho, o que atordoa, embora menos, o seu entendimento dos eventos nos shoppings. Já chego lá. Antes, terei de fazer outras considerações, uma digressão apenas aparente, que nos aproximam da questão.

Começo da digressão
Nunca caí no “Conto de Kehl” (ver post na home) de considerar que os rolezinhos são, na verdade, protestos que ainda não têm plena consciência de si mesmos. Isso é restolho dos escombros do marxismo aprendido de orelhada. O Shopping Campo Limpo é frequentado pelos moradores de… Campo Limpo e adjacências. Muita gente é pobre. Heliópolis, em São Paulo, está entre as 10 maiores favelas do Brasil — hoje, os próprios moradores preferem chamá-la de bairro, mas, tecnicamente, é uma favela. Segundo o Censo de 2010, contava com 41.118 moradores. Creio que esteja hoje beirando hoje os 45 mil. Eles frequentam em massa o Central Plaza Shopping, que fica bem perto.

Falo o que sei, falo o que conheço, falo o que vi. Já fui lá várias vezes — duvido que Maria Rita Kehl ou Suzana Singer tenham ideia de onde fica sem o auxílio do Google Maps. Pobres, pretos, mestiços — ou que outra categoria queiram criar para brandir a bandeira da discriminação — jamais foram discriminados por ali porque isso significaria, na prática, expulsar boa parte dos… consumidores. A praça de alimentação, nos fins de semana, recebe a população pobre ou remediada que quer “jantar fora”. Os bairros contíguos abrigam moradores de classe media e classe média baixa. Atenção! É um shopping gigantesco, vive apinhado, o ambiente é asseado, e os consumidores e visitantes não se comportam de modo distinto dos que frequentam o Iguatemi, o JK, o Villa-Lobos ou o Higienópolis.

Shoppings — assim com o metrô (já explico!) — são experiências que criam um padrão aceitável de civilização que acaba por mitigar particularismos de classe (e outros) em nome de alguns denominadores comuns de convivência. É assim que se constroem as sociedades. Os comportamentos que ficam à margem — ou porque muito requintados ou porque muito grosseiros — acabam não encontrando lugar para se expressar. Isso é um sinal de avanço das sociedades. Concorre para a elevação do padrão médio. O shopping center constrói um superego com muito mais eficiência do que um pai — se for um pai relapso, então, nem se fale… Sim, é preciso proibir que se toque se dance funk nos corredores. Mas se deve vetar igualmente que alguém saque o seu aparelho de som para ouvir “A Flauta Mágica” no último volume. Posso achar o funk um lixo, e acho. Posso achar Mozart uma maravilha, e acho. Em locais públicos, o que conta é uma média dos “achares” e dos “quereres”. 

Explico a alusão ao metrô. Em 1980, para chegar à USP, eu recorria, nesta ordem, aos seguintes meios: ônibus-trem-metrô-ônibus. E depois havia os quatro para o caminho de volta. Saía às 5h45, voltava às 16h. Começava a dar aula às 19h e ia até as 23h05. Retornava do trabalho 23h45 — 10 conduções por dia. Dormia um pouco e lá ia de volta… É, amigo!, a vida era dura. Aprendi a ler mesmo com solavancos, em pé, meio esmagado. Em vez de despertar a piedade da Maria Rita Kehl, preferi cuidar dos meus assuntos. Viver da boa-vontade de estranhos nunca foi o meu forte, e, se fosse obrigado a escolher (nunca fui!) entre provocar piedade ou rancor, vocês já adivinharam a resposta. Mas prefiro, como toda gente, que me amem, hehe… Só não escreverei um maldito adjetivo para isso, entendem? Adiante. Em 1980, o único desses meios com padrão civilizado era o metrô — já frequentado por todas as classes (só havia as linhas azul e laranja). Percebi rapidamente por quê. Era um papel de bala cair no chão, e aparecia um funcionário para limpar. Os vagões e as estações estavam sempre impecáveis — ainda hoje é assim. Em Roma ou em Nova York, o metrô, com frequência, fede. Num dia de sorte, o cheiro de alguma coisa entre a creolina e a naftalina pode se sobrepor ao do xixi… Sigo.

Mantenha um ambiente de uso coletivo em ordem, pouco importa se público ou privado, e a esmagadora maioria dos frequentadores, independe a origem social, se esforçará para conservá-la A deterioração de espaços públicos decorre de falhas de zeladoria. Quando um prefeito deixa a cidade emporcalhada, por exemplo, como sabe Fernando Haddad, a tendência é que se a emporcalhe ainda mais. A sujeira torna sujos os limpos; a limpeza, limpos os sujos. Vale para o JK ou para o Central Plaza.

Assim, à diferença do que andou sugerindo a má consciência militante — dos petistas aos ditos movimentos negros que tentaram pegar carona no rolezinho da molecada que só queria, e quer, beijar na boca (viva o beijo na boca!) —, os tais eventos não nasceram da exclusão, do preconceito, do apartheid social, do arranca-rabo de classes, da frustração com isso ou com aquilo. Não! Eles eram apenas manifestações indesejáveis — porque perigosas — de jovens num espaço que, a rigor, já era deles, frequentados por suas respectivas famílias. Como demonstrei na coluna de sexta na Folha“jovens que aderem a eventos por intermédio do Facebook não são excluídos sociais, mas incluídos da cultura digital, que já é pós-shopping, pós-mercadoria física e pós-racial. O que mais se troca nas redes sociais são bens simbólicos, são valores, que definem tribos e grupos com pautas cada vez mais específicas”.

Fim da digressão. De volta a Suzana Singer
Suzana preferiu abrir seu texto com um clichezaço para comentar o que chamou de “cautela” da imprensa com os rolezinhos. Sem medo de ser feliz, mandou ver:“Gato escaldado tem medo de água fria”. Nota: todo gato tem medo de água — fria ou quente. Eis uma frase que, por ser clichê, não diz mais nada; se dissesse, informaria um erro. Depois de elogiar a crítica que a Folha fez à Polícia e ao Judiciário no caso dos rolezinhos — com a qual não concordo —, Suzana escreveu: “É um tom completamente diferente do adotado no editorial ‘Retomar a Paulista’, de junho de 2013, quando os ativistas foram definidos como ‘jovens predispostos à violência por uma ideologia pseudorrevolucionária’”.

Obviamente, eu concordo com o editorial de junho — justamente aquele de que a ombudsman não gostou. E terei de recorrer à própria Folha para dizer por quê — já publiquei essas evidências em post do dia post de outubro do ano passado: Vejam. Volto em seguida.

No dia 6 de junho do ano passado, durante a baderna organizada pelo Movimento Passe Livre, não houve a chamada “violência policial”. Só os manifestantes botaram para, literalmente, quebrar e queimar. No dia 7, informava a Folha:
“Em protesto contra a elevação da tarifa de ônibus, metrô e trens em São Paulo, manifestantes entraram em confronto com a Polícia Militar, interditaram vias e provocaram cenas de vandalismo ontem à noite na região central. O ato levou à interdição de vias como 23 de Maio, Nove de Julho e Paulista na hora de pico. Estações de metrô foram depredadas e fecharam. No centro e na Paulista, quebraram placas, picharam muros e ônibus, atearam fogo, provocaram danos a um shopping e ao Masp. Os manifestantes são ligados ao Movimento Passe Livre, liderado por estudantes e alas radicais de partidos.”

Jornais 7 de junho

O Passe Livre não deu trégua. No dia 7, promoveu outro quebra-quebra, também notavelmente violento. Mais uma vez, a Polícia Militar evitou o confronto. Novas depredações, incêndios, quebra-quebras, aí com o fechamento das marginais, causando um colapso na cidade. Os mascarados já estavam lá, atuando junto com o Passe Livre. Os jornais do dia 8 de junho traziam o devido registro.

Jornais 8 de junho

Estava na cara que havia algo estranho no ar. Muito bem! No dia 9 de junho, o Estadão de domingo chega às bancas com uma estranha entrevista de José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, tornada manchete. O alvo principal: o governador Geraldo Alckmin, em particular a política de segurança pública. Era um domingo.

Estadão 9 de junho

Na terça-feira, dia 11 de junho, o Passe Livre e os black blocs voltaram às ruas. A violência chegava ao paroxismo. Coquetéis Molotov foram lançados contra a polícia. Um policial foi linchado. Assim evidenciavam os jornais no dia 12.

Jornais do dia 12

policial ferido 2

Estão acompanhando?
Até aqui, três de seis dias dedicados à depredação e à violência, com a Polícia Militar fazendo um trabalho praticamente de contenção. Entre esses dias, uma entrevista do ministro da Justiça atacando o governador. Observem que estou documentando tudo.

Aí veio a tragédia do dia 13. O Passe Livre voltou às ruas ainda mais disposto ao confronto e à pauleira. Aqui e ali já se colhiam na imprensa sinais de simpatia pelos vândalos. Mas como endossar as práticas terroristas? Era preciso que um valor mais alto se alevantasse. Jornalistas, no geral, têm mais ódio da polícia do que de bandidos com uma “boa causa”. Sei que frases como essa não me rendem uma boa fama. Escrevo o que quero. Não devo satisfações a aiatolás do pensamento. Pois bem: nesse dia, a tropa de choque combinou com “os meninos” (como diria um repórter de TV…) que eles não romperiam o cordão de policiais rumo à Avenida Paulista. Não adiantou. Eles romperam. E o pau comeu. A Polícia Militar reagiu com bombas de gás e de efeito moral e balas de borracha. Jornalistas foram alvejados. Aí a coisa toda mudou de figura, como se via no dia 14.

jornais do dia 14

Uma imprensa que já estava doida para aderir encontrou ali o pretexto de que precisava. E que se note: não estou endossando a ação da PM naquele dia. Foi exagerada, atabalhoada, desorganizada. Mas não muda a moral da história.

A PM passava a ser a vilã. E os protagonistas da truculência dos dias 6, 7 e 11 eram tratados como heróis que estivessem lutando contra um estado autoritário. As TVs, em especial, passaram a dar aos trogloditas a grandeza de resistência civil. A GloboNews, por exemplo, entrou em rimo de AL Jazeera cobrindo a Primavera Árabe. A diferença nada ligeira é que o Brasil é um estado democrático.

CARDOZO DE NOVO!
Naquele mesmo dia 13, com a cidade tomada pelo caos — eu voltava de uma palestra no Rio e fiquei quase cinco horas preso no Aeroporto de Congonhas porque meu bairro estava sitiado por vândalos —, Cardozo concedeu uma entrevista aos portais oferecendo “ajuda” ao governador Geraldo Alckmin. Não telefonou, não conversou, não procurou nem foi procurado. Falava pela imprensa. Tirava uma casquinha. Fazia de conta que o problema era de São Paulo.

No dia 17, marca-se outra manifestação em São Paulo. A Polícia aceita as condições dos trogloditas que haviam vandalizado a cidade no dias 6, 7, 11 e 13: nada de tropa de choque, nada de bala de borracha, nada de bombas e nada de restrição a áreas de protesto. Qualquer lugar é lugar. Tudo pode e tudo vale. Os petistas aderiram ao protesto. Já não era mais pelos 20 centavos, dizia-se, mas por cidadania, sei lá o quê. Algo começava a sair do planejado: em São Paulo, a convocação reuniu 65 mil pessoas. A do Rio, que seria apenas em solidariedade, juntou mais de 100 mil… Epa!!!

No dia 18 de junho, aí era a Folha que trazia outra entrevista de José Eduardo Cardozo, também contra o governo de São Paulo, com ataques diretos à Polícia.

Folha 18 de junho - cardozo

Concedida no dia 17, antes do término das manifestações, este gênio usou como exemplo bem-sucedidos as polícias do Rio e do Distrito Federal:
“O que vi em SP, e as câmeras mostraram, é de uma evidência solar que houve abuso. Vi o que aconteceu no Distrito Federal e no Rio. Padrões de comportamento bem diferentes”.

Patético! Naquele dia 17, não houve violência em São Paulo. Alguns bananas tentaram invadir os jardins do Palácio dos Bandeirantes, mas nada muito grave. No Rio, no entanto, um dos bons exemplos de Cardozo, assistiu-se aos caos, como isto aqui:

Brasília
O ministro da Justiça que “ofereceu” ajuda a Alckmin no dia 13, que já o havia atacado no dia 9 e que censurou a polícia de São Paulo no dia 17, tinha tudo para organizar, então, com o seu aliado Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal, uma ação preventiva exemplar quando o protesto chegou ao Distrito Federal, certo?

Pois bem! No dia 20, o caos se instalou em Brasília. Meteram fogo no Itamaraty. E ninguém ouviu a voz de Cardozo, o chefe da Polícia Federal e o homem que pode acionar a Força Nacional de Segurança. Vejam.

Setores importantes da imprensa, as esquerdas de modo geral e o governo federal promoveram a demonização da Polícia Militar de São Paulo, que logo virou a demonização de qualquer polícia. Também se inventou a mentira estúpida de que manifestantes eram uma coisa, e baderneiros, outra. Chegou a ser por um brevíssimo período. Logo, os chefes dos protestos deixaram claro que os mascarados eram a sua tropa de choque e que eles estavam juntos.

Retomo
Não havia, pois, nada de errado com aquele editorial da Folha sobre as manifestações de junho. Certo estavam o jornal e QUASE toda a imprensa até ali. Erraram depois, quando passaram a condescender com a agressão aos mais comezinhos fundamentos da democracia e do estado de direito.

Ao comentar os rolezinhos, Suzana, reconheça-se, põe em dúvida a sociologice oca que tenta atribuir caráter de contestação às manifestações ou relacioná-la à falta de espaços de lazer na periferia — afinal, ela é capaz de reconhecer que a garotada andou se reunindo em shoppings da periferia, justamente em seu espaço de lazer, e não numa galeria de arte dos Jardins ou num museu… Depois o texto segue com perguntas, dúvidas, sugestões, coisa e tal, mas insistindo no que seria o caráter enigmático dos rolezinhos… Onde está o enigma? A meninada já falou por que faz, o que quer, qual é o objetivo — e passa muito distante da apropriação vigarista que as esquerdas tentaram operar depois. Sobre isso, Suzana nada escreveu.

Notem, a propósito, que, nos descalabros de junho, uma figura se sobressai: José Eduardo Cardozo. Enquanto o caos parecia restrito a São Paulo, ele ficou tirando suas casquinhas. Agora, no caso dos rolezinhos, os petistas, mais uma vez, foram os primeiros a tentar emprestar um “caráter” político à coisa — Fernando Haddad quer os rolezeiros até como  interlocutores…

Ou por outra: nas manifestações violentas de junho — que acabaram se voltando até contra o PT — ou nos rolezinhos de agora, há uma constante: a exploração política promovida por vigaristas, e o encantamento basbaque de supostos bem-pensantes que confundem depredação de ônibus com ímpeto revolucionário e rolezinho em shopping com a tomada do Palácio de Inverno. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Vou marcar um “rolezinho” de míopes e depois vou à polícia denunciar preconceito contra os… míopes!

Vou marcar uma “rolezinho” de míopes no Shopping JK Iguatemi. Chegaremos em grupo, gritando, com bandeiras na mão. Se o shopping impedir a nossa entrada, a gente vai até a polícia e denuncia preconceito contra míopes.

Vou marcar um “rolezinho” no Shopping JK de pessoas alérgicas a gergelim e derivados e contra a mania que se espalhou Brasil afora de meter essa maldita semente em tudo o que é comida, doce ou salgada. Se o shopping impedir a nossa entrada barulhenta, a gente vai até a polícia e denuncia preconceito contra pessoas alérgicas a gergelim.

Vou um marcar um “rolezinho” no Shopping JK de pessoas que admiram Mozart. Se etc., a gente denuncia o preconceito contra os admiradores de Mozart.

Ironizo? Ora, foi o que aconteceu neste sábado. Uma tal UNEafro resolveu fazer um “rolezinho” nesse shopping. Chegaram com megafone, bandeira, botando os bofes pra fora. O direção do estabelecimento mandou fechar as portas — tinha obtido, diga-se, uma liminar na Justiça contra manifestações dessa natureza.

O que fizeram os valentes? Foram à polícia e denunciaram, atenção!!!, racismo. Convenham: é uma manifestação da mais escancarada vigarice intelectual e política. A acusação de “racismo” virou, agora, instrumento de intimidação de quem pretende desrespeitar até decisões judiciais.

Por Reinaldo Azevedo

 

Que pena! Sai a estética Osklen-John John dos “excluídos”; entra o estilo sujinho-ensebado-universitário das Mafaldinhas & Remelentos incluídos. Sem o povo, os rolezinhos ficaram mais feios e mais burros

boné John John

Tênis da Osklen e bonés da John John: eis os fuzis dos revolucionários de Maria Rita Kehl

Tênis da Osklen e bonés da John John: eis os fuzis dos revolucionários de Maria Rita Kehl

Os playboys vermelhos do Complexo Pucusp e da imprensa acabaram com o barato da meninada. O rolezinho nunca mais será o mesmo. Era para fazer umas fotos, beijar na boca, botar depois no Instagram, causar… Mas a Maria Rita Kehl não quer que seja assim. A psicanalista de esquerda (isso é possível? Se um analisando mostra tendências de direita ela faz o quê? Tira o cara do divã a pontapés ou exorciza?), percebi por uma declaração sua à Folha, acha que pobre em shopping está reivindicando. Declarou o seguinte:
“Toda inclusão econômica exige, em um segundo momento, o reconhecimento da pertença a uma nova classe social. Claro que os jovens da periferia não pertencem a essa classe que compra nos shoppings, mas chegaram mais perto dela. E muitos deles hoje podem comprar algumas mercadorias que estão ali. A performance dos rolezinhos funciona como denuncia da discriminação, mas não sei se eles fazem isso conscientemente ou apenas movidos pelo mal-estar de saber que não são bem vindos nos templos do consumo de uma sociedade que, ate o momento, só promoveu inclusão via consumo — e não via cultura, acesso a serviços públicos de qualidade etc.”

Quando um especialista diz “etc.”, sempre penso que ele não deu o melhor de si ao argumentar. Vai ver não aposta na nossa inteligência. Petista militante, notem que Maria Rita precisa reconhecer a “inclusão econômica” ou estará negando um dos pilares da campanha de seu partido, certo? Aí ela avança com aquela ignorância desassombrada de que só psicanalistas falando sobre economia são capazes… Mentira! Os jornalistas são ainda mais capazes… Releiam esta enormidade: “Claro que os jovens da periferia não pertencem a essa classe que compra nos shoppings, mas chegaram mais perto dela!”

Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Campo Limpo.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Aricanduva.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Center Norte.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Metrô Itaquera.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Center Penha.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Center Lapa.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Center Ipiranga.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Center Mooca.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Pirituba.
Maria Rita Kehl acha que só rico compra no Shopping Metrô Tucuruvi.

Maria Rita Kehl acha que todos os shoppings do Brasil são o Iguatemi, o JK Iguatemi e o Higienópolis. A razão é simples. Maria Rita Kehl só conhece pobre de ouvir falar e, quando tem de ir a um shopping, vai ao Iguatemi, ao JK ou ao Higienópolis — igualmente abertos, diga-se, para receber pobres, ricos, brancos, pretos, homens, mulheres, gays, crianças… Cadê o histórico de discriminação praticado por esses centros de compras?

Maria Rita Kehl nunca conversou com Renilda Pereira dos Santos. Quem é Renilda? É uma senhora que integrou um “rolezão” organizado pelas extremistas do MTST no Shopping Campo Limpo (que fechou a porta antes que eles conseguissem entrar para fazer bagunça lá dentro). A mulher deu a seguinte declaração: “É um absurdo eu não poder entrar no shopping hoje. Eu sempre venho, assim como meus filhos, e a gente gasta muito dinheiro. O direito de entrar no shopping é de todo mundo, não só dos ‘filhinhos de papai’”. Ela só estava na manifestação porque mora numa área invadida e quem manda no lugar é o… MTST.

Mas eu quero seguir com Maria Rita. Kehl. Esta senhora sempre aguça os meus instintos. Disse ela: “A performance dos rolezinhos funciona como denuncia da discriminação, mas não sei se eles fazem isso conscientemente ou apenas movidos pelo mal-estar de saber que não são bem vindos nos templos do consumo de uma sociedade que, ate o momento, só promoveu inclusão via consumo — e não via cultura, acesso a serviços públicos de qualidade etc.”

Mentira! Os meninos e meninas já deixaram claro! Não era denúncia de nada. Também não há mal-estar nenhum. Quando os shoppings chegaram a Campo Limpo, Itaquera, Penha, Mooca, levaram mais opções de lazer — em áreas em que, muitas vezes, essas coisas são escassas. Se o empreendedores que criaram esses centros de compra não quisessem pobres no estabelecimento, não teriam investido dinheiro naquelas regiões.

Na sexta, na minha coluna na Folha, escrevi o seguinte: “Os shoppings, chamados de ‘templos de consumo’ por bocós dos clichês superlativos, seriam a expressão mais evidente e crua do ‘fetichismo da mercadoria’ (…)”. No dia seguinte, Maria Rita Kehl chama esses empreendimentos de…“templos do consumo”! Que coisa! Eu faço a caricatura, crio o estereótipo, e ela vai lá e cumpre a agenda dos bocós dos clichês superlativos…

Maria Rita Kehl, como toda esquerdista rosa-chique, que aprendeu, no conforto, a desprezar os bens materiais, despreza também a inclusão pela via do consumo — ela acha isso uma coisa menor e, no fundo, meio reacionária. Repete, assim, Marilena Chaui, sua colega de partido, aquela que “odeia a classe média”. Maria Rita Kehl só valoriza a integração por intermédio da cultura, entendem? Por que esta senhora não tenta convencer a molecada a invadir museus, galerias de arte, bibliotecas? Maria Rita Kehl acha que os meninos só vão ao shopping pra beijar na boca porque não têm acesso a Dostoiévski.

O que escrevi
Fui dos primeiros na imprensa a dar um tratamento sério a essa história de rolezinhos — aqui e na Rádio Jovem Pan. E quem leu o que andei escrevendo e ouviu o que andei comentando sabe que sempre considerei que esses eventos não passam de uma diversão meio perigosa da molecada, que tem de ser coibida. E tem de ser desestimulada por múltiplas razões de segurança. Só isso. Todos os meus comentários, desde o início, se voltavam contra cretinismos como os de Maria Rita Kehl.

Para ela e gente como ela, gozo é para os ricos; a tarefa do pobre é reivindicar. A meninada, confessadamente, organizava aquelas jornadas para se divertir, mas Maria Rita Kehl, a iluminada, julga que “a performance dos rolezinhos funciona como denuncia da discriminação”. E emenda: “mas não sei se eles fazem isso conscientemente”. Entenderam? Ainda que um rolezeiro diga para dona Maria Rita que não se trata de protesto — e é o que estão dizendo nas redes sociais e à imprensa —, esta pensadora responderá: “É que você não tem consciência do que está fazendo; eu a tenho por você”.

Desprezo pelo povo
Uma das razões — há uma penca — que me afastaram da esquerda é o profundo desprezo, beirando o nojo, que esquerdistas têm do povo. Eles, no geral, consideram a população um lixo, incapaz de fazer escolhas morais certas, escolhas políticas certas, escolhas estéticas certas… O povo, em nome do qual falam, não é esse que está aí, mas outro, é o “novo homem”, que tem de ser construído para substituir este que conhecemos, que já foi corrompido pelos valores do capitalismo, entendem? Não é nada surpreendente que os tiranos comunistas tenham matado e ainda matem com desassombro.

O “humano” de que eles gostam é aquele que foi iluminado pela consciência revolucionária, pela consciência da libertação. O humano com o qual se importam é aquele que serve a uma causa, que carrega bandeira. Vejam lá o texto que escrevi sobre a ministra Maria do Rosário. Mais de 50 mil pessoas são assassinadas todo ano no Brasil. Ela não diz nada. Um garoto gay, infelizmente, aparece morto — muito provavelmente, jogou-se de um viaduto. Sem esperar perícia, nada!, ela saiu acusando “crime de homofobia” e tentou faturar politicamente com o cadáver. Nojo. Por que é assim? Porque aqueles 50 mil não são nada, não têm pedigree, não permitem proselitismo — ao contrário: eles só provam a falência do governo nessa área.

Da mesma sorte, Maria Rita Kehl e outros que pensam desse modo têm um profundo desprezo pelos meninos e meninas que fazem rolezinhos por rolezinhos. Para eles, isso é coisa da sociedade de consumo, entendem? Maria Rita Kehl deixa claro, ainda que não diga com todas as letras: ela só se interessa pela coisa porque vê nela “a denúncia da discriminação”. Para dona Maria Rita Kehl, pobre tem de carregar bandeira ou não merece respeito. É assim que interpreto a sua fala.

E de igual modo atuam todos os militantes que falam em nome de “minorias”. Ou não é verdade que Joaquim Barbosa, ministro do Supremo, chegou a ser chamado de branco e feitor de escravos só porque condenou os pistoleiros do mensalão? “Ora, como um negro ousa condenar esquerdistas? Então não é um bom negro!” Atenção! Um ex-ministro da Igualdade Racial, Edison dos Santos, um negro, disse algo semelhante sobre o ministro do STF. Aquele garoto que caiu do viaduto ganhou visibilidade porque era gay e negro. Fosse branco e hétero, seria mais um dos mortos anônimos. Maria do Rosário ignoraria o caso solenemente.

Esses subintelectuais não gostam do povo que há, não, senhores! Na verdade, odeiam! O povo que reverenciam é outro, saído dos manuais revolucionários do fim do século retrasado.

De resto, reparem: os rolezinhos, tudo indica, tendem mesmo a arrefecer. As meninas e meninos, os “excluídos” de Maria Rita Kehl, que compravam blusas e bermudas novas para se exibir; que marcavam manifestações para mostrar seus tênis da Osklen, suas camisetas da Hollister e seus bonés da John-John foram substituídos pela turma que conserva aquela estética sujinho-universitária. Sai a molecada com vistosas correntes no pescoço e cabelos cuidadosamente desenhados, e entram os Remelentos & Mafaldinhas que fazem a linha “pensador ensebado”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Vai ter Copa, sim; não vai ter é aeroporto!

Por Ricardo Gallo, na Folha:
Por causa dos atrasos nas obras de ampliação do aeroporto de Fortaleza, o governo federal trabalha com a possibilidade de fazer um terminal provisório de passageiros para a Copa do Mundo no local. Com apenas 25,9% das obras concluídas até dezembro, o caso cearense é o mais grave para o governo. A Copa começa no dia 12 de junho. Salvador e Cuiabá também têm atrasos que estão preocupando Brasília. Segundo o ministro Moreira Franco, da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, o consórcio responsável pelas obras no aeroporto de Fortaleza “visivelmente não tem condições” de entregá-las no prazo. ”Constatei um atraso excessivo. A opção agora é construir alternativas.” O status das obras, diz, é “crítico”.

 O plano B em estudo é erguer um terminal provisório, chamado pela Infraero de MOP (Módulo Operacional), estrutura pré-fabricada, com forro de lona e climatizado, para dar conta da demanda. Eles já foram construídos em Guarulhos (terminal 4) e Florianópolis, entre outros. As outras opções, consideradas menos prováveis pelo governo, são dar continuidade às obras com outra empresa ou pressionar o consórcio atual a cumprir os prazos. ”Se fico satisfeito? Claro que não”, disse Moreira Franco, sobre o constrangimento causado pelos atrasos às vésperas da Copa do Mundo.  O martelo será batido hoje, em visita de Moreira Franco ao Ceará. Representantes da Anac e da Infraero também estarão no local.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

A multa de Genoino: sobrou até uma graninha para o churrasco…

José Genoino estrela do PT

Sobrou até um dinheiro para o churrasco, caso se queira. Ou para doar para as criancinhas pobres. O site criado pela família do petista  José Genoino conseguiu arrecadar o dinheiro necessário para pagar a multa aplicada pelo Supremo Tribunal Federal ao mensaleiro. Ele terá de pagar R$ 667,5 mil reais, e o tal site conseguiu amealhar mais de R$ 700 mil.

Que coisa bonita a solidariedade, não é mesmo? Estava na cara que a iniciativa seria bem-sucedida — quando menos porque existem muitos petistas ricos. O próprio partido, diga-se, o maior do país, dispõe dos recursos para pagar a multa se quiser e não precisaria apelar ao Fundo Partidário para isso, o que seria ilegal. Mas sabem como é… Preferiu-se o caminho da demagogia.

De fato, não consta que José Genoino tenha enriquecido no poder — coisa que não se pode falar de alguns de seus companheiros. A sua condição de homem humilde, que mora na mesma casa há décadas, vive sendo exaltada em prosa e verso. Mas quem é que disse que isso está em questão? Não está.

José Genoino, como ficou comprovado nos autos do mensalão, integrou um grupo que promoveu o maior escândalo da história republicana. Não, leitor, não é o maior em volume de dinheiro — embora existam indícios de que a investigação não conseguiu ir muito além da superfície. Trata-se do maior escândalo no que concerne aos objetivos e à audácia criminosa.

O mensalão não foi apenas uma maquinaria inventada para pagar, por fora, a conta de alguns parlamentares. O que se pretendeu, no caso, foi criar um verdadeiro Congresso paralelo. Foi, como deixaram claro alguns ministros do STF, uma tentativa de golpe nas instituições.

E o que vemos? O esforço do petismo para transformar os condenados do partido em verdadeiros heróis. A criação do site em favor de Genoino foi mais do que uma operação familiar. Trata-se de uma iniciativa de caráter político. Ao fazê-lo, os petistas deixam claro que não dão muita bola para as leis e os tribunais. Em vez de uma postura discreta, de reverência à Justiça, o que se vê é uma clara posição de desafio e até de confronto.

Os administradores do site publicaram a seguinte mensagem: “Essa é uma vitória não nossa, mas de todos aqueles que não querem se calar diante das injustiças; de todos os que sabem que a história de José Genoino sempre esteve relacionada apenas à luta por causas, sonhos e projetos coletivos”.

Entenderam? Quando um petista é condenado por ter cometido crimes, esses crimes se convertem em virtudes, e o Judiciário é que se transforma no vilão. É claro que se trata de uma postura vergonhosa — mas se deixar intimidar pela vergonha não é exatamente um hábito na vida pública brasileira.

Por Reinaldo Azevedo

 

“Alô, é José Dirceu, do núcleo petista da Papuda”. Ou: Chega de preconceito! Dirceu não fez nada além do que habitualmente fazem os marginais nos presídios!

Correia, o interlocutor de Dirceu: secretário na Bahia e amigão do peito, petróleo e gás

Correia, o interlocutor de Dirceu: secretário na Bahia e amigão do peito, petróleo e gás

A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, governado por Agnelo Queiroz, companheiro de partido do petista José Dirceu, disse que abriu sindicância para apurar o uso de celular pelo mensaleiro dentro do presídio, prática considerada uma falta grave. O chefão petista, condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, bateu um papo com James Correia, titular da Indústria, Comércio e Mineração na gestão do também governador petista Jacques Wagner,  da Bahia. O próprio Correia confirmou a conversa em entrevista ao “Painel”, da Folha. O homem é empresário da área de petróleo e gás e já contratou os serviços de Dirceu como “consultor”. Todo mundo sabe que o mensaleiro é especialista no setor, não é mesmo?

A esta altura, os petralhas pensam: “Pô, presidiários do Brasil inteiro usam celular o tempo todo; de dentro dos presídios, saem ordens para os bandidos que estão nas ruas…”. É verdade. Desta vez, eu concordo com os petralhas: Dirceu não fez nada que esses marginais, ligados ao crime organizado, não façam habitualmente. Por que o preconceito contra ele, né?

A secretaria emitiu uma nota, a saber:
Sobre a matéria publicada hoje (17/01) no jornal Folha de S.Paulo sobre a suposta utilização de celular pelo apenado da Ação Nº 470, José Dirceu, dentro do Complexo Penitenciário da Papuda, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal esclarece que:
1) Todas as informações veiculadas por meio da matéria serão alvo de um processo administrativo disciplinar aberto na manhã de hoje. O resultado da apuração deverá transcorrer ao longo do mês de janeiro e tem um prazo de até 30 dias para ser concluído.
2) O resultado do processo será encaminhado à Vara de Execuções Penais (VEP)

Retomo
Sim, severidade máxima, posso apostar.

O tal James Correia diz coisas realmente singulares. Afirmou que José Dirceu está animado e quer trabalhar na biblioteca do presídio. Sei. E disparou uma frase deliciosa: “Ele está fazendo o que gosta”. É?

Correia também não dá muita bola para o que diz a lei e sustenta que seu amigão do peito, além do petróleo e gás,  não fez nada demais. E anuncia a intenção do mensaleiro tão logo saia da cadeia para supostamente trabalhar: “Em breve, ele poderá falar o dia inteiro ao telefone, porque estará trabalhando.”

A menos que Dirceu seja contratado para trabalhar numa empresa de telemarketing, há de se perguntar: que diabo de trabalho será esse?

Pelado
Em 2010, Dirceu concedeu uma entrevista à revista Playboy. Falando sobre a sua atividade de “consultor”, soltou esta pérola:
“(…) No fundo, o que eu faço é isso: analiso a situação, aconselho. Se eu fizesse lobby, o presidente saberia no outro dia. Porque, no governo, quando eu dou um telefonema, modéstia à parte, é um telefonema!”

Claro! Foi a segunda vez que um homem ficou pelado na Playboy — a primeira foi com Lula, em 1979, quando revelou que usava seu cargo no sindicato para pegar as viúvas dos companheiros menos afortunados do que ele… Papar viuvinha de companheiro morto que ia ao sindicato tratar de assuntos ligados à Previdência revela, certamente, um nível tão elevado de testosterona como de caráter.

Assim, tão logo o juiz da Vara de Execuções Penais decida autorizar que Dirceu trabalhe fora do presídio, é bom que se atente: há o risco de ele ficar o dia inteiro pendurado ao telefone, disparando telefonemas para o governo que, “modéstia (dele) à parte, são TELEFONEMAS”.

PS - James Correia tentou consertar o estrago. Afirmou depois não ter conversado pessoalmente com Dirceu. Uma terceira pessoa, uma visita, que estaria com o presidiário, teria servido de intermediária. Ah, bom! Seria boa a desculpa se fosse permitido entrar com celular no presídio. Mas não é.

Por Reinaldo Azevedo

 

Haddad, o Jânio Quadros com Marx de quinta e Foucault de primeira na cabeça, faz “visita-surpresa” à Cracolândia

Haddad, o prefeito com coisas estranhas na cabeça, e seu líder espiritual

Haddad, o prefeito com coisas estranhas na cabeça, e seu líder espiritual

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), o Jânio Quadros com Marx na cabeça (para gáudio do Complexo Pucusp e de setores da imprensa), resolveu fazer uma visita surpresa à Cracolândia nesta sexta-feira. Atenção! Visita-surpresa acompanhada por jornalistas, entenderam? Pergunta: quando um evento público não surpreende repórteres, surpreende a quem? É preciso cuidado para distinguir jornalismo de propaganda oficial.

Ele foi lá ver o seu belo trabalho. A favela criada no meio da rua durante a sua gestão foi desmontada. Até agora, o grande feito de Haddad na Cracolândia é ter revertido o absurdo adicional gerado por sua própria administração. Mas ele se aplaude e é aplaudido. E como o petista pôs fim à favelinha erguida no meio da rua? Ofereceu salário e comida e moradia gratuitas àqueles que decidiram, digamos, impor a sua vontade, privatizando o espaço público.

Em troca dos benefícios, quatro horas de trabalho por dia mais duas de aulas de reciclagem profissional, mas estas não são obrigatórias. Os poetas das drogas são contrários a que se imponha qualquer procedimento aos dependentes. Quem circulou por lá já viu que os atendidos pelo programa — 80 começaram a trabalhar até agora; 300, dos estimados dois mil frequentadores, serão contemplados — alternam a varrição de rua com o consumo da pedra.

Então é isto: o Jânio Quadros com Foucault na cabeça — para gáudio da nova geração de pensadores boêmios da Augusta — decidiu acabar com a Cracolândia institucionalizando a Cracolândia e, na prática, legalizando o consumo e o tráfico da droga, como querem os bacanas, mas com um suplemento de “progressismo”: a porcaria, por via indireta, é financiada pela própria Prefeitura.

Não existem regras para descredenciar o beneficiário. Ele precisa se tratar? Não. Ele precisa comparecer ao trabalho? Não. Em tese, ao menos, se não for, deixa de receber R$ 15 — o pagamento é semanal. Ele está proibido de consumir crack com uniforme da Prefeitura? Não. O seu trabalho passa por alguma avaliação de qualidade? É claro que não! A pergunta é absurda. Há um prazo para deixar o programa? Evidentemente, a resposta também é não.

Mas Haddad estava lá, firme, prometendo ampliar o programa e cadastrar novos hotéis. A Cracolândia, enfim, na prática, foi expropriada pelo poder público e entregue aos consumidores de crack — e, obviamente, à demanda costuma corresponder a oferta nas melhores e nas piores atividades humanas. Quem tende a lucrar com essa organização é o tráfico.

Programas dessa natureza, uma vez criados, jamais terão fim. Nunca mais haverá a revitalização do Centro da cidade. A região está condenada para sempre a ser abrigo de consumidores de crack — e outras drogas. O que tanto alegra aquela turma com Marx de quinta categoria na cabeça (e Foucault de primeira…) é o fato de o programa referendar, no terreno dos valores, a descriminação das drogas.

E, como se sabe, essa é uma tese considerada, em si, progressista. Mas isso não basta. É preciso também que o conjunto da sociedade financie o vício do dependente. O álcool é uma droga legal e também destrói vidas, famílias, reputações. Por que não um “Bolsa Pinga”? Porque os pinguços pobres não costumam se impor pela força e privatizar áreas da cidade. De resto, a cachaça já foi incorporada pela ordem capitalista, né? O viciado na “marvada” é visto como uma vítima do capital; já o consumidor das drogas ilícitas, para esses “progressistas”, é vítima de sua sede por liberdade… Os caretas pagam a conta.

Por Reinaldo Azevedo

 

Polícia investiga saque de 1,6 milhão de euros de conta que pode ser de Pizzolato

A Polícia Federal está investigando um saque de 1,6 milhão de euros feito em uma conta na Suíça que as autoridades acreditam ser do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. Condenado no julgamento do mensalão, Pizzolato está foragido desde a decretação de sua prisão pelo STF (Supremo Tribunal Federal), em novembro de 2013.

Sua família diz que ele está na Itália, país do qual tem cidadania – o que impossibilita sua extradição segundo as leis locais; no máximo, ele poderá ter um segundo julgamento na Itália. A investigação foi revelada na edição de hoje do jornal “O Estado de S. Paulo”. Segundo o jornal, autoridades suíças auxiliam a PF no rastreamento da movimentação da conta.

O período do saque também não está determinado. Segundo a Folha apurou, a PF trabalha com a hipótese de que Pizzolato preparou a sua fuga durante meses, uma vez que sua condenação inicial foi conhecida no fim de 2012 – a prisão só ocorreu após a análise de seus recursos, e foi ordenada pelo STF no dia 15 de novembro.

Condenado a 12 anos e 7 meses de detenção em regime fechado, o próprio Pizzolato divulgou por meio de seu advogado, um dia após a expedição de seu mandado de prisão, uma nota dizendo que havia fugido para a Itália com o objetivo de escapar das consequências de um “julgamento de exceção”.

Além disso, alegou que gostaria de ver seu caso sendo novamente analisado pela Justiça italiana, onde não haveria pressões “político-eleitorais”. Devido à sua cidadania, ele estaria em relativa segurança na Itália, uma vez que o país europeu não extradita seus nacionais.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Marta é condenada em primeira instância por improbidade e tem direitos políticos suspensos

Por Lilian Venturini e Luciano Bottini Filho, no Estadão:
A ex-prefeita Marta Suplicy (PT) foi condenada pela Justiça de São Paulo por improbidade administrativa em razão de um contrato firmado sem licitação, durante sua gestão na Prefeitura de São Paulo (2001-2004). Em decisão de primeira instância, o Juiz Alexandre Jorge Carneiro da Cunha Filho, da 1ª Vara de Fazenda Pública, condenou a ex-prefeita a suspensão dos direitos políticos por três anos e ao pagamento de multa no valor de 50 vezes a sua remuneração como prefeita.

Na decisão, da última quarta-feira, 9, o Justiça acatou a denúncia do Ministério Público de São Paulo, que apontou irregularidades na contratação, em 2002, de uma ONG para assessorar o desenvolvimento de ações referentes a planejamento familiar, métodos contraceptivos, questões de sexualidade nas subprefeituras de Cidade Ademar e Cidade Tiradentes. O juiz estende a condenação também a então secretária de Educação, Maria Aparecida Perez. A defesa de Marta Suplicy informou que vai recorrer, já que contrato semelhante foi considerado legítimo pela Justiça (leia abaixo). A defesa de Maria Aparecida não foi encontrada para comentar o caso.

 De acordo com a promotoria, o contrato de R$ 176,7 mil com o Grupo de Trabalho e Pesquisa de Orientação Sexual (GTPOS) é irregular por ter sido firmado sem a realização de licitação. A secretaria teria desconsiderado também os requisitos necessários para a dispensa da pesquisa de preços. “Houve infração do princípio da moralidade, já que a ré Marta Suplicy, prefeita de São Paulo à época da celebração do contrato, era intimamente ligada à entidade contratada”, acrescenta o juiz na sentença, de novembro de 2013.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Os rolezinhos e a Justiça. Ou: Para que existem os juízes? Ou: Se o direito de se manifestar é absoluto, então o manifestante é o novo tirano. Ou ainda: Dois juízes do Rio

Que tal um texto looongo? Vamos nessa?

Eu vou comentar aqui duas decisões da Justiça do Rio: num caso, concedeu-se uma liminar contra um rolezinho num shopping; no outro, a liminar foi negada. Mas preciso fazer considerações prévias porque, menos do que os casos em particular, interessa-me tratar de uma tendência. Vamos lá.

Juízes só existem — desde o momento em que o homem percebeu que o simples estado da natureza não era exatamente um bom modo de viver — porque a aplicação das leis não é uma operação aritmética. Especialmente nas democracias, há fundamentos que, na superfície ao menos, parecem colidir. Ao juiz cabe uma escolha que tem de ser fiel, no limite do possível, ao que está escrito, buscando preservar ou construir a paz social, mas sem ferir prerrogativas asseguradas em lei. Por isso mesmo, o que poderia ser sopa — aplique-se a lei — costuma ser uma operação bastante complexa. Infelizmente, tem se fortalecido no Brasil a tendência de os juízes confundirem esse espaço de arbítrio, facultado pelas muitas faces da legislação, com arbitrariedade idiossincrática, gosto pessoal, escolhas ideológicas e afinidades eletivas. Mais: em certas áreas do Judiciário, há, parece, a determinação de o juiz fazer com a própria toga o que ele julga que a sociedade, o Legislativo e o Executivo deveriam ter feito antes. Ou por outra: ele próprio decide encarnar, a um só tempo, a vontade do povo, a vontade do Legislativo e a vontade do Executivo — além, claro, de atuar em nome do Judiciário. E, então, falando em nome da democracia, ele não vê mal nenhum em encarnar os Três Poderes e ainda se considerar a fonte da legitimidade originária: o povo. É um momento glorioso, pois, em que um tirano decide falar em nome da democracia. Esse pensamento torto já chegou ao Supremo Tribunal Federal, e sua expressão máxima se chama Luís Roberto Barroso — não por acaso, destaque-se, o mais cultuado do tribunal pelas esquerdas.

É certo que a Constituição assegura o direito à manifestação e à livre associação. Não menos certo é que a mesma Carta garante a liberdade de expressão. São fundamentos da democracia gravados em nossa Lei Maior, e, pois, não cabem especulações sobre a sua pertinência. O direito que está impresso em letra fria é o conceito, é o valor abstrato que nos orienta. A sua efetividade só é provada a quente, na vida. Assim, cumpre indagar: o direito à livre manifestação e associação é de tal sorte absoluto que deve ser garantido mesmo quando uma minoria se impõe a ponto de impedir que a maioria igualmente se manifeste? É plausível que, em nome dessa liberdade, um grupo de 100, 200, 500 ou mil pessoas impeça o direito de ir e vir de milhares, pondo, adicionalmente, a sua segurança em risco?

Sim, pensemos no caso dos shoppings, espaços privados de uso público. Os que respondem juridicamente pelo empreendimento têm obrigações firmadas com entes do estado brasileiro — e tem de ser assim — para que possam abrigar pessoas. Entre outras coisas, precisa garantir a sua segurança, o seu bem-estar, condições adequadas de higiene, até a salubridade do ar que se respira por lá. Se os frequentadores sofrerem algum prejuízo em razão da incúria dos administradores, estes responderão judicialmente pelo dano.

Há mais: esses centros comerciais, que abrigam uma vasta gama de comércio e serviços, mantêm obrigações contratuais com lojistas, que respondem, por sua vez, por milhares de empregos. E, como sabe a Justiça do Trabalho, também os patrões arcam com obrigações que dizem respeito à segurança dos seus funcionários.

Os arquivos
Escarafunchemos os arquivos, o noticiário. Quantas são as notícias, ao longo dos últimos, sei lá, 40 anos dando conta de que grupos — seja em razão de sua renda, cor de pele ou sexualidade — foram proibidos de entrar em shoppings? Ao contrário: espalhados também nas periferias, especialmente em São Paulo, eles são exemplos de convivência democrática. Como confessou uma senhora que protestava em frente ao shopping Campo Limpo, ela e sua família são frequentadoras do estabelecimento.

Acrescente-se: em muitos casos, os shoppings acabam oferecendo o que o Poder Público nunca conseguiu oferecer: opções de lazer aos mais pobres: lanchonetes, miniparques de diversão, lojas de games, o simples “footing” para a paquera, em áreas bem mais seguras do que a conflagrada periferia das cidades brasileiras.

Os shoppings também exercem um certo poder civilizatório. Ainda que se possam perceber inconveniências aqui e ali, o comportamento dos frequentadores, pouco importa o grupo social, costuma ser aceitável. Funciona a tal lógica do serviço eficiente. Se os administradores do empreendimento se esforçarem para manter sempre limpo o ambiente, dá-se o ciclo virtuoso: é mais difícil jogar lixo no chão quando esse chão está limpo; intimidado, o sujeito acaba buscando o cesto mais próximo. Se sujo estiver, aí que se dane.

O melhor código de conduta que pode haver é o da razoabilidade. Está escrito em algum lugar que é proibido fazer “rolezinho”, com este nome, num shopping? É claro que não! Mas é aceitável que se faça “rolezinho” ou “rolezão” nesses lugares? A resposta é a mesma: é claro que não!

É o momento em que se deve, então, aplicar a letra fria da lei à prática quente da vida. A segurança desses ambientes — do espaço físico disponível às brigadas anti-incêndio — foi planejada para isso? Não! E nem deveria. É possível assegurar, a um só tempo, manifestações como essas e o direito dos demais frequentadores de ir e vir? Não! A administração de um shopping pode responder pela segurança dos seus frequentadores, em meio a rolezinhos, com a eficiência e a responsabilidade com que se comprometeram diante de órgãos legais? É claro que não!

A Justiça não tem de coibir rolezinhos em razão de algum juízo de valor sobre a qualidade da manifestação. Isso tudo é bobagem. Eles têm de ser coibidos porque incompatíveis com aquele ambiente; porque o exercício da vontade dessa minoria — e é uma minoria! — colide com direitos da maioria e impede que obrigações contratuais, disciplinadas por lei, sejam cumpridas.

Agora as decisões da Justiça do Rio
Foi marcado pelas redes sociais um “rolezinho” no Plaza Shopping, em Niterói, para este sábado às 18h30. Se vai mesmo acontecer, isso eu não sei. O Plaza recorreu à Justiça para tentar impedir o evento. O juiz Alexandre Duarte Scisinio, da 9ª Vara Cível, decidiu ignorar essa ordem de considerações que faço acima — o que há de errado com ela? —, negou a liminar e ainda deu uma má aula do que ele entende ser democracia e direitos, com considerações francamente hostis aos postulantes.

Escreveu:
“A prevalecer o estranho desejo dos autores de obter ordem judicial, como assim deduzido nesta ação, para proibir esse ou aquele indivíduo ou grupo, de ingressar no seu shopping, que é aberto ao público em geral, se estaria conquistando uma medida inaceitável de dar ao particular a absurda discricionariedade de agir dessa ou daquela forma, rejeitando os mais diversos consumidores, pelos mais variados motivos, sempre que assim lhe conviesse. Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei e é livre a manifestação de pensamento, dogmas contidos na nossa Carta Magna”.

O doutor me perdoe, mas se trata de um texto absurdo e preconceituoso. Em primeiro lugar, não há nada de “estranho” na solicitação, que não é um mero “desejo”, sempre lembrando, meritíssimo, que encaminhar petições ao poder público é um direito constitucional. O senhor, por favor, trate com respeito os que procuram o seu saber, para cujo exercício é pago — e os peticionários colaboram com impostos para esse pagamento. Adiante.

O Plaza quis impedir o “rolezinho”, e o juiz, ao negar a liminar, resolveu contestar o que não foi pedido. A direção do shopping não está reivindicando nenhuma “absurda discricionariedade” para impedir que este ou aquele entrem no prédio. Quer apenas barrar uma manifestação para o qual aquele ambiente não foi pensado, planejado, organizado. De fato, ninguém é obrigado a fazer ou não fazer determinada coisa senão em virtude da lei. Mas esperem: o doutor nega que exista um penca de leis que coíbem que indivíduos ponham em risco a segurança de terceiros. A propósito, doutor Scisinio: quando “roleiros” cassam direitos de frequentadores, é em virtude da lei que o fazem? Ora…

O doutor resolveu ainda avançar para a poesia. Definiu assim os rolezinhos:“atividade artística e cultural, eis que os jovens criativamente apresentam-se com figurinos interessantemente diferenciados, pontuando um modismo próprio de sua época e idade, e é certo que se compreende por arte toda forma de expressão e manifestação estética, de ideias, pensamentos, etc. São estas acepções que compõem o vasto e complexo conceito de atividade cultural”.

A compreensão do juiz do que seja arte chega a ser cômica, mas deixo pra lá. A questão é outra: quando foi que o Plaza ou outro shopping qualquer impediram a livre manifestação de quem quer que seja? De resto, o doutor tem de responder a uma questão. Se tiver uma boa resposta, publico. MAIS PÚBLICOS DO QUE OS SHOPPINGS, MAIS “DO POVO” DO QUE OS ESTABELECIMENTOS PRIVADOS, SÃO OS TRIBUNAIS BRASIL AFORA, NÃO? SÃO AS REPARTIÇÕES DA JUSTIÇA. O DOUTOR ALEXANDRE DUARTE SCISINIO ABRIGARIA ROLEZINHOS NO SEU GABINETE? Se “jovens criativos” decidirem impedir o funcionamento normal da Justiça, deve-se fazer o quê? Creio que ele chamaria a polícia e daria voz de prisão aos transgressores. O juiz pode dizer o que quiser, mas, numa sociedade organizada, tanto o juiz como o vendedor de sanduíche têm de ter assegurado o seu direito ao trabalho e à segurança.

O juiz diz ainda que os excessos devem ser coibidos pela Polícia. Claro! Imaginem se uma manifestação em ambiente fechado, com escadas rolantes e grades nem sempre muito altas, foge do controle. De resto, cumpre indagar: o que foi feito da praça pública quando o assunto é manifestação?

A boa decisão
Mas exalto aqui, também, a boa decisão. Andou bem a juíza Isabela Pessanha Chagas, da 14ª Vara Cível do Rio, que concedeu liminar contra o rolezinho ao Shopping Leblon. Ela lembrou que os direitos à livre manifestação e de ir e vir não devem colidir com “os direitos de locomoção de outros, bem como o direito de trabalho, assegurado pela Carta Magna.” Observou ainda o óbvio: “os shoppings são prédios privados, havendo que se garantir o direito de propriedade (…) coibindo-se a ação de possíveis manifestantes que pretendem causar desordem pública, facilitando a prática de atos de depredação, bem como a ocorrência de furtos de bens, violando o direito de lojistas”.

Volto ao outro doutor: o que há de errado nas considerações da juíza Isabela Pessanha Chagas? Mais: ela se refere a episódios que de fato aconteceram em rolezinhos anteriores; não está sendo meramente preventiva. Escreveu com absoluta pertinência: “Frise-se, ainda, que a admitir-se tal manifesto, estar-se-ia colocando em risco a integridade física de eventuais consumidores que possam estar no local, sobretudo ante a possibilidade da presença de famílias que, no desfrute do seu lazer, se façam acompanhar de suas crianças e/ou idosos, como se verifica nos shoppings em finais de semana”.

Ainda há juízes na Berlim tropical!

Ela foi adiante na sua prudente decisão, informa o Estadão: “determinou que pelo menos dois oficiais de Justiça permaneçam de plantão no shopping, a partir das 15h, para identificar os manifestantes a fim de aplicar multa no valor de R$ 10 mil para cada um. Até as 15h desta sexta-feira, 17, mais de 8,7 mil pessoas haviam confirmado presença na página do evento no Facebook.”

Retomo
Notem: pode até ser que o evento se realize e coisa e tal. E, não há como, se a coisa sair do controle, a Polícia Militar terá de ser acionada. O que elogio na decisão da juíza é a sua disposição de não condescender com a demagogia e com o discurso fácil. Digam-me cá: deve-se permitir um rolezinho numa sessão de cinema ou de teatro em nome da “liberdade de expressão”? Não me parece que alguém possa dizer “sim” ao despropósito. E por que, então, deveriam ser permitidos em shoppings? Não se está, da mesma forma, afrontado direitos de terceiros?

A questão vai mesmo às raias do absurdo. Entender que a liberdade de organização e a de expressão são direitos absolutos confere àquele que age em nome desses fundamentos a discricionariedade de um tirano. Na demagogia nossa de casa dia — que, com frequência assustadora, tem exibido uma toga —, essa “absolutização”, no entanto, não vale para todo mundo. Só podem exercitá-la aqueles que falam em nome dos pobres e dos excluídos. Na maioria das vezes, trata-se de militantes políticos que não são nem uma coisa nem outra. O povo mesmo, aquele que gosta de ir aos shoppings, prefere se divertir em paz.

Por Reinaldo Azevedo

 

A manifestante-invasora confessa: “Eu sempre venho ao shopping, assim como meus filhos, e a gente gasta muito dinheiro”. Sim, excelência invasora! Eu sempre soube!

MTST leva suas bandeiras vermelhas ao shopping Campo Limpo e usam seus reféns para dar sotaque político ao

MTST leva suas bandeiras vermelhas ao shopping Campo Limpo e usa seus reféns para dar sotaque político ao “rolê” (Foto: Marlene Bergamo/FolhaPress)

Dois shoppings fecharam as portas nesta quinta para evitar os “rolezões” convocados por extremistas de esquerda do MTST: o Jardim Sul e o Campo Limpo. Mesmo assim, a turma resolveu fazer um “protesto” em frente aos dois estabelecimentos. Sim, havia pessoas portando tinta. Sujaram o lado de fora dos dois prédios. Os ministros Gilberto Carvalho e Luíza Bairros acham que eles têm de sujar é o lado de dentro. Ou é assim, ou se trata, na visão destes dois pensadores, de discriminação contra pobres e contra negros. A vigarice política assume proporções escandalosas.

No Shopping Campo Limpo, um dos que ficam na periferia de São Paulo, a fala de uma das “manifestantes” é por demais eloquente. Leiam o que ela disse, segundo informa a Folha Online:
“É um absurdo eu não poder entrar no shopping hoje. Eu sempre venho, assim como meus filhos, e a gente gasta muito dinheiro. O direito de entrar no shopping é de todo mundo, não só dos ‘filhinhos de papai’”.

A declaração é de Renilda Pereira dos Santos. Ela mora na ocupação da Capadócia, na Vila Andrade, na Zona Sul. Ora, se ela própria confessa que frequenta o estabelecimento, em companhia dos filhos, onde gasta “muito dinheiro”, estava lá protestando por quê? É sinal de que nunca foi discriminada!

Mas eu explico a razão. Esta senhora mora numa área invadida. As invasões são comandadas pelo tal MTST. Os que aceitam morar em invasões lideradas por eles se submetem às suas regras, às suas leis. Os invasores são obrigados a cumprir tarefas, seguindo as ordens da direção do movimento. Nesta quinta, era para fazer o rolezão nos dois estabelecimentos. E lá foram eles agitar as bandeiras vermelhas do MTST.

Reitero: shoppings nas áreas ricas ou pobres da cidade não discriminam ninguém. Trata-se de uma farsa. Os rolezinhos eram brincadeiras de adolescentes que foram, e com razão, coibidas porque põem em risco a segurança dos frequentadores e deles próprios. Os grupos de extrema esquerda, agora com o apoio de ministros da presidente Dilma, decidiram dar um caráter racial, social e político à coisa.

Pior: páginas da Internet ligadas aos black blocs anunciam a adesão aos rolezinhos. Na segunda-feira, escrevi aqui sobre os riscos. Militantes de esquerda, setores da própria imprensa e alguns pseudointelectuais do miolo mole, no entanto, resolveram acenar para o perigo. Dilma deveria dar um cala-boca em seus ministros. Se não o fizer, então estará ela própria flertando com a irresponsabilidade.

Shoppings são espaços de uso público, mas são áreas privadas. Os compradores que lá entram — inclusive estes que são coagidos pelos leninistas pés de chinelo a participar de rolezões — estão fazendo girar a roda da economia, garantindo o emprego de milhares de pessoas — muito especialmente dos mais pobres.

É espantoso que os mistificadores não recuem nem diante do óbvio perigo que manifestações dessa natureza comportam. Atenção! Ainda que fosse verdade — é uma mentira espetacular — que os shoppings são espaços privilegiados dos ricos, a invasão e a perturbação da ordem não são instrumentos adequados e eficazes de luta. Para encerrar, cumpre indagar de novo: “Qual é a pauta?”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Delúbio, condenado por corrupção ativa, vai para o setor de formação da CUT!!!

Delubio Soares, the Workers' Party treasurer smiles during a news conference in Sao Paulo

A Justiça autorizou o mensaleiro Delúbio Soares, o homem que distribuía o dinheiro do esquema criminoso, a ser assessor da CUT. Vai poder deixar a cadeia durante o dia pra trabalhar (?). Depois, volta para dormir no xilindró. É o primeiro preso do mensalão a conseguir o benefício. A cada três dias trabalhados, um a menos de pena. Ele pode, também, livrar quatro dias num mês caso leia um livro e escreva uma resenha. Não me parece que seja muito íntimo da coisa.

Delúbio cumpre pena de seis anos e oito meses em regime semiaberto por corrupção ativa. Mas a sua condenação total, originalmente, é de oito anos e onze meses, o que o obrigaria ao regime fechado. Ocorre que os dois anos e três meses que faltam é a condenação por formação de quadrilha, contra a qual couberam os embargos infringentes. Se o tribunal rejeitar o recurso, ele terá de passar do regime semiaberto para o fechado, e não poderá trabalhar fora. Terá de cumprir pelo menos um sexto da pena em regime fechado.

A CUT ofereceu ao homem uma vaga, calculem vocês, no seu setor de formação sindical. Que beleza! É aquele que lida com jovens sindicalistas, que os instrui sobre táticas de mobilização, formas de organização nas empresas, essas coisas. Vale dizer: para a CUT, ele segue sendo um professor de futuros gloriosos.

Fico cá a imaginar os trabalhadores e sindicalistas ainda inexperientes a receber as lições de um condenado por corrupção ativa. Cumpre notar que a origem do mensaleiro é o sindicato, muito especialmente a CUT, da qual, a rigor, ele nunca se desvencilhou. A central é uma das maiores fornecedoras de quadros para o PT e para o próprio governo federal.

É um tanto acintoso que este senhor afirme que vai trabalhar na entidade. Parece-me evidente que continuará a fazer política. Notem: desde que o escândalo estourou, Delúbio não tem fonte conhecida de renda. Não obstante, parece viver sem dificuldades. O petismo jamais deixa os seus na chuva. Ele chegou a afirmar certa feita que o mensalão ainda seria tratado pela história como piada de salão. Não chega a tanto. Embora não deixe de ser tragicamente cômico que ele tenha arrumado um emprego na… CUT!

Por Reinaldo Azevedo

 

A declaração absurda de Haddad sobre a Cracolândia

O Centro de São Paulo, agora, tem donos oficiais

O Centro de São Paulo, agora, tem donos oficiais

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), é uma piada. Leio na Folha a declaração que ele deu sobre a Cracolândia: “Conseguimos mudar a cara da região em apenas dois dias”.

Santo Deus!

Ele se refere ao desmonte de uma favela que havia sido criada praticamente no meio da rua. Criada, atenção!, na sua gestão, sob os seus olhos, sob os cuidados de seu governo inerme.

Moravam lá cerca de 300 pessoas. Haddad resolveu lhes pagar R$ 450 por mês, com casa e comida de graça. Elas, claro!, acharam um bom negócio. Nem mesmo precisam parar de consumir a droga ou fazer tratamento. Nada disso! O prefeito lhes dará a grana para comprar as pedras — claro, eventualmente, elas podem comprar iogurte.

O resto da Cracolândia segue sendo a miséria de sempre. Mas, para o prefeito, a cara da região já mudou. Faça o seguinte, paulistano: tente transitar ali pela praça Sagrado Coração de Jesus para ver como estão as coisas… Eu estou brincando. Não vá!

A região reúne um público de dois mil dependentes, mais ou menos. Os hotéis de Haddad oferecem abrigo para 300. Atenção! Eles vão dormir lá. Durante o dia, estão circulando pela praça.

E por que o mistificador é tratado por setores da imprensa como um gênio? Em primeiro lugar, afinidades ideológicas. Em segundo, porque a causa de fundo que os une é a descriminação das drogas. Na prática, o prefeito declarou o Centro da cidade uma área livre para o consumo, com patrocínio público.

Parte do jornalismo acha que isso é progressista.

Por Reinaldo Azevedo

 

Um absurdo sem Gilberto Carvalho nunca está completo. Ou: A fala irresponsável do ministro insuflador

Carvalho, o Gravata Vermelha: aposta na guerra racial e de classe

Carvalho, o Gravata Vermelha: aposta na guerra racial e de classes

Pronto!

Apareceu quem faltava: Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência. Mais uma vez, os petistas tentam criar o caos e o tumulto em São Paulo na esperança de obter, com isso, vantagens eleitorais. Assim nasceu o “junho”, que se espalhou Brasil afora e acabou caindo no colo da presidente Dilma. Ela nunca mais recuperou os índices de popularidade que tinha até então.

Sim, as jornadas de junho nasceram de uma tentativa de petistas e outros à sua esquerda de instaurar o caos em São Paulo. O movimento se espalhou Brasil afora. O Globo traz um texto com falas impressionantes de Carvalho. Reproduzo em vermelho e volto em seguida.

Em Pernambuco para o 3° Encontro da Juventude Camponesa, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, defendeu o movimento denominado “rolezinhos” e criticou a repressão policial aos atos e a postura inadequada dos proprietários de lojas e shopping centers. Para o ministro, a ação da polícia tem sido inadequada e coloca “gasolina no fogo”. “A ação inadequada da polícia acaba colocando gasolina no fogo”, disse Carvalho, que defendeu o acesso dos jovens de periferia ao lazer: “Esses jovens de periferia também têm direito à diversão e lazer. Se trata de mais um desses passos que a sociedade vai dando”, disse para logo em seguida criticar também a inadequada postura dos empresários de querer bloquear a entrada desses jovens de periferia nos shopping centers.

“Eu não tenho dúvida que isso está errado. Para mim é, no mínimo, inconstitucional. Qual o critério que você vai selecionar uma pessoa da outra? É a cor, é o tipo de roupa que veste? Tudo isso implica no preconceito, no pré-julgamento de uma pessoa e fere a Constituição e o Instituto da Criança e do Adolescente ao lazer”, defendeu Carvalho.

Irresponsável!
É uma fala irresponsável. Ele que aponte um só estabelecimento que pratica discriminação racial ou de classe. O que poderia ser efêmero vai, agora, durar além da conta porque foi politizado por petistas e movimentos sociais.

Mas esse é Gilberto Carvalho. Um assessor seu, Paulo Maldos, estava lá no Pinheirinho, em São Paulo, quando houve a “resistência” à ordem judicial. O mesmo Maldos é a mão que balança o berço da radicalização dos movimentos indígenas contra os proprietários rurais. No Maranhão, este senhor chamou agricultores pobres, desalojados de suas terras, de plantadores de maconha. Não há uma só ação da Polícia em São Paulo contra a qual este senhor não exerça o mais odioso proselitismo oportunista.

Os shoppings não se mobilizaram contra pobres e negros, mas conta a baderna. Tentar emprestar um corte racial ou de classe a isso é coisa de vigaristas.

Em ano eleitoral, autoridades petistas decidiram insuflar uma guerra racial e outra de classes. É vã a esperança de que coisas assim se limitem a São Paulo. Acabam se espalhando Brasil afora. Dá para saber como começa, mas não como termina.

Por Reinaldo Azevedo

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário