Os ventos chineses mudaram a direção e o barco brasileiro ficou à deriva

Publicado em 26/11/2014 17:07 e atualizado em 27/11/2014 17:15
por Rodrigo Constantino, de veja.com

Os ventos chineses mudaram a direção e o barco brasileiro ficou à deriva

“Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável.” (Sêneca)

Sob o risco de parecer repetitivo, tenho apelado com frequência, e há anos, para a metáfora de uma cigarra que ganhou na loteria para explicar o Brasil dos últimos 12 anos. A loteria, claro, chama-se China. Foi o crescimento chinês acelerado e sua consequente volúpia por recursos naturais, que o Brasil por sorte do destino tem em abundância, que explicam o case da euforia com o Brasil até 2010.

O custo de capital nulo no mundo desenvolvido representa a lenha na fogueira, inundando os mercados com capital ávido por algum retorno. O “tsunami monetário” que Dilma chegou a criticar, enfim, serviu para impulsionar o valor de nossos ativos e tornar os critérios de análise dos investidores mais flexíveis e obsequiosos, e bem menos rigorosos.

Mas, como venho alertando em palestras e artigos, os ventos externos podem ter mudado a direção. Ao que tudo indica, o crescimento chinês não terá nada perto do mesmo vigor nos próximos anos, e o melhor indicador disso é o preço das commodities. Vale notar que metade de nossa pauta de exportação é de recursos básicos, e boa parte para a China.

Quase 70% de tudo que vendemos aos chineses são soja e minério de ferro. Dependemos muito, portanto, do preço dessas commodities. E como eles estão? Em queda livre. Vejamos o minério de ferro, por exemplo:

Minério de ferro (contrato futuro). Fonte: Bloomberg

Minério de ferro (contrato futuro). Fonte: Bloomberg

Reparem que o preço do minério está derretendo, e já voltou ao mesmo patamar de 2009, após a grave crise que apavorou o mundo e derrubou o valor de todos os ativos. Nessa época, chegou-se a pensar que a Vale não suportaria o impacto. As ações da nossa maior mineradora, aliás, também acusam o golpe do momento atual negativo:

Vale (ação preferencial). Fonte: Bloomberg

Vale (ação preferencial). Fonte: Bloomberg

São os termômetros mais importantes como indicadores antecedentes do que vem por aí em termos de China e seus efeitos em nossa economia. Foi a bonança do superciclo das commodities que permitiu o crescimento tanto de nossa economia como dos gastos e crédito públicos. O governo pegou o bilhete da loteria e gastou como se não houvesse amanhã, como se o inverno nunca fosse chegar.

A soja, maior item na pauta de exportação para a China, responsável por quase metade do total vendido àquele país, passou por uma expressiva alta de preço durante a gestão de Lula, mas agora também está despencando:

Soja. Fonte: Bloomberg

Soja. Fonte: Bloomberg

Não resta muita dúvida: os ventos externos, especialmente os chineses, mudaram a direção. E o barco brasileiro, que surfava uma onda produzida por esse crescimento chinês e turbinada pelo “tsnumani monetário”, agora está à deriva. Não desenvolvemos musculatura própria para remar sozinhos na direção certa, tampouco o governo sabe que direção é essa.

Estamos perdidos, dependendo dos estímulos estatais insustentáveis. E temos Dilma no comando do leme. Como alguém consegue manter algum otimismo diante de um quadro desses é algo que escapa à minha razão. Resta rezar para que, no lugar do vento favorável chinês, não venha uma tempestade perfeita que nos coloque no olho do furacão. O problema é que não sou uma pessoa muito religiosa…

Rodrigo Constantino

 

Nenhum país “vive tamanha roubalheira”, diz ministro do STJ

Newton Trisotto, ministro do STJ. Fonte: GLOBO

Se sou eu quem diz, é porque “tinha que ser na Veja”. Se é algum tucano a dizer, então claro que é “intriga da oposição”. Mas quem diz não sou eu nem um tucano qualquer, e sim o ministro do Superior Tribunal da Justiça (STJ), Felix Fischer, que já presidiu a instituição. Para ele, a corrupção no Brasil é uma das maiores do planeta: “Acho que nenhum outro país viveu tamanha roubalheira”.

Seu colega do STJ, Newton Trisotto, endossou a crítica e disse que a corrupção brasileira é “uma das maiores vergonhas da humanidade”. O ministro, relator do julgamento que manteve preso o homem apontado pela Polícia Federal (PF) como operador de Youssef no exterior nesta terça-feira, pediu ainda “coragem” para o juiz Sérgio Moro. Trisotto citou o jurista Ruy Barbosa ao dizer que um juiz não pode ser “covarde”:

 

“Não há salvação para o juiz covarde. O juiz precisa ter coragem para condenar ou absolver os políticos e os economicamente poderosos.”

Isso mesmo. E nós, brasileiros decentes, cansados de tanta roubalheira, dessa corrupção epidêmica, dessa impunidade toda, contamos com a coragem e a seriedade de todos aqueles envolvidos na Operação Lava Jato. O PT quer banalizar a corrupção, mas não vai conseguir. Ainda há gente séria no setor público, lutando contra as quadrilhas que desviam nossos recursos e tentando instituir o respeito às leis no país. Saibam que não estão sozinhos, e contam com o apoio de dezenas de milhões de brasileiros.

Rodrigo Constantino

 

Se fosse um país e calculasse o PIB pelo tamanho da roubalheira, a Petrobras não faria feio no ranking mundial do FMI

Lula passou oito anos (e Dilma quase quatro) gabando-se das proezas da Petrobras. Nunca antes neste país houve empresa tão exemplarmente eficaz, recitou a dupla desde 2003. A autossuficiência na extração de petróleo garantiu a carteirinha de sócio da OPEP. A descoberta do pré-sal ─ uma dádiva de Deus, segundo o ex-presidente ─ permitiria enfeitar o Brasil Maravilha com deslumbramentos adicionais que matariam de inveja os imperialistas ianques e os comunistas de araque da China. Para a estatal que valia R$ 380 bilhões em 2010, o céu era o limite.

A ladroagem colossal desmoralizou a tapeação. Hoje avaliada em R$ 181 bilhões, a companhia devastada pela corrupção e pela incompetência foi expulsa da discurseira delirante de Lula e do palavrório ininteligível de Dilma. Mas a fábrica de espantos não interrompeu a produção, avisa a façanha recente: se a Petrobras fosse um país, e calculasse o Produto Interno Bruto com base no produto do roubo, não faria feio no ranking do Fundo Monetário Internacional que rastreia a situação econômica de 187 nações.

Segundo a Polícia Federal, as fortunas engolidas pelo maior esquema de corrupção de todos os tempos somam US$ 10 bilhões de dólares. Como atesta o quadro abaixo, o resultado do saque sem precedentes supera o PIB de 52 países. Nunca antes neste planeta uma quadrilha apadrinhada pelo governo roubou tanto. O recorde não será batido tão cedo. Já teria sido celebrado por Lula em  muitos comícios se a Polícia Federal não estivesse por perto.

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Túnel do tempo: Roberto Campos sobre a Petrossauro

Roberto Campos chamava a Petrobras de “Petrossauro”, e despertava a fúria dos nacionalistas, tanto de esquerda como de direita. Criaram a alcunha de “Bob Fields” para descrever o “entreguista”, aquele que, ó céus!, estava disposto a vender nosso maior patrimônio para os gringos, até mesmo ianques (cruzes!), em vez de compreender que “o petróleo é nosso”.

Campos compreendia muito bem, na verdade, que o petróleo é sempre “deles”, dos que estão no poder. E sabia, também, da típica incompetência do estado como gestor, let alone a corrupção. Por isso lamentava, quase exasperado, quando os tucanos, vistos como “neoliberais” por nossa esquerda jurássica (risos), faziam de tudo para impedir a privatização da Petrobras.

Na já famosa entrevista no Roda Viva em 1997, em que Campos dá uma boa esculachada em Marco Aurélio “Top Top” Garcia, eis o que ele diz sobre o assunto:

“Há uma exceção gritante na paisagem brasileira. O próprio Fernando Henrique – e por isso ele não pode ser acusado de neoliberal, um neoliberal jamais faria isso – ele próprio apresentou um projeto de lei vedando a privatização da Petrobras. Ele podia silenciar sobre o assunto, deixando que a evolução dos acontecimentos ditasse o melhor rumo. Afinal de contas, nós abolimos o monopólio na Constituição. Isso permitiria até a privatização da Petrobras se ele quisesse. Ele se apressou em assumir um compromisso pessoal, e eu espero que seja válido só durante o tucanato, de não privatizar a Petrosal, Petrobras, o que seja. Isso foi, a meu ver, uma imprudência porque o Brasil pode precisar privatizar a “Petrossauro” por motivos fiscais e por motivos cambiais. Afinal de contas, hoje o petróleo continua sendo o item mais pesado na nossa pauta de importação. E os esforços da “Petrossauro” estão longe de nos assegurar a auto-suficiência, estamos correndo para ficar parados. Nós importamos no ano passado 610 mil barris, que era exatamente o que importamos quando da primeira crise de petróleo. Estamos correndo para ficar parados.

De fato, continuamos longe da autossuficiência, importando derivados de petróleo com grande rombo nas contas externas, e a Petrobras acabou privatizada, só que da pior forma possível: usurpada por uma quadrilha que desviou mais de R$ 10 bilhões de seus cofres!

E o que fazem os tucanos hoje? O deputado Otávio Leite, do Rio, tem um projeto de lei que pretende tornar impossível a privatização da Petrobras. Ou seja, não só se recusam a trazer para o debate o cerne da questão – o fato de que a estatal sempre correrá o risco de ser capturada por um partido e seus apaniguados corruptos – como ainda repudia qualquer alternativa de mercado. E o PSDB é “acusado” de ser “neoliberal” pelos petistas!

Que falta nos faz um Roberto Campos…

Rodrigo Constantino

 

Taxa de juros bate recorde: ué, a Dilma não ia reduzir os juros?

Deu no GLOBO: Taxa média de juros bate recorde

Os bancos nunca cobraram juros tão altos das famílias brasileiras. A taxa média subiu de 42,8% ao ano para 44% ao ano em outubro. É a maior já registrada pelo Banco Central desde que passou a contabilizar os dados na nova série histórica iniciada em 2011. Esses são os juros médios dos empréstimos feitos com recursos livres, ou seja, aqueles que as instituições financeiras têm o poder de escolher a forma que empresta. A expectativa é que as taxas continuem a subir ainda mais.

Isso porque a alta verificada nos juros de financiamentos às pessoas físicas ocorreu antes mesmo de o Comitê de Política Monetária (Copom) decidir aumentar a taxa básica (Selic) no fim do mês. Três dias depois das eleições, o BC elevou os juros básicos da economia de 11% ao ano para 11,25% ao ano. Esse movimento surpreendeu os bancos. Agora, com o custo de captação do dinheiro mais caro e a expectativa de juros ainda mais altos no futuro, as instituições devem continuar a elevar os custos dos clientes.

O crédito pessoal foi a modalidade que amargou a maior alta de custo no mês passado. Quem teve de recorrer a esse tipo de empréstimo pagou 7,3 ponto percentual a mais que em setembro. Em outubro, o correntista aceitou pagar em média 103 % ao ano. Essa também é a maior taxa cobrada pelos bancos em crédito pessoal da história.

Não vou acusar os eleitores de Dilma de nada. Só quero fazer algumas perguntas, e gostaria de respostas objetivas. Dilma não ia enfrentar os banqueiros gananciosos? Dilma não ia ajudar os mais pobres? Será que com as maiores taxas de juros dos últimos tempos as famílias brasileiras vão melhorar de vida? Será que assim sobra mais recursos para ajudar os mais pobres, contratar empregadas domésticas, comprar produtos que geram emprego no comércio?

Calma, tenho algumas outras perguntas. O eleitor do PT não sente vergonha na cara? Consegue dormir tranquilo, repetindo para si mesmo que é uma alma caridosa só porque digitou 13 na urna? Não liga para os fatos? Sofre de dissonância cognitiva? Já pensou em frequentar um divã? Já faz? Então já pensou em tomar vergonha na cara de uma vez por todas e deixar de ser tão covarde, buscando esse regozijo pessoal com o monopólio das virtudes enquanto ignora a realidade à sua volta?

Rodrigo Constantino

 

 

Ajuste fiscal correto seria corte de despesas, não aumento de impostos

O governo central, que reúne as contas do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central, registrou superávit primário de R$ 4,101 bilhões no mês passado. O resultado é o menor para meses de outubro desde 2002, quando foi registrado superávit de R$ 3,797 bilhões.

No acumulado de janeiro a outubro, há déficit primário, que soma R$ 11,577 bilhões, ou 0,27% do Produto Interno Bruto (PIB). No mesmo período de 2013, o resultado primário era positivo em R$ 33,569 bilhões (0,84% do PIB).

A necessidade de estancar o rombo das contas públicas é evidente, até mesmo para os petistas. Mas como fazê-lo? Guido Mantega, no apagar das luzes de sua gestão, pretende aumentar impostos, como o de combustíveis. Essa é sempre a solução mais fácil: jogar a fatura para os ombros dos “contribuintes”.

Mas o brasileiro não aguenta mais pagar tanto imposto. A nossa carga tributária já está perto de 40% do PIB, uma das maiores do mundo, principalmente em relação aos países emergentes, nossos pares diretos. Como competir assim?

Em artigo publicado no Valor, José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, argumenta que o discurso de impossibilidade de corte de gastos públicos tem justificado o constante aumento dos impostos, o que é ruim para o país.

Para o país voltar a crescer “é indispensável que se observe a retomada dos investimentos privados”, diz. E para tanto é fundamental aumentar a poupança doméstica, o que só será possível com menos impostos.

O recuo recente da confiança empresarial teria ligação direta com o aumento dos impostos, e isso teria levado à paralisação dos projetos empresariais, que ameaça a geração de empregos no futuro. “Corrigir esse quadro exige importantes ajustes microeconômicos, em especial simplificação e redução de tributos. Em suma, precisamos de menos impostos, e não mais”.

Além disso, Senna lembra que raramente o aumento do imposto no presente se reverte depois. Como dizia Milton Friedman, nada é tão permanente quanto uma política temporária de governo. Ao aumentar os impostos, eles são logo incorporados às contas públicas e levam a gastos elevados em caráter perpétuo.

O que Senna propõe, então, é um programa crível de corte gradual dos gastos públicos. “Cortes de despesa devem ser negociados com o Congresso e anunciados com clareza, cuidando-se para que seus efeitos se materializem ao longo do tempo, e não de pronto”, escreve. Mas para tanto é preciso encarar a realidade:

Para que essa estratégia seja viável, é indispensável que se debata e reconheça o caráter insustentável da política de gasto público no Brasil, em curso há muitos anos, sendo de grande relevância que não nos conformemos com a ideia de incompressibilidade do dispêndio público. Isso pode e deve mudar.

Na verdade, a aceitação da tese de que a despesa pública é incomprimível tem servido de justificativa para o continuado aumento da carga tributária. Há décadas, confrontados com situações semelhantes à atual, governos diferentes têm decidido elevar e criar impostos, disso resultando carga tributária consideravelmente superior à das demais economias emergentes. Note-se que esse peso não inibe apenas grandes projetos empresariais, mas também a formação e o crescimento de pequenos e médios negócios, tradicionais geradores de emprego formal.

A única solução estrutural para nossas contas públicas é a redução dos gastos do governo ao longo do tempo, em uma reforma séria que seja acreditada pelos principais agentes econômicos. A alternativa, de insistir sempre em mais impostos quando as contas públicas mergulham no vermelho, vai cada vez piorar mais o “Custo Brasil” e afugentar investidores.

Rodrigo Constantino

 

 

Será que Dilma fez como Ulisses e amarrou as próprias mãos no mastro?

Em Odisséia, de Homero, conhecemos a saga de Ulisses contra a sedução do canto das sereias. Ciente do poder de encanto das sereias, que atraíam os barcos para as rochas e acabavam os naufragando, devorando os tripulantes em seguida, Ulisses teve a ideia de colocar cera no ouvido de sua tripulação.

Contudo, resolveu ficar com os ouvidos descobertos, para conhecer o poder das sereias. Só que resolveu amarrar as próprias mãos no mastro do navio, e deu ordens para que os marinheiros não o soltassem em hipótese alguma.

Trata-se de uma excelente lição sobre os subterfúgios que encontramos, com base em nossa razão, para superar as fraquezas humanas. Conhecendo nosso próprio ponto fraco, podemos criar mecanismos externos de controle, limitando o estrago de nossas paixões.

A mitologia grega vem à mente quando penso que Joaquim Levy deve ser confirmado ainda hoje como novo ministro da Fazenda. Será que Dilma teve a sabedoria de Ulisses e amarrou as próprias mãos no mastro, para não cair na tentação do canto da sereia populista?

É cedo para dizer. E concordo com Alexandre Schwartsman, quando escreve, em sua coluna de hoje na Folha, que a autonomia acordada com o novo ministro não deve ser plena, caso contrário Luiz Trabuco, o presidente do Bradesco, teria aceitado o convite feito antes a ele.

Dilma pode estar confessando timidamente o fracasso da “nova matriz macroeconômica”, mas é muito precipitado assumir que ela compreendeu a dimensão do problema. Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que foi ela a principal culpada pela trapalhada:

Muito embora o futuro ex-ministro da Fazenda e sua arrebatadora equipe tenham responsabilidade direta pelo insucesso, deve ser claro que esta se limita à execução da malfadada política econômica, ou seja, à de fantoches que jamais almejaram virar meninos de verdade. Não há dúvida de que a formulação do fiasco emanou diretamente da presidente, cujas opiniões equivocadas sobre a economia são de conhecimento geral e amplamente comentadas neste espaço.

Em razão disso a presidente enfrenta um problema difícil: como convencer o distinto público acerca de sua firmeza de propósito no que se refere à mudança de rumo do país?

A única forma seria não ter uma marionete na Fazenda, alguém que gozasse de alguma credibilidade do mercado, dos investidores. Lula sabia que somente um nome do próprio mercado poderia acalmá-lo, e por isso fez tanta pressão.

Além disso, pretendia, com isso, amarrar as mãos da presidente, pois uma eventual demissão seria um tiro no próprio pé. O que Schwartsman chamou de ameaça de “destruição mútua”. Um Henrique Meirelles, por exemplo, não poderia ser demitido por Dilma sem uma catástrofe nos mercados.

Com Trabuco provavelmente seria a mesma coisa. Será que com Joaquim Levy ocorre o mesmo? Schwartsman não parece convencido, e estranha o fato de que Trabuco não tenha aceitado. Diz ele:

Parece-me que o cerne da discussão -como não poderia deixar de ser- refere-se à real extensão do poder ministerial. Trabuco, no meu entender, teria recusado o cargo por não ter garantias suficientes quanto à sua autonomia.

Caso esteja certo a esse respeito, seriam também remotas as chances de que a presidente tenha oferecido condições mais vantajosas a Levy do que as apresentadas a Trabuco. A autonomia do ministro, no caso, terá mesmo que se equilibrar no delicado balanço da “destruição mútua”, base muito frágil para assentar o futuro do país, considerados os estragos dos últimos anos.

Há muito a fazer para corrigir o rumo, mas tudo indica que a presidente ainda não se deu conta do tamanho da encrenca. 

A lógica faz todo sentido. Levy é o “second best solution”, como diriam os próprios “chicagoanos” como o futuro ministro. Alguma autonomia ele terá, sem dúvida, ou não aceitaria o cargo. Mas não a mesma que Meirelles ou Trabuco exigiriam. Tampouco causaria o mesmo pânico no mercado se fosse demitido, pois os investidores não estão completamente seguros dessa autonomia.

Ou seja, Dilma amarrou as próprias mãos no mastro, mas com um barbante fininho e um laço de criança. Ainda não está convencida de que precisa fazer um nó cego com uma corda de verdade, a ponto de ficar impossibilitada de alterar o rumo do barco, seguindo o canto da sereia.

Apenas acenou nessa direção, mas não convenceu. Na primeira dificuldade maior, na primeira tormenta, haverá claramente o risco de ela colocar Levy para fora, soltar as mãos do mastro e apontar na direção das rochas, segura de que aquela música que escuta é o caminho do paraíso. As sereias já salivam de desejo e fome…

Rodrigo Constantino

 

 

Alguém lembra da Rose? Dois anos e nenhum punido…

Rose, a “amiga” de Lula. Fonte: GLOBO

Alguém aí lembra da Rose? O GLOBO traz hoje uma reportagem sobre os dois anos da Operação Porto Seguro, completados em total clima de impunidade. O porto seguro, pelo visto, é o esconderijo da “amiga” de Lula, protegida da justiça e até da imprensa, que deixou o caso esquecido, abandonado às traças, ignorado. Diz o jornal:

Dois anos depois de ter sido um dos principais alvos da Operação Porto Seguro, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha mantém mistério sobre a sua vida profissional. A amiga do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não revela como tem se sustentado. Sua família inaugurou, no início do ano, uma escola de inglês para crianças em bairro nobre de São José dos Campos (SP), no Vale do Paraíba. Até hoje, não houve punição a nenhum dos 24 citados no escândalo, e dez deles mantêm seus cargos no governo federal, com salários de R$ 3,9 mil a R$ 21,4 mil.

Durante as investigações que levaram à descoberta da quadrilha que vendia pareces em órgãos públicos federais, foi constatado que Rosemary e o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira planejavam abrir uma escola de inglês. A Red Ballon, já aberta, está em nome de Meline e Mirelle, as duas filhas de Rosemary, e de seu ex-marido, José Claudio de Noronha, também acusado de participar do esquema.

[...]

Rosemary foi a única dos servidores públicos citados na Operação Porto Seguro a receber punição administrativa da Controladoria Geral da União (CGU) até o momento. Em setembro do ano passado, o órgão apontou 11 irregularidades na conduta dela à frente do escritório da Presidência em São Paulo, e, assim, determinou que ela não pode voltar a ocupar cargos públicos.

Só isso? Então fica assim mesmo? Dez servidores apontados no esquema ainda mantêm seus empregos? A denúncia criminal contra os acusados, apesar de ter sido apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) menos de um mês depois da deflagração da operação, só foi aceita pela Justiça em fevereiro deste ano. Como há servidores públicos envolvidos, foi permitido que os acusados apresentassem defesa prévia, o que adiou a decisão do juiz. E nenhuma pressão da “opinião pública”?

O brasileiro vai às ruas protestar contra vinte centavos de aumento no preço do ônibus, mas não para falar dos bilhões desviados da Petrobras ou do “Rosegate”, o escândalo da “amiga íntima” de Lula que completa dois anos sem um único punido. É mole? Por essas e outras que Guilherme Fiuza parte para a ironia mesmo, sobre o gigante que “acordou”. É o que nos resta: rir da passividade bovina do pacato cidadão, para não chorar…

Rodrigo Constantino

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Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

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