Eliane Cantanhêde: "Crise grave, mas sem saída", no ESTADÃO

Publicado em 16/03/2015 15:00
artigo de ELIANE CANTANHÊDE, na página de opinião de O Estado de S. Paulo desta segunda, 16 de março de 2015

O Brasil tem agora o antes e depois de 15 de março de 2015. Mais de um milhão de pessoas foram às ruas para protestar contra a presidente Dilma Rousseff e contra o PT, que, desde 1980, era quem tinha força e capacidade de mobilização.

Quem poderia imaginar que o PT mudaria de lado e passaria a ser alvo, após 30 anos de glórias e de jogar as ruas contra tudo e contra todos em nome da ética? Bastaram 12 anos de poder para o caçador virar caça. E isso tem um lado dramático. Mas cada um colhe o que plantou.

 

À crise política, aos erros na economia, aos desmandos éticos, ao desmanche da Petrobras, soma-se o último fator que faltava: as ruas.

Fecha-se o cerco. Não foi uma manifestação a mais, foi uma para entrar na história, tal a dimensão e a extensão.

Em junho de 2013, a classe média assalariada explodiu nas ruas com uma pauta difusa – e confusa – de reivindicações e de acusações generalizadas contra “tudo o que está aí”. Já neste 15 de março de 2015, jovens e velhos, mulheres e homens, empresários e assalariados tiveram uma pauta bastante específica: a rejeição a Dilma, ao governo e ao PT.

Registre-se uma grande ausência: a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não apareceu na sexta-feira nem no domingo, fosse para aprovar ou desaprovar qualquer dos dois movimentos. Mas o pior não foi isso: as multidões, com seus cartazes e slogans, simplesmente ignoraram Lula. Será que Lula, para o bem e para o mal, também não é mais o mesmo?

Do outro lado, a palavra impeachment, que foi o mote original da convocação pelas redes sociais, foi perdendo apelo e se enfraquecendo ao longo do processo e praticamente desapareceu no dia “D”. O “Fora Dilma” é simbólico. O pedido de impeachment, bem mais concreto, sumiu.

Tudo isso desaba sobre o PT num momento em que Dilma despenca nas pesquisas de opinião em todas as faixas e em todas as regiões e em que o governo deixa de ser um trunfo do partido para se transformar num fardo político. Por quê? Porque não tem o que dizer, não tem o que apresentar, não tem um horizonte melhor a oferecer.

Diz a regra que, se você não tem o que dizer, é melhor ficar calado. Dilma quebrou essa regra no Dia Internacional da Mulher e ontem destacou os ministros José Eduardo Cardozo e Miguel Rossetto para responder à avalanche popular com os dois temas sacados em junho de 2013: reforma política e pacote anticorrupção. Dois anos depois, é tudo o que o governo tem a dizer?

Como “defesa”, os ministros disseram que quem foi às ruas não foi o eleitor de Dilma, foi o eleitor de oposição. Isso escamoteia o desgaste real e perceptível da presidente recém-reeleita; é uma admissão de que a oposição está cada vez mais forte e mais organizada e confirma que o governo, incapaz de fazer alguma autocrítica, continua autista, isolado, talvez incapaz de ouvir a voz rouca das ruas. Pior: foi para o confronto e perdeu.

O governo, via PT, CUT e UNE, pagou para ver e deu no que deu. Os atos de sexta-feira, organizados, foram relevantes, mas os protestos de ontem, espontâneos, mostraram que os irritados com o governo ultrapassam em muito os aliados do PT.

É hora de o governo lamber as feridas e de a oposição avaliar seriamente como entrar no vácuo das manifestações. Espera-se que Dilma passe a ouvir, a conversar, a ceder, mas isso é querer que Dilma deixe de ser Dilma. Espera-se que o governo recomponha uma economia esgarçada e recupere a capacidade de articulação política com o Congresso, mas é preciso combinar com o PMDB.

E da oposição, o que se espera? Aí está o x do problema. As manifestações foram contra o PT, mas não foram a favor da oposição. O PSDB parece não saber o que dizer, o que fazer e para onde ir, está sem rumo e a reboque das ruas. E isso leva a um diagnóstico bastante grave: a crise é gigantesca, mas sem saída.

(por ELIANE CANTANHEDE, em  O Estadão)

“Os protestos são de pessoas que não votaram nela”.

Miguel Rossetto, secretário-geral da Presidência, explicando que Dilma Rousseff só ficaria preocupada se as manifestações contra o governo que chefia, o PT e os corruptos amigos fossem promovidas pelos 7% que acham seu desempenho bom ou ótimo.

Eles queriam ser os novos senhores dos negros. Quebraram a cara!

Aparelhos de TV se tornaram coisas muito complexas. Deu um problema no que tem aqui em casa. Como é mesmo? A peça que se conecta com o sistema Wi-Fi pifou, provavelmente em razão de variação de corrente elétrica — esta já remete à crise mais geral, de infraestrutura. Também é complexa, mas deriva do atraso tecnológico, não do avanço.

Dois técnicos da empresa saíram daqui agora há pouco. Negros, por volta dos 25 anos. Conversaram sobre a manifestação. Um se mostrou entusiasta do protesto contra Dilma e já prometeu que estará presente no dia 12 de abril. O outro não estava nem aí. Nem para os que aderem nem para os que rejeitam. Também não fez a defesa do governo. Essas coisas simplesmente não parecem lhe dizer respeito. O outro o censurou por isso: “Você quer só reclamar, não quer lutar pra melhorar”. O que foi provocado respondeu: “Quem disse que eu tou reclamando? Já me ouvi reclamar? Eu tou é cuidando da minha vida. Se eu não garantir o meu, ninguém garante!”. E assim segue a vida. Agora ao ponto que vai além da crônica ligeira.

Para o PT, “negro de verdade”, nenhum dos dois é. Um pertence, segundo os critérios da fina sociologia desenvolvida nos botecos do Complexo Pucusp pela companheirada, à “elite branca”, embora seja negro. O outro é um alienado. Um alienado negro. O segundo tem salvação ideológica; o primeiro está condenado a ser um trânsfuga, um “preto de alma branca”. Não foi esse o ataque que dirigiram ao jornalista Heraldo Pereira, da Globo?

Os esquerdistas, de maneira geral, acham que os negros ainda não se libertaram da escravidão. Hoje, eles teriam de servir a outros senhores: os que pretendem fazer do racismo, no Brasil, um botão quente a ser acionado, já que esse papo de luta de classes anda meio pelo avesso. É o que chamo há muito tempo de “racismo de segundo grau”. A elite supostamente pensante — só lê os livros, quando os lê, que endossam seus preconceitos —, pouco importa a cor de sua pele, acha que negros só têm uma “consciência verdadeira” quando adotam a pauta estabelecida por seus mestres mal lidos. Assim, um negro só será livre se gritar “viva o socialismo!”, “abaixo o racismo!”, “fica Dilma!”, “impeachment é golpe!”.

Logo, os milhares de negros e mestiços que estavam nos protestos contra Dilma neste domingo não merecem usar o que passa a ser um traço distintivo: “É negro!”. Ou eles se subordinam a uma das centenas de ONGs que confundem política pública com rancor ou serão execrados como traidores.

Alguém poderia indagar: “Mas eles não fazem o mesmo com os brancos? Ser progressista é aderir à pauta racialista; ser reacionário é opor-se às suas teses”. É fato, mas existe uma diferença importante: a adesão dos brancos seria só um primado político e moral; a dos negros, uma obrigação biológica.

A tese é um lixo, mas prosperou. Há brancos e negros racialistas que têm a ambição de ensinar a um negro como deve se comportar um “verdadeiro negro”. Há héteros e gays do sindicalismo gay que fazem a mesma coisa com os homossexuais. Há homens e mulheres de certo feminismo rombudo que fazem o mesmo com as mulheres. E isso vale para qualquer das minorias sociológicas do catálogo politicamente correto.

No fim das contas, para essa gente, a situação real das pessoas — ou de sua “categoria” — é o que menos importa. A única coisa que interessa é que  carreguem bandeira e sirvam a um projeto de poder que satisfaça as ambições e os rancores daqueles que se apresentam como donos da causa, sejam héteros ou gays, homens ou mulheres, brancos ou negros.

Neste domingo, na rua, vimos os brasileiros sem canga. A militância partidária, de oposição a Dilma, foi convidada a não ser muito saliente. Tratou-se, em suma, de uma manifestação entre iguais de pessoas diferentes. Assim é a República. Os petistas tentam destruí-la. Mas não conseguirão.

“Sou negro, pobre e estou pedindo a saída da Dilma”, diz manifestante
Fernando Silva, o Fernando Holiday, também pertence ao PT chama "elite branca" (Foto: Renata Agostini)

Fernando Silva, o Fernando Holiday, também pertence ao que o PT chama “elite branca” (Foto: Renata Agostini/Folhapress)

Na VEJA.com:
Os atos de protesto contra o governo Dilma deste domingo (15) reuniram bem mais que a “elite branca”. Nas diferentes cidades em que as manifestações foram realizadas, celebridades, artistas e socialites caminharam como migrantes, ex-petistas, vendedores ambulantes, militares ou agentes penitenciários. Nesse caldeirão cultural, as posições políticas e palavras de ordem também variavam, desde os que refutavam a ideia de pedir o impeachment da presidente até os que defendiam a intervenção militar. “Vamos parar com esse negócio de que só a elite está aqui. Sou negro e pobre e estou pedindo a saída da Dilma”, disse Fernando Silva, conhecido como Fernando Holiday, 18, que participou da manifestação na av. Paulista, em São Paulo.

Ele entrou para o MBL (Movimento Brasil Livre) após postar um vídeo na internet e ser chamado pelos rapazes do movimento. Filho de ex-funcionária pública aposentada e pai “desparecido”, mora em Carapicuíba. Estudou em escola pública toda a vida e agora ainda decide qual faculdade cursará. Ganhou bolsa na PUC para cursar filosofia, mas não gostou. “Existe um sentimento de que só os ricos querem ela fora. Mas muitos pobres querem. O povo quer”, disse à *Folha*. O pernambucano Antonio Pereira e Silva, 62, foi ao protesto na avenida Paulista de metrô após sair do bairro de Artur Alvim, onde mora na Cohab 1, na zona leste de São Paulo.

Ele refuta a tese de que apenas membros da classe média e da elite estejam insatisfeitos com a presidente Dilma Rousseff (PT). “Eu não ganhei nada para vir aqui. Eu e o país estamos a favor do impeachment”, disse. Corretor de imóveis, Pereira e Silva conta que, no bairro dele, não ouviu panelaço contra o discurso da presidente, no último domingo. “Mas eu aplaudi a reação de protesto em São Paulo”, observou.
(…)

Do diretor de Redação de VEJA, Eurípedes Alcântara: “FORA PT!”
Um manifestante usa máscara do ex-presidente Lula com nariz de Pinóquio durante a gigantesca manifestação na avenida Paulista (Foto: Bruno Santos/VEJA.com)

Um manifestante usa máscara do ex-presidente Lula com nariz de Pinóquio durante a gigantesca manifestação na avenida Paulista (Foto: Bruno Santos/VEJA.com)

É bobagem tentar esconder a verdade. O grito que uniu os brasileiros que foram às ruas nesse histórico domingo foi a condenação ao “lulopetismo”

Por Eurípedes Alcântara, diretor de Redação de VEJA

“Quanto a mim, fico com São Paulo, pois para lá se transportou a alma cívica da Nação”.

Com essa frase e sua atuação na Revolução de 1932 o mineiro Arthur Bernardes, que presidiu o Brasil entre 1922 e 1926, se redimiu perante muitos de seus desafetos da justa fama de repressor e reacionário.

Neste domingo, dia 15 de março de 2015, a alma cívica da Nação se transportou para São Paulo, onde se encarnou nos mais de 1 milhão de pessoas que, juntas na Avenida Paulista, fizeram a maior manifestação política da história da cidade e do Brasil.

Há trinta anos, nesse mesmo dia 15, acabava oficialmente o regime militar de 21 anos de duração. Ao protesto na Avenida Paulista se somaram outros em todos os Estados brasileiros. No final do dia, mais de 1,4 milhão de brasileiros tinham saído às ruas para protestar contra o PT, o partido que há doze anos detém o poder em Brasília.

“Fora PT” foi o grito que uniu a maioria absoluta dos manifestantes. E o “Fora Dilma” ? Foi a palavra de ordem circunstancial. Dilma é a presidente e sobre ela recaíram as culpas imediatas da falência moral, ética e, agora, política do “lulopetismo”.

A alma cívica vista nas caras-pintadas e nas roupas verde-amarelas do domingo, dia 15, foi a evidência que faltava – se é que faltava – de que venceu o prazo de validade do PT. O “lulopetismo” será lembrado na história apenas como mais uma das inúmeras e dolorosas ilusões populistas que acabam quando acaba a riqueza dos outros.

Essas experiências ignoram que em comparação com o desafio de produzir riqueza, distribuir a riqueza já produzida é um piquenique no parque. Produzir riqueza é complexo. Não se faz com conversa fiada, com marqueteiro talentoso. Não se faz no palanque.

A escassez é um dado da vida humana desde a bíblica expulsão do paraíso. Todos os simulacros de socialismo, como é o caso do lulopetismo, acabaram pela incapacidade crônica de vencer a escassez. A presidente Dilma disse há dias que a situação de penúria atual do Brasil se deve ao fato de que “nós esgotamos todos os nossos recursos de combater a crise que começou lá em 2009″.

Nós quem, cara-pálida? A administração ruinosa do PT esgotou os recursos. Dito de outra maneira, a presidente afirmou o que o mundo inteiro já descobriu sobre ela e seu partido: suas políticas se esgotam quando esgotam os recursos criados por outros.

Quem são os outros? São os brasileiros que foram às ruas neste domingo, dia 15. São os brasileiros que trabalham e entregam na forma de impostos, taxas e contribuições tudo que ganham nos primeiros cinco meses do ano ao governo e só depois trabalham para si próprios e suas famílias e, assim, conseguir pagar por todos os serviços que o governo não entrega: segurança, saúde, educação.

As formas de produção de riqueza com que o Brasil conta hoje já existiam antes da chegada do lulopetismo ao poder. Doze anos depois, todas essas fontes de riqueza ou estão quebradas ou fortemente abaladas pelo abuso sofrido pela gestão ruinosa e a corrupção endêmica do período.

A corrupção institucionalizada na Petrobras no governo Lula custou 6 bilhões de dólares. Pois a Petrobras foi sangrada em 60 bilhões de dólares por ter sido obrigada por Dilma a subsidiar os combustíveis e, assim, não pressionar a inflação.

Subsidiar combustíveis é distribuir riqueza? Sim. Mas os governos que sabem produzir riqueza controlam a inflação de outra maneira e, assim, evitam tirar riqueza que distribuem de uma empresa com milhões de acionistas privados – entre eles milhões de brasileiros que foram levados pelo governo a comprar ações da estatal do petróleo.

​Governos que não sabem produzir riqueza colocam a culpa de sua própria incompetência em crises externas – e quando o ambiente externo é favorável, como foi nos oito anos de Lula, fingem que as coisas estão dando certo por que são sábios. Embromação.

Com Lula ou sem Lula teriam entrado no Brasil os mesmos 100 bilhões de dólares a mais pelo mesmo volume de ferro e soja exportados, o que se verificou pelo aumento do preço internacional dessas mercadorias.

Lula, Chávez, Dilma, Cristina Kirchner sofrem da mesma incapacidade de gestão. Não sabem como criar um ambiente de negócios que incentive a produção de riquezas. São ignorantes nesse tema. Portanto, enquanto as pessoas não puderem se alimentar de vento e luz, sempre que o dinheiro dos outros acabar, acabam os lulopetismos.

Dá para entender por que a alma cívica da nação gritou a todos pulmões, com mais força ainda na avenida Paulista: “Fora PT!”​

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