Kátia Abreu chega ao fundo do poço: comunismo ruralista?, por RODRIGO CONSTANTINO

Publicado em 14/07/2015 08:51
EM VEJA.COM

Kátia Abreu chega ao fundo do poço: comunismo ruralista?

Reproduzo aqui o comentário da própria Veja, sem nada a acrescentar, pois meus leitores mais antigos saberão o que penso dessa “metamorfose” da senadora Kátia Abreu:

Poucas figuras da política brasileira passaram por uma metamorfose tão intensa quanto a atual ministra da Agricultura, Kátia Abreu. Há apenas cinco anos, ela venceu uma eleição para o Senado com um discurso de confronto direto com o governo petista. Em 2011, entretanto, deixou o DEM para se filiar ao PSD. Prometeu que não mudaria de posição política. Mas rapidamente o discurso se mostrou falso. Kátia Abreu se aproximou tanto de Dilma Rousseff que ganhou o cargo de ministra da Agricultura. Agora, em viagem à Rússia, ela deu mostras de que a guinada ideológica (ou pelo menos estética) é ainda mais radical. A figura símbolo da bancada ruralista fez questão de exibir uma foto com o gorro típico dos líderes soviéticos. A imagem faz parte de um “ensaio” postado pela ministra em sua página no Twitter, e que também inclui poses com a famosa Catedral de São Basílio ao fundo. (Gabriel Castro, de Brasília)

O que dizer? Da líder da bancara ruralista contra o MST à aliada empolgada de um governo bolivariano! Só falta Kátia Abreu posar abraçada ao Stalin, digo, Stédile, do próprio MST. A foto com o símbolo comunista é uma afronta a todos que já confiaram na senadora antes. Será que ela tem noção do que fez o comunismo com os pequenos e grandes proprietários de terra? Conhece a história dos kulaks na União Soviética? Sabe o que Pol-Pot fez no Camboja?

Não há dúvidas: Kátia Abreu chegou ao fundo do poço. Só desce mais se encontrar algum alçapão por lá…

Rodrigo Constantino

Conselhos para a Grécia, sob medida para o Brasil

Você está sentado em casa, lendo este blog, pensando em como o mundo vai mal.

O Brasil já está no buraco; a Grécia, prestes a sair do euro.Guy Verhofstadt

Você está chateado com o nível do debate econômico, com o fato de ainda haver governantes que acreditam que dinheiro é questão de “vontade política”, e não de balanço: arrecadação de um lado, custeio e investimentos de outro.

Você está desesperançoso com o Brasil, com a idiotização da política — no Governo e na oposição — e com a qualidade da nossa House of Cunha.

Aí, este blog — que você nem curte tanto, e só lê mesmo por dever profissional — te traz esse vídeo do Guy Verhofstadt, um deputado no Parlamento Europeu que foi primeiro-ministro da Bélgica entre 1999 e 2008.

O senhor Verhofstadt está falando no Parlamento, tendo como audiência, além de seus nobres colegas, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras, o homem que foi eleito prometendo dias melhores e, incapaz de produzi-los por decreto, dobrou a aposta, chamando um referendo em que os cidadãos gregos disseram o que qualquer criança (ateniense ou espartana) diria: “Não, papai, eu não quero austeridade, mas eu quero ficar no euro.”

E é aí que você – lanterna de Diógenes na mão — descobre que encontrou no senhor Verhofstadt um homem que fala verdades.

Verdades sobre a Grécia que são igualmente válidas no Brasil, mas que nenhum partido aqui conseguiu (ainda) comunicar como visão, proposta e projeto de poder.

Verdades que nos aproximariam — sim, porque nada é garantido — de retomar a estabilidade do real, reduzir a inflação, e poder pensar em ressuscitar este Lázaro, o PIB.

O senhor Verhofstadt está agitado: o sangue flamengo lhe tinge a tez, e a jugular palpita. Você vê que é um homem apaixonado pelas ideias que defende.

Ele mira Tsipras e diz coisas como: “Acabe com o clientelismo no seu país: os privilégios dos armadores, dos militares, da Igreja Ortodoxa Grega… os privilégios das ilhas, e – não nos esqueçamos – o privilégio dos partidos partidos, que recebem dinheiro e empréstimos todo dia dos bancos públicos, que na verdade estão quebrados”.

Você o ouve reclamar, na cara de Tspiras, que “algumas semanas atrás, 13 cargos de diretores tiveram que ser preenchidos no Ministério da Educação, e, por acidente, doze deles eram do Syriza, seu partido, e só um deles tinha filiação partidária desconhecida. O senhor está usando o sistema! O senhor está caindo na armadilha.”

E, em mais uma admoestação que lhe parece absurdamente familiar, você ouve o deputado dizer, quase à beira de um derrame: “O senhor tem que reduzir o setor público. Eu sei: é difícilpara um homem de esquerda, mas TEM QUE SER feito, porque… 800 mil funcionários públicos?? Isso não funciona!”

Aí você se acomoda na cadeira, relaxa, e deixa alguém no mundo falar as verdades econômicas que são, ao fim e ao cabo, apenas uma questão de bom senso.

****

SPOILER ALERT:  O discurso termina com a seguinte conclamação.

“Como o senhor quer ser lembrado? Como um ‘acidente eleitoral’, que fez o povo do seu país ficar mais pobre??  Ou o senhor quer ser lembrado, sr. Tsipras, como um reformista real e revolucionário, na tradição de Venizélos, o grande líder do período entre guerras que modernizou o seu país, um liberal que modernizou o Estado? Essa é a escolha que o senhor tem que fazer! Oitenta por cento do seu povo querem ficar no euro. Mostre que o senhor é um líder de verdade, e não um falso profeta. Aja!”

 

Por Geraldo Samor

 

Desigualdade gera inflação?

A nota de 100 trilhões de dólares, do Zimbábue: inflação irresistível

A nota de 100 trilhões de dólares, do Zimbábue: inflação irresistível

Já se sabe há um bom tempo que a inflação aumenta a desigualdade, mas seria possível afirmar também o contrário, que desigualdade gera inflação?

Os economistas Roel Beetsma e Frederick van der Ploeg, da Universidade de Amsterdã, acham que sim. Para eles, em democracias pobres e desiguais, o governo tende a relaxar o controle da inflação para bancar políticas populistas.

Dado que em uma sociedade desigual a maior parte dos títulos do governo está na mão de poucas pessoas ricas, e dado que o partido eleito representa os interesses do eleitor médio, que é pobre, as políticas monetárias e fiscais vão beneficiar (pelo menos no curto prazo) esse eleitor. O ônus fica com o eleitor rico que vê suas economias serem corroídas pela inflação.

Do mesmo modo, países onde o eleitorado é mais jovem tendem a ter inflação mais alta, para prejuízo dos mais velhos e ricos.

“O partido no poder perceberá que é do interesse de sua clientela (o eleitor médio) impor o imposto inflacionário numa tentativa de tirar dos ricos para diminuir os impostos de todos. Portando, uma má distribuição de riqueza traz as sementes da inflação alta”, dizem os dois economistas.

A teoria parece precisar de ressalvas – muito economista diz, por exemplo, que a inflação prejudica muito mais os pobres ou pequenos investidores, que não conseguem se proteger tão bem da inflação quanto os ricos. Mas talvez a ideia ajude a explicar por que, na América Latina, o monstro da inflação sempre renasce.

(por Leandro Narloch) @lnarloch

 

Eletrolão abasteceu os cofres do PT em ano eleitoral, por exigência de ‘Homem da Dilma’ e Vaccari, segundo Pessoa

Dilma VEJA

O Eletrolão chegou para animar o fim de semana!

Eis um trecho da reportagem da VEJA (com grifos meus):

“VEJA teve acesso a mais um testemunho de que propina cobrada em troca de contratos – desta vez, no setor elétrico, a menina dos olhos de Dilma – abasteceu os cofres do PT em pleno ano eleitoral.

Os operadores da transação criminosa foram o onipresenteJoão Vaccari Neto, então tesoureiro do partido, e Valter Luiz Cardeal, diretor da Eletrobras, o ‘homem da Dilma’na estatal e um dos poucos quadros da administração com livre acesso ao gabinete presidencial.

O relato desse novo caso de desvio de verba pública para financiar o projeto de poder petista consta do acordo de delação premiada firmado entre o engenheiro Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, e o Ministério Público Federal.

Num de seus depoimentos, Pessoa contou que em setembro do ano passado o consórcio Una 3 – formado por Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa e UTC Engenharia – fechou um contrato para tocar parte das obras da Usina de Angra 3.

A assinatura do contrato, estimado em 2,9 bilhões de reais, foi precedida de uma intensa negociação.

A Eletrobras pediu um desconto de 10% no valor cobrado pelo consórcio, que aceitou um abatimento de 6%. A diferença não resultou em economia para os cofres públicos. Pelo contrário, aguçou o apetite dos petistas.

Tão logo formalizado o desconto de 6%, Cardeal chamou executivos do consórcio Una 3 para uma conversa que fugiu aos esperados padrões técnicos do setor elétrico. Faltava pouco para o primeiro turno da sucessão presidencial.

O ‘homem da Dilma’ foi curto e grosso: as empresas deveriam doar ao PT a diferença entre o desconto pedido pela Eletrobras e o desconto aceito por elas. A máquina pública era mais uma vez usada para bancar o partido em mais um engenhoso ardil para esconder a fraude.

A conversa de Cardeal foi com Walmir Pinheiro, diretor financeiro da empresa, escalado para tratar dos detalhes da operação. Depois dela, Vaccari telefonou para o próprio Ricardo Pessoa e cobrou o ‘pixuleco’.

‘Quando soube que a UTC havia assinado Angra 3, João Vaccari imediatamente procurou para questionar a parte que seria destinada ao PT – o que foi feito pela empresa’, relatou o empreiteiro.

Aos investigadores, Pessoa fez questão de ressaltar que, segundo seu executivo, foi Cardeal quem alertou Vaccari sobre a diferença de 4 pontos percentuais entre o desconto pedido pela Eletrobras e o concedido pelas construtoras. Perguntado sobre o que sabia a respeito de Cardeal, Pessoa afirmou:

‘É pessoa próxima da senhora presidenta da República, Dilma Rousseff’.”

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

 

“Politização” é mascarar golpes para evitar queda de Dilma Rousseff. Cúmplices: TCU, TSE, PMDB, oposição e jornais

129_2111-dilmamasO noticiário desta sexta-feira mostra a podridão do Brasil naquilo que conta e naquilo que omite.

TCU, TSE, PMDB, oposição e portais de notícias parecem unidos na tentativa de aliviar a barra de Dilma Rousseff para evitar a sua queda.

Os portais dos principais jornais do país ignoram a reunião clandestina de Dilma com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, em Portugal, para melar a Operação Lava Jato, o julgamento das pedaladas fiscais no TCU (o advogado administrativo de Dilma, Luís Inácio Adams, já disse que poderá recorrer ao Supremo em caso de derrota do governo) e o impeachment.

A oposição – até 3 horas da tarde – não se pronunciou a respeito, em mais uma prova de cumplicidade, seja ela movida por lassidão, indiferença, lerdeza, ideologia, medo do STF ou alívio com o golpe que a exime de assumir o país.

Seis dos nove ministros do TCU – Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro, Benjamin Zymler, José Múcio, Bruno Dantas e Vital do Rêgo – se reuniram na quarta-feira para combinar a estratégia de defesa de Dilma, segundo O Globo, “preocupados com a politização do julgamento, diante da possibilidade de verem a decisão ser usada para embasar um pedido de impeachment da presidente”. Nenhum deles se pronunciou sobre a “politização” da Justiça na reunião clandestina na cidade do Porto. Nenhum vai admitir que “politização” é mascarar golpes para evitar a queda de Dilma Rousseff.

Monica Bergamo, em mais uma coluna de vitimização do PT, reproduziu as “palavras de um magistrado considerado crítico ao governo”, para quem uma decisão “tão drástica” como a cassação de Dilma no TSE, “tomada por um colegiado de apenas sete juízes”, poderia ser encarada como um “golpe paraguaio”. Sobre o “golpe paraguaio” cometido por Dilma e Lewandowski em Portugal, duvido que a coluna fale amanhã, a não ser que traga mais um magistrado anônimo (ou José Eduardo Cardozo, tanto faz) para minimizá-lo, acusando a oposição de teorias conspiratórias.

Já o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse na quinta-feira que “o PMDB, a cada dia que passa, está mais distante do PT e nós esperamos que fique a cada hora mais distante e, de preferência, não volte mais a estar junto com o PT”, mas a revista Época, embora informe que peemedebistas extraordinariamente “hesitam em assumir cargos no enfraquecido governo de Dilma”, sentencia também que o PMDB vai deixar a petista sangrando até 2018.

Em outras palavras: pelos mais variados motivos, PMDB, oposição, jornais e certos ministros do TCU e do TSE se unem, na prática, para deixar Dilma impune, enquanto o Brasil fica sangrando por mais três anos.

O país apodrece avermelhado.

16 de agosto

Nem de seus cúmplices

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

 

 

Coordenadas do impeachment, por DEMÉTRIO MAGNOLI,  da FOLHA DE S. PAULO

 

A determinação da posição geográfica solicita duas coordenadas. A decisão do impeachment, três: a vontade popular, o fato jurídico e um consenso da elite política. A primeira existe desde as manifestações de 15 de março. A segunda esboçou-se mais tarde, com a impugnação das "pedaladas fiscais" e, sob outra forma, com a delação premiada de Ricardo Pessoa. A terceira desenha-se aos poucos, como fruto do colapso do ajuste fiscal.

Dilma Rousseff pendurou o destino de seu governo no varal do sucesso de Joaquim Levy. O varal caiu. De uma promessa de superávit de 1,2% do PIB, não se fará mais que metade. A marcha batida do desemprego e da erosão dos salários pulverizou a legitimidade social da presidente. O empresariado queima as pontes com o Planalto. O PMDB ensaia saltar da nau que faz água. O fracasso de Levy é um dobre de finados. Todas as forças políticas reposicionam-se a partir desse diagnóstico, a começar do próprio governo.

Nos EUA, pela primeira vez, Dilma bombardeou a Lava Jato, sugerindo que os juízes, os procuradores e os delegados violam as leis da democracia, torturando os acusados para obter delações. É um giro retórico tão marcante quanto a reviravolta na política econômica. A presidente, que se gabava de patrocinar o combate à corrupção, incorporou as fórmulas discursivas dos porta-vozes informais de Lula na imprensa legítima e na "imprensa" chapa-branca financiada com dinheiro público.

A tática, filha do desespero, obedece a uma lógica. Diante do surgimento de fatos jurídicos que propiciam o impeachment, Dilma dá um passo à frente e apresenta-se como aliada de todos os que temem as investigações, especialmente Lula, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Contudo, como o Brasil não é a Venezuela, ninguém acredita que uma presidente desmoralizada tenha meios para cortar as pernas da Procuradoria e do Judiciário. Nessas circunstâncias, o expediente volta-se contra Dilma, expondo-a como parceira das máfias políticas que colonizaram a República.

Paralelamente, Tarso Genro articula com os "movimentos sociais" e setores do PSOL a formação de uma Frente de Esquerda. A iniciativa é uma resposta à crise do lulopetismo e à anunciada ruptura da aliança entre PT e PMDB. No cenário pós-Dilma, pretende funcionar como núcleo de reagrupamento político e oferecer uma plataforma eleitoral ao ex-presidente. Desde já, porém, ao reativar a campanha do "Fora, Levy!", a Frente de Esquerda tende a descosturar a teia frágil que ainda interliga o Planalto ao PT.

Lula, que ainda é um fator, perdeu o prumo e o rumo. Como biruta de aeroporto, depois de apostar no ajuste fiscal, ameaçou chamar o fantasmagórico "exército de Stedile", mas extinguiu a chama da revolta no Congresso do PT e, na sequência, estimulou o movimento da Frente de Esquerda, mas ensaiou uma reaproximação com o PMDB. Agora, conclama Dilma a entrar em guerra aberta com a Lava Jato e "encostar a cabeça no ombro do povo", senha óbvia para, sacrificando Levy, empreender um novo giro de política econômica. Se a presidente der ouvidos ao antigo mestre, engajando-se na aventura, precipitará o desenlace que tenta evitar.

O impeachment não está sendo feito pelos partidos de oposição, mas pela progressiva desconstrução da coalizão governista. O PSDB opera no compasso da prudência, oscilando entre os horizontes de um governo transitório de Michel Temer e do chamado a eleições presidenciais antecipadas. Paradoxalmente, a interrupção do mandato de Dilma pode revelar-se a saída menos desastrosa para Lula. Nessa hipótese, o ex-presidente e seus áulicos esperneariam em público, difundindo a lenda do "golpe das elites", mas festejariam à luz de velas. Sem as lições dos três anos de apodrecimento derradeiro, a história ficaria suficientemente inconclusa para oferecer uma chance de restauração ao lulopetismo. 

(por Demétrio Magnoli, na FOLHA)

Eletrolão seria a pá de cal do governo Dilma?

O engenheiro Valter Cardeal, diretor da Eletrobras e braço-direito da presidente no setor elétrico: conluio com o tesoureiro João Vaccari Neto em Angra 3(Alan Marques/Folha Imagem/VEJA)

Dizer que Dilma vive seu inferno astral não é o mais adequado, pois o termo remete aos astros, e os problemas de Dilma foram quase todos plantados pela própria presidente. Mas a expressão captura uma coisa verdadeira: Dilma enfrenta sua pior fase no poder, envolta em escândalos que se aproximam cada vez mais do Planalto e de sua campanha eleitoral, com problemas no TCU por suas “pedaladas fiscais” que ferem a Lei de Responsabilidade Fiscal, sem apoio no Congresso e rejeitada por quase toda a população brasileira.

Como se tudo isso não bastasse, temos agora o surgimento do “eletrolão”, após o mensalão e o petrolão. Reportagem da VEJA mostra como a estatal do setor elétrico também teria abastecido os cofres da campanha de Dilma com propinas. Segundo a delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, a negociação do contrato de construção da Usina de Angra 3 serviu para que Valter Luiz Cardeal, diretor da Eletrobras que tem livre acesso ao gabinete da presidente, cobrasse do consórcio de construtoras “doação” à campanha petista do ano passado.

Para piorar o quadro, do ponto de vista do PT, naturalmente, a presidente Dilma reage a tudo isso de forma intempestiva, isolada e arrogante. Falta ao PT o mínimo de coordenação na defesa, e falta à presidente que possui míseros 9% de aprovação o mínimo de humildade para colocar os pés no chão e dialogar com sua base “aliada” e também a oposição. Dilma prefere chamar de golpistas aqueles que desejam aplicar as leis e repete que não vai cair, em vez de tentar articular de forma mais inteligente com o próprio PMDB.

O Brasil agradece a falta de tarimba da presidente. Por mais traumático que seja um processo de impeachment, como tem feito questão de lembrar o ex-presidente Fernando Henrique, o fato é que o povo não aguenta mais o governo petista. Não há chance, também, de a crise econômica aliviar enquanto o PT estiver no poder. Os petistas simplesmente não têm condições, capacidade e desejo de reverter de verdade os rumos da economia. Eles acreditam na nova matriz macroeconômica!

Juntando tudo no liquidificador, aumentam muito as chances de Dilma não completar seu segundo mandato. Segundo Lauro Jardim, em sua coluna Radar, já há banqueiro afoito fazendo planos para os próximos anos sem o PT no governo, e gente do PMDB também afoita e avaliando qual seria o ministério de Michel Temer como presidente. A política nacional está agitada, e não bastará à Dilma repetir que não vai cair para preservar sua cabeça. O eletrolão pode ser a pá de cal de seu governo, a cereja que faltava no bolo. Uma foto de VEJA desta semana captura com perfeição a situação de Dilma:

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O discurso pode ser o de tranquilidade, mas a linguagem corporal mostra algo bem diferente: Dilma está tensa, sabe que pode cair a qualquer momento. Mas não há uma saída de emergência à sua disposição. Ou, por outra: ela terá de simplesmente pular, sem paraquedas. Sua única saída com algum resquício de dignidade seria a renúncia. Mas quem acredita que Dilma possa ter tal ato nobre em prol do país?

Rodrigo Constantino

 

Criar “margem de tolerância” para meta fiscal é subterfúgio de “ciclista esperto”

Dilma, a ciclista: cai ou não cai?

A equipe técnica do Ministério do Planejamento quer aproveitar a discussão sobre a revisão da meta de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) de 2015 para fazer um debate mais amplo sobre política fiscal. Fontes do governo informaram ao GLOBO que uma ideia defendida é a adoção de bandas para o resultado primário, algo parecido com o que existe hoje para a inflação. Na política monetária, o Banco Central (BC) persegue uma meta central, de 4,5%, mas há uma margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. É o que os economistas chamam de teto da meta. 

A banda fiscal seria uma forma de dar ao governo margem para acomodar choques na economia, sem ficar refém de um único número. 

— O debate precisa ir além de um novo número para o (superávit) primário. Ele deve ter uma discussão mais estrutural. É nisso que entra a questão das bandas — explicou a fonte.

Sei, como na meta de inflação, diz a fonte do governo? Então, vejamos: a meta de inflação brasileira é 4,5%, um patamar elevado para padrões internacionais. A banda de tolerância é de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo (risos), para absorver choques temporários, certo? E em quanto está nossa inflação acumulada em 12 meses? Ah, em 9%! O leitor poderia me ajudar na conta? É que não sou muito bom em matemática, não tive aula com Guido Mantega ou Alexandre Tombini.

Quanto dá 4,5 mais 2? Pedindo ajuda à minha calculadora, encontrei 6,5. Confere? E 9% é maior do que 6,5%, o teto da banda, não é verdade? Brincadeiras à parte, o que fica claro é que essa flexibilização da meta, tanto de inflação como fiscal, não passa de uma malandragem na mão de petistas. Eles sabem que vão passar a mirar, sempre, no topo da meta, no caso da inflação, e na base dela, no caso fiscal, sempre com a desculpa de que há uma crise internacional. Crise duradoura essa!

Gente séria pode até usar uma margem de tolerância para calibrar melhor as políticas monetária e fiscal, de acordo com a conjuntura. Isso, vale notar, se aplicaria no caso da bonança também, o que é extremamente raro. Ou seja, um governo cujo país passa por um boom na economia deveria aumentar a meta fiscal, para criar um colchão para os tempos mais difíceis à frente, e reduzir a meta de inflação, para não ser negligente e não ajudar a fomentar uma bolha. Quem realmente age assim?

Por isso falo de “keynesianos manetas”: eles sempre esquecem do conceito de contracíclico quando a economia está bem. Eles só puxam da cartola a necessidade de o governo agir contra o ciclo quando o ciclo é de baixa, e o governo precisa gastar mais e imprimir mais moeda e dar mais crédito. O keynesianismo, nas mãos de gente pouco séria, é um convite a sempre gastar mais e produzir inflação. Ninguém vê o Paul Krugman escrevendo textos estridentes contra o gasto público elevado em tempos de bonança!

O que o PT quer, portanto, não é ser mais realista e trabalhar de forma séria com uma margem de tolerância, e sim um subterfúgio para suas “pedaladas fiscais”. É uma esperteza de “ciclistas” acostumados a “pedalar” para fugir da Lei de Responsabilidade Fiscal. Ser mais flexível, para essa gente, significa simplesmente não cumprir a meta. É o que fazem melhor na vida.

O problema é que o excesso de malandragem e esperteza costuma ter um efeito bumerangue, e agora a “ciclista” corre o risco de ver o TCU rejeitar suas contas, o que configuraria o rompimento com a Lei de Responsabilidade Fiscal, que pode levar até mesmo ao seu impedimento. Ciclista malandro pode acabar caindo…

Rodrigo Constantino

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