"Menino do MEP" aparece, e Lula não vai processar Benjamin

Publicado em 28/11/2009 07:12 e atualizado em 10/03/2020 15:39
fio_sep_horizontal_3px.gif

“Loucura, psicopatia”, reage o Planalto, mas Lula não vai processar Benjamin

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria classificado de “loucura” a afirmação de César Benjamin, segundo quem o agora presidente confessou a um grupo de pessoas, do qual fazia parte Benjamin, que tentara violar um jovem na cadeia, o que só não teria se consumado porque o “menino do MEP” resistiu bravamente, com chutes e cotoveladas.

Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, classificou a acusação de “coisa de psicopata”. Mas Lula não vai processar Benjamin: “Vamos nos sujar se fizermos isso”.

Bem, então tá. Benjamin diz, vejam post anterior, que outras pessoas presenciaram a confissão. É grave o que ele escreve? É, pouco importa o ângulo pelo qual se olhe a coisa, e certamente causará surpresa a muitos que Lula não queira levá-lo aos tribunais.

Se Benjamin fala a verdade, estamos diante de um caso flagrante de contradição entre a pregação de um afigura pública e suas práticas de vida, especialmente num caso em que sua potencial vítima tinha chances reduzidas de defesa. Se o articulista mente, o agravo precisa ser reparado. Afinal, Lula não é um homem qualquer. É o presidente da República, o “filho do Brasil”.

Tal postura corre o risco de alimentar aquela máxima de que “quem cala consente”.

A NOTA DE PAULO DE TARSO, O DONO DA MATISSE

Num papel impresso da agência Matisse, uma das mais bem-aquinhoadas com verba publicitária pela Secretaria de Comunicação, chefiada por Franklin Martins, o publicitário Paulo de Tarso Santos divulgou a seguinte nota sobre o artigo escrito por César Benjamin (os grifos são meus). Comento em seguida:

São Paulo, 27 de novembro de 2009. Aos profissionais da imprensa.

A respeito do artigo publicado na Folha de São Paulo, nesta quinta-feira, dia 27 de novembro, sob o título “Os filhos do Brasil” (pg. A8), de autoria do cientista político César Benjamin, onde sou citado nominalmente como participante de um almoço acontecido durante a campanha de 1994, com a presença do atual Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, e outros interlocutores, gostaria de me manifestar publicamente para que não pairem dúvidas sobre a minha versão do acontecido:

1- O almoço a que se refere o artigo de fato ocorreu. O publicitário americano mencionado se chamava Erick Ekwall e nos tinha sido recomendado pelo empresário Oded Grajew.

2- Eu, Paulo de Tarso, então responsável pela campanha publicitária do atual Presidente, não me recordo da presença de César Benjamin nesse almoço - embora ele trabalhasse conosco na campanha.

3- Confirmo a informalidade do almoço, mas absolutamente não confirmo qualquer menção sobre os temas tratados no artigo.

4- Não compreendo qual a intenção do articulista em narrar os fatos como narrou (como disse, sequer me lembro de sua presença na mesa).

5- Não concordo com o conceito do que foi escrito - um ataque particular à figura do Presidente da República que, na minha opinião como cidadão, independente de quem seja, deve receber o respeito da sociedade brasileira como representante maior das instituições democráticas.

Sem mais.
Atenciosamente,
Paulo de Tarso da Cunha Santos.

Comento
Parece, não estou dizendo que seja, uma nota lida com lupa por advogados. A língua dispõe de dois recursos de uma absurda simplicidade para se referir à realidade: um é o  “sim”; o outro é o “não”. Mas tenho alguns queridos amigos advogados que já me instruíram sobre todos os matizes — e “matisses” (perdão! Não resisti) — do “mais ou menos”.

Leio, releio e leio de novo a nota de Paulo de Tarso Santos e não consigo encontrar ali uma cosa simples e sem ambigüidade como: “É mentira! Isso não aconteceu”. Leiam e releiam vocês mesmos.

E, com isso, não estou dizendo, evidentemente, que asseguro que Benjamin esteja dizendo a verdade. Eu não! Paulo de Tarso, que estava lá, não consegue dizer que ele mente, por que eu, que não estava, vou assegurar que ele fala a verdade, não é mesmo?

“Não confirmar” alguma coisa, em juridiquês, é diferente de “negar”. Pesquisem os seus doutores. Paulo de Tarso também apela a um eventual apagão da memória: não se lembra de Benjamin àquela mesa e diz não compreender a sua narrativa “como narrou”.

O item 5 me deixou encafifado. Releiam:
Não concordo com o conceito do que foi escrito - um ataque particular à figura do Presidente da República que, na minha opinião como cidadão, independente de quem seja, deve receber o respeito da sociedade brasileira como representante maior das instituições democráticas.

Sem entrar no mérito da história, digo eu que não entendo esse “Item 5″. O que quer dizer “não concordar com o conceito”?

PS - Bem que Paulo de Tarso poderia ter-se dispensado de divulgar a sua nota num papel impresso da Matisse. Se o fizesse, teria sido em benefício do próprio Lula e de si mesmo.

O QUE É “MEP” E UM NOME FAMOSO DO GRUPO

Por causa do tal “Menino do MEP”, leitores perguntam: “Mas que diabo é MEP?” É a sigla do Movimento de Emancipação do Proletariado, tendência criada em 1976 e que se queria a “fração bolchevique da Polop”. A Polop era a sigla de “Política Operária”, um grupo bastante presente nas universidades desde o começo dos anos 60, que se  fragmentou em vários outros. A militância do MEP era constituída, sobretudo, de jovens de classe média, que nunca tinham visto o chão de fábrica. Boa parte só foi conhecer a classe operária na cadeia. Um político ligado ao MEP que ganhou projeção nacional e teve um fim trágico foi Celso Daniel, prefeito de Santo André, assassinado no dia 18 de janeiro de 2002.

O “MENINO DO MEP” FALA EM “MAR DE LAMA”

Fotos Niels Andreas/AE e Reprodução

O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?
Benjamin e Lula, em 1980, quando foi fichado: o “menino do MEP” seria João Batista dos Santos

A um mês da estréia de Lula, o Filho do Brasil, surge um depoimento que contrasta fortemente com o filme de contornos hagiográficos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na sexta-feira passada, o jornal Folha de S.Paulo publicou um artigo que deixou de olhos arregalados todos os que o leram. Intitulado “Os filhos do Brasil”, o texto é assinado por César Benjamin, um dos mais célebres militantes da esquerda brasileira.
(…)
[Lula] passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos trinta dias em que ficara detido. Chamava-o de ‘menino do MEP’
(…)
Por liderar greves no ABC paulista, Lula passou 31 dias preso no Dops, em São Paulo, em 1980, com outros sindicalistas. VEJA ouviu cinco de seus ex-companheiros de cela. Nenhum deles forneceu qualquer elemento que confirme a história de Benjamin. Eles se recordam, porém, de que havia na mesma cela um militante do Movimento de Emancipação do Proletariado (MEP). “Tinha um rapaz com a gente que se dizia do MEP. Tinha uns 30 anos, era magro, moreno claro. Eu não o conhecia do movimento sindical”, diz José Cicote, ex-deputado federal. “Quem estava lá e não era muito do nosso grupo era um tal João”, lembra Djalma Bom, ex-vice-prefeito de São Bernardo do Campo. “Eu me lembro do João: além de sindicalista, ele era do MEP mesmo”, conta Expedito Soares, ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O João em questão é João Batista dos Santos, ex-metalúrgico que morou e militou em São Bernardo. Há cerca de três anos, ganhou uma indenização da Comissão de Anistia e foi viver em Caraguatatuba, no Litoral Norte de São Paulo. Por meio do amigo Manoel Anísio Gomes, João declarou a VEJA: “Isso tudo é um mar de lama. Não vou falar com a imprensa. Quem fez a acusação que a comprove”.

CONVERSA DE LULA COM CESINHA, CONFIRMA A FALA SOBRE “MENINO DO MEP”, MAS DIZ QUE ERA TUDO BRINCADEIRA… sábado, 28 de novembro de 2009 | 5:47

Leiam estas duas notas que estão na coluna de Mônica Bergamo, na Folha deste sábado. Volto em seguida:

COMPLICADO
O cineasta Silvio Tendler diz ser ele o “publicitário brasileiro” de quem o editor César Benjamin afirma não se lembrar no artigo publicado ontem na Folha sobre a campanha de Lula em 1994. Nele, Benjamin relata conversa em que Lula teria revelado como tentou subjugar um preso nos 30 dias em que esteve detido, na época da ditadura militar. “Aquilo foi uma brincadeira, uma piada que ele tenta transformar em drama”, diz Tendler. “Se o cara [Benjamin] não consegue entender piadas, é complicado. Ele deveria ganhar o troféu de loira do ano.”

TREZENTAS
Tendler diz que a conversa era “uma brincadeira como outras 300″ que Lula fazia todos os dias. “Não tinha nada do tom dramático que ele [Benjamin] quer dar. O cara deve estar muito ressentido para sacar isso com 30 anos de atraso.”

Comento
Bem, parte da nota do publicitário Paulo de Tarso Santos já perdeu sentido, então. Ele disse que não se lembrava de Cesinha na reunião. Tendler, como percebemos, lembra perfeitamente. Aliás, sua memória faz inveja aos elefantes. Embora tudo não passasse de uma “piada”, ele jamais se esqueceu.

O cineasta está de parabéns. As piadas que me contam abandonam o meu cérebro em, no máximo, 10 minutos. Ele é capaz de retê-las na memória por 30 anos! É o que eu chamaria de uma piada verdadeiramente marcante. Com efeito, sua memória parece melhor que a de Paulo de Tarso.

Pergunta: na opinião de vocês, Lula melhorou o gosto por piadas? Um sujeito afirmar que tentou sodomizar um outro é engraçado? Tendler deu risada?

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário