O lulismo como abrigo e reciclagem da barbárie

Publicado em 27/09/2010 18:01 e atualizado em 27/02/2020 21:28

O lulismo como abrigo e reciclagem da barbárie

O lulismo é hoje o abrigo preferencial da barbárie política. Salafrários de todo o Brasil descobriam que a melhor maneira de manter seus esquemas de poder ou, se for o caso, de substituir velhas oligarquias locais por novas é unir-se à alastrante base de apoio ao presidente. A “democracia dos consumidores”, que a tantos encanta, convive com formas tradicionalíssimas de violência política, que, não obstante, falam agora uma linguagem militante e cidadã.

Talvez nem se trate de uma “convivência”. A chamada “democratização do consumo” se tornou o redutor da política: ela tudo justificaria; em seu nome, todas as práticas passariam a ser, se não exatamente admitidas, ao menos toleradas; quando não toleradas, provocam uma reação de repulsa bem abaixo daquela que seria razoável.

Vejam o que se passa no Tocantins e no Amapá, para citar dois casos. As figuras engolfadas por escândalos cabeludos contam com o apoio entusiasmado do presidente da República. Ele não pode, sei disto, ser pessoalmente responsabilizado pelos crimes cometidos por seus aliados, mas os eventos expõem com clareza insofismável a qualidade das alianças locais do lulo-petismo.

Ah, não! Não foi este governo que inventou o atraso; de jeito nenhum! De certo modo, ele próprio é expressão de muitas e antigas misérias morais. Mas é inegável que estava em curso um processo de civilização da política— até mesmo daquelas elites regionais antes chamadas “tradicionais”. Isso se perdeu.  Ou alguns “tradicionalistas” voltaram a suas práticas de sempre ou foram tragados por adversários que conseguiram ser ainda mais truculentos, mas agora com as bênçãos do Babalorixá de Banânia.

Sabem onde Lula fez um de seus discursos mais violentos contra a imprensa? No Tocantins, de seu aliado Carlos Gaguim, este mesmo envolvido num, se me permitem, “escândalo escandaloso” e capaz de mobilizar soldados armados para impedir uma revista de circular.

No dia 21, durante inauguração de um trecho da Ferrovia Norte-Sul, afirmou Lula:
“O que eles [a imprensa] não percebem é que o povo não é mais massa de manobra como há 30 anos. Eles não podem colocar alguém para mentir e achar que o povo vai acreditar. Quando falam mal, e eu estou errado, dou a mão à palmatória. Porque acho que a liberdade de imprensa é uma coisa sagrada para fortalecer a democracia. Mas liberdade de imprensa não quer dizer que você pode inventar o dia inteiro. Não pode inventar”.

Está claro que, para o presidente, a imprensa tem a sagrada liberdade de elogiá-lo ou, no limite, de fazer as críticas que ele próprio reconhece como justas. No Tocantins, o PT integra a coligação de Gaguim, chamada ironicamente de “Força do Povo”. O governador, ao tentar impedir, com fuzis, a distribuição da revista VEJA, estava apenas dando dimensão prática à retórica do chefe.

O notável é que Lula pode ir a cada um desses rincões do atraso e da truculência política e fazer um discurso inflamado contra as elites, os donos do poder, os que não respeitam a vontade do povo etc. A “nova era democrática” apontada pelos “intelequituais” petistas condena o Brasil ao velho atraso.

Por Reinaldo Azevedo

Se lógica fosse capim… Ou: a fonte do bestialógico

Quando chegar a hora de fazer o Febeapá do governo Lula, o Ipea será uma fonte inesgotável do bestialógico nacional. Transcrevo, em azul, um post do blogA Mão Visível, do economista Alexandre Schwartsman. Comento em seguida:

Depois querem que a gente leva a sério

11:00 IPEA: DESEMPREGADOS ESTÃO MAIS OTIMISTAS DO QUE OS EMPREGADOS
São Paulo, 27 - As pessoas sem emprego estão mais otimistas com a situação financeira da família do que as pessoas empregadas. A informação consta da segunda edição do Índice de Expectativa das Famílias (IEF), que será divulgado hoje, às 11 horas, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em São Paulo. Os dados do IEF que serão anunciados refletem a expectativa de todos os não empregados, grupo que inclui os aposentados. Outro item da pesquisa que deverá ser apresentada pelo presidente do instituto, Márcio Pochmann, é a segurança de que o chefe do domicílio se manterá no emprego. Mais um dado incluído na segunda edição do indicador é a expectativa da situação financeira da família, segundo a percepção do grau de endividamento.
(Francisco Carlos de Assis)

Comentário
Faz todo sentido: quem está desempregado pode se empregar; quem está empregado só pode perder o emprego. O pessoal do Ipea sempre acha coisas interessantes…

P.S. Sugestão do Pai Alex: deveríamos iniciar uma política de incentivo ao desemprego, para melhorar ainda mais o otimismo com o país.

Voltei
Dizer o quê? Se lógica fosse capim, essa gente faria questão de andar apenas sobre as patas traseiras… Não sei se fui muito sutil.

Por Reinaldo Azevedo

Por Robson Bonin, no Portal G1:
Emiliano Aguiar, advogado do ex-assessor da Casa Civil Vinícius Castro, afirmou nesta segunda-feira (27) que seu cliente irá ajudar nas investigações a respeito do suposto esquema de tráfico de influência no governo federal. “A postura é sempre de colaborar. No momento oportuno eles vão prestar os esclarecimentos que forem necessários”, disse ele ao G1.

A Polícia Federal transferiu para quarta-feira (29) o depoimento de Vinícius Castro e da mãe dele, Sônia. Segundo Aguiar, o adiamento ocorreu porque ele havia pedido acesso aos depoimentos que já haviam sido colhidos pela PF na semana passada, mas até sexta-feira (24) isso não havia ocorrido. Ele pediu então que a data fosse remarcada para que houvesse tempo de estudar o que já foi levantado.

A mãe de Vinicius deveria depor às 9h30 desta segunda-feira (27). Ela foi à Superintendência da PF, mas não conversou com os jornalistas. Vinicius deveria depor por volta de 14h30 do mesmo dia.

Nesta terça-feira (28), os agentes da PF pretendem ouvir Marco Antonio de Oliveira, o tio de Vinicius, que também teria envolvimento em supostas ações de tráfico de influência no governo.

Marco Antonio é irmão de Sônia, uma das donas da Capital Consultoria e Assessoria, empresa que seria responsável por intermediar contratos de empresas privadas com órgãos do governo federal a partir da suposta influência da ex-ministra-chefe da Casa Civil Erenice Guerra.

Semana passada
O empresário Fábio Baracat, também suspeito de envolvimento no suposto esquema, depôs na última quinta-feira (23) por cerca de sete horas na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Ele deixou o local sem falar com a imprensa.

Segundo uma reportagem da revista “Veja”, o empresário Fábio Baracat, apontado como dono da Via Net, participou de reuniões com a ministra Erenice Guerra intermediadas pelo filho dela, Israel Guerra. A Capital Consultoria e Assessoria pertence a Saulo Guerra, outro filho de Erenice, além de Sônia (mãe de Vinícius Castro). A finalidade dos encontros, segundo a publicação, era fechar um contrato de prestação de serviços entre a empresa e os Correios no valor de R$ 84 milhões.

Erenice Guerra pediu demissão no dia 14 de setembro, depois que denúncias feitas pela revista “Veja” e pelo jornal “Folha de S.Paulo” apontaram supostos casos de tráfico de influência praticados por seu filho dentro da Casa Civil.

A ex-ministra anunciou que iria processar a revista em razão das reportagens vinculando o nome dela com irregularidades. A Comissão de Ética da Presidência da República abriu processo para investigar a conduta de Erenice no caso.

Por Reinaldo Azevedo

A VEJA.com pôs no ar a íntegra da reportagem da VEJA que levou o governador do Tocantins, Carlos Gaguim (PMDB), a mobilizar policiais armados para impedir a revista de circular no Estado. Clique aqui

Por Reinaldo Azevedo

Na Folha Online:
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, fez críticas pesadas à decisão judicial que proibiu veículos de comunicação de publicar informações que relacionem o governador, Carlos Gaguim (PMDB), candidato à reeleição, com um suposto esquema de fraudes a licitações, investigado pelo Ministério Público de São Paulo.

Serra chamou a decisão de “estelionato eleitoral” e de “aberração” e vinculou a história com o PT. “É uma aberração completa que, na semana das eleições, um escândalo daquele tamanho, roubalheira de dinheiro público, eles consigam que seja proibida a divulgação na imprensa. Isso é estelionato eleitoral e de esquema político do PT.”

Serra afirmou também que é preciso fazer um esforço para derrubar essa decisão “equivocada de um juiz equivocado”.

As declarações de Serra foram dadas em evento realizado pela mulher do candidato, Mônica Serra, que pretendia mobilizar a militância feminina. Durante o evento, Serra também criticou a Adin (ação direta de inconstitucionalidade) proposta pelo PT no STF (Supremo Tribunal Federal) para derrubar a exigência da apresentação de um segundo documento para votar.

“O presidente da República sancionou isso meses atrás, todo o processo eleitoral se organizou para isso e o PT que mudar em cima da hora? É muito esquisito.”

Durante o discurso, Serra pediu uma dedicação especial à militância na conquista do voto de indecisos. Também participaram do evento o vice, Indio da Costa, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, o candidato Geraldo Alckmin entre outras autoridades.

Por Reinaldo Azevedo

O lulista Carlos Gaguim (PMDB), governador do Tocantins, que tenta permanecer no cargo, parece tartamudear também nas idéias. Sua coligação, ironicamente intitulada “Força do Povo”, recorreu à Justiça para impedir a imprensa de publicar notícias que o vinculem a um esquema de corrupção. Foi bem-sucedido (ver post abaixo). O desembargador José Liberato Costa Póvoa, que tem a mulher e a sogra empregadas no governo do estado e responde a um processo no Conselho Nacional de Justiça por venda de sentença, concedeu a liminar. Hoje de manhã, o mesmo Gaguim voltou à Justiça, desta vez para pedir a extinção da ação. Parece gagueira mental? É método.

Gaguim, agora, diz querer apenas impedir que os adversários utilizem as reportagens no horário eleitoral. Entendo. Continua, então, a pedir que a lei seja desrespeitada para se proteger. Inexiste censura prévia no horário eleitoral.

O notável nessa gente é que o cinismo passou a competir com a truculência. A família Sarney, que recorreu à Justiça para censurar o Estadão — e também foi bem-sucedida! — tem no patriarca, o José, um incansável defensor da “liberdade de imprensa”!!! Também os Sarneys pediram a extinção da ação contra o jornal, que preferiu que a questão seguisse para ter, ao fim de tudo, julgado o mérito.

Por Reinaldo Azevedo

Na terça-feira à noite veio a público um manifesto em defesa da democracia e da liberdade de imprensa, lido na quarta por um grupo de 250 pessoas em frente à Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. Cinco dias depois, enquanto escrevo, já chegam a quase 45 mil os signatários do documento. Raramente a sociedade civil se mobilizou com tanta força e presteza. O documento diz um sonoro “não” aos arroubos cesaristas do presidente da República, que tem atropelado com desassombro as leis e as instituições.

A imprensa independente é a grande inimiga dos muitos candidatos a déspota que se espalham pelo Brasil e seus esbirros no Judiciário, no Congresso e, infelizmente, no próprio jornalismo — “subjornalismo” ou “jornalismo de aluguel” seriam termos mais apropriados. Abaixo, há um vídeo que remete a eventos estarrecedores, próprios de uma ditadura. A rigor, o Estado do Tocantins vive hoje sob um regime de exceção, e um desembargador do Tribunal Regional Eleitoral pretende que os efeitos do regime discricionário que resolveu instituir tenham alcance nacional. Explico.

José Liberato Costa Póvoa concedeu uma liminar impedindo a imprensa do Tocantins de veicular qualquer notícia sobre uma investigação conduzida pelo Ministério Público de São Paulo que aponta o governador daquele Estado, Carlos Gaguim, e auxiliares como beneficiários de uma máfia que atua em vários estados. Não contente, estendeu a sua decisão ao jornal O Estado de S. Paulo, acrescentando o jornal, entáo, à lista de, pasmem! 83 veículos sob censura!

A VEJA desta semana traz uma reportagem sobre as lambanças atribuídas a Gaguim, que disputa a “reeleição” pela coligação Força do Povo, que reúne 11 partidos, inclusive o PT. Ele é, no estado, o grande aliado de Lula, o novo teórico da censura. Acreditem: o governador mobilizou 30 policiais militares, armados com fuzis, para tentar impedir, na madrugada de anteontem, a distribuição da VEJA no Estado. A ordem era para apreender a revista no aeroporto. Nota: não havia decisão judicial nenhuma autorizando a operação.

Tanto a censura prévia como a apreensão de jornais e revistas violam a Constituição. Foi preciso que o procurador da República Álvaro Lotufo Manzano pedisse o auxílio da Polícia Federal para que a revista pudesse chegar à distribuidora.  Foi preciso acionar a PF para impedir que o governo do Estado recorresse à força armada com o intuito de violar a Constituição. A truculência no Tocantins não pode ser dissociada do ambiente criado por Lula e pelos petistas contra a imprensa, que levou um bando de vagabundos a fazer uma manifestação em defesa da censura em pleno Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, um vexame que ficará para a história da infâmia. É esse tipo de gente que os censores querem proteger.

A mulher, a sogra…
Póvoa, o desembargador que concedeu a liminar de censura, é investigado no Conselho Nacional de Justiça, acusado de vender sentença. Suas relações com Gaguim são boas. Em janeiro, o governador nomeou Nilce Cardoso da Silva para um cargo na Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social. No dia 28 de fevereiro, foi a vez de Simone Cardoso da Silva Canedo Póvoa ganhar um cargo de “assessoramento superior” — R$ 3.600 por mês — na Secretaria de Cidadania e Justiça. Elas são, respectivamente, sogra e mulher do desembargador.

Não é um evento local
O maior erro que se pode cometer é tomar essa história como um evento local. Não é! Abundam ações no país contra a liberdade de imprensa. Os pretextos são os mais variados. Póvoa, por exemplo, alega que a investigação corre sob sigilo de Justiça e, por isso, seu conteúdo não pode ser divulgado. Afirma também que as informações estariam contidas num computador roubado etc.

Jornalista não é guardião de sigilo. Que aqueles que têm o dever funcional de protegê-lo o façam e arquem com as conseqüências se não cumprirem a lei. Os repórteres não cometeram crime nenhum; tampouco se associaram a criminosos.

No Tocantins ou em Brasília, o crime não está no jornalismo.

Entidades protestam contra censura

Por Daniel Bramatti, no Estadão Online:
Entidades representativas como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) protestaram ontem contra o novo episódio de censura determinado pela Justiça, desta vez no Tocantins.

“A liberdade de imprensa é um valor da sociedade, um bem jurídico, preceito constitucional de proteção ao Direito e à cidadania”, disse ao Estado o presidente da OAB, Ophir Cavalcante. “Quando se proíbe a divulgação de informações baseadas em fatos, está se ferindo o preceito constitucional de garantias ao Estado de Direito. É preciso repudiar essas atitudes.”

Ophir se referiu à decisão do desembargador Liberato Póvoa, do Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins, que decretou a censura ao Estado e a outros 83 veículos de comunicação. Jornais, emissoras de rádio e televisão e sites de internet foram proibidos de publicar informações a respeito da investigação que aponta o governador do Tocantins, Carlos Gaguim (PMDB), e o procurador-geral do Estado, Haroldo Rastoldo, como integrantes de suposta organização criminosa para fraude em licitações públicas.

Direito dos cidadãos. A ANJ divulgou nota oficial para protestar contra a medida determinada pelo desembargador. “A Associação Nacional de Jornais lamenta e condena a decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins de proibir a divulgação - ‘de qualquer forma, direta ou indireta’ - de informações relativas ao governador do Estado e candidato à reeleição, Carlos Gaguim, ou a qualquer integrante de sua equipe de governo, em investigação feita pelo Ministério Público do Estado de São Paulo”, afirma o texto.

Para a entidade, a proibição de publicação de notícias “é uma afronta à Constituição brasileira, que veda qualquer tipo de censura prévia”. “A censura fere o direito dos cidadãos de serem livremente informados, especialmente nesse período que antecede as eleições. A ANJ espera que a própria Justiça revogue a proibição, em respeito aos princípios democráticos da Constituição.”

Primeira instância. Luís Roberto Antonik, diretor-geral da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), afirmou que a medida restritiva “fere frontalmente a Constituição”. “Vemos essas decisões da Justiça de primeira instância com extrema preocupação”, afirmou. “É um assunto de muita relevância, e a mídia fica impedida de divulgar até derrubar o veto em uma instância superior. Nesse processo, muitas vezes se perde o momento em que a divulgação da informação é mais importante. É uma mordaça.”

Para Cláudio Weber Abramo, diretor executivo da Transparência Brasil, organização não-governamental que promove o combate à corrupção, o TRE do Tocantins está agindo “de acordo com os interesses” do governador e candidato à reeleição Carlos Gaguim. “É evidente que a decisão foi tomada para beneficiar o governador”, afirmou. “Espero que a própria Justiça reverta a decisão.”

O juiz Marlon Reis, um dos coordenadores do Movimento de Combate à Corrupção, afirmou que ainda há no Judiciário a “falsa noção” de que o segredo de Justiça, imposto às autoridades relacionadas a investigações e julgamentos, também se aplica aos órgãos de comunicação. “Apenas os órgãos públicos estão sujeitos a essa norma”, destacou.

Reis observou que as medidas de censura costumam ocorrer na primeira instância da Justiça. Para ele, novos episódios poderiam ser evitados se houvesse uma súmula vinculante - espécie de orientação geral para todo o Judiciário - sobre esse tema. “O Supremo Tribunal Federal já tem uma posição muito clara sobre a questão.”

Por Reinaldo Azevedo

Bastaram cinco dias! Enquanto escrevo este post, já são 43.514 os signatários do Manifesto em Defesa da Democracia. Para assinar, clique aqui.

Por Reinaldo Azevedo

Os Venezuelanos foram às urnas ontem para eleger os 165 representantes da Assembléia Nacional. O país tem um regime unicameral. Segundo dados oficiais, votaram 66,5% dos 17,7 milhões de eleitores. Às 2h, o Conselho Nacional Eleitoral divulgou um balanço, com a apuração quase concluída: O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), de Hugo Chávez, elegeu 94 representantes; a Mesa da Unidade, frente oposicionista que reúne vários partidos, ficou com 60 cadeiras, e o Pátria Para Todos fez dois representantes. Três outras vagas são ocupadas por comunidades indígenas, que não são oficialmente ligadas a partidos. Seis cadeiras ainda aguardam definição nesta madrugada.

O objetivo dos oposicionistas, nesta eleição, era conseguir ao menos 54 representantes para tirar do tiranete os dois terços que lhe permitem aprovar o que lhe dá na telha.  Alcançaram com sobra. Faltando definir seis cadeiras, a Mesa da Unidade já ultrapassou a sua meta.

Os venezuelanos escolheram também os representantes para o Parlamento Latino-Americano. Nesse caso, houve um empate: tanto o partido de Chávez (46,62% dos votos) como a oposição (45,1%) fizeram cinco deputados.

O sistema de votação é eletrônico. Os resultados, no entanto, demoraram a ser divulgados, o que levou os oposicionistas a desconfiar de fraude. Representantes da Mesa afirmaram ontem estar seguros de que obtiveram pelo menos 52% dos votos em todo o país.

Seja como for, o resultado é formidável. Como lembra o Washington Post em editorial, apesar do domínio que Chávez tem dos meios de comunicação e do pesado uso da máquina nos distritos eleitorais, a oposição passa a ter força para pôr um freio em suas iniciativas mais radicais. Vamos ver.

Por Reinaldo Azevedo

Leia editorial do Estadão:
O governo pode considerar um sucesso a capitalização da Petrobrás - tanto para os objetivos da empresa quanto para as ambições do atual grupo no poder. Pelo menos um dos obstáculos à exploração do pré-sal, o financeiro, será menos assustador a partir de agora. Com a venda de ações no valor de R$ 120,4 bilhões, equivalentes a cerca de US$ 70 bilhões, a companhia obtém um reforço importante para a execução, em cinco anos, de investimentos estimados em US$ 224 bilhões. Além disso, o novo capital tornará mais atraente o balanço da companhia, permitindo reduzir a relação entre dívida e recursos próprios, a chamada alavancagem. Para o governo, a operação propiciou, além desses objetivos e de possíveis dividendos políticos, um aumento de participação do setor público no capital total da empresa. A soma das fatias da União e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve passar de 39,8% para cerca de 48%. Qual a vantagem dessa mudança, se a União já detém a maioria das ações com direito a voto e, portanto, o controle administrativo?

O assunto pode justificar uma boa polêmica, exceto quanto a um ponto: uma participação governamental muito além da necessária para o controle da empresa é um desperdício. Esse fato é ainda mais evidente quando se considera o prazo de retorno dos investimentos no pré-sal. O dinheiro aplicado além do necessário seria muito mais útil se fosse destinado a outras finalidades. Seria fácil produzir uma lista de carências muito importantes em vários setores.

A decisão de aumentar a participação estatal na empresa foi tomada bem antes do lançamento das ações. Talvez faltasse definir a nova porcentagem, mas a intenção era clara. Há poucos dias foi anunciada a disposição do governo de garantir o dinheiro necessário à capitalização, se o número de ações comprado pelos minoritários fosse insuficiente.

Os preços de oferta dos papéis foram fixados segundo os padrões previsíveis, um pouco abaixo dos níveis do mercado - com redução de 1,98% para as ações ordinárias e de 1,87% para as preferenciais, tomando-se como referência as cotações de quinta-feira. Até aí, nenhuma surpresa. A novidade foi outra.

A Petrobrás surpreendeu os investidores ao oferecer um lote adicional equivalente a apenas 8,7% do volume básico da operação. Pelas informações anteriores, poderia haver uma oferta extra de 20% e, se o total ainda fosse insuficiente, mais um lote de 5% seria posto à disposição dos investidores. Surpreendidos, analistas e operadores propuseram diferentes explicações para essa decisão. A Petrobrás poderia, por exemplo, ter decidido adiar parte da oferta para aproveitar a reação favorável do mercado, se fosse o caso. Ou talvez tivesse reestimado a demanda. Ou talvez o anúncio anterior da oferta adicional em duas etapas tenha sido um truque para atrair os investidores.

A demanda pode não ter sido tão grande quanto se calculou a partir das primeiras informações. Mas, segundo novas estimativas divulgadas ontem, a procura foi quase um terço maior que o total dos papéis oferecidos. À tarde, o assunto continuava misterioso.

Mas esse não é o único ponto obscuro na longa e complicada história dessa capitalização. O processo foi iniciado há mais de um ano e desde o começo foi viciado pela decisão do governo de aumentar a presença estatal na exploração e na produção de petróleo. Tudo se tornou ainda mais confuso quando se estabeleceu a forma de participação do governo no aumento de capital.

A ideia da cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal criou problemas de fixação de preços e até de cálculo dos volumes disponíveis. Esta segunda questão continua sem resposta, porque só um furo foi feito, até agora, nas áreas selecionadas, mas as decisões finais foram tomadas como se houvesse conhecimento suficiente.

Por esses e outros fatores, não se pode avaliar a magnitude das apostas feitas neste momento. Os dados até agora conhecidos indicam a existência de reservas muito grandes nas amplas áreas conhecidas como pré-sal. Por enquanto, o risco de ingerência política nas atividades da Petrobrás é mais preocupante que as incertezas técnicas.

Por Reinaldo Azevedo

A santinha da floresta oca

Marina Silva, a inimputável, está revelando, na disputa política, mais do que uma estratégia de campanha: está revelando um caráter.

Quando ficou claro que a máquina da Receita tinha sido mobilizada para escarafunchar a vida de tucanos — inclusive de familiares de José Serra —, a candidata verde resolveu demonstrar a sua indignação de um modo muito peculiar: censurou os desmandos do governo, mas acusou o tucano de fazer exploração política do caso. Jamais admitiu que se tratava de uma invasão dirigida de sigilo — insistia nos “milhares de casos”. Vale dizer: Marina diluía o crime político, o que era, obviamente, do interesse do governo Lula, quisesse ela ou não. E, curiosamente, tentou ser a monopolista da crítica. Serra, porque vítima do esquema, teria menos legitimidade do que ela para protestar. Ele faria exploração política; ela não.

Hoje, Marina veio a público para acusar, pasmem!, tanto Lula como Serra de perseguir a imprensa. E o fez, segundo relato da Folha Online, nestes termos:
“Defendo a liberdade de imprensa e acho que temos que primar por uma cobertura que seja isenta, que coloque os fatos para que cada cidadão forme a sua opinião. Não deve ter nenhum tipo de censura para que as pessoas possam ter acesso aos acontecimentos. Agora, existem duas formas de tentar intimidar a imprensa, uma é aquela que vem a público e coloca de forma infeliz uma série de críticas. E outra é aquela que, de forma velada, tenta agredir jornalistas, pedir cabeça de jornalista, que dá na mesma coisa. O respeito pela democracia e pela liberdade de imprensa é permitir que a informação circule e estar sempre atento para que circule com critério ético e de Justiça.”

Os jornalistas, claro!, quiseram saber de quem ela estava falando. E ela mandou brasa:
“Olha, vocês têm reclamado muito de que o governador Serra, nos últimos dias, tem ficado nervoso quando fazem alguma pergunta que ele não gosta. Eu tenho visto relatos de pessoas que cobram as campanhas, de que existem momentos, quando são feitas perguntas que não consideradas agradáveis, há uma atitude, às vezes, de intimidação dos jornalistas. Eu ouço esses relatos”.

Ajudando o PT
Mais uma vez, temos Marina, na prática, ajudando o PT. Por quê? Porque iguala desigualdades. Marina deveria ter ela própria a responsabilidade que defende para os outros. A senadora não teria como dizer os nomes dos jornalistas que tiveram a “cabeça” pedida porque isso é conversa mole, que circula na rede a soldo da Internet.

O candidato tucano já se estranhou com esse ou com aquele jornalistas? E daí? Isso nada tem a ver com intimidação institucional. Ademais, quando isso ocorre, ele é o único prejudicado. E a liberdade de imprensa fica onde sempre esteve.

Com o PT é diferente. O partido se mobilizou e se mobiliza para criar ENTRAVES LEGAIS ao exercício do jornalismo. Marina faz a sua releitura do poema “O cazar naturalista”, de Drummond. Aquele matava homens e achou um absurdo quando ficou sabendo que se matavam borboletas. Marina é do tipo que acha absurdos equivalentes matar homens e borboletas. Ao elevar o eventual conflito pessoal, episódico, à categoria de questão política,  transforma o que é uma questão política em mero conflito pessoal.

Lula não se limitou a “colocar uma série de críticas de forma infeliz”. Isso pode ser feito por qualquer um. Foi além disso: seu governo se mobilizou e se mobiliza para controlar os meios de comunicação, dona Marina Silva!

Marina tem todo o direito de fazer política e de ficar, desde já, fcuidando do recall  para 2014, 2018, sei lá eu, com a sua chamada “terceira via”. Mas deveria ser mais responsável nessa matéria. Ela, sim, está transformando a questão da liberdade de imprensa em mera guerrilha eleitoral. Está menos preocupada com os episódios em si do que em atacar os dois adversários para se dizer “a terceira via”.

Mas, vocês sabem, ela o faz com aquele ar beato de quem viu “a coisa” na floresta. Não dá! É a santinha da floresta oca!

PS - Muitos me indagam: “Se houver segundo turno, o que você acha que Marina vai fazer? Não tenho a menor idéia. A julgar pela batida em que ela vem, deve declarar neutralidade, já que parece tão acima da “vulgaridade” de seus adversários, que ainda não descobriram as verdades dos Na’vis de Pandora. Esse papo obscurantista já passou da conta!

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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2 comentários

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Segundo nosso glorioso IPEA, as pessoas sem emprego estão mais otimistas com a situação financeira da família do que as pessoas empregadas. A informação consta da segunda edição do Índice de Expectativa das Famílias (IEF), que será divulgado hoje, às 11 horas, pelo Ipea, em São Paulo. Segundo Reinaldo Azevedo, faz todo sentido: quem está desempregado pode se empregar; quem está empregado só pode perder o emprego. O pessoal do Ipea sempre acha coisas interessantes…

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    “O Estado não deve, de forma alguma, fazer aquilo que os cidadãos também não possam fazer. Isso é autoritarismo puro. Ao contrário, só se pode atribuir ao Estado tarefas que os próprios cidadãos possam cumprir, mas que não é desejável que as cumpram sozinhos (seja porque isso sairia muito caro, seja porque não teriam forças para executá-las). O Estado nada mais é do que o resultado da transferência de poder dos indivíduos para uma entidade que os represente em suas próprias ações. E ninguém pode transferir o que não tem.” (Marli Nogueira)

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