Nestlé propõe compensar ingresso de cafés produzidos fora do Brasil

Publicado em 21/08/2014 12:57 e atualizado em 22/08/2014 13:07

A Nestlé do Brasil tem divulgado a intenção de construir uma fábrica de cápsulas de café no país. Um investimento de R$180 milhões com geração de pelo menos 400 empregos diretos. No entanto, a viabilização do projeto depende de alguns fatores , entre eles, a autorização para importação de cafés especiais com objetivo de manter o chamado “padrão sensorial” do blend fabricado atualmente na Europa. A questão tem estimulado o debate sobre o drawback, ou seja, a autorização para importação de matérias primas com intenção de industrializar e exportar determinado produto.

O site Notícias Agrícolas teve acesso ao protocolo de intenções da Nestlé que explicita as contrapartidas da empresa para compensar o ingresso de variedades produzidas fora do Brasil. Além de políticas de investimento e compensação, o relatório destaca também os critérios para importação e a visibilidade que o café brasileiro ganharia a partir das cápsulas produzidas no Brasil. 

A empresa se propõe a investir R$3,2 milhões em novas técnicas de produção e variedades de café e projeta aumento na participação de 65% para 85% do grão brasileiro no atual blend, ambas as medidas adotadas ao longo de no máximo 10 anos.
Para o produtor brasileiro, a criação de programas específicos de aumento da qualidade e garantia de sustentabilidade. Prêmios de até 17 dólares por saca para cafés especiais. E a contratação de um centro de pesquisa que analise o risco de entrada de pragas e doenças de países fornecedores.

A empresa também se compromete a importar apenas café arábica, exportar anualmente o produto processado em montante equivalente a 2 vezes mais que o volume importado, comprar aproximadamente 25 mil sacas/ano no início do projeto e a partir do aumento da demanda, utilizar cafés equivalentes cultivados no Brasil. 

O principal ganho para o setor produtivo no Brasil , segundo a Nestlé, seria a inclusão na embalagem dos produtos vendidos mundialmente, um selo  ou frase indicando que “contém Cafés do Brasil”. 

Para o consultor de mercado , Marco Antônio Jacob,  essa seria uma  excelente oportunidade para que outras industrias multinacionais se instalem, industrializem e exportem seus blends. No entanto, faz algumas ressalvas como a autorização apenas para importação de cafés de qualidade  superior do tipo 6 para melhor e a exigência de certificados fitossanitários para entrada desse material no Brasil.
“Não podemos perder esta chance , além do mais, compor os blends  com  cafés da Etiópia , Quênia , Índia , Colômbia , Guatemala , Costa Rica , entre outros  é uma questão de marketing e originação. Estes cafés custam muito mais caro que o café brasileiro. Exemplo :  Kenia  tem um premio de 63 cents por libra sobre Nova Iorque, Colombia tem um premio de 18 cents enquanto o Brasil tem um desconto de 18 cents sobre Nova York.”       

Segundo Jacob, a importação dessas variedades, economicamente não atrapalharia em nada o café brasileiro. “As quantidades importadas serão pequenas em relação ao total industrializados, conclui”. 

Abaixo, a carta do Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Varginha e Presidente da Associação dos Sindicatos dos Produtores Rurais de Varginha, Arnaldo Bottrel

Bom dia companheiro, amigo e sindicalista Breno!
Tomei conhecimento ontem, através de informações do Ministério da Agricultura, onde você participou de reunião específica e também através de entrevista apresentada pelo Canal Rural, tendo como entrevistado o Produtor e engenheiro agronomo Sr. Armando Matieli, que dissertou sobre a possibilidade da instalação de fábrica de cápsula de café pela Nestlé em nosso país.

Com o objetivo único, específico de colaborar com o assunto, venho através deste, respeitosamente informar alguns pontos que entendemos pela total aprovação da fábrica citada acima.

1- Esse assunto, começou a ser discutido no Conselho Nacional do Café - CNC ,onde houve a primeira apresentação por parte da Nestlé, e em seguida houve mais duas reuniões, sendo que nossa Associação participou de todas elas, assim como, a CNA foi convidada através de sua pessoa para também participar, o que não aconteceu, porém, todas as ausências foram justificadas (reforço tal dito, não com o objetivo de qualquer cobrança que entendo não ser competente para isso, muito pelo contrário, simplesmente para elucidar nosso ponto de vista);

2- Gastaria muitas linhas para poder transferir todas as discussões, de todos os participantes das três reuniões citadas, porém, farei isto pessoalmente na primeira oportunidade, em que estivermos contato;

3- Resumidamente, justifico nossa opinião favorável à três ou quatro benefícios com a instalação da Fábrica da Nestlé em nosso país: 
3.1 - O mais importante e relevante, é o marketing que será gerado para nosso café, sendo que a Nestlé se compromete dentre muitas ações no segmento, nominar as cápsulas informando que o  Café que está em seu recipiente é o Café do Brasil;
3.2 - Comprometimento de usar em seu Blend 85% dos cafés Bebida Arábica do Brasil, 
3.3 - Incentivo ao Produtor de Café com programas para aumento de qualidade e sustentabilidade, e prêmio financeiro para cafés de qualidade, e ainda parceria com o Ministério da Agricultura e outros para novas variedades, ate mesmo buscando no exterior variedades que não temos aqui no Brasil;
3.4 - Investimento de 180 milhões gerando mais de 400 empregos diretos;

4- Não poderia deixar de citar o ponto importante e crucial, que entendemos também já estar superado " Critérios para importação de Café". Tal assunto, foi o mais discutido e comentado nas reuniões, sendo que o comprometimento da Nestlé não é de fazer importação constante, tampouco importar nem um grão sequer de café robusta. No primeiro estagio, a importação única e limitada para a Nestlé seria de aproximadamente 50.000 sacas de café, que entendemos ser um número reduzido e irrisório aos benefícios já citados e outros. Observa-se ainda, que a agregação de valor do produto final que utilizará o café verde importado deverá substituir no minimo 10 vezes maior do que ao café verde importado.

Prezado companheiro e competente representante Sindical, tomei conhecimento de que ao final da reunião realizada ontem no Ministério, você solicitou ao Ministro um prazo de 10 dias para expressar sua opinião com as devidas justificativas, entendo que esta é uma ação correta e prudente, porém, peço que faça e que se possível e entender que podemos tomar conhecimento, gostaria de receber sua íntegra. Ademais, esclareço que o objetivo desta é único e exclusivo de expressar nossa opinião e colaborar caso aceite. Estarei lhe enviando alguns documentos das reuniões realizadas, caso já tenha desconsidere.

Grato.

Arnaldo Bottrel Reis
Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Varginha
Presidente da Associação dos Sindicatos dos Produtores Rurais de Varginha

Nos links abaixo, confira as entrevistas que repercutiram as intenções da Nestlé até o momento:

>> Eduardo Carvalhaes - Analista de Mercado do Escritório de Carvalhaes

>> Marco Antônio Jacob - Cafeicultor

>> Armando Matielli - Presidente da Sincal

A seguir a opinião dos produtores rurais que participam via Whatsapp

 

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Fonte:
Notícias Agrícolas

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