Todos devem estar lembrados dos nossos comentários sobre os protestos que os produtores e suas associações industriais e alguns exportadores argentinos fizeram e ainda fazem sobre a falta de liberdade de exportação no país. A queixa é de que as licenças são dadas apenas a algumas poucas empresas, que manipulam abertamente o mercado. Hoje tivemos mais uma prova disto. Houve um interesse de 200 mil toneladas de trigo de qualquer origem, com embarques mensais de 25 mil toneladas, que foram levadas a um tradicional exportador argentino. E o diálogo foi exatamente este: o corretor explica a possibilidade de comercialização a que o exportador contesta: “Si queda. llama a Cristiana o si no Moreno” (referia-se à presidenta e ao Ministro). “no te dejan exportarlo”. Corretor: “y porque no se puede exportar??” Exportador: ”porque no te dan los permisos”. E o corretor conclui desapontado: “Quem já tem os permissos, tem e é só um punhado de multis; quem não tem, não terá mais”. Por isso, os triticultores argentinos não estão podendo vender seu trigo (relatamos todos os dias isto no item sobre a Bolsa de Comércio de Rosário, abaixo). O trigo argentino, por exemplo, muito melhor que o brasileiro, recebe o mesmo preço (algo ao redor de R$ 25,63/saca de 60 kg), devido ao confisco do governo através das retenciones. Como resultado, houve uma fuga de agricultores do país, para o Uruguai e o Paraguai, cuja produção de trigo aumentou enormemente durante os governos da Era Kirchner. Tanto, que há até uma piada no Uruguai: “En Uruguay, Hernandarias introdujo la ganaderia y los Kirchner, la agricultura” (Hernando Arias de Saavedra, filho de Álvar Núñez Cabeza de Vaca, introduziu o gado no Uruguai e os Kirchner, presidentes da Argentina, introduziram a agricultura...).
O que se deduz disto tudo é: com este abre-fecha de licenças de exportação, terá o Brasil todo o trigo que necessita e espera receber da Argentina? Com o afunilamento em tão poucas empresas, qual será o preço? Como se vê, as coisas internas da Argentina não tem repercussão apenas na Argentina. O Brasil teve uma dolorosa experiência de controles de mercados nos anos 80 e deu tudo errado. Só cresceu e atingiu o posto de 7ª economia mundial quando deu plena liberdade de comercialização, melhorando o desempenho das suas próprias indústrias, do seu agronegócio e da renda sua população. Mas, pelo sim, pelo não, como Brasil é Brasil e Argentina é Argentina e experiência é algo que não se transmite, tem que se viver é melhor o Brasil se preparar para a eventualidade de ter que completar as suas compras em outros rincões.
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