Queda no petróleo: Assombrosa revolução de 2014 (no EL PAÍS)

Publicado em 10/12/2014 10:10 e atualizado em 23/12/2014 16:54
Consequências serão enormes se o preço do petróleo continuar baixo (por Moisés Naim, do El País)

Está em marcha uma revolucionária redistribuição mundial da renda. Somente nos últimos seis meses, os preços do petróleo caíram 40%. Isso significa uma transferência equivalente a 2% do tamanho da economia mundial dos produtores para os consumidores por ano.

Assim, os membros da Organização de Países Produtores de Petróleo (OPEP) deixaram de faturar 316 bilhões de dólares (817 bilhões de reais). E a OPEP é somente 35% do mercado mundial (em 1974 era 50%). Os países da OPEP e outros petroestados como a Rússia sofreram uma severa redução de sua renda, o que os obrigará a fazer dolorosos ajustes econômicos.

Por outro lado, para os consumidores de petróleo em todo o mundo os preços mais baixos significam uma economia de mais de um bilhão de dólares (2,59 bilhões de reais). Para os norte-americanos, equivale a um corte de impostos de 110 bilhões de dólares (284,7 bilhões de reais). Para a China, cada dólar a menos no preço significa uma economia anual de 2,1 bilhões de dólares (5,44 bilhões de reais). A agricultura mundial também irá se beneficiar. Um dólar de produção agrícola consome 5 vezes mais energia do que um dólar de produção manufatureira.

As razões da queda dos preços do petróleo conhecidas. O consumo de energia diminuiu porque a economia mundial cresce pouco e a oferta aumentou drasticamente graças às novas tecnologias que estão sendo usadas, especialmente nos EUA. De 2008 para cá, os EUA aumentaram sua produção petrolífera em 80%. Esse crescimento por si só supera tudo o que é produzido por cada um dos países da OPEP, com exceção da Arábia Saudita.

Ninguém sabe quanto tempo esse racha irá durar, mas é certo que em algum momento os preços aumentarão se o consumo aumentar ou a produção baixar por conta de conflitos internacionais, revoluções, acidentes climáticos ou acontecimentos de outra natureza. Um indicador dos preços é o mercado futuro. Contratar hoje a entrega de um barril de petróleo para 2020 custa por volta de 85 dólares (220 reais). O preço atual é menos de 70 dólares (181,1 reais) por barril.

Em todo o caso, o consenso entre os especialistas é que no próximo ano os preços do petróleo estarão abaixo da média dos últimos três anos. Se isso se comprovar, as consequências serão enormes.

Entre os países produtores, o choque dos preços baixos afetará mais duramente a Venezuela e o Irã. Se o Governo da Venezuela não conseguia aprumar a economia quando o petróleo custava mais de 100 dólares (258,82 reais) o barril, é difícil acreditar que fará um trabalho melhor com o barril a 62 dólares (160,47 reais) (o petróleo venezuelano é mais barato do que a média mundial). Para cobrir seu gasto público, Caracas precisa que o preço supere os 120 dólares (310,58 reais) por barril. A crise venezuelana pode obrigar o Governo a limitar seus envios de petróleo subsidiado para países vizinhos, causando assim uma grave crise econômica na Cuba e na Jamaica, entre outros.

No Irã a queda dos preços de suas exportações petrolíferas soma-se às sanções internacionais que já afetaram severamente sua economia. De fato, é provável que os preços menores tenham um impacto maior do que as sanções por conta da importância do petróleo na renda do Estado. É preciso ver se a crise econômica levará o Irã a buscar um acordo nuclear com a comunidade internacional para conseguir a redução ou eliminação das sanções. Mas é possível que os cálculos políticos moldem mais as decisões do Governo do que a crise econômica.

Com a Rússia acontece algo parecido. Sua economia também já era afetada por um clima adverso para investimentos, uma massiva fuga de capitais e as sanções da Europa e Estados Unidos. Sua moeda desvalorizou, a Bolsa caiu, a inflação subiu e a economia entrou em recessão. 2015 será um ano difícil para Vladimir Putin e ainda mais para o povo russo.

Essas são somente algumas das repercussões da queda do preço do petróleo. Existem muitas mais. Talvez a mais importante é que muitas fontes de energia menos poluentes (solar, eólica, etc.) são mais caras e pouco competitivas. Os baixos preços também não incentivam a economia e a eficiência energética. É irônico que quando o óleo cru estava caro as energias renováveis também não eram estimuladas e sim, pelo contrário, a aparição de novas formas de produzir petróleo.

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Quem ganha e quem perde com a queda do preço do petróleo?

O preço do petróleo está em queda livre. O barril de Brent, o óleo cru de referência na Europa, passou de 115 dólares (295,88 reais) em junho para aproximadamente 84 dólares (216,12 reais) em outubro, ou seja, mais de 26% de baixa. O West Texas, a variedade de referência para os Estados Unidos, estava em 82 dólares (210,98 reais). A cotação de preços dos dois produtos já era a mais baixa desde 2010. E, nesta quinta-feira, o preço baixou mais ainda: para79,84 dólares. Os motivos da derrubada são vários, e vão desde as novas técnicas de extração que elevam a produção (como a perfuração hidráulica), às recentes exportações dos EUA ou a maior oferta vinda de países como a Líbia e o Iraque. Para além das causas, quem ganha e quem perde com a baixa dos preços? A Espanha está no lado ganhador. Mas é preciso ter cuidado: uma queda de 26% do óleo cru não significa que amanhã a gasolina vá custar 26% a menos para os espanhóis ou os brasileiros.

O petróleo agora é barato?

É mais barato que em junho. E que nos últimos quatro anos: o preço médio do óleo cru em 2011 era de 107 dólares (275,30 reais), em 2012 de 111 dólares (285,59 reais) e em 2012, de 110 dólares (283,02 reais). Mas seu custo não pode ser considerado barato se a evolução for olhada com mais perspectiva: em 2008, o preço médio do barril era de 45 dólares (115,78 reais) e chegou naquele ano a cair para 36 dólares (92,62 reais).

Quem mais ganha: os países importadores

Os países com grande dependência energética serão, em princípio, os principais beneficiados com contas entre 20% e 30% mais baratas. Não é questão de quais países consomem mais, mas quais são obrigados a importar mais barris e, portanto, a pagá-lo com preços mais caros.

Europa, a grande beneficiada. Por regiões, a Europa é a que realizou as maiores importações de petróleo do exterior em 2013: comprou 9,3 milhões de barris de óleo cru por dia e outros 3,3 milhões de barris de produtos petrolíferos, segundo o relatório anual World Energy 2014. Ainda que seja necessário levar em consideração que os preços variam de acordo com os produtos, a procedência e os seguros sobre os preços de combustível, uma queda de preços de 30% (de 110 dólares [283,02 reais] para 80 dólares [205,83 reais] por barril), é possível verificar uma economia conjunta média de 370 milhões de dólares (951, 97 milhões de reais) por dia em matéria prima.

A Espanha, no grupo ganhador. A Espanha consome em média 1,2 milhões de barris de petróleo por dia. E não produz praticamente nada. Comprar esses barris dos países produtores por 80 dólares (205,83 reais) no lugar de 110 (283,02 reais), se o consumo se mantiver esse ano, significaria gastar 36 milhões de dólares (92,66 milhões de reais) a menos por dia na matéria prima do combustível. Haverá economia se os preços continuarem baixos, ainda que seja muito difícil quantificar seu valor real, já que o preço do óleo cru varia a cada dia, da mesma forma que o consumo.

Impulso para a China e a Índia. A conta energética de duas das economias mais pujantes do mundo é muito alta. Os dois países importam mais petróleo do que toda a Europa junta. A China compra no exterior 5,6 milhões de barris de óleo cru por dia e 1,2 milhões de outros produtos petrolíferos. Suas exportações são mínimas. A Índia, por seu lado, não exporta nada e se vê obrigada a importar 3,8 milhões de barris de óleo cru por dia.

Os motoristas? Talvez no futuro. Se o barril vale 26% a menos, significa que uma pessoa que abasteça seu carro com gasolina pagará 26% a menos? Não. Os brasileiros não verão sua conta nos postos de gasolina reduzida a esse ponto – pelo contrário, o preço da gasolina subiu neste ano. No momento, bem pouco da queda nos preços mundiais foi notado nos postos. A primeira explicação está relacionada com a composição do preço do combustível: o preço do óleo cru é somente uma parte do que pagam por cada litro de gasolina, já que, além da matéria-prima do petróleo, a gasolina tem incluso no preço o custo do refino e transformação, assim como uma elevada porcentagem de impostos. Em tudo isso, é preciso adicionar também o peso da moeda: o petróleo é pago em dólares. Se o euro se desvaloriza (como aconteceu, passou de 1,36 [3,50 reais] para 1,28 dólares [3,29 reais] desde junho), a compra de barris para países do euro sai mais cara, e isso pode amortizar a queda do preço da matéria prima. Esta baixa será mais intensa nos próximos dias? Depende em parte das empresas donas dos postos de gasolina. Por enquanto, desde junho, ficou três centavos mais barata na Espanha, por exemplo. Talvez seja questão de tempo, ainda que as autoridades da área há anos denunciem o efeito foguete-pena: significa que os postos colocam os aumentos de preço como um foguete, mas as diminuições refletem-se com a velocidade da queda de uma pena.

Empresas industriais, companhias aéreas, transporte por rodovia... A conta energética é uma parte essencial das empresas e, na indústria, um elemento básico de competitividade frente outros países. Além disso, o petróleo é usado como matéria-prima de uma grande variedade de produtos químicos. Para as companhias aéreas, o custo do combustível implica cerca de 30% de seus custos fixos, o que deveria fazer com que se beneficiassem com descontos. Do mesmo modo, todas as companhias que trabalham com transporte por rodovias poderiam se beneficiar pelo menor preço do combustível, ainda que nesse caso dependa se o transporte for feito com mais frequência para os fornecedores, algo que, por enquanto, ainda não aconteceu.

Algumas companhias de cobertura de riscos por combustível. Nas indústrias nas quais o preço do petróleo é vital, como na indústria aérea, é comum a existência de seguros ou coberturas, que as empresas contratam para que, se o preço disparar, tenham ao menos uma porcentagem desse aumento coberto. Os preços estão baixando e, portanto, as empresas que pagaram esses contratos não ativarão os seguros, os que beneficia as firmas que os emitiram.

Os que perdem: exportadores e petroleiras

O mercado de petróleo funciona, em princípio, marcado pela oferta e pela demanda. Mas também marcado pela previsão de oferta e demanda, por conta do elevado peso no setor dos contratos futuros e seguros de cobertura. Para os países exportadores de petróleo, uma queda de preços se traduz em uma redução da renda. A questão é se finalmente alguns grandes produtores agirão contra a queda, reduzindo sua produção para manter os preços.

Os grandes exportadores. Os 11 países da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) produzem cerca de 40% do óleo cru do mundo. A Arábia Saudita produz 11,5 milhões de barris por dia. O Irã, 3,5 milhões. A Nigéria, 2,3 milhões... A imensa maioria vai para a exportação e agora será menos rentável. Além da OPEP, aRússia é outro dos grandes operadores do mundo: produz mais de 10 milhões de barris por dia. Apesar da redução de preços, no momento, os exportadores tradicionais não fizeram cortes na produção para aumentar os preços e parecem apostar em manter as cotas do mercado.

Os novos produtores. Existem países, como o Brasil, que entraram nos últimos anos na lista de exportadores ou áreas como Vaca Muerta (Argentina) onde se multiplicaram os trabalhos de extração, apesar dos trabalhos poderem ficar mais caros, pois o elevado preço de venda compensa. Se a queda de preços ficar muito acelerada, poderia desincentivar as técnicas extrativas mais caras.

As empresas petrolíferas. As contas das companhias petrolíferas estão ligadas ao preço internacional do óleo cru, do refino e dos achados feitos durante o ano. A queda do preço do óleo cru, se continuar, pode impactar nos resultados da Rapsol, Cepsa e BP. No momento, os investidores já se movimentam diante do possível efeito: as ações da Repsol caíram 16% desde junho. As da BP, mais de 20%.

Uma beliscada nos cofres públicos? Os fundos públicos dos países produtores de petróleo são alimentados pelas rendas da exportação do óleo cru. Entretanto, até nos países importadores, o preço do combustível está ligado aos impostos. Dos 1,4 euros (4,50 reais) que o litro de diesel custa na Espanha, 0,7 euros (2,25 reais) são de impostos. E, se o preço baixar, a arrecadação diminuirá. O Governo estima uma arrecadação de 9,94 bilhões de euros (31,93 bilhões de reais) em hidrocarbonetos esse ano, e de 10,69 bilhões de euros (34,34 bilhões de reais) em 2015. Segundo as estimativas dos Orçamentos Gerais do Estado, o preço médio do óleo cru será de 106,2 dólares (273,36 reais) por barril este ano e de 104,1 dólares (267,95 reais) no próximo ano. Sendo inferiores, podem reduzir a arrecadação tributária, ainda que os benefícios pelo custo inferior compensem.

 

Em VEJA: 

Mundo cresce mais com queda do petróleo, aponta FMI

Estudo da entidade mostrou que economia global pode expandir entre 0,3% e 0,7% a mais em 2015, com efeitos mais positivos nos países importadores

Com queda do preço do petróleo, PIB também pode crescer entre 0,4% e 0,8% a mais em 2016

Com queda do preço do petróleo, PIB também pode crescer entre 0,4% e 0,8% a mais em 2016 (Alex Slobodkin/iStock/Getty Images/VEJA)

Uma simulação do Fundo Monetário Internacional (FMI) sinaliza que a forte queda dos preços do petróleo pode fazer a economia mundial crescer mais em 2015 e 2016, de acordo com um estudo divulgado na segunda-feira. O Produto Interno Bruto (PIB) do mundo pode se expandir de 0,3% a 0,7% a mais no ano que vem quando comparado a um cenário em que o barril da commodity não estivesse em queda. Para 2016, o PIB pode crescer de 0,4% a 0,8% a mais. A expectativa, com base no comportamento dos preços futuros da commodity, é que os baixos preços do petróleo persistam e as cotações sigam abaixo dos níveis alcançados no passado recente, ressalta o relatório publicado em um blog do FMI.

O economista-chefe, Olivier Blanchard, e o chefe responsável pela área de pesquisas com commodities, Rabah Arezki, autores do estudo, destacam que a queda do petróleo, de quase 50% desde junho, afetou a todos, dos países exportadores do produto aos importadores, governos, petroleiras, empresas prestadoras de serviços para o setor e consumidores. "Há ainda considerável incerteza sobre a evolução da oferta e da demanda (por petróleo)", destaca o estudo, citando que tanto a procura como a oferta têm contribuído para explicar a queda das cotações nas últimas semanas. No caso da oferta, houve um aumento principalmente por causa da recuperação mais rápida que o esperado da produção em campos da Líbia e a produção no Iraque sendo pouco afetada pelos conflitos no país.

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Importadores - No geral, os economistas do FMI afirmam que os importadores de petróleo, sobretudo entre os emergentes, se beneficiarão dos menores gastos com a compra do produto, o que deve ajudar a melhorar as contas externas, gerar maior renda disponível para as famílias e menor custo com insumos. Já os exportadores terão menos receitas com as vendas externas, o que vai colocar pressão nas contas externas e fiscais. "Os riscos para a estabilidade financeira cresceram, mas permanecem limitados", afirma o estudo, destacando que a maior pressão nas moedas ficou limitada aos exportadores de petróleo, sobretudo Rússia, Venezuela e Nigéria. "Dado a interconexão dos mercados financeiros, estes desenvolvimentos pedem crescente vigilância."

Na zona do euro e Japão, regiões que vêm crescendo menos que o esperado e com demanda fraca pela commodity, as diretrizes futuras dos bancos centrais serão cruciais para ancorar as expectativas de inflação no curto e médio prazo, destaca o FMI. Os dois economistas do FMI também fizeram simulações do impacto da queda do petróleo em alguns países. Nos Estados Unidos, o PIB pode crescer entre 0,2% a 0,5% a mais no ano que vem quando comparado ao cenário base, ou seja, sem a queda dos preços do petróleo. Na China, a expansão pode ser de 0,4% a 0,7% a mais. Em 2016, os EUA poderiam ter expansão adicional de até 0,6%, enquanto o PIB da China pode crescer até 0,9% a mais.

Exportadores - Nos países exportadores o impacto geral é negativo, mas mesmo entre estes mercados deve ocorrer diferenciação, destaca o FMI, porque uns dependem mais das receitas do produto do que outros. Na Rússia, 50% das receitas do governo vêm das vendas de petróleo, por isso o impacto negativo mais acentuado no país. Uma das consequências será a deterioração de indicadores fiscais, além de piora dos números das empresas do setor de petróleo, que terão que rever planos para os próximos anos.

(Com Estadão Conteúdo)

Russia: O Kremlin treme abaixo dos 80 dólares (por El País)

O orçamento russo se baseia tradicionalmente no preço do petróleo e na renda obtida na venda do produto, razão pela qual a dinâmica dos preços influi diretamente na economia. Segundo algumas estimativas, a cada 10 dólares que o preço barril de petróleo cai, o déficit público aumenta em 1% do PIB. O orçamento de 2014 foi estabelecido com o preço de 93 dólares por barril, e o de 2015, de 95 dólares. Alguns especialistas acreditam que o preço limite que a economia russa pode suportar é de 80 dólares.

“Considera-se que o preço crítico do petróleo, que pode devorar o Fundo de Reserva e reproduzir a situação da URSS da década de 80, é inferior a 80 dólares por barril, apesar de que agora não existem condições prévias para isso, e portanto, para uma crise de grandes proporções. A redução das importações em 50 bilhões de dólares pelas sanções nos permite frear a queda do preço dos atuais 110-120 dólares até 90-100. E o dólar durante 2015 flutuará em torno de 35-40 rublos”, calcula Natalia Orlova, economista-chefe do Alfa-Bank.

O vice-primeiro-ministro russo, Arkadiy Dvorkovich, estima que os baixos preços do petróleo podem reduzir os investimentos no setor energético. “Os preços se comportam de maneira imprevisível com frequência. Mas nós sempre tivemos em conta, ao equilibrar o orçamento, uma possível queda dos preços. Se continuarem caindo, as inversões no setor cairão. No futuro pode acontecer o contrário, quando os preços cresçam até chegar a um nível insustentável”, comentou na terça-feira Dvorkovich durante a inauguração do Fórum Nacional de Gás e Petróleo, em Moscou.

O ministro de Energia, Alexander Novak, está convencido de que os preços subirão no futuro a 90-110 dólares. Segundo Novak, a atual queda de preços está no limite dos parâmetros orçamentários. Além disso, a queda de preços pode provocar uma redução da produção. O vice-presidente da gigante petrolífera Lukoil, Leonid Fedun, estima que o aumento da extração se estabilizou nos últimos anos. “Não haverá mais crescimento. Antes pensávamos que a diminuição da extração chegaria à Rússia em 2016. (...) No fim deste ano podemos esperar um crescimento zero”, constatou.

 

Petróleo atinge menor nível em cinco anos e fecha abaixo de US$58 o barril nos EUA nesta sexta-feira (12/12/14)

NOVA YORK (Reuters) - Os preços do petróleo caíram 3 por cento ou mais nesta sexta-feira, atingindo novas mínimas de cinco anos, após a Agência Internacional de Energia (AIE) prever preços ainda mais baixos com uma demanda mais fraca e oferta maior no próximo ano.

O petróleo tipo Brent fechou abaixo de 62 dólares o barril, e o WTI, negociado nos EUA, fechou em patamar inferior a 58 dólares.

Nesta sexta-feira, a agência de energia com sede em Paris, que coordena as políticas energéticas dos países industrializados, cortou sua previsão para o crescimento da demanda em 2015, disparando outro colapso nos preços.

O contrato do Brent para janeiro fechou em baixa de 1,83 dólar, ou quase 3 por cento, a 61,85 dólares por barril, após atingir mais cedo 61,35 dólares, mínima desde julho de 2009.

O contrato janeiro do petróleo nos EUA terminou em queda de 2,14 dólares, ou 3,6 por cento, a 57,81 dólares, após atingir mais cedo 57,34 dólares, seu nível mais baixo desde maio de 2009.

Na semana, Brent perdeu mais de 7 dólares, ou cerca de 11 por cento. O WTI caiu mais de 8 dólares, ou 12 por cento.

Ambos os mercados perderam cerca de 46 por cento de seu valor ante as máximas de junho, quando o Brent foi cotado acima de 115 dólares o barril e o petróleo nos EUA em cerca de 107 dólares.

(Por Barani Krishnan)

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A Petrobras e eu

 

Quando eu era estudante de Geologia, na segunda metade da década de 1960, nossa profissão era muito pouco conhecida. Ainda é, na verdade, mas bem menos que naquela época. Quando me perguntavam que curso eu estava fazendo e eu respondia Geologia, era muito comum o comentário Ah, e depois vai trabalhar na Petrobrás, né?

Associar a profissão de geólogo com a Petrobrás não era pura desinformação. Nossos cursos de Geologia surgiram pela necessidade de fornecer este tipo de técnico àquela empresa, criada quatorze anos antes de eu ingressar na universidade.

Nunca trabalhei na Petrobrás, mas, depois de diplomado, as confusões continuaram a acontecer: quando eu dizia que era geólogo (muitos entendiam zoólogo), vinha o comentário: Ah! Trabalha na Petrobrás?

Na verdade, o trabalho na grande empresa brasileira de petróleo nunca me atraiu muito, como não atraiu vários de meus colegas de turma. A Petrobrás oferecia ótimo plano de carreira, excelente programa de treinamento e uma remuneração atraente. Mas, ao lado dessas atrações, havia inconvenientes.

Obviamente, a gente iria trabalhar com pesquisa para petróleo, e isso a empresa só fazia nas áreas geologicamente mais promissoras, entre as quais não se incluía (como ainda não se inclui) o sul do Brasil. Além disso, era um trabalho muito especializado e numa empresa que detinha monopólio da pesquisa de petróleo no Brasil, de modo que quanto mais a gente se especializasse trabalhando na Petrobrás, mais restrito ficava o mercado para quem dela saísse.  Pelo menos era o que eu e vários dos meus colegas de turma pensávamos.

Além, disso, havia outro fator, menos importante, mas presente: dizia-se – não sei se era verdade – que a Petrobrás não gostava de geólogos gaúchos porque eles não ficavam lá muito tempo. Depois de uns dois ou três anos, saíam.

No ano em que me formei, a empresa procurou geólogos recém-formados para contratar e, apesar das restrições apontadas, fiz a prova de seleção que ela exigiu (não sei bem se era concurso). As ofertas de emprego eram escassas e eu não podia me dar o luxo de escolher muito.  Por coincidência ou não, ninguém da minha turma foi chamado e nunca fiquei sabendo do resultado da minha prova.

Apesar de nunca ter exercido atividades profissionais na nossa empresa estatal de petróleo, ela sempre foi importante para mim. Como brasileiro e como geólogo, não havia como ignorar sua relevância em muitos aspectos, e tudo o que de importante com ela acontecia me interessava, como continua interessando.

Empresas petrolíferas ocupam lugar de destaque no mundo todo. A pesquisa e produção do petróleo são empreendimentos muito caros e envolvem, portanto, recursos muito grandes. Se o petróleo está no fundo do mar, o custo é bem mais elevado. E se for no pré-sal, a profundidades muito maiores, eles sobem ainda mais. Além disso, o risco de insucesso nesse tipo de

Se, apesar disso, tanto se investe nesse setor, é porque o preço do produto compensa, e muito. Daí haver quem diga que o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada e o segundo melhor negócio do mundo, uma empresa de petróleo mal administrada. pesquisa é também alto.

A Petrobrás não foge à regra: opera com grandes recursos financeiros, investe muito em desenvolvimento tecnológico e paga elevados salários, exatamente como fazem as grandes empresas do setor com as quais é obrigada a competir, principalmente porque já não existe o monopólio estatal de pesquisa, produção e, na prática, também de refino que havia antes.

Numa empresa em que tudo é grande, não é de estranhar que ela tenha lugar de destaque na administração federal. Quando foi escolhido para presidir o país, durante o regime militar, o que fazia o general Ernesto Geisel? Era presidente da Petrobrás.  E o ex-presidente Lula a ela se referia, quando estava na presidência, como “aquela nação amiga”.

Cobiçando seu controle, os políticos sempre estiveram de olho nos seus importantes cargos de direção. Mas, até alguns anos atrás, parecia que a área técnica da empresa ficava sempre preservada, permitindo contínuo crescimento. Infelizmente, isso já não acontece, como tem mostrado a imprensa todos os dias.

geologo

Em um país onde a corrupção parece estar em todos os setores da administração pública, nossa petroleira, dona de um orçamento gigantesco como ela, se vê envolvida em corrupção e desvio de recursos públicos de igual magnitude.

Mas, o que se fez na compra da refinaria de Pasadena é demais até para o gigantismo de uma Petrobrás. Metade de uma refinaria nos EUA que havia sido adquirida por US$ 42,5 milhões foi comprada por ela, pouco depois, em 2006, por US$ 360 milhões!  O que já seria um absurdo total dobrou de tamanho: a Petrobrás, por força contratual, foi obrigada a comprar a outra metade da refinaria, tentou fugir dessa cláusula do contrato, não conseguiu e acabou pagando mais de US$ 1 bilhão por algo que valia US$ 42,5 milhões (ou pouco mais, considerando investimentos que haviam sido feitos antes da compra).

Não importa que a oposição queira explorar esse assunto na campanha presidencial desse ano – ela certamente o fará. É preciso que isso seja muito bem esclarecido e que os responsáveis sejam claramente indicados. E não há como tirar a presidente da República disso. Ela conhece muito bem o setor energético. Foi secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, em dois governos. Foi ministra de Minas e Energia de Lula. Era presidente do Conselho de Administração da Petrobrás na época da compra. Foi a todo-poderosa chefe da Casa Civil da Presidência da República. E é há quatro anos presidente deste país. Não há como dizer que “não sabia”. E, mesmo que não soubesse, teve tempo de sobra para tomar providências. Por que não o fez?

A compra da refinaria de Pasadena é um escândalo monumental.  Mas, o pior é que não é o único problema sério da Petrobrás nos dias atuais.  Em 2010, a dívida da empresa era de 62 bilhões de reais; terminou 2013 com 221,6 bilhões (aumento de 257%).

A autossuficiência na produção de petróleo, anunciada por Lula, foi uma nuvem muito passageira: a produção está estagnada, e o Brasil importa derivados de petróleo, vendendo a gasolina aqui por preço inferior ao pago lá fora.

O congelamento do preço da gasolina ajudou muito a aumentar a dívida da Petrobrás mencionada acima e o lucro por ação da empresa, juntamente como seu valor de mercado, caíram 50% na gestão Dilma Rousseff. A Petrobrás é tão grande que talvez em pouco tempo recupere o prestígio e o valor que tinha alguns anos atrás. Mas não será com esta administração federal que aí está que isso vai acontecer. São necessárias mudanças, grandes mudanças.

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Fonte:
EL PAÍS (edição mundial)

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Enquanto isto até poucas semanas atrás, mantinha-se ferrenha discussão em Brasilia com o objetivo de destacar para a "EDUCASSÃO" uma fatia orçamentária equivalente a 10% do PIB. Nunca compreendi o "porquê" deste percentual ser calculado em relação ao PIB uma vez que ele sai da arrecadação federal, de onde representa uns 25% já que a carga tributária oscila em torno de 40% do PIB, aí sim uma aritmética correta. É uma fatia utópica e agora então com a inviabilidade econômica de exploração da camada do "préççau" é utópica e risivel...

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