Dólar bate R$ 3,30 pela 1ª vez em 12 anos por turbulências políticas e exterior

Publicado em 19/03/2015 17:33

LOGO REUTERS (16408)

Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou com alta de 2,5 por cento e bateu em 3,30 reais pela primeira vez em quase 12 anos nesta quinta-feira, acompanhando a recuperação da moeda norte-americana no exterior após o recuo da sessão passada e refletindo as renovadas preocupações com a crise local na base governista.

A moeda dos EUA avançou 2,56 por cento, a 3,2965 reais na venda, maior nível de fechamento desde 1º de maio de 2003, quando fechou a 3,315 reais na venda. A divisa havia fechado em queda na véspera pelo terceiro dia seguido reagindo ao tom de cautela adotado pelo Federal Reserve em seu comunicado de política monetária.

Segundo dados da BM&FBovespa, o giro financeiro ficou em torno de 1,3 bilhão de dólares.

Na máxima da sessão, maior nível intradia também desde 1º de maio de 2003, o dólar atingiu 3,3084 reais, após a presidente Dilma Rousseff negar que realizará uma reforma ministerial. Segundo o operador de câmbio de um importante banco nacional, a declaração frustrou a expectativa de que mudanças no Executivo poderiam atenuar a rebeldia no Congresso.

Os atritos entre o governo e seus aliados no Congresso podem dificultar ainda mais o ajuste fiscal. Na quarta-feira, Cid Gomes pediu demissão do cargo de ministro da Educação depois de uma sessão tumultuada na Câmara dos Deputados, para evitar que a já complicada relação do governo com a base aliada se tornasse ainda pior.

"O custo político de fazer o ajuste (fiscal) está cada vez mais alto e o mercado não gosta disso", disse o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira.

Além disso, o euro caiu mais de 2 por cento contra o dólar nesta tarde, após mostrar na véspera o maior avanço desde março de 2009. O movimento da sessão passada aconteceu após o Fed reduzir suas projeções de crescimento, inflação e juros, alimentando apostas de que os juros norte-americanos continuarão quase zerados até o segundo semestre.

"O rali de moedas emergentes após a conclusão da reunião do Fed de ontem se provou pouco duradouro", escreveram analistas da Capital Economics em nota a clientes.

Outro fator de incerteza no mercado doméstico é a dúvida sobre o futuro do programa de atuações diárias do Banco Central, marcado para durar até o fim deste mês. Muitos operadores acreditam que o governo vem sinalizado que deixará de ofertar swaps cambiais diariamente, apesar da volatilidade recente.

"Parece que as autoridades estão prontas para permitir que o programa termine, já que o plano anti-inflação agora depende mais da política de juros e de melhorar o resultado primário", escreveram estrategistas do Bank of America Merrill Lynch em relatório.

"O BC ainda administraria um estoque de 115 bilhões de dólares em swaps cambiais calibrando as rolagens de acordo com as condições no mercado. Nosso cenário-base é que o BC rolará 100 por cento dos swaps a vencer por ora", acrescentaram.

O BofAML acrescentou que o mercado brasileiro de câmbio deve ser guiado principalmente por fatores domésticos. Segundo as contas do banco, o real está entre as moedas latinoamericanas que têm se mostrado menos sensíveis aos mercados internacionais.

Nesta manhã, o BC brasileiro deu continuidade às rações diárias vendendo a oferta total de até 2 mil swaps cambiais, que equivalem a 97,4 milhões de dólares. Foram vendidos 250 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1.750 para 1º de março de 2016.

A autoridade monetária também vendeu a oferta integral no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, rolou cerca de metade do lote total, que corresponde a 9,964 bilhões de dólares.

 

Dólar sobe e fecha em R$ 3,305, o maior valor em quase 12 anos (FOLHA):

O dólar bateu em R$ 3,30 nesta quinta-feira (19) e fechou no maior valor em quase 12 anos pressionado pela tensão entre o governo e Congresso Nacional. Após a demissão de Cid Gomes, do ministério da Educação, os investidores temem que fica cada vez mais difícil aprovar um ajuste relevante nas contas do governo.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, terminou esta quinta em alta de 1,19%, a R$ 3,305, o maior valor desde 1º de abril de 2003. O dólar comercial teve valorização de 2,58%, para R$ 3,296, também no maior patamar desde 1º de abril de 2003. Na máxima, a moeda atingiu R$ 3,307.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, caiu 1,11%, a 50.953 pontos, quebrando uma sequência de três altas. Das 68 ações negociadas, 46 caíram, 20 subiram e duas se mantiveram inalteradas.

Na quarta, o preço da moeda americana havia caído diante da avaliação do banco central dos EUA de que a economia daquele país está se recuperando em um ritmo moderado, indicando que não deve subir juros no curto prazo.

O fator de maior peso nesta sessão, de acordo com analistas ouvidos pelaFolha, foi a demissão de Cid Gomes do Ministério da Educação, após críticas a parlamentares. A avaliação é que o episódio tumultuou ainda mais o já conturbado relacionamento entre governo e Congresso.

CRISE POLÍTICA

A avaliação inicial dos analistas foi de que a demissão de Cid Gomes aceleraria a reforma ministerial que o governo estaria pensando em fazer para agradar sua base de aliados no Congresso. "Isso seria positivo para o governo, pois poderia melhorar a articulação com a base aliada", diz Ignácio Rey, economista da Guide Investimentos.

Ainda durante a manhã, porém, a presidente Dilma Rousseff descartou fazer uma reforma ministerial e afirmou que não usará um critério partidário para nomear o substituto de Cid Gomes na Educação.

"A decisão pode causar mais fragilidade da articulação política em um cenário já desafiador", ressalta Rey. "Agora, a moeda retoma uma tendência de alta que deve se manter no curto prazo", completa.

ATUAÇÕES DO BC

As dúvidas sobre o fim do programa de intervenção do Banco Central também pesaram na alta da moeda americana. Na quarta-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que a autoridade monetária ainda não definiu sobre a continuidade das intervenções no mercado de câmbio por meio do programa de leilões de contratos de "swap cambial" (que equivalem a uma venda futura de dólares).

"O término do programa tende a gerar uma pressão adicional de alta sobre o dólar. Isso deve ser definido no dia 24, quando o Tombini comparecerá no Senado. O fim do programa, na nossa avaliação, é bastante provável", diz Ignácio Rey, da Guide.

No mercado brasileiro, Banco Central deu sequência nesta quinta às vendas de contratos de swap cambial que tem sido feitas normalmente, segundo programa de intervenções no mercado já em vigor.

EUA

A alta do dólar ocorreu na contramão da maioria das principais moedas emergentes, que se apreciaram em relação à divisa americana ainda sob efeito da ata do Fed (BC dos EUA). Das 24 principais moedas emergentes, 17 se valorizaram ante o dólar nesta sessão.

Na quarta-feira, o Fed indicou preocupação com o crescimento moderado da economia americana e sinalizou que só elevará as taxas de juros quando sentir uma recuperação sólida dos Estados Unidos.

"Os mercados receberam bem a indicação de que, quando o Fed começar a subir os juros, vai fazer isso de uma forma responsável, e não brusca, o que poderia causar muita instabilidade no mercado", diz André Moraes, analista da corretora Rico.

Nesta quinta, foram divulgados dados de auxílio-desemprego nos EUA, mostrando que os pedidos cresceram levemente na semana passada. Isso indica que o mercado de trabalho americano continua em terreno sólido, apesar da desaceleração no crescimento econômico.

Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego subiram de 290 mil para 291 mil, segundo dados ajustados sazonalmente, informou o Departamento de Trabalho nesta quinta-feira.

BOLSA

A tensão política impactou a Bolsa nesta sessão, embora os investidores também tenham aproveitado para embolsar lucros obtidos nos três pregões anteriores.

Destaque para as ações da Petrobras, que fecharam em baixa após três altas fortes. Os papéis preferenciais, mais negociados e sem direito a voto, caíram 3,99%, para R$ 8,90. As ações ordinárias, com direito a voto, sofreram desvalorização de 4,40%, para R$ 8,69.

A queda das ações acompanhou a desvalorização do preço do petróleo no mercado externo.

Vale e siderúrgicas foram afetadas pela desvalorização do preço do minério de ferro no exterior. As ações preferenciais da Vale caíram 1,07%, para R$ 16,60. As ações ordinárias tiveram baixa de 2,25%, para R$ 19,15. O minério caiu pelo terceiro dia seguido e já acumula desvalorização de 4,6% na semana.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Reuters + FOLHA

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário