EUA: Nova rodada de chuvas chega ao Corn Belt; produtores contestam avanço do plantio

Foto de Meaghan Anderson - Iowa City, Iowa

Os Estados Unidos já registraram, até o último domingo (14), o plantio de 71% da área de milho e 34% da área de soja, segundo as últimas informações do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Nesse quadro, os especialistas já começam a especular sobre o potencial da safra 2017/18 de grãos dos EUA. 

Para o doutor Michael Cordonnier, Ph.D. em agronomia, o plantio que foi iniciado com um pouco mais de lentidão este ano em função do excesso de chuvas pode tirar algo do potencial nesta temporada e, "provavelmente irá dificultar a obtenção dos níveis de rendimento observados no ano passado, quando o milho produziu 184,8 sacas por hectare e a soja, 59,07", diz. 

Assim, Cordonnier, em suas primeiras estimativas para esta safra, afirma apostar em números mais conservadores. Para o cereal, o agrônomo espera uma média nacional de 178,87 sacas/ha, a qual, se confirmada, seria a terceira maior já registrada, ficando atrás apenas das 184,8 sacas de 2016 e das 180,97 de 2014. Já para a soja, sua projeção é de um rendimento médio de 55,75 sacas por hectare. Nesse caso, este índice seria o segundo maior do país, contra 59,07 do ano passado.

Foto de Meaghan Anderson - Iowa City, Iowa

"Sou mais conservador para o milho do que para a soja neste momento, porque se houver problemas no início do período de crescimento poderia impactar mais o milho. Assim, é por isso também que estou mais animado em relação à oleaginosa do que ao cereal", explica Cordonnier. 

O especialista, no entanto, reafirma que esses números podem sofrer ainda muitas alterações na medida em que as lavouras se desenvolvem e que as condições de clima se apresentam nas principais regiões produtoras do país. "E se tem uma lição que nos ficou das duas últimas safras é de que temos que estar muito atentos aos índices semanais de condições de lavouras", diz, referindo-se aos reportes semanais de acompanhamento de safras divulgados todas as segundas-feiras pelo USDA.

A safra norte-americana 2017 de milho deverá, provavelmente, alcançar 50% de sua polinização entre 11 e 15 de julho. Se as condições das lavouras forem satisfatórias até o meio de julho, as perspectivas de uma boa produtividade no milho se fortalecem. "O mês de julho, geralmente, constrói ou quebra a safra de milho dos EUA", diz Cordonnier. Para a soja, o período mais importante é da última semana de julho e as duas primeiras de agsoto, e se na segunda semana do mês de agosto, há grandes chances de que os rendimentos da soja também sejam bons. 

O USDA estimou, em seu reporte do último dia 10 de maio, a produtividade da soja em 54,42 sacas por hectare e a de milho em 180,67. 

E o agrônomo explica ainda que as projeções de produtividade do departamento são feitas com base em uma tendência de clima adquequado para as lavouras, além de um progresso de plantio dentro do normal em maio, reportando-se ao período de 1988 a 2016. 

USDA X Produtores Americanos

Como sempre acontece, porém, os números do USDA já começam a ser questionados e confrontados pelos produtores rurais. "Os números do progresso de plantio são uma piada. Não conseguimos fazer nada em três semanas, esse é o início de plantio mais lento que eu já vi em 40 anos", diz um produtor de Illinois em entrevista ao portal internacional Farm Futures. De Ohio e Indiana chegam relatos parecidos. "Não sei como pôde haver algum progresso na semana passada com as chuvas que tivemos", mostram as declarações no Farm Futures. 

Foto de Michael Cline -  New Ross, Indiana

Foto de Meaghan Anderson mostra a presença de ervas daninhas nas lavouras - Iowa City, Iowa

Previsão do Tempo

Meteorologistas internacionais, em suas últimas previsões, mostram que as chuvas deverão retornar ao Meio-Oeste americano nas próximas semanas, após uma trégua em alguns pontos da região observada nos últimos dias. Segundo Dale Mohler, meteorologista sênior do portal Accuweather, "sem essa quebra nas chuvas, seria bem provável que alguns agricultores poderiam optar por deixar de semear o milho para partir para a soja".

A partir desta quarta-feira, 17 de maio, já é esperada uma nova rodada de fortes chuvas, principalmente em partes de Iowa. Um novo sistema deverá subir do Golfo do México na sexta-feira (19), trazendo ainda mais chuvas para quase toda a região centro-norte do Meio-Oeste neste final de semana.

"A notícia negativa é que, no final desta semana, há sistemas bastante potentes chegando ao Meio-Oeste. Nesta quinta-feira já são esperadas muitas chuvas e há ainda outra rodada chegando, e cada uma dessas rodadas pode trazer 25,4 mm de chuva. Os produtores de Iowa poderão ficar impossibilitados de fazer qualquer coisa até o começo da próxima semana", explica Mohler. 

O meteorologista diz ainda que essa primeira rodada pode poupar Illinois, porém, na sequência ela se move para o leste e pode pegar o estado, com a possibilidade de reduzir o ritmo do plantio por lá. Nesta semana, as chuvas já chegaram a partes da Dakota do Norte, Dakota do Sul, Nebraska, Minnesota, Iowa e Wisconsin. 

Foto de Brad Zierott mostra o sistema de drenagem após elevados volumes de chuvas  - Murdock, Nebraska

Além das chuvas, são esperadas ainda temperaturas mais frias nos próximos dias para o Meio-Oeste americano. As previsões mostram, ainda de acordo com o meteorologista do Accuweather, índices com algo entre 5 e 6 graus abaixo da média para este período. 

"Os próximos 10 dias voltam a trazer precipitações pesadas para grande parte do Cinturão. O padrão chuvoso que
começa a se formar nesta quinta-feira (18) ao centro dos Estados Unidos se estende em direção a Illinois, Iowa e Missouri até o próximo sábado, dia 20", informa a consultoria AgResource Brasil (ARC Brasil). 

O mapa a seguir mostra as chuvas previstas para os próximos 7 dias nos EUA, e parte do NOAA, a agência oficial de clima dos Estados Unidos. Os acumulados esperados para alguns dos principais estados produtores do Corn Belt - como Iowa, Missouri, Illinois, Kansas e Nebraska - podem receber de 45 a até 127 mm nos acumulados. 

Já o mapa seguinte, que mostra a previsão mais estendida - para o intervalo dos próximos 8 a 14 dias - indicam que há até 60% de chances de as chuvas no Meio-Oeste americano ficarem acima da média para o período. No mesmo intervalo, são esperadas temperaturas abaixo da média para esta época.