Soja: Disparada do dólar muda dinâmica do mercado no Brasil

Publicado em 18/05/2018 17:47
por Carla Carolina, do Notícias Agrícolas

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A recente disparada do dólar mudou o mercado brasileiro da soja nas últimas semanas. A tendência de alta da moeda americana, como explicam especialistas, continua e as boas oportunidades para os produtores do Brasil já se estendem, inclusive, para a comercialização da temporada 2018/19. 

Uma combinação de fatores externos - especialmente ligados à economia dos Estados Unidos - e de incertezas intensas que rondam o Brasil em ano de uma nebulosa eleição presidencial aproximam a divisa dos R$ 3,80 e levam as cotações da oleaginosa, em um momento de conclusão de entrada da nova safra, a se aproximarem dos R$ 90,00 por saca. 

Somente nesta sexta-feira (17), o dólar subiu 1,04% e fechou o dia com R$ 3,7396, após bater em R$ 3,7774 na máxima da sessão, que foi a sexta consecutiva de valorização - com alta, no intervalo, de 5,44%. Na semana, a valorização da divisa foi de 3,85%. E esta é a quarta semana de alta para a moeda, onde o ganho é de 9,61%. 

"O dólar vai continuar subindo aqui enquanto lá fora a moeda não acalmar", destacou um gestor de derivativos de uma corretora local à agência de notícias Reuters. 

Veja o fechamento do dólar:

>> Dólar mantém trajetória de alta e ronda R$ 3,75 com mercado esperando BC

Em um levantamento feito pelo economista do Notícias Agrícolas, André Bitencourt Lopes, no acumulado da semana, as principais referências entre os portos de Paranaguá e Rio Grande subiram 1,18%. Dessa forma, o produto disponível ficou em R$ 86,00 no terminal paranaense e com R$ 85,50 no gaúcho. Nos melhores momentos da semana, os indicativos chegaram a bater nos R$ 87,00 e até R$ 88,00 por saca. 

No interior do Brasil, os ganhos acumulados chegaram a 3,03%, como foi o caso de Sorriso, em Mato Grosso, com o último preço em R$ 69,00 por saca. Há praças no Paraná que ainda mantêm seus indicativos acima dos R$ 80,00 e nos outros estados, acima dos R$ 70,00. 

Segundo explica o consultor em agronegócios Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, esse é, de fato, um cenário atípico, já que trata-se de um ano de safra boa e preços melhores ainda. Além disso, o mercado ainda viu a safra da Argentina sofrer uma das piores quebras da história - sendo estimada pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires em somente 36 milhões de toneladas após uma severa estiagem -, o que estimulou uma demanda ainda maior pela oleaginosa brasileira. 

Complementando o quadro, os Estados Unidos e a China engataram uma séria disputa comercial, com os negócios com a soja, praticamente, em um dos principais focos das discussões e negociações, trazendo os chineses ainda mais à oferta do Brasil, além dos demais importadores. 

"A soja no spot só não está mais cara porque nossos corredores de exportação estão lotados", diz Fernandes, relatando line-ups cheios para o mês de maio, com a capacidade dos portos completamente comprometidas. Para os meses seguintes, os compradores seguem ávidos e já há muitos negócios sendo feitos para junho, julho e agosto. 

E as margens - incrementadas, principalmente, por essa dispara do dólar - cria um ambiente favorável para estes novos negócios, diante de margens muito favoráveis para os sojicultores brasileiros. "E essas margens são ainda melhores para os produtores que já estão com seus insumos comprados. 

Embora a alta do dólar encareça parte desses insumos, ainda assim o momento é oportuno. "O dólar responde por 38% do custo do produtor, mas impacta em 100% de seu faturamento", explica o consultor. 

Safra 2018/19 

Nesse ambiente, os negócios com a soja da safra 2018/19 também já começam a acontecer. Afinal, o dólar frente ao real não sobe só no mercado spot, mas também no futuro, ainda segundo Fernandes. Nesta sexta-feira (18), por exemplo, a divisa chegou a bater em R$ 3,79 para março/19 e R$ 3,81 no maio/19. 

"Embora em um ritmo mais lento - porque há incertezas ainda sobre a nova safra - os negócios estão acontecendo e o produtor está aproveitando esse dólar futuro para garantir suas margens. Os preços para o ano que vem, base porto, estão muito próximos dos de hoje", diz Fernandes. 

A comercialização da nova safra tem sido motivada, também, pelo bom momento das relações de troca. Como explicou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, neste ano já se vê algo entre 15% e 20% menos soja necessário para a aquisição dos insumos. 

Ao se considerar Mato Grosso, por exemplo, que é sempre o estado mais adiantado em suas compras, os preços de média - que também são baseados nos portos - tem algo próximo de R$ 84,50 por saca, o que garante boas margens ao sojicultor. 

Para Brandalizze, já há cerca de 10% da nova safra brasileira negociada.

Exportações de soja dos EUA são canceladas com mudança da China para grãos do Brasil (Reuters)

CHICAGO (Reuters) - Ordens de compras de quase 1 milhão de toneladas de soja dos Estados Unidos foram canceladas nesta semana, de acordo com dados do governo dos EUA divulgados nesta sexta-feira, já que a oferta mais barata do Brasil e tensões comerciais com a China deixam a carga norte-americana menos atrativa para compradores.

O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) não detalhou quais compradores cancelaram suas cargas em um anúncio diário de grandes negócios de exportação.

Porém a China compra a maior parte das exportações de soja dos EUA, e fontes do comércio disseram que a maior parte dos carregamentos provavelmente iria para lá.

Autoridades norte-americanas e chinesas estão se encontrando pra tentar evitar uma guerra comercial prejudicial entre as duas maiores economias do mundo.

Tensões comerciais agitaram os mercados e mudaram os fluxos globais de commodities.

Pequim retirou nesta sexta-feira uma barreira ao sorgo dos EUA que perturbou o comércio global de grãos para ração, mas muitos outros produtos agrícolas dos EUA permanecem como atuais ou potenciais alvos de tarifas de importação chinesas, incluindo a soja, milho e carne suína.

O USDA disse nesta sexta-feira que compradores de um destino não revelado cancelaram 949 mil toneladas de compras de soja norte-americana. Desse total, um volume de 829 mil toneladas deveria ser enviado antes de setembro, o maior cancelamento de uma vez só de vendas de soja desde dezembro de 2016, de acordo com dados do USDA.

Cancelamentos não são incomuns durante a primavera dos EUA, já que compradores cortam as compras não enviadas e optam pela safra recém-colhida da soja brasileira, que geralmente é mais barata.

Porém uma queda nos preços do produto do Brasil, que havia subido fortemente por conta das questões relacionadas à China, acelerou a mudança de rota nesta semana, disseram operadores.

O Brasil ficou mais competitivo com a forte alta do dólar.

A forte alta do dólar havia gerado expectativa de alta nos preços da soja no Brasil, tendo em vista que o câmbio elevado favorece as exportações, segundo análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

No entanto, as quedas nos valores do grão na Bolsa de Chicago e dos prêmios de exportação brasileiros impediram a valorização da oleaginosa no mercado doméstico, acrescentou o Cepea.

Dólar alto deverá ajudar Cargill a alcançar receita recorde (na FOLHA)

Se concretizada a previsão, será uma alta de 17% em relação à receita de 2017 (por Maria Cristina Frias)

A desvalorização do câmbio deve contribuir para o resultado de empresas do agronegócio no Brasil. O dólar bateu em R$ 3,77 na sexta-feira (18).

Na Cargill, vai contribuir para um resultado recorde, segundo o diretor-presidente, Luiz Pretti. “O dólar mais alto ajuda no balanço. Estimo que a receita alcance R$ 40 bilhões pela primeira vez.” 

Se concretizada a previsão, será um aumento de 17% em relação ao faturamento de 2017. “A Cargill vai bem na volatilidade. Tem uma área de inteligência e é a única a ter banco.”

 Os investimentos devem voltar a crescer no ano que vem. A estimativa é que sejam aportados cerca de R$ 600 milhões —foram R$ 420 milhões em 2017. Será preciso ampliar alguns empreendimentos, como portos, que se aproximam de sua capacidade máxima. 

“Traders”, como a Cargill,  são as principais beneficiadas pela valorização do dólar porque contrataram a compra da produção com a cotação mais baixa, e receberão os grãos com câmbio alto, diz André Nasser, da Associação de Empresas de Óleos Vegetais. 

A cadeia da soja também se beneficia da seca na Argentina, que fará com que o país vizinho tenha uma safra ruim. 

O país deverá exportar 18% a mais em 2018, calcula Nasser. “A grande razão da melhora de margem do setor no país tem a ver com a Argentina.”

Não para a Cargill, diz Pretti. “É indiferente. Ajuda o segmento agro no país e prejudica também —tem preço maior para venda, mas quem consome o produto processado precisará pagar mais.”

 

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Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas/Reuters

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